quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Pérolas a porcos

"(...) Como a vida seria bela e a nossa miséria suportável se nos contentássemos com os males reais e não prestássemos ouvidos aos fantasmas e aos monstros do nosso espírito."
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A Sinfonia Pastoral, André Gide

Ele está de volta.


E eu aplaudo exaustivamente.
(imagem retirada daqui)

terça-feira, 30 de outubro de 2007

"Uma coisa é uma coisa" que é outra completamente diferente.


Corro o risco de me tornar repetitiva, ano após ano, mas não resisto a meter a colher nessa história dos rankings das escolas. Depois de todas as análises exaustivas, das comparações, justificações, altercações e sabichões na matéria...
Só a título de exemplo, no DN (25 de Outubro de 2007), reportagem exaustiva escola a escola. Na escola onde lecciono, a CIF (classificação interna final da disciplina) de Psicologia B é comparada com a NE (nota de exame) a Psicologia (programa antigo). Note-se que os alunos concorrem só com a nota de exame, já que estamos perante disciplinas cujos conteúdos programáticos são diferentes. Ora, este caso é muito óbvio. Mas já agora, parece que não é tão óbvio para os analistas de ponteiro em riste que os rankings quando apontam CIF's e NE's, referem-se a avaliações radicalmente diferentes: por um lado, a avaliação efectuada ao longo do ano, com múltiplas provas, trabalhos individuais, trabalho na sala de aula, em casa. Por outro lado, temos os resuldados de um exame de 120 minutos.
Considero que os exames são um instrumento a fomentar. No entanto, os apologistas deste tipo de comparações parecem-me pouco dotados de inteligência, já que nem conseguem perceber as diferenças essenciais entre diferentes instrumentos de avaliação. Por outro lado, candidamente apontam a sábia batuta aleatoriamente entre colégios públicos e privados, com diferenças sociais brutais. Será muito diferente o contexto de um aluno cujo encarregado de educação pode assegurar uma mensalidade de 400 euros de um outro que tem que trabalhar nas férias para sustentar os estudos ao longo do ano (casos destes existem mais do que gostamos de admitir).
Mas enfim, eles lá (a) sabem (toda).

Pintura de Max Ernst

domingo, 28 de outubro de 2007

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Levava ele com o jarrinho

Pena que o jarrinho Tenha caído ao chão. Assentava melhor Na fronte do rapaz Que correu atrás Da menina que levava a fita Para ir bonita.

Paradoxos... 2


Os locais de trabalho são sítios estranhos. Com estranhos que partilham mesas, cafés e sobretudo, rotinas. Nas escolas, os toques de saída e entrada encerram malevolamente minutos de perfeita imbecilidade, trocados a um balcão ou a uma mesa de café.
Em Janeiro, acabam-se as salas de chuto que, de certo modo, até agora têm preservado os seus frequentadores das enchentes engalfinhadas em conseguir uma mesa, ou das conversas sobre nada: das crianças impossíveis, das odiosas, das brilhantes, dos maridos, das mulheres, filhos e filhas, netos e netas, genros, cunhadas, sogras. Dos namoros dos miúdos, das querelas, das disputas, dos horários, apoios, clubes, projectos... Um burburinho ensurdecedor.
É claro que é sempre necessário passar pela fila interminável da compra do café, a espera tremenda pela senha e pelo serviço lento de quem tem apenas duas mãos em luta com cem que lhes estende as senhas.
No meio de tudo isto, destacam-se os paradoxos. O paradoxo, neste contexto, é um conceito que engloba os tipinhos de mãozinhas pegajosas. De labiozinhos apertados pela lascívia e gulodice. Lambões de olhos miudinhos, a denunciar a jarretice. Em quase todos os espaços, suponho que se encontrem personagens destas que instintivamente nos fazem limpar as mãos depois de os cumprimentar.
O título do presente post tem um duplo sentido: segundo post sobre Paradoxos desta natureza. E também porque, pelos vistos, por vezes andam aos pares. Dupla calamidade. Passam os anos a saltitar por entre escolas, a formar quem está efectivamente em sala, munidos de projectos manhosos que apenas servem para entreter. Passeiam por entre corredores a santa idiotice, srs. inspectores da treta, incompetentes que só papagueiam sobre competências e ped(em)agogias. E entretanto, o elogio fácil dos tipinhos que se julgam inteligentes e confortavelmente camuflados pelos anos que já lhes pesam nas carecas. Enfim, lá vão sendo (in)suportáveis, por dois ou três dias, que mais que isso é humanamente impossível.

Pintura de Ignacio Lloret

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Deolinda

Estou numa de sugestões. Grupo catita, para dizer o mínimo, cheio de energia e piada. E que melhor nome para fadista do que Ana Sofia Bacalhau?!? A Shakira de Alfama, com a anca mais bombástica do fado português!!! http://www.myspace.com/deolindalisboa P.S.- Pensava fazer esta sugestão daqui a uns dias. Mas foi antecipada de modo a evitar penas eriçadas...

domingo, 21 de outubro de 2007

Lullaby de Domingo

Day off. SILÊNCIO, por favor.

Retratos do Portugal de Salazar. Anos 60



"Quando me pergunta acerca da discriminação... é o medo de andar na rua sozinha, e não é o medo de ser assaltada, é um medo muito pior, que é o medo de ser visto como um naco de carne, é o medo de não ser visto como um Ser Humano. As mulheres não eram vistas como seres humanos em Portugal. Eram objectos da concupiscência dos homens que eram totalmente frustrados sob todos os pontos de vista, e portanto, a única coisa que tinham na cabeça era sexo. Se calhar na vida também não tinham, mas na cabeça... era uma coisa completamente insustentável."

Diana Andringa


O dia internacional contra a violência machista comemora-se a 25 de Novembro, mas deveria ser relembrado todos os dias.

sábado, 20 de outubro de 2007

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Ora dá cá um beijinho...

...pediu ele a babar pelo canto dos lábios. Viam-se todos os dias, na aterradora fila para o café que se tornava insuportável nos intervalos. Ela não sabe bem o que fazer. Tenta recuar, ele já se aproxima, beiçolas ameaçadoramente em riste, certeiramente apontadas para as suas bochechas. Rende-se à situação e, resignada, obriga-se a aceitar o cumprimento baboso do patético homenzinho. Ele agarra-lhe no braço, como que a assegurar que os lábios assentem exemplarmente nas faces dela, um beijo carregado da espuma que lhe enche os beiços. O mo(vi)mento prolonga-se para a outra face. A criatura, matemático de profissão, tem problemas com o cálculo; elenca um, pespega-lhe dois. Dupla agonia. Instintivamente, limpa a face conspurcada; só lhe ocorre ripostar com "Pois é, não nos vemos todos os dias." E ainda bem, acrescenta mentalmente.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Lullaby a Z.

Para ti. Estivemos juntas há um ano. Deixa-me evocar o teu nome como se cá estivesses.

Bem pelo contrário.

Alguém culpa-a por ceder à demência graças à obrigação contratual de partilhar uma cama com um desconhecido? Já que estamos nisto, evoquemos essa outra, Tosca, que beija com punhais. So what? Palavra de feminista.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

A Paixão Segundo Clarice

Muitas vezes, quando assaltada pela angústia, consulta Clarice. Tacteia o livro, sente-lhe primeiramente a textura, toma-lhe o cheiro para finalmente soletrar (como quem não sabe ler) o título. Degusta-o lentamente, letra a letra. O livro da paixão é a sua superstição. Abre-o e procura pelas palavras que lhe atenuarão a insónia. Sorri mentalmente quando as descobre: "Não que eu estivesse presa mas estava localizada. Tão localizada como se ali me tivessem fixado com o simples e único gesto de me apontar com o dedo, apontar a mim e a um lugar."
Clarice Lispector, A Paixão Segundo G.H.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

"A Relíquia"


Há uns sete anos, o meu pai disse-me:
- Ofereço-te. Este canivete anda sempre comigo, mas agora é teu. Podes vir a precisar. Guarda-o.
Nunca utilizei o canivete, mas quando abro a gaveta das facas da cozinha vejo-o e lembro-me sempre desse episódio com muito carinho.

Associar um canivete a um acto de ternura é um pouco estranho, mas pode acontecer.

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

As mãos dos pretos


"Já não sei a que propósito é que isso vinha, mas o Senhor Professor disse um dia que as palmas das mãos dos pretos são mais claras do que o resto do corpo porque ainda há poucos séculos os avós deles andavam com elas apoiadas ao chão, como os bichos do mato, sem as exporem ao sol, que lhes ia escurecendo o resto do corpo. Lembrei-me disso quando o Senhor Padre, depois de dizer na catequese que nós não prestávamos mesmo para nada e que até os pretos eram melhores do que nós, voltou a falar nisso de as mãos deles serem mais claras, dizendo que isso era assim porque eles, às escondidas, andavam sempre de mãos postas, a rezar. (...)"

Luís Bernardo Honwana (Moçambique)

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Prioridades

"Quando alguém compreende que é contrário à sua dignidade de homem obedecer a leis injustas, nenhuma tirania pode escravizá-lo."
Gandhi

A dor(mência) da memória


"- A seguir, um estado de alma. «Somos pequenos, modestos, incultos, pobres, (...) a nossa memória é maior do que nós. (...). (...) Mas nós estamos "in memoriam".»"
J. Derrida, citado por Fernanda Bernardo in Derrida Em Coimbra, Palimage, p. 35

No embalo das pestanas que teimam em manter-se apartadas por mais uns minutos revejo as mensagens que guardo no telemóvel. A mais antiga remonta a 9 de Outubro de 2004: "Morreu Derrida." Tornou-se-me uma impossibilidade apagar esta mensagem. De quando em vez releio-a, quase com o espanto da primeira vez.
«Nós estamos "in memoriam"».

Fotografia de Abelardo Morell

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

"Good looks fade. But a bad personality is forever"

domingo, 7 de outubro de 2007

sábado, 6 de outubro de 2007

I " Certa vez, quando tinha seis anos, vi num livro sobre a Floresta Virgem, "Histórias Vividas", uma imponente gravura. Representava ela uma jibóia que engolia uma fera. Eis a cópia do desenho. Dizia o livro: "As jibóias engolem, sem mastigar, a presa inteira. Em seguida, não podem mover-se e dormem os seis meses da digestão." Refleti muito então sobre as aventuras da selva, e fiz, com lápis de cor, o meu primeiro desenho. Meu desenho número 1 era assim: Mostrei minha obra prima às pessoas grandes e perguntei se o meu desenho lhes fazia medo. Responderam-me: "Por que é que um chapéu faria medo?" Meu desenho não representava um chapéu. Representava uma jibóia digerindo um elefante."
in O Principezinho, Saint-Exupéry II Uma amiga escreveu no quadro o sinal de menor ( < ) e o sinal maior ( > ) para explicar um exercício, e alguém fez a seguinte observação: " A professora está a desenhar dentes de vampiro!" III - idade do primeiro menino < idade do segundo menino; -os dentes do vampiro são: VV

Constatação - or does a name really matters?


sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Penúltima Vivência

quero só o silêncio da vela. o afogar-me na temperatura da cera. quero só o silêncio de volta: infinituar-me em poros que hajam num chão de ser cera.
Ondajki
Adorei o neologismo: a personalização do infinito, o tornar-se sujeito de e no infinito.

Somewhere over the Rainbow

terça-feira, 2 de outubro de 2007

O que é um nome?

Recebo o link para o Público de última hora, que dá conta do suicídio conjunto. "Filósofo André Gorz e mulher cometeram suicídio." Assim mesmo: primeiro e último nome da parte dele, mulher da parte dela. Em caixa baixa. Percorro o artigo; leio o nome dele e respectiva biografia, apresentada de forma sucinta. Ao longo do pequeno artigo, ela não possui identidade, para além de ser mulher dele. A magnífica declaração de amor ficou por traduzir. Reduzida a pó, em notícia lida num sopro que o chama de filósofo a ele e de pertença a ela. Morre o filósofo e a mulher. Ela, apêndice. Matou-se o filósofo. Matou-se também a mulher. Sem rosto, sem biografia. Sem nome.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

enjoy the silence

Words like violence Break the silence Come crashing in Into my little world Painful to me Pierce right through me Can’t you understand Oh my little girl All I ever wanted All I ever needed Is here in my arms Words are very unnecessary They can only do harm Vows are spoken To be broken Feelings are intense Words are trivial Pleasures remain So does the pain Words are meaningless And forgettable All I ever wanted All I ever needed Is here in my arms Words are very unnecessary They can only do harm Enjoy the silence Depeche Mode

Sem paciência

A citação dos autores começa a enervar-me. Pejada de regras e regrinhas. Normas e formatinhos. Ora sublinhado, ora a bold, ora em itálico. Se for de uma monografia de uma maneira, numa publicação de série de outra, de uma revista ainda outra.