quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

"Vamos fingir que a questão é o aborto"







Portugal costuma ser um país onde as tendências demoram a chegar. Talvez seja da posição geográfica. 
No entanto, desta vez - talvez pelo efeito globalizante da União Europeia - certas correntes não tardaram a dar o ar de sua graça. O post da Isabel Moreira trata precisamente disso.
Os ventos ultraconservadores que assolam alguns países europeus (para além de Espanha, agora em França gritam-se coisas divertidíssimas como «não toquem nos nossos estereótipos de género» - uma verdadeira ternura, embora eu prefira a versão de que a «teoria do género visa destruir a Criação e libertar todas as perversões humanas»: uns demónios, portanto. Ou melhor, umas filhas do demo, que já se sabe que onde há maldade há mulheres). Da Polónia também não vêm melhores ventos.


De notar que não tenho nada contra quem não aceita o aborto como uma solução ou que não compreenda orientações sexuais diferentes da sua. Desde que se mantenham na sua vida. Eu, que sou a favor da IVG, e que defendo que todas as mulheres têm o direito (dentro das condições previstas na atual lei) a decidir pela continuidade ou não de uma gravidez, não impeço ninguém de ter filhos. Aliás, quem está minimamente familiarizado com o processo sabe bem que é muito mais fácil apoiar uma grávida em desespero e indecisa que vá a um hospital para interromper uma gravidez - porque há uma equipa que se encarrega de lhe dar soluções que ela desconhece e à qual seria impossível recorrendo à clandestinidade.


Não me incomoda minimamente que alguém diga (e aja em conformidade) que jamais abortaria (porque é contra as suas convicções ou por outro motivo qualquer). Agora, não se venham meter na minha vida e na vida alheia. E sim, acho que é dever do Estado criar condições e apoiar toda a gente que queira ter filhos e que não os ter (quando se quer ser mãe e pai) por falta de apoio do Estado é um redondo falhanço das funções do Estado e dos direitos de cidadania. Apoio do Estado passa por políticas amigas da família, por uam carga fiscal menos pesada e pela facilidade de acesso a estruturas de apoio educativo a custos acessíveis. Da mesma maneira não me incomoda que alguém afirme que discorda do casamento entre pessoas do mesmo sexo e que a ICAR não o reconheça no direito canónico. É-me indiferente. Estão no seu direito. Agora, vamos lá ver: a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo, que eu saiba, não veio prejudicar o contrato conjugal heterossexual. Portanto, a única coisa que vejo que possa motivar a oposição é uma grosseira intromissão na vida privada de outra pessoa. Eu posso achar um disparate alguém fazer um contrato de compra e venda com condições que considere obscenas. Se isso me dá o direito de impedir a celebração daquele contrato? Não, não dá. Portanto, meninos/as concentrem-se lá nas vossas vidinhas e deixem que cada um cuide da sua, ok?

Ah, e poupem lá na conversinha de que «se trata de uma vida». É que quando papagueiam essa conversa quer-me parecer que não é da vida da grávida que estão a falar. Pelos vistos, há vidas mais importantes que outras. Savita Halappanavar. Ouviram falar? Está morta. Porque, apesar de nem ser católica, uma cambada de obscurantistas se recusou a fazer-lhe um aborto porque o coração do feto ainda batia. Um feto de 17 semanas. O coração desta mulher de 31 anos também bateu até ao dia 28 de Outubro de 2012. 
Não se atrevam a falar em respeito pela vida.

Ah, no meu caso, não é só a barriga que é minha, a vida também. Não, a minha vida não pertence a deus, que se ele quiser, há-de ter muito mais que fazer que andar a fiscalizar as alcovas e consciências alheias. Há muito certamente para deus fazer no planeta. Estou em crer que ele não quer saber de sexo para nada.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014


Após todas entrevistas, conferências de imprensa, reportagens, discussões, denúncias, artigos de opinião, e processo-crime, nem se cumpre um período de nojo. 
Hoje, havia praxantes e praxados/as no jardim do Campo Grande.

Como se nada tivesse acontecido. Como se não houvesse um antes e um pós-Meco. É como se, vestidos daquela maneira - em contraste com os vestidos à futrica - dissessem: queremos lá saber do Meco para alguma coisa. Quem manda aqui somos nós. 

Não, não é um ato de coragem ou de rebeldia. Quem precisa de se afirmar à custa da humilhação alheia está condenado/a a ser um/a cobarde para sempre.
É um ato de cobardia - precisamente porque sabem de antemão que nada irá acontecer. Porque nunca nada aconteceu, exceto para as vítimas e,  nos casos mortais, também para  as suas famílias.

Reblogged from This isn't Happiness


Ah, esqueci-me, era tudo integração. Em Fevereiro ainda precisam de (mandar) rastejar e comer relva para (se) integrarem. E eu achar que era só no início das aulas.

Julgo que, contrariamente ao que fui ouvindo, em Setembro nada mudará. Para quem não quer participar mas se sente coagido/a ou pressionado/a a fazê-lo não haverá diferenças. A hostilidade permanecerá igual.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Alucinação


E se, ao entrar na cafetaria da Biblioteca Nacional, vir o Jeremy Irons a beber um café isso é...
uma alucinação, evidentemente.


Acontece-me frequentemente, não necessariamente com o Jeremy Irons, mas a minha propensão para ver pessoas em objetos e vice-versa é já um clássico.