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Ao vivenciar algumas situações bem desagradáveis com duas instituições, que não interessa aqui identificar, cuja divulgação das suas actividades é feita com a nítida preocupação em mostrar que estão despertas para a questão da defesa dos direitos humanos e são sensíveis às questões do respeito pela individualidade, constatei que no tracto com o próximo - que lhes é de facto próximo - revelam uma veia particularmente cruel e insensível.
Admitindo que estas instituições acreditam no que tanto apregoam e que não é apenas uma estratégia de marketing, o que nestes casos em particular duvido muito, revoltou-me constatar que quando lidam com as pessoas do seu quotidiano são responsáveis por actos perfeitamente contrários às suas mega-ideias de humanismo e da forma de ver o Outro.
E embora a minha indignação seja legítima, pergunto-me até que ponto é que não temos, em termos individuais, "pequenos gestos" como estes no nosso dia-a-dia: será realmente mais fácil defendermos os direitos de quem não tem rosto? Porque razão é mais fácil sermos solidários com as massas do que com a pessoa que se encontra imediatamente ao nosso lado? E se sim, com que consciência é que acreditamos na justiça e na igualdade para A HUMANIDADE e depois somos vis com as pessoas com as quais nos cruzamos no dia-a-dia?
Realmente, fazendo uma introspecção, eu particularmente, tenho muita facilidade em ter sentimentos de solidariedade e ser tolerante com o desconhecido… protestando para quem me quiser ouvir que realmente todos deveriam ter os mesmos direitos e todos merecem o nosso respeito.... no entanto, quando se trata de lidar com alguém próximo, quando este “TODOS" se torna numa pessoa só, quando se trata de estender a mão a alguém que se encontra ao virar da esquina, aí a paciência esgota-se muito facilmente...
Gosto de pensar em mim como uma defensora dos direitos da mulher, por exemplo, mas poucas vezes procurei saber porque é que a empregada de limpeza do meu local de trabalho carrega uma expressão dura e cansada no rosto. Fico muito transtornada quando vejo as crianças na longínqua África a morrer à fome, mas nem procuro saber a história da criança que me vem pedir uma esmola na rua e ainda fico incomodada que o faça...
Infelizmente, penso que realmente é bem mais fácil sentirmos que somos defensores de causas nobres e solidários com os acontecimentos que nos são apresentados em números, sem nome, nem rosto ou voz que nos possa despertar a tendência de julgamento fácil, ou medo da ameaça que essa pessoa possa significar para a nossa condição (física, psiclológica, social), porque nesses casos …somos solidários, em primeira instância, connosco mesmos e arranjamos todos os argumentos (pensados ou verbalizados) para justificar as nossas atitudes (negligentes, na melhor das hipóteses) e mantermo-nos bem com a nossa própria consciência... No entanto, um bem-haja a todos os voluntariados que dão e vêem o rosto dos números!
Ao vivenciar algumas situações bem desagradáveis com duas instituições, que não interessa aqui identificar, cuja divulgação das suas actividades é feita com a nítida preocupação em mostrar que estão despertas para a questão da defesa dos direitos humanos e são sensíveis às questões do respeito pela individualidade, constatei que no tracto com o próximo - que lhes é de facto próximo - revelam uma veia particularmente cruel e insensível.
Admitindo que estas instituições acreditam no que tanto apregoam e que não é apenas uma estratégia de marketing, o que nestes casos em particular duvido muito, revoltou-me constatar que quando lidam com as pessoas do seu quotidiano são responsáveis por actos perfeitamente contrários às suas mega-ideias de humanismo e da forma de ver o Outro.
E embora a minha indignação seja legítima, pergunto-me até que ponto é que não temos, em termos individuais, "pequenos gestos" como estes no nosso dia-a-dia: será realmente mais fácil defendermos os direitos de quem não tem rosto? Porque razão é mais fácil sermos solidários com as massas do que com a pessoa que se encontra imediatamente ao nosso lado? E se sim, com que consciência é que acreditamos na justiça e na igualdade para A HUMANIDADE e depois somos vis com as pessoas com as quais nos cruzamos no dia-a-dia?
Realmente, fazendo uma introspecção, eu particularmente, tenho muita facilidade em ter sentimentos de solidariedade e ser tolerante com o desconhecido… protestando para quem me quiser ouvir que realmente todos deveriam ter os mesmos direitos e todos merecem o nosso respeito.... no entanto, quando se trata de lidar com alguém próximo, quando este “TODOS" se torna numa pessoa só, quando se trata de estender a mão a alguém que se encontra ao virar da esquina, aí a paciência esgota-se muito facilmente...
Gosto de pensar em mim como uma defensora dos direitos da mulher, por exemplo, mas poucas vezes procurei saber porque é que a empregada de limpeza do meu local de trabalho carrega uma expressão dura e cansada no rosto. Fico muito transtornada quando vejo as crianças na longínqua África a morrer à fome, mas nem procuro saber a história da criança que me vem pedir uma esmola na rua e ainda fico incomodada que o faça...
Infelizmente, penso que realmente é bem mais fácil sentirmos que somos defensores de causas nobres e solidários com os acontecimentos que nos são apresentados em números, sem nome, nem rosto ou voz que nos possa despertar a tendência de julgamento fácil, ou medo da ameaça que essa pessoa possa significar para a nossa condição (física, psiclológica, social), porque nesses casos …somos solidários, em primeira instância, connosco mesmos e arranjamos todos os argumentos (pensados ou verbalizados) para justificar as nossas atitudes (negligentes, na melhor das hipóteses) e mantermo-nos bem com a nossa própria consciência... No entanto, um bem-haja a todos os voluntariados que dão e vêem o rosto dos números!
8 comentários:
Nem sempre permanecemos adormecidos em relação ao outro ali mesmo. Mas sim, maioritariamente tendemos a virar o rosto e assobiar, procuramos varrer da memória a imagem e o desconforto. Preferimos números, oceanos, tudo o que nos afaste da miséria perante nós. Humanos demasiado humanos (roubando o título ao outro).
Excelente post. Partilho as tuas preocupações e as tuas causas.
Olhar para o outros com olhos de sentir... Gostei muito deste post, muito mesmo. Obrigada
amei. por muitos motivos que não cabem aqui dizer.
obrigada, linda.
Concordo plenamente contigo e partilho dos teus sentimentos em relação aos direitos à Igualdade.
É realmente fácil ter pena e compaixão do que vemos à distância. A acção directa, lá longe, exigiria muito mais de nós a todos os níveis.
Vai-se fazendo o que está ao alcance de cada um.Mesmo sendo pouco, já é alguma coisa.
Eu acho mais difícil ser solidário com as massas precisamente por não lhes vermos as caras. Não faz sentido ser solidário com o anonimato. Mas é realmente complicado ter o coração suficientemente desimpedido de algum egocentrismo que nos leva a ser solidários, ao ponto de ajudarmos quem está logo ali ao lado.
Entendo a solidariedade em relação às massas realmente um acto de egocentrismo, como tu bem referes. E ajudar não deve ser isso, ajudar é dar de nós aos outros, tem de ser assim senão não vale de muito. E somos nós na nossa vida do dia-a-dia que podemos fazer a diferenças.
O trabalho dos voluntários é realmente extraordinário e deve ser sempre louvado. Não se fala muito deles.
Obrigada Nosfer4tu... não sei porquê mas acho que temos muito em comum ;) e bem vindo ao blog (depois muito de te chatear)!
isobel, não acho que a solidariedade com as massas seja um sinal de egocentrismo; ela também é necessária, até porque mesmo que seja feita pelas razões menos correctas, as consequências desse acto acaba por torná-lo Maior do que as verdadeiras razões que motivaram o seu autor. O que me parece é que muitas vezes não somos capazes de sermos tão solidários ou altruístas no nosso dia-a-dia. E quando isso acontece, com que legitimidade (ou consciência) é que podemos pensar em nós mesmos como pessoas verdadeiramente sensatas, altruístas, solidárias e defensoras de determinadas causas? (esta é uma pergunta que faço a mim própria e não a ninguém em particular)
É o efeito de espelho com o que está perto e as imagens difusas do que está longe. Não suportamos ver-nos a nós próprios. Tudo isto me lembra uma obra sobre teratologia que publicitei recentemente.
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