quinta-feira, 29 de junho de 2006

"...equilibro-me como posso, entre mim e eu, entre mim e os homens, entre mim e Deus."
Clarice Lispector

quarta-feira, 28 de junho de 2006

Heróis de quê?

Farta, farta, fartíssima das bandeirinhas arribadas nos carrinhos, casinhas e afins. A idiotice colectiva revela-se nestas alturas, quando toda a gente anda com a palavra Nação suspirada nos lábios, reduzindo-a a uma esfera de borracha.
Vejo os jogos da selecção? Claro. Perfeita desculpa para o convívio aqui e ali. Mas abomino os nacionalismos rasteiros, reduzidos a uma data de fulanos que, para além de ganharem quantias exorbitantes ainda clamam pela motivação vinda das bancadas.

terça-feira, 27 de junho de 2006

Por detrás da nossa consciência...

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Ao vivenciar algumas situações bem desagradáveis com duas instituições, que não interessa aqui identificar, cuja divulgação das suas actividades é feita com a nítida preocupação em mostrar que estão despertas para a questão da defesa dos direitos humanos e são sensíveis às questões do respeito pela individualidade, constatei que no tracto com o próximo - que lhes é de facto próximo - revelam uma veia particularmente cruel e insensível.
Admitindo que estas instituições acreditam no que tanto apregoam e que não é apenas uma estratégia de marketing, o que nestes casos em particular duvido muito, revoltou-me constatar que quando lidam com as pessoas do seu quotidiano são responsáveis por actos perfeitamente contrários às suas mega-ideias de humanismo e da forma de ver o Outro.

E embora a minha indignação seja legítima, pergunto-me até que ponto é que não temos, em termos individuais, "pequenos gestos" como estes no nosso dia-a-dia: será realmente mais fácil defendermos os direitos de quem não tem rosto? Porque razão é mais fácil sermos solidários com as massas do que com a pessoa que se encontra imediatamente ao nosso lado? E se sim, com que consciência é que acreditamos na justiça e na igualdade para A HUMANIDADE e depois somos vis com as pessoas com as quais nos cruzamos no dia-a-dia?
Realmente, fazendo uma introspecção, eu particularmente, tenho muita facilidade em ter sentimentos de solidariedade e ser tolerante com o desconhecido… protestando para quem me quiser ouvir que realmente todos deveriam ter os mesmos direitos e todos merecem o nosso respeito.... no entanto, quando se trata de lidar com alguém próximo, quando este “TODOS" se torna numa pessoa só, quando se trata de estender a mão a alguém que se encontra ao virar da esquina, aí a paciência esgota-se muito facilmente...
Gosto de pensar em mim como uma defensora dos direitos da mulher, por exemplo, mas poucas vezes procurei saber porque é que a empregada de limpeza do meu local de trabalho carrega uma expressão dura e cansada no rosto. Fico muito transtornada quando vejo as crianças na longínqua África a morrer à fome, mas nem procuro saber a história da criança que me vem pedir uma esmola na rua e ainda fico incomodada que o faça...
Infelizmente, penso que realmente é bem mais fácil sentirmos que somos defensores de causas nobres e solidários com os acontecimentos que nos são apresentados em números, sem nome, nem rosto ou voz que nos possa despertar a tendência de julgamento fácil, ou medo da ameaça que essa pessoa possa significar para a nossa condição (física, psiclológica, social), porque nesses casos …somos solidários, em primeira instância, connosco mesmos e arranjamos todos os argumentos (pensados ou verbalizados) para justificar as nossas atitudes (negligentes, na melhor das hipóteses) e mantermo-nos bem com a nossa própria consciência... No entanto, um bem-haja a todos os voluntariados que dão e vêem o rosto dos números!

domingo, 25 de junho de 2006

Lullaby de Domingo.


"(...) yet he tries so hard to please
He's just so keen
For you to listen
But no-one's listening
And when you put it all together
There's the model of a charmless man."
(mais do género aqui e aqui)

sábado, 24 de junho de 2006

A Mulher Invisível


A celebração pelo fogo, a fertilidade da Deusa transformada em santo padroeiro. À volta da fogueira, com os resquícios de festival de celebração da vida.
E já que me fui lembrar de Six Feet Under para ilustrar este post mal amanhado, fabuloso o episódio desta semana, com Ruth Fisher a despachar/imolar a tiro de caçadeira, os "reis-veados" que povoaram a sua vida. Só faltou mesmo vê-la a dançar em frente à fogueira, envolta nos seus longos cabelos ruivos coroados por flores.

terça-feira, 20 de junho de 2006

Da Dormência.



Todo o abraço, beijo ou declaração de amor desaparece perante um pedido velado de ajuda. Aí, tudo se troca... por um jantar, um almoço, uma noite bem dormida. É na debanda geral que se vislumbram os que ficam, que se preocupam e continuam de mão estendida, no limite da dádiva. Tudo o resto, é espectáculo e acaba com o descer do pano.
(Fotografia de Man Ray)

segunda-feira, 19 de junho de 2006

Pouco a pouco o esquecimento...

Espírito que passas, quando o vento
Adormece no mar e surge a Lua,
Filho esquivo da noite que flutua,
Tu só entendes bem o meu tormento...

Como um canto longínquo – triste e lento –
Que voga e subtilmente se insinua,
Sobre o meu coração, que tumultua,
Tu vertes pouco a pouco o esquecimento...

A ti confio o sonho em que me leva
Um instinto de luz, rompendo a treva,
Buscando, entre visões, o eterno Bem.

E tu entendes o meu mal sem nome,
A febre de Ideal, que me consome,
Tu só, Génio da Noite, e mais ninguém!


Hoje, na prova de Português A, Antero de Quental.

domingo, 18 de junho de 2006

"Mas porque é que na blogosfera as pessoas preferem o suicídio à hibernação?"

Pergunta que o Alexandre, do Tonel, deixou na caixa de comentários.


Porque é apenas a distância de um toque de dedo, de um impulso, um gesto de raiva, de espanto, de cansaço ou medo.
Tardio no arrependimento.

Lullaby de Domingo.



Play Dead
"It's sometimes just like sleeping."
(ou de como as moçoilas se pisgaram para outras bandas).

terça-feira, 13 de junho de 2006

Durante uns tempos...


Durante uns tempos tive um pouso. A amizade concedeu-me este cantinho!
Nunca pensei que a experiência fosse tão interessante.
Nefertiti volta ao mundo do silêncio.

Eu, agora e já, preciso ir.

Abraços e até sempre!

Macho Cabrio

Este poema bucólico e brutal de Garcia Lorca é interessante! Vai-se lá saber porquê?!
As leituras e as interpretações são plurais... e quanto a isso nada a fazer!
Eu gosto muito de García Lorca e deste poema...
Já/agora, deixem passar o rebanho e a poesia...

El rebaño de cabras ha pasado
junto al agua del río.
En la tarde de rosa y de zafiro,
llena de paz romántica,
yo miro
el gran macho cabrío.

¡Salve, demonio mudo!
Eres el más
intenso animal.
Místico eterno
del infierno
carnal...

¡Cuántos encantos
tiene tu barba,
tu frente ancha,
rudo Don Juan!
¡Qué gran acento el de tu mirada
mefistofélicay pasional!

Vas por los campos
con tu manada,
hecho un eunuco
¡siendo un sultán!
Tu sed de sexo
nunca se apaga;
¡bien aprendiste
del padre Pan!

La cabra
lenta te va siguiendo,
enamorada con humildad;
mas tus pasiones son insaciables;
Grecia viejate comprenderá.

¡Oh ser de hondas leyendas santas
de ascetas flacos y Satanás,
con piedras negras y cruces toscas,
con fieras mansas y cuevas hondas,
donde te vieron entre la sombra
soplar la llama
de lo sexual!

¡Machos cornudosde bravas barbas!
¡Resumen negro a lo medieval!
Nacisteis junto con Filomnedes
entre la espuma casta del mar,
y vuestras bocas
la acariciaron
bajo el asombro del mundo astral.

Sois de los bosques llenos de rosas
donde la luz es huracán;
sois de los prados de Anacreonte,
llenos con sangre de lo inmortal.

¡Machos cabríos!
Sois metamorfosisde viejos sátiros
perdidos ya.
Vais derramando lujuria virgen
como no tuvo otro animal.

¡Iluminados del Mediodía!
Pararse en firmepara escuchar
que desde el fondo de las campiñas
el gallo os dice:
"¡Salud!", al pasar.

sábado, 10 de junho de 2006

Perdão, ainda sobre o vício dos dados...

Olh'á educação linda! É pró menino! Olh'os resultados mai'lindos.
Sobre a proposta de alteração da carreira (hihihi) docente.
E é ver o Público a ajudar na venda do peixe! A conversa de café no Diga lá Excelência foi hilariante (suponho que o Carrilhismo esteja a fazer carreira).
Achei piada ao discurso, perdão, entrevista; achei piada que a única pessoa que parecia conhecer a proposta naquela mesa tenha sido a própria ministra - de outro modo não se explica que o monólogo tenha versado sobre (quase) tudo menos sobre a proposta de alteração da Carreira (repito, hihihi) docente; minto, foi aflorada a questão da suposta avaliação dos pais (claramente, a manobra de diversão da proposta). Achei ternurenta a conclusão de que eventualmente esta é uma medida que trará os pais à escola e, portanto, fomentar o interesse sobre o percurso escolar dos seus educandos.
Há uma semana perguntava para quando o Ministério da Propaganda. Ele está aí, de cada vez que leio editoriais ou reportagens de fundo que não vão ao fundo da questão (a página que a Visão desta semana lhe dedica é risível). Pelos vistos, alguém já nem faz o trabalho de casa. Resta saber porque não interessa fazer.
Claramente, a opinião pública tem conprado manobras economicistas por educação.
Com tudo isto não desculpo a acção sindical.
Shame on you, porque a Fenprof não se deu ao respeito e veio para a comunicação social vociferar. Tal como o Ministério, confundiu as prioridades. Estes assuntos discutem-se em sede própria, não em pasquins que fazem manchetes que mais parecem publicidade.
Shame on you, por ter marcado uma greve para a data que está prevista. Sem comentários possíveis.

Na berma do túnel chorei.


A enormidade dos túneis que percorro, com cheiro a borracha e escape. Todos os dias, os camiões de Sísifo, carregados de pedras, cimentos e preguiças a alimentarem uma autêntica corrida de obstáculos. Todos os dias, o ensurdecedor barulho dos carros e camiões, em túneis escuros alumiados pela pressa de chegar a horas.
No outro dia, algo diferente. Em pleno túnel, bafiento, barulhento, assustadoramente escuro, os faróis alumiam, depois de uma curva, uma cria de gato, abandonada (atirada?) na berma. E os faróis alumiam também o pavor - o da cria e o meu ao cruzar olhar com ela.
A única coisa que lá ficou foi a desumanidade de quem a deixou, na esperança de que alguém lhe passasse em cima.
O coraçãozinho palpitou desenfreadamente na minha mão, quando a consegui finalmente apanhar e meter no carro. Quem lhe fez isto não. Quem lhe fez isto não tem nada a palpitar. Só pode ser a vazio.
Um nojo!

sexta-feira, 9 de junho de 2006

There's no place like home


Preparo-me finalmente para uma semana de férias.... uma semana em que posso deixar cair a máscara e ser apenas EU! Cinco dias a respirar fundo ao invés de suster a respiração na orla da porta de entrada e só voltar a respirar no fim do dia. Cinco dias sem a máscara da compreensão para o mau humor dos outros e de outras manias estranhas que surgem nas pessoas em contexto de trabalho (para mais informações ver a série "7 palmos de terra"), cinco dias sem a máscara da anuência para muitas das coisas que são proferidas na minha presença, sem que essa seja realmente a minha opinião e cinco dias sem a máscara "mais 5 minutos e expludo"!

Vou simplesmente para casa e durante cinco dias voltar a recalcar o que de pior há em mim .... Opinar e falar livremente, discordar, sem que isso tenha consequências drásticas no meu futuro e simplesmente gostar e acarinhar as pessoas que eu escolhi para tal. Enfim, virar as costas e ter a certeza de que elas serão abrigadas por alguém que me ama também..... cinco dias a confiar!
Tal como a Dorothy, posso agora voltar para casa depois de ter enfrentado o terrível feiticeiro e durante cinco dias posso até voltar a ser criança. De facto, there's no place like home!

quarta-feira, 7 de junho de 2006

Ainda O Código da Vinci


Bem sei que estamos já todos fartos de ouvir falar desta polémica, fruto do livro de Dan Bronw e recentemente avivada pelo filme. No entanto, não posso deixar de trazer à discussão algo que me irrita profundamente quando ouço ou leio alguma coisa acerca deste tema: Já todos sabemos que o livro é uma obra de ficção (afirmação anunciada no discurso de quem fala sobre o assunto, como se estivesse a ser iluminado por uma revelação, quiçá, divina). O que normalmente é (propositadamente?) ignorada na discussão é a ideia (umas das principais do livro, se não A principal, dependendo de quem o lê!) de que Jesus terá acreditado na paridade dos sexos na religião e que inclusivamente terá passado o seu testemunho a uma mulher e não a Pedro, como ditam os quatros evangelhos admitidos pela instituição católica. No entanto, este pequeno grande pormenor é inteligentemente ignorado, colocando-se sempre a tónica, quando o assunto é trazido à mesa, para o facto de Jesus Cristo, segundo o romance em causa, ter casado ou não, ter tido filhos ou não, enfim ser divino ou ter sido simplesmente um homem com uma Grande Visão, reduzindo, assim, a discussão a comentários que se poderiam equiparar a quem comenta a vida privada dos VIP's na revista Caras ou mesmo na Holla!.
Mais uma vez a questão da importância e participação do feminino numa instituição que influenciou irremediavelmente a humanidade e a forma desta ver o mundo e o (sagrado) feminino é passada para segundo plano ou simplesmente ignorada, mesmo quando sugerida por uma obra de ficção, como nos fazem sempre questão de lembrar (e que eu não tenho qualquer dúvida que realmente o seja). Não vá a ideia pegar! Por isso, o melhor é continuarmos a fingir que essa hipótese nem terá sido colocada..... mesmo que num livro de ficção....Quanto a mim, a ideia principal do livro não é se Jesus foi ou não casado, se teve uma vida privada ou não, mas sim a sugestão (fundamentada ou não) de que na visão de Cristo a mulher teria um papel igualitário ao homem e inclusive seria a primeira a continuar a sua obra, ao lado do segundo (juro que não fiz de propósito!).
Parece-me que de cada vez que alguém ignora este pormenor do enredo, nas suas dissertações teóricas, mais uma vez se ignora a ideia de que a mulher poderia ter tido uma participação mais activa na sociedade e que este direito foi-lhe simplesmente vedado. Até porque o que realmente interessa é se realmente Jesus Cristo teve uma mulher ou não... tal como a discussão (e perdoem-me a comparação) se Bill Clinton teria ou não tido um caso com a estagiária ao invés de discutirmos aspectos realmente importantes da época.
A atenção da opinião pública é sempre desviada para aquilo que enche mais o olho e as más línguas e não o pensamento, não vá o povinho ter ideias peregrinas...

segunda-feira, 5 de junho de 2006

Concerto para blog a seis mãos



Heard a carol, mournful, holy,
Chanted loudly, chanted lowly,
Till her blood was frozen slowly,
And her eyes were darkened wholly,
Turn'd to tower'd Camelot.
For ere she reach'd upon the tide
The first house by the water-side,
Singing in her song she died,
The Lady of Shalott.
Tennyson
À mulher que foi pássaro e à mulher (que adorou o) Sol, junta-se agora a mulher água, brandamente conduzida até nós pelas palavras de Natália e de Tennyson.
Este é um blog tornado nosso, de Três Marias com olhares diferentes e difusos, unidos sob a égide desse desejo de Woolf:
Um quarto que seja nosso.
Sem desculpas.

"Ó Véspera do Prodígio!"

(... )
Creio na Deusa com olhos de diamantes,
Creio em amores lunares com piano ao fundo,
Creio nas lendas, nas fadas, nos atlantes.
(...)
Natália Correia
Temos nova companheira....

domingo, 4 de junho de 2006

Lullaby de Domingo à noite.

Apetece-me continuar no feminino.
Come along:

"Within ourselves and within our friends"
Melancólica.
Maravilhosa.

Em Auschwitz, ajoelhou e rezou.

A primeira vez que ouvi falar do Cardeal Ratzinger foi durante uma caminhada Coimbra acima, em busca de uma Casa da Cultura escondida por Sereias, para uma conferência com Leonardo Boff. Nessa caminhada um professor, que me é muito querido, explicava aos peregrinos as nuances do percurso de Leonardo e o braço comprido de Ratzinger. A partir dessa data mantive-me atenta.
Quando Ratzinger foi eleito Papa a sentença pareceu-me, no melhor dos casos, como a manutenção da linha de J. P. II (convenhamos, Ratzinger sempre foi próximo ao anterior Papa) e, num cenário menos optimista, uma maior radicalização da posição católica relativamente a algumas questões fracturantes.
Viajando até à tarde-noite em Coimbra, jardim acima, lembro-me de se ter dito que este era um homem capaz do melhor, mas também capaz do pior.
Pois esta semana, este homem surpreendeu-me com a sua atitude em Auschwitz; acreditemos ou não nessa entidade superior, a pergunta/lamento de Ratzinger é absolutamente radical e, parece-me também, corajosa face ao significado das vestes com que as fez. Questão limite e no limite. Escrevam o que quiserem (e têm escrito muito).
Contudo, não resisto ao texto de Bérnard Da costa, hoje no Público. Cito e subscrevo:
"(...), a imagem do Papa foi sobretudo a imagem de um homem só, na terrível solidão de Auschwitz. (...). Nas nossas memórias futuras, não o veremos, como João Paulo II, imerso na multidão, mas sozinho e inclinado, no pórtico do que simbolicamente assinala o maior horror que a humanidade conheceu.
(...) Que o vigário de Cristo na Terra - (...) - se dirija a esse mesmo Cristo, (...), para lhe perguntar por que ficou silêncioso, onde estava, como tolerou aquilo, é talvez o que de mais ousado e abissalmente radical me lembro de ter ouvido da boca de um Papa."
Em Auschwitz, parece-me que ele foi capaz do melhor. Escrevam o que quiserem os cínicos.

sábado, 3 de junho de 2006

Para Além dos Flashes e dos Sorrisos - A Insustentável Situação dos Centros de RVCC

Os centros de RVCC (Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências) acompanham adultos pouco escolarizados durante um processo que tem por objectivo a validação e certificação das competências que demonstrem ter adquirido ao longo da vida (profissionais, formativas, pessoais, etc).
O trabalho desenvolvido nos centros de RVCC pressupõe uma equipa composta por profissionais de RVCC ( com formação na área das ciências humanas e sociais) e por profissionais das áreas sobre as quais incidem as competências a certificar; essas competências estão definidas pelo Ministério da Educação, mais concretamente pela Direcção Geral de Formação Vocacional (DGFV). O processo decorre em dois períodos fundamentais: o reconhecimento de competências e a validação das mesmas.
Ao adulto é solicitada a elaboração de um dossiê reflexivo sobre o seu percurso de vida, que será alvo de validação. A sua elaboração implica um processo de consciencialização do capital de saberes que adquiriu, pelo que neste passo, o profissional de RVCC é fundamental, na medida em que o adulto não é consciente dos saberes que possui. Assim, a tarefa essencial do profissional consiste na promoção da reflexão, tomada de consciência e valorização das experiências por parte do adulto.
Num segundo momento, o dossiê é analisado. As competências alvo de validação (definidas pela DGFV) colocam-se ao nível das seguintes áreas: linguagem e comunicação, matemática para a vida, cidadania e empregabilidade e tecnologias da informação e da comunicação. São profissionais das áreas referidas que aferem se as competências necessárias para a certificação estão evidenciadas no dossiê. Estão previstas 25 horas de formação complementar para os casos em que se apresentem algumas fragilidades; o objectivo da formação (que pode incidir em qualquer uma das áreas acima referidas) reside em limar os aspectos menos conseguidos do dossiê.
Após o processo de reconhecimento de competências é realizada uma sessão de júri de validação, em que estão presentes o adulto, o profissional de RVCC (responsável pelo acompanhamento), os profissionais que analisaram o dossiê e um avaliador externo (para tal, o Ministério possui uma bolsa de avaliadores). A sessão de Júri tem por objectivo a homologação dos documentos por parte da DGFV, ou seja, a validação e certificação de competências que conferem ao adulto a equivalência ao 9º ano de escolaridade, sendo-lhe também concedida uma carteira pessoal de competências-chave (as que revelou possuir ao longo do processo).
O Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências constitui-se como um processo fundamental num País com o nível de escolarização que o nosso apresenta; não é um processo escolar, nem é um processo de formação. Ao adulto não é ensinada a elaboração do dossiê; como foi dito anteriormente, este é um processo de consciencialização dos saberes adquiridos ao longo das suas várias experiências.
Os Centros de RVCC não têm tido o respeito que lhes é devido. Porque é um processo financiado pelo Fundo Social Europeu, debatem-se constantemente com atrasos nas verbas atribuídas. Muitos dos seus profissionais trabalham meses sem receber o que lhes é devido. E isto não tem qualquer visibilidade.
O Primeiro Ministro anunciou aparatosamente esta semana a abertura de mais de uma centena de centros de RVCC por todo o País. Foi suficientemente publicitada (propagandeada) esta medida que implica, obviamente, novos postos de trabalho. Contudo, não ficou explícito se estes novos centros irão padecer dos problemas gravíssimos que já padecem os existentes. Não ficou explícito se serão essencialmente os funcionários a financiar durante meses a fio o projecto.
A agravar a questão, o Ministério da Educação tem dado indícios de que pretende desvirtuar o processo, entregando-o às escolas. Se se confirmar a intencionalidade de constituir estes centros como uma escapatória para o problema da empregabilidade docente, sem atender à necessidade da formação, podemos estar a assistir ao princípio do fim deste processo meritório. É necessário zelar para que os profissionais de RVCC, ou seja, os técnicos que acompanham o processo de elaboração do dossiê (e que é um acompanhamento caso a caso), continuem a ser profissionais suficientemente habilitados para o processo.
Não parece ser essa a prioridade do Ministério. Porque este não é um processo de ensino-aprendizagem, a sua condução para organismos que manifestamente não estão preparados para a sua forma de acção implicará, obviamente, a morte do processo; mais cedo ou mais tarde será reduzido a um apêndice do ensino recorrente (não sendo a sua filosofia o ensino) ou a mais um processo formativo (não sendo a sua filosofia a formação).
Mas como é óbvio, se tal acontecer, a responsabilidade pelo falhanço nunca será do centro de decisão.

sexta-feira, 2 de junho de 2006

Lullaby extraordinária.

Para desanuviar o ambiente, hoje também é dia de Lullaby.
Deixem passar a Senhora.


Venceremos Atirando!

A minha carreira,
como agente
da propaganda
deste ministério...,
seria muito naif,
mas muito sentida!
(Aproveitaria um clássico para
dar voz a esta causa!!)
Atirei o pau ao gato-to-to
Mas o gato-to-to
não morreu-reu-reu
Dona Chica-ca-ca
Admirou-se-se
Do berro, do berro
que o gato deu
Miaaau!

Em atraso, mas...

Agradecia que o director do Público me facultasse o recibo do seu vencimento.
É que gostaria de comparar com os restantes colegas europeus.
Para também eu poder tirar conclusões.
Para quando a criação oficial de um Ministério da Propaganda?
Candidatos à pasta parece-me que não faltam.

quinta-feira, 1 de junho de 2006

Perdão, os Dados Estão Completamente Viciados.


"A ministra da Educação traçou ontem um quadro arrasador da falta de orientação das escolas e dos professores para os resultados dos seus alunos. Turnos da manhã reservados a turmas dos melhores alunos e filhos dos funcionários da escola, preocupação quase exclusiva para o cumprimento "burocrático-administrativo" das leis e distribuição das melhores turmas aos melhores professores são alguns dos exemplos apontados por Maria de Lurdes Rodrigues para dizer que a escola tem-se preocupado em dar aulas, mas não com o sucesso educativo dos alunos.
(...)

Os professores não passaram incólumes pelo discurso da ministra, que considerou ser uma classe com uma cultura profissional (que comparou com os médicos) que não tem como objectivo o sucesso educativo dos alunos. "Não são orientados para os casos mais difíceis. Os melhores professores ficam com os melhores alunos e os docentes com pior estatuto na casa levam com as turmas mais difíceis"
in DN de 30 de Maio de 2006
As minhas turmas não são do turno da manhã - são do turno da manhã e da tarde, já que o curriculo pesa.
Tenho alunos que saem de casa às 5 e 30; fazem parte do percurso a pé, parte de táxi e finalmente, autocarro. Para ter aulas às 8 e 10. Voltam à noite, com a mesma lengalenga. Estão em casa às 21. Todos os dias, de 2ª a 6ª. De fim de semana, trabalham. Frequentam o 12º ano. Não são todos. Mas tenho alunos assim.
Outros, trabalham para se manterem na escola. Não se levantam às 5 e 30. Só apanham um autocarro. Estão no 11º ano, onde lecciono uma disciplina com um programa novo, que me foi atribuída em Setembro. Não existe, até à data, qualquer manual ou material de apoio. Trabalho única e exclusivamente a partir da apresentação do programa homologado (em cima do joelho). A bibliografia recomendada para desenvolver o programa consta de 13 páginas.
O terceiro nível que lecciono tem um manual adoptado (há um ano atrás) que não corresponde às orientações para o exame da disciplina; estas só saíram em Setembro deste ano, um ano depois da adopção dos manuais. Em Setembro estava previsto exame nacional à disciplina, de cariz obrigatório. Em Fevereiro, não.
As minhas turmas apresentam dificuldades, pelo que deve ter sido esse o motivo para me serem atribuídas.Finalmente, percebi que devo ser uma má professora. Disse-mo a Ministra.
Repito a citação:
"(...)a escola tem-se preocupado em dar aulas, mas não com o sucesso educativo dos alunos."
Disse-mo a Ministra.
E o Ministério?
Pergunto eu.

Continuam Viciados.


"O resultado final da avaliação do docente corresponde à classificação média das pontuações obtidas em cada uma das fichas de avaliação, e comporta as seguintes menções qualitativas:
Excelente - de 9 a 10 valores;
Muito Bom - de 8 a 8,9 valores
Bom - de 7 a 7,9 valores
Regular – de 5 a 6,9 valores
Insuficiente – de 1 a 4,9 valores

3 – Por despacho conjunto do Ministro da Educação e do membro do Governo responsável pela Administração Pública são fixadas as percentagens máximas de atribuição das classificações de Muito Bom e Excelente, por escola ou agrupamento de escolas."
In Proposta de Alteração do Regime Legal da Carreira do Pessoal Docente, p. 22

Bons, mas poucos!

Perdão, os Dados estão Viciados


" A carreira docente desenvolve-se pelas categorias hierarquizadas de professor e professor titular, às quais correspondem funções diferenciadas pela sua natureza, âmbito, grau de responsabilidade e nível remuneratório."
(p. 9)

"1 -O recrutamento para a categoria de professor titular faz-se mediante concurso de provas públicas de avaliação e discussão curricular aberto para o preenchimento de vaga existente no quadro e destinada à categoria e grupo de recrutamento respectivo.

2 - Podem candidatar-se ao concurso de acesso à categoria de professor titular os professores que detenham, pelo menos, dezoito anos de exercício de funções na
categoria com avaliação de desempenho igual ou superior a Bom.
(...)

6 - O número de lugares a prover nos termos do nº1 não pode ultrapassar a dotação anualmente fixada por despacho do Ministro da Educação."
(p. 13)
In Proposta de Alteração do Regime Legal da Carreira do Pessoal Docente, p. 22

Os Dados Estão Lançados



"O impossível é sempre mais sedutor que o possível. Depois que nossos valores já estão definidos e a rotina já triturou nossa semeadura inicial de ilusões, começamos a fantasiar as utopias. Poder voltar ou refazer nossos objectivos talvez anulasse medos e insatisfações. E que espaço ocupariam o amor e o dever nesse eterno retornar? Seríamos salvos pelo amor? Morreríamos pelo dever? Ora! Mas não é o dever uma forma altruísta de amor?"
Jean Paul Sartre