sábado, 31 de dezembro de 2005

Obsessivamente Dogville II


Antes que se desvaneça na memória...

"But because I could see right through her, my desire was purely physical."
(por Tom, a Grace, em Dogville)

É assim que Tom descreve porque "decidiu amar" Grace e abandonar a fixação que nutria até então Liz.
Liz, que ele sempre conhecera, demasiado próxima, sem surpresas ou zonas cinzentas. Ela é exactamente o que ele espera que ela seja, situada na carne que desde sempre ele deseja, mas sempre desvelada, demasiado legível, excessivamente tangível.
Por outro lado, Grace; a estrangeira, a estranheza do seu rosto,voluptuosamente apetecida pela sua opacidade, pela forma com que se velava perante o olhar que ele e todos os outros insistentemente lhe lançavam. Com Grace, o desejo de Tom transcende-se, subtrai-se a si mesmo para se projectar todo no desconhecido. É pela "ilustração" perfeita da diferença que Tom se apaixona.

Obsessivamente Dogville I

Two things inspired me to write “Dogville”. First of all, I went to Cannes with “Dancer in the Dark” and I was criticized by some American journalists for making a film about the USA without ever having been there. This provoked me because, as far as I can recall, they never went to Casablanca when they made “Casablanca”.
(Lars Von Trier)

sexta-feira, 30 de dezembro de 2005

Vibratto de violino em papel de embrulho




Na caixa do correio um embrulho. Letra reconhecível no fundo da (boa) memória, sítio onde guardamos tudo aquilo que nos atinge as entranhas de punho fechado.
Do interior, Franz Schubert , violenta e descompassadamente "La Jeune Fille et la Mort" - acompanha as palavras de Rilke "Mas porque estar aqui é muito" - é verdade, estar aqui é muito; é estar na ilha acompanhada pelo mão longíqua de quem nos escreve e nos arranca da mórbida lentidão dos dias.
Em tempos de melancolia, o instrumento certo: violino - cruel, por vezes - e as palavras de quem nos recusamos (nem podemos) esquecer.
(Imagem de Patrícia Bursztein)

Verbocracia II

No nosso mundo são as palavras que dominam! Levam-nos a actos, acções. Há famosas revoluções que foram as palavras que as perpetuaram. Por exemplo, "Solidarité, fraternité, igalité!" foram lindas, rítmicas e muito revolucionárias palavras da Revolução Francesa e daí até compreender a omnipresença da guilhotina naquela época, pois não fosse alguém querer acrescentar outras palavras e estragar a composição (quem tentou ficou sem palavras e perdeu a cabeça!!)
As palavras muitas vezes são maléficas... mas, como diz alguém e muito bem, "há imagens que valem por mil palavras" e assunto resolvido! É de referir que alguns países de sentimentos hegemónicos utilizam essa estratégia! Quando não ficam satisfeitos com as palavras das outras nações, mostram ou mesmo enviam "quadros" bélicos e, perante isso, milhares de pessoas ficam mesmo sem palavras! (Que triste imagem humana!)
Mesmo na Democracia(refiro-me à actual), apesar de imperfeita sempre é melhor do que a Democracia ateniense, isto não querendo provocar alguém que insiste e teima sempre em dizer que a antiga Grécia foi o berço da civilização!). Temos uma maioria que tem a palavra; e a minoria?! Podem até ter palavras... mas essas não são válidas! Será que estamos numa Ditadura das palavras?! E a estratégia da maioria tem muito que se lhe diga!
Estrategicamente ou não, quero desejar a todos um ANO 2006 cheio de palavras e acções de SOLIDARIEDADE, SAÚDE, PROSPERIDADE, AMIZADE e muito AMOR e assim, quem sabe, consigamos construir um MUNDO MELHOR! FELIZ ANO!

A Verbocracia I

"Vivemos numa Verbocracia" dizia um professor que tive há uns largos anos. Realmente as palavras são os motores das nossas vidas; elas dão forma a decisões, pensamentos, sentimentos, ideias... As palavras são as expressões e impressões da Vida.
Há quem utilize poucas palavras ou então há quem opte por não dizer nada, cumprindo-se, por vezes, aquilo que o humanista Erasmo de Roterdão disse in Elogio da Loucura, "Um louco calado pode passar por um sábio", ou então os que "falam, falam, falam e não dizem nada e é claro que fico chateado".
A torre de Babel é indubitavelmente (vem na Bíblia!) um testemunho da grande importância da palavra, pois diz-se que andavam os homens a entender com as "mesmas palavras" quando o Ser Divino, Castigador e com um certo humor decide criar a grande confusão! Mas este facto os professores de Línguas até agradecem!
" Estis sal terrae" dizia o eloquente e imcompreendido Padre A. Vieira em relação àqueles que pregavam a fé (através da palavra, pois é claro) e que, desiludido com os homens, elegeu os peixes como ouvintes. Mas foi com os seus engenhosos e ardilosos Sermões que conseguiu alcançar uma causa justa, a Liberdade aos Índios do Brasil.
Por vezes as palavras andam à frente do tempo, provocando, a quem as utiliza, trantornos e até, algumas vezes, a morte ( Jesus, Sócrates, Galileu, Tomás Morus, Martin Luther King, Humberto Delgado e mais uma infinidade de nomes que lutaram com sábias palavras).
(continua...)

quarta-feira, 28 de dezembro de 2005

Este post é teu Everything - Sing-a-long-a



Ideia peregrina surgiu lá para os lados do Reino Unido. O pessoal, saudoso das idas dominicais à Igreja para afivelar as cordas vocais ( e sem nada para fazer, decerto), decidiu reunir-se para cantar, em (des)harmonioso coro, músicas imemoriais e que roçam já o plano do sagrado (????); falo, evidentemente, de clássicos tais como o reportório completo do natalício Música no Coração, ou dos Abba. Assim, anda o pessoal a sair, em noites frias, para ajuntamentos em salas (de cinema?) a fim de dar largas ao inegualável prazer de cantar o Dó Ré Mi. Pois bem, em altura de Natal (e porque todos nós temos um pouco de Música no Coração em nós), proponho uma sessão de Sing-a-long-a um bocadinho diferente. Esta terá apenas um protagonista, o Everything (que tanto maldiz o que proponho em seguida) que baterá o pézinho e cantará a plenos pulmões PIXIES, para todos nós ouvirmos. Prometo que acompanhamos!

domingo, 25 de dezembro de 2005

Excesso de Luz provoca a Cegueira

Desde já quero agradecer o convite feito pela minha amiga Woman Once a Bird e pedir desculpas por este meu prolongado e condicionado silêncio, mas o meu protesto anti-natalício tem-me dado que fazer...
Pensei este ano simplesmente gozar férias, sem ter que me preocupar com absolutamente nada (carpe diem e carpe noctem). Mas quando regressei à minha terriola, depois de uma temporada de árduo trabalho, alguém já me esperava para fazer o "pinheirinho". Cedi, mas com a condição de me servir desse "adorno natalício" para tapar uma parede lá de casa que não gosto.
As prendas! Que enervante ! Enfim... cedi novamente por motivos familiares, sociais,culturais... (sim porque isto de querer mudar mentalidades não é fácil, leva muito tempo!!). Comprei coisas em série, igual para todos, poupei tempo e dinheiro e, se calhar, ganhei algumas inimizades! (Nos aniversários recompensá-los-ei).
Também nesta época dá-se um fenómeno brilhante e muito curioso!! Há pes
soas que "regressam" sob forma de mensagem de telemóvel, tipo D. Sebastião num dia de nevoeiro ou então como o Romeiro que se viu obrigado a responder à fatalística pergunta "Quem és tu romeiro?".
O panorama televisivo é do pior! Há filmes que só de ouvir o título causam-me náuseas. A publicidade ainda me cria alguma expectativa... mas não gosto à mesma do Natal!
Depois, ainda a nível televisivo, temos uns senhores que querem chegar a Belém e ainda não sei qual é a brilhante estrela que seguem... até é provável que sigam estrelas diferentes, pois não há consenso entre os candidatos! Só sei que tem sido uma viagem monótona e saturante!
Um dia irei também ter a brilhante ideia de me candidatar a Belém, mas até lá terei que esperar muito tempo, pois sou muito jovem (dado importantíssimo cara Woman Once a Bird que duvida sempre da minha jovialidade).
Depois deste protesto retomei algumas ideias e pensei então quebrar o silêncio da minha Nefertiti. O sopro de alguém muito especial causou um efeito animístico e nem os comentários contundentes ou contestatários ou explicítos protestos irão aniquilar uma voz.
Nefertiti foi realmente uma mulher emancipada e de muito relevo na sua época. Ousou enfrentar uma sociedade profundamente politeísta para, conjuntamente com o seu marido, faraó Akchenaton, criar uma nova religião monoteísta, devota ao deus sol, Aton.
Contudo, em relação a essa brilhante personagem histórica, posso referir que tenho apenas dois aspectos semelhantes, sendo estes: viver numa terra onde avisto muita areia brilhante e fina e usar dois brincos na orelha esquerda (pormenores/futilidades da História que sempre me despertaram muita atenção).
E a propósito de brilhos, devo dizer que o título é um provérbio árabe logo nada tem a ver com o Natal.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2005

Por cá, simplesmente...

"Nasce um deus. Outros morrem. A Verdade
Nem veio nem se foi: o Erro mudou.
Temos agora uma outra Eternidade,
E era sempre melhor o que passou. "
Fernando Pessoa

quinta-feira, 22 de dezembro de 2005

Poesia em movimento


Soubesse eu como como musicar este blog, e alimentaria não só o olhar....

Delícias para os sentidos.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2005

Mademoiselle de La Palisse em tarde de Quarta.


Amena tarde de quarta-feira. Em casa, com tempo suficiente para estar em frente ao televisor. Desengane-se quem pense que não há trabalho a fazer; pura e simplesmente, empurro-o para dias melhores (ou piores) quando tenho que realizar em dois ou três dias aquilo que poderia ter feito calmamente em oito. A minha experiência neste campo - deixa para a semana o que podes fazer hoje - permite-me afirmar que sei que continuarei a perpetuar esta minha (porcaria de) tradição... em cada interrupção lectiva um adiamento, em cada regresso às aulas um (quase) ataque cardíaco. Também é certo que já tentei contrariar esta tendência; recordo-me perfeitamente do Verão em que, quase garantido que leccionaria no ano seguinte determinado nível, dediquei-me convictamente a elaborar com calma alguns materiais. As intenções saíram-me completamente goradas, já que me foi atribuído o nível seguinte, pelo que todo aquele trabalho...
Tudo isto só para justificar a minha estadia em frente ao televisor, a rever um episódio da Ally McBeal. Pois bem, no episódio de hoje, a Ally descabelava-se porque tinha acabado de completar 29 anos e tinha, simultaneamente, topado uma nova ruga. Até aqui tudo normal. Mas o que me atingiu de facto foi quando, na sua gritaria histérica acerca de que mais um ano e estava nos trinta,blá, blá, blá, a amiga ripostou qualquer coisa como: Deixa lá, os teus 20 foram uma porcaria do princípio ao fim, por isso pode ser que os trinta sejam o ponto de viragem. Sem mais!
Da minha parte,apenas acrescento uma prece e uma constatação:
Espero que ela tenha mesmo razão.
Porcaria! Ainda falta um ano inteiro!

segunda-feira, 19 de dezembro de 2005

A duas mãos.




Recém-chegada com passos suaves a este blog que seja nosso, Nefertiti. Protegida pelo seu astro, mantém-se ainda na sombra, à espera do melhor momento para espraiar o seu brilho por estas páginas virtuais.
E cá estamos, a Mulher (que já foi) Pássaro e a Mulher (que divinizou o) Sol, reunidas de novo em nenhures. Sem solo (um punhado de areia?), na distância de um teclado e de um servidor. As amizades têm destas coisas.
Trabalho em âmbar de Andrew Rykovanov

Interessante...

...A proposta que o caro Aristóteles nos faz para a semana que hoje começa. Da minha parte, tenho tamborilado os dedos ao som da música que me parece mais adequada para sonorizar a experiência que se passa pelas bandas do interrupções:
"Stop
With your feet on the air and your head on the ground
Try this trick and spin it, yeah
Your head will collapse if there's nothing in it
And you'll ask yourself
Where is my mind?
Where is my mind?"

sábado, 17 de dezembro de 2005

Leituras II


Nova passagem pela Bertrand, nova desilusão.
Em busca das Identidades Assassinas (Amin Malouf) que entretanto se puseram em fuga para outras prateleiras. Não me deixei ficar a salivar; agarrei de rompante no Cântico Negro (antologia poética editada pela Quasi) e corri dali para fora, vingada da desfeita.
Derreada, mas não vencida.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2005

Leituras I

No meu passeio habitual (e muitas vezes distraído) pelas prateleiras da Bertrand, encontrei o Paulo Coelho manhosamente disfarçado nas prateleiras de filosofia. Afastei-me rapidamente da nefasta visão, envergonhada por ter testemunhado tal cena .
Ainda não me recompus do choque.

terça-feira, 13 de dezembro de 2005

Destinatários...


Sempre que pego num livro, assalta-me invariavelmente a mesma pergunta: Endereçado a quem? A quem a última palavra, o último suspiro?
Que (priva)cidade violamos no simples voltar de páginas?

domingo, 11 de dezembro de 2005

Dance she did, and dance she must.


Da minha bagagem, os meus "Sapatos Vermelhos". Curiosamente, deixam que os retire e os pouse. Afinal, estou cansada e eles também.
Não via o filme desde miúda e a memória é poderosa. As nossas colchas de retalhos (do passado) por vezes enganam-nos e aquilo que em tempos nos pareceu intemporal, deixa de o ser. Revi-o a medo. Não me decepcionou. Continua grande; continua a fazer parte do meu imaginário. E não importam as passagens menos perfeitas graças à (falta de) recursos. É intemporal.
Para quem gosta de clássicos.
(Filme de Michael Powell e Emeric Pressburger, de 1948)

Silêncio quase absoluto


Comecemos pois sem qualquer intenção. Comecemos por escutar.
Apenas a rasura dos dias.