sábado, 29 de abril de 2006

quinta-feira, 27 de abril de 2006

miserabilismos!

Deu-me um nó na garganta quando vi o post sobreviver de Dirim! Quem é que responde por estes crimes!!
http://myhairisfullofbrain.blogspot.com/

terça-feira, 25 de abril de 2006

Não Me Esqueço De Ti. (2)



Abril por se cumprir, esbate-se cada vez mais no tempo e na falta de memória.
Por cá não se comemora, em nome de um orçamento que chega para tudo menos para avivar o que não interessa.
Mudam-se os tempos, mas não se mudam as vontades. E se por enquanto "cá se vai andando com a cabeça entre as orelhas"...

"Não me digas que não me compreendes
Quando os dias se tornam azedos
Não me digas que nunca sentiste
Uma força a crescer-te nos dedos
E uma raiva a nascer-te nos dentes
Não me digas que não me compreendes

Que força é essa
Que força é essa
Que trazes nos braços
Que só te serve para obedecer
Que só te manda obedecer
Que força é essa, amigo
Que força é essa, amigo
Que te põe de bem com outros
E de mal contigo
Que força é essa, amigo
Que força é essa, amigo …"
(Sérgio Godinho)

(Cartaz de Vieira da Silva)

domingo, 23 de abril de 2006

Valentias domingueiras

Exorcizo parte do meu masoquismo de cada vez que compro o Público e dele consta o contributo dessa figura que responde por Vasco Pulido (e dizem) Valente.
Abomino o homem; acho-o pedante e, imagino-o de peito inchado a escrever as suas estopadas. Mas, tal como o meu outro ódio de estimação, Sousa Tavares, o Proscrito (o maior injustiçado dos últimos tempos porque o seu País o quer escorraçar e ao seu cigarrinho dos espaços públicos) ainda lhe encontro algumas benesses.
Dizia eu que em dia de VPV, a primeira coisa que faço é ler a coluna do dito (estrategicamente colocada na última página). O exercício é esgotante, pois invariavelmente irrito-me. Mas, em abono da verdade, todo e qualquer conteúdo que conste do restante jornal, por mais pessimista ou desolador que seja, parece-me sempre melhor que os vaticínios do comentador de última página. E deste modo, VPV tem um efeito positivo em mim. Porque depois dele, venha o que vier, nada me parece tão mau!
Pois bem, o VPV de hoje, a certa altura escreve "Sócrates gozava de uma fama de obstinado e "duro", que ao princípio pareceu justificar. (...). Mas recentemente dá a impressão de que perdeu a energia e a força e se contenta com um ou outro exercício de retórica e propaganda. O que se percebe. É fácil perorar num jornal (...) sobre o que se deve ou não fazer. Não é fácil fazer o que se deve (...)."
Sorry? Aqui, acertou no alvo. Porque efectivamente deve ser infinitamente mais fácil ser pago para lamentar-se e disparar para todo o lado algumas vezes por semana do que fazer efectivamente algo. Acredito que tenha sido absolutamente genuíno.
A mim só me enerva que lhe paguem para isto.

sábado, 22 de abril de 2006

quarta-feira, 19 de abril de 2006

Vale a pena, sempre!



Apesar de tudo… não resisti!
Ao fim ao cabo, o que interessa nesta vida é o amor (sentimento tão enigmático e impulsionador).
A vós, Rô e Pipo, dedico esta imagem (de Marc Chagal, meu preferido)!
E mais?! Palavras para quê?

terça-feira, 18 de abril de 2006

Não me esqueço de Ti


"Em cada Tu, nós invocamos o Tu eterno." (M. Buber)



Nos últimos dias tenho acompanhado uma polémica acesa em alguns blogues; a proposta da Rua da Judiaria acendeu uma diversidade de comentários e posts que, por aqui e por ali, podem muito bem ilustrar o País (e o mundo) que temos.
A hipótese de quatro mil velas avivarem a memória de um massacre ocorrido em Lisboa parece incomodar, como se o passado só fizesse sentido quando dizemos que fomos grandes, que desbravamos mundos (e, já agora, povos, porque o belicismo português não se ficou pelas ruas de Lisboa, nem teve por alvo só os Cristãos Novos). E se tudo parece muito lá para trás (500 anos justificam a cegueira, a tentativa de esquecimento, o desviar do olho e da consciência), certo é que um apelo destes despertou a verborreia discriminatória aqui e ali. Exigem-se explicações e isenções (Ah, se o apelo tivesse surgido num blog não judaico a iniciativa não estaria tão comprometida).
Fundamentalmente, choca-me que, depois de Auschwitz, se escreva com tanto desprezo pelo Outro. A responsabilidade é, por excelência, condição de resposta, de relação. Fugir a isto é fugir de si mesmo; fugir à relação é fugir ao diálogo com o outro. E por isso confunde-me que se pergunte (ingenuamente??) em nome de quem é feito o apelo (a chamada ao diálogo, à relação) : o apelo é feito em nome de todos nós. Da humanidade. Porque esquecer a história, recusar o passado é aniquilar a possibilidade do humano.
(Pintura de Magritte)

Obviamente tu, Brutus. 2


Magnífico, o último episódio de Roma.
Servília, com o seu rosto belíssimo, a desferir o último (??) golpe a Átia que, polidamente lhe agradece a jura de vingança. Fabulosas ambas, na agressividade educada da arena constante dos episódios da série. Certamente não fica por aqui.
Brutus, as usual, cobarde até ao fim. É num quase morto que Brutus atravessa o punhal, depois de murmurar contra ele aos ouvidos de outros. Espera por César caído, ensaguentado, com a sombra da morte nos olhos, para então desferir o seu golpe. E pressentimos que, pudesse ele evitá-lo, manteria as mãos (mas não as palavras) arredadas daquela execução.
Esperemos agora por Marco António - o debochado - que ainda assim recua incrédulo perante o assassinato no Senado. Até para ele a cena foi demais.
E esperemos também por Octávio, prudente, silencioso perante o relato de morte que Servília serve ao lanche.
In the end, matam-se os grandes, enquanto que os simples prosseguem serenamente; Pulo, o idiota, a força bruta cuja ambição sempre residiu em bebida e Irene é o único que se afasta incólume pelas vielas sinuosas do Império.

segunda-feira, 17 de abril de 2006

Um caso sério 3.

Ele está aí. O texto de re-inauguração, do regresso que corre vertiginosamente para o final . Apologia do não retorno é absolutamente recomendado. O blogue já consta dos favoritos, mas como a coluna (a quem tenho elogiado recentemente) fugiu lá mais para abaixo...

sábado, 15 de abril de 2006

"Nem que o eterno te dê a mão"


Vendemos a alma por um corpo a retalho.
Fausto está aí, em cada menina que tenta encaixar nos tamanhos formatados para corpos que ninguém tem. A (procura de) beleza tornou-se hedionda.
(Fotografia de Shanta Rao e título roubado a Fernando Pessoa)

quinta-feira, 13 de abril de 2006

Bode expiatório

(o Bode Expiatório, conhecido também por Azazel)

É tempo de férias e isso para mim equivale a uma atenção redobrada à televisão, net, jornais, revistas, enfim, aos media em geral! A globalização é só em tempo de férias! Há assuntos que só sei muito mais tarde ( só em tempo de férias )! Acho que até tenho sorte... porque os assuntos vêm mais apurados e menos inflamados (alguns)!
Ontem, mais uma vez (sou persistente), tentei usufruir de um momento televisivo nacional. Uma real decepção! Novelas atrás de novelas, séries que já perdi a conta das vezes que já vi e programas de humor nacional que me causam até rancor! (excepto o Gato Fedorento que ainda vou vendo com uma certa expectativa)
Contudo, ainda ontem à noite, discutia-se, no Clube dos Jornalistas, canal 2, o poder dos media na democracia. Aliás, o tema abrangente nesta espécie de tertúlia televisiva era: Os media como força oposta à democracia (mais ou menos assim... pois só vi um bocadinho!). Mas como o ponto de saturação estava a chegar aos píncaros, não houve pachorra para assuntos sérios, mudei de canal. Piorou a situação! Deparo-me como um anormal a discutir com um elefante e a dizer-lhe para se converter. Pensei que esta saga e chaga de realitys shows tivesse terminado! E em relação àquele anormal, o elefante deveria tê-lo sugado e, mais tarde, muito mais tarde, expeli-lo pelo sítio mais óbvio!! Adoraria! Como isso não aconteceu, fechei aquela caixa de Pandora que só me estava a causar desgostos!
Enfim, apesar de tudo temos que dar mérito aos media; entretêm-nos, informam-nos, denunciam certas situações... mas também temos que admitir que nem sempre são geridos da melhor forma, em vezes de informar/formar, deformam! São também uma arma poderosíssima.
Agora de uma coisa tenho (quase...) a certeza: os media são o reflexo de uma cultura, de um povo. Todo o trabalho é pautado pelo grau de exigência que é pedido e necessário para atingir os fins pretendidos. E a propósito de fins, ainda noutro dia uma velhinha disse-me que no tempo dos comunistas passou muita fome (ela nunca viveu noutro país senão em Portugal!!).
Hoje, deparo-me com uma notícia de abertura dum telejornal qualquer: a igreja considera que dedicar muito tempo aos média (televisão, revistas, jornal, net...) é PECADO!!!
Credo! Como é possível! A Igreja agora quer arranjar um BODE EXPIATÓRIO! Mas acho, sinceramente, que os doutores da Igreja deveriam dedicar-se a reformular as vestimentas que usam nos ritos pomposos, como por exemplo, escolher outras cores... em vez do roxo ou preto, o azulinho ou amarelinho. Acompanhar mais as tendência da moda! Ou, então, dedicarem-se a compor outras orações e canções mais actuais e mais fáceis de decorar.
A época do bode expiatório já não existe! Existiu na época dos antigos hebreus que, por altura dos pentecostes, mais propriamente na festa da expiação, levavam dois bodes que eram sacrificados de forma diferente! Um era morto e oferecido a deus, o outro, ao fim de cada participante lhe ter confessado os pecados ao ouvido, era levado para o deserto Sinai. Assim, o pobre animal, carregado de pecados, morria no deserto a expiar os pecados (daí a nossa expressão Bode Expiatório!).
Agora, nem quero imaginar a quantidade de bodes que seriam necessários para expiar tantos pecados, nem se quer havia deserto que chegasse!
Ainda bem que a tradição já não é o que era!!!

Pecados originais (e outros demónios).

É com lágrimas nos olhos (de tanto riso) que vos escrevo estas linhas. A passagem por aqui deixou-me a pensar no futuro dos católicos deste País. Como tornear a questão? Como encontrar a farinheira do séc. XXI? Passo a explicar. Li algures (e não me peçam as fontes, porque tenho uma memória muito selectiva – embora desconfie que o tenha lido no A Senhora da Catherine Clément) que a portuguesíssima farinheira resultou da necessidade dos Cristãos Novos comprovarem a sua conversão. Em toda a casa portuguesa dos tempos mais obscuros (uns mais obscuros que outros) jazia na cozinha o enchido de carne de porco; ora, os Cristãos à Força também teriam que ter nas suas cozinhas (e à mesa) este tipo de iguarias para não denunciarem a qualidade da conversão. Vai daí, conceberam a farinheira cujos ingredientes não contemplam o polémico porco.
Pois bem, após este momento explicativo, voltemos ao assunto que me pôs os dedos a fervilhar perante o teclado. É que o gabinete do ilustre Bento XVI vomitou cá para fora uma série de pecados que têm que ser penitenciados pelo fervoroso crente. A partir de agora, “Passar demasiado tempo a ler jornais, ver televisão ou a navegar na Internet pode ser considerado pecado com a obrigatoriedade de ser confessado”. Ora, isto é gravíssimo e já consigo vislumbrar um dilema semelhante ao que foi descrito pelo David Lodge no seu O Museu Britânico Ainda Vem Abaixo (a saber, sobre o dilema dos usos dos contraceptivos para evitar a procriação desenfreada). É que isto de cada vez que ler o jornal, ou consultar o mail, ou cirandar pelos blogs e ter que ir a correr confessar-se à Igreja mais próxima, tem muito que se lhe diga. Primeiro, porque a Igreja mais próxima pode não ser tão próxima quanto isso. Segundo, porque os joelhos de uma pessoa não aguentam tanta penitência (e aqueles bancos são uma tortura). Terceiro, porque o crente pode conduzir o padre lá do sítio ao pecado da blasfémia, por o ter constantemente por lá nas suas contrições reincidentes. Ora, na minha perspectiva, o problema resolve-se de forma bem mais simples. É o crente deslocar-se à loja de cd’s mais próxima e fazer um investimento inicial (porém, vitalício) num cd que contenha esse sucesso inominável interpretado por António Calvário, “Oração”. E de cada vez que terminar de pecar, o piedoso ajoelha (para o efeito, ter uma almofada sempre a jeito) ao pé do computador , do televisor ou do infame jornal, e coloca a musiquinha a tocar, trauteando de cabeça e braços ao peito a lírica inspirada… Findo o ritual, pode regressar normalmente à vidinha e continuar alegremente a cometer pecados tão capitais. Para quem não conhece, aqui fica a preciosidade que devem imprimir em tamanho reduzido e colocar na carteira para sacar sempre que necessário.
A título de exemplo, se a leitura do jornal ocorrer em local público, nada mais fácil do que, no recato do wc do estabelecimento, sacar da cábula e trautear os versos salvadores(se quiser num ritmo mais acelerado para despachar a penitência mais rapidamente).
Senhor,
A teus pés eu confesso:
Senhor,
Meu amor maltratei!
Senhor,
Se perdão aqui peço,
Não mereço!
Senhor, Meu amor desprezei
E pequei!


Perdão
No entanto, eu imploro!
Senhor!
Tu, que és a redenção!
Eu sei que a perdi e que a adoro
E eu choro
Senhor,
Ao rogar seu perdão!


Senhor,
Eu confesso o perjúrio de tantas promessas!
Senhor,
Eu errei mas na vida
Encontrei a lição!
Senhor,
Eu t'imploro, senhor, ó meu Deus:
Não t'esqueças da minha oração!
Senhor,
Ó bondade infinita, dai-me o seu perdão!


Amor
Por amor eu na vida jamais encontrara!
É tarde!
Caminho p'la vida perdido na dor!
Senhor!
Este amor é mais puro que a jóia mais rara,
Que o mais puro amor!
Senhor,
Se o amor é castigo, perdão meu senhor!

quarta-feira, 12 de abril de 2006

O Segundo Segredo de Brokeback Mountain

Desloco-me ao cinema para visionar o filme de todo o (des)contentamento. Como é óbvio, plateia maioritariamente feminina. Mas estou em crer que não pelos mesmos motivos porque a população masculina suspira por um remake do filme nestes termos. Este foi, provavelmente, o filme que todo o amigo, companheiro, e marido temeu que a amiga, companheira ou mulher quisesse ver. Suponho que, durante algumas semanas, os pesadelos masculinos versassem sobre uma sala de cinema escura, uma tela a projectar olhares languidos entre o Jake Gyllenhaal e o Heath Ledger.
Imagino-os mais conversadores que o costume, mais generosos "podemos ir ao teatro, podemos ir a um concerto, jantar fora..." monopolizadores da conversa para não dar espaço ao temido "Sabes, e se fossemos ver aquele filme de que se falou muito e que é uma história de amor entre dois caubóis?" E então, as manobras de diversão multiplicaram-se na maioria dos relacionamentos em que havia o perigo efectivo da proposta indecente.
No dia em que fui ao cinema, 5 gatos pingados devem ter ficado sem assunto e a imaginação faltou-lhes para evitar a entrada naquela sala. E era vê-los, conduzidos pela mão da moça das suas vidas, subir de cabeça baixa a escadaria da sala (que deve ter parecido infinitamente penosa), quase que arrastados, de pacote de pipocas na mão (para ela, suponho, que o ar das criaturas era de pura agonia).
Elas absurdamente felizes e ingénuas (e daí talvez não) e eles a rezar para mais nenhum desgraçado conhecido entrar por ali a dentro e aquele triste evento pairar venenosamente nos futuros domingos de tremoço entre compinchas.

terça-feira, 11 de abril de 2006

JESUS

Jesus...

(...) califa que tinha encarregue os seus letrados de lhe redigirem uma história do mundo e que, vendo o seu fim chegar vários anos mais tarde e muito antes dessa obra, lhes perguntou: " Resumam- me tudo em algumas palavras" e eles responderam: " Eles nasceram, eles viveram, eles sofreram, eles morreram"( Gerald Messadiê, "posfácio" in História Geral de Deus, publicações Europa América, 2001 ).

E é na Páscoa que os cristãos relembram a morte Daquele que veio tirar o pecado do mundo..., Agnus Dei!
Jesus, tal como qualquer comum mortal, nasceu, viveu, sofreu e morreu! Contudo, para alguns, foi o primeiro humano que se tornou Deus.

(...) A noção de um Deus judaico-cristão está tão profundamente enraizada nas culturas que ela esconde uma diferença essencial entre o Deus dos Judeus e o dos cristãos: esta reside na simbólica do sacrifício. Com efeito, na teologia cristã, Deus provoca uma reviravolta extraordinária na tradição do sacrifício: depois de ter exigido a Abraão que sacrificasse o seu filho, é Ele (Deus) que sacrifica o Seu próprio filho. No aspecto da etnologia, isto seria aparentemente uma regressão aos esquemas antigos das cultura primitivas(...). Mas a comparação não pára aí, pois já não existe nenhuma instância superior à qual Deus poderia sacrificar o Seu filho. Sendo dado que, nesta mesma teologia, Deus é consubstancial ao Seu filho, com o qual forma uma única e mesma pessoa, o sacrifício deste último equivale a um suicídio de Deus. Este é um escândalo absolutamente sem precedentes na história das religiões, que provoca a cisão entre o Judaísmo e o jovem Cristianismo (... ). O Messias dos seguidores de Jesus não pode senão embater contra a consciência judaica: com efeito, Deus não pode suicidar-se excepto para provocar a destruição do Todo e a vitória do Nada. Logo, para o judaísmo (e o Islão), Jesus não era o Seu filho e também não era o Messias de quem, os Judeus continuam à espera.(...)
O esforço de toda a teologia cristã durante os séculos seguintes será o de demonstrar porém que Deus sacrificou verdadeiramente o Seu filho. A questão que ele não resolverá contudo no campo da metafísica é saber a quem Deus oferece este sacrifício e porquê.(...) Para a Teologia cristã, com efeito, este realizou-se por amor: foi para resgatar a humanidade que Deus consentiu na incarnação e na crucificação do Seu filho e se deu a ela.
(...)
(Jesus) Poético e mesmo por vezes obscuro, terno, vingador, colérico e não desdenhando nem ceias finas, quer com fariseus quer com Simão, o Leproso, nem a companhia de mulheres, nem os perfumes que derramavam sobre a sua cabeça em público (e por que não em privado), mas sobretudo habitado pela necessidade de Deus e de Liberdade, Jesus, esse, é espantosamente contemporâneo. Só lhe falta rir. A minha convicção é que foi censurado.
(Messadiê, op. cit.)

Gerald Messadiê, nascido em 1931, jornalista, investigador e autor de várias obras sobre Religião.

domingo, 9 de abril de 2006

O estranho caso do fato de treino de domingo à tarde


Durante toda a semana, gerem o seu universo a partir dos saltos que escondem a unhaca pintadinha de vermelho na manicure. O cabelo, impecavelmente esticado, não dispensa a madeixa loura. Unhas de gel do tamanho de um dedo, com estrelas, rosas e buracos com argolinhas enfiadas.Calcita de ganga dois números abaixo e com a cintura bem baixa; aquando da compra, o teste não falhou (levantar o papel imaginário do chão): se não aparece metade do rego, não se compra. Pede-se outro modelo. Assim sim, com o estômago a transbordar, a funcionar como um folho de pele que ornamenta a cintura da calça. Como blusa, tudo vale, desde que o decote seja generoso e não reste muito à imaginação. Porque gaja que é gaja deve parecer saidinha de uma linha de montagem. Durante toda a semana, equilibram-se no fio do stiletto (sem vara, sem vara).
Domingo, estão off. Dia santo, folga no cargo de mulher fatal. Ténis nos pés, fato de treino baratucho (de preferência da cor do clube do nobre e valente esposo), "soutien de armação" e madeixas escondidas num rabo de cavalo esculpido à pressa. Da semana, restam apenas as unhas.
Alegremente em bando, acompanham os seus mais que tudo que, munidos do calçanito domingueiro e da peúga branca, vão para o campo mais próximo resfolegar as mágoas de gajo de secretária. E toca a fingir que estão interessados na bola, enquanto as devotas estão sentadas no banco ou no café mais próximo, a babar perante os impropérios que eles vão desferindo à falta de jeito no pé. É de macho escarreirar de um lado para o outro, cuspir para o chão e urrar nas tardes de domingo e é de fêmea berrar, bater palmas e fazer a dança de acasalamento, tudo pelo seu pavão. Sempre em grupo, claro (que as figuras infelizes não se fazem individualmente - pelo menos não em público, a olho nú).
Que faz correr, perdão, urrar a gaja? Que campainha mental despertou o salivar compulsivo que faz a gaja adoptar o programa do seu cavaleiro de t'shirt? Uma correspondência no interesse? o condicionamento neste caso não sofre o processo de extinção. É que mesmo sem o reforço do estímulo (eu interesso-me pelos teus hobbys e tu pelos meus), continuam as crentes, domingo após domingo, a salivar abundantemente à espera que o parolo que saiu de casa não seja o mesmo que regressa... ou seja, que se tenha transformado num parolo mais interessado. Mas não. A única transformação ocorre no cheiro pestilento dos ténis, das peúgas, do calção e da t'shirt que ele deixa no chão do quarto, apesar dos berros dela para que coloque tudo no cesto da roupa suja.
Após um dia inteiro a berrar, domingo à noite, a única diferença é que a gaja está rouca.
E o parolo ainda lhe diz que acha sexy.
Querida R, depois diz-me se corresponde às gajas do clube recreativo...

Em Busca da Bolota Perdida



Muito bem disposta, graças ao último blockbuster da animação: A Idade do Gelo 2. Fã do primeiro, desloquei-me obrigatoriamente ao cinema para ver o segundo. Não decepcionou. As personagens continuam hilariantemente deliciosas.
O Scrat continua habilidosamente (como é seu apanágio) em busca da bolota perdida, desta vez mais frequentemente que no filme anterior. E ninguém se queixa, porque o bichinho (afinal o que é? Um antepassado do esquilo?) continua fabuloso; o final do filme (ou seja, do Scrat) é absolutamente maquiavélico. E o pobre do animal é vegetariano... de qualquer modo, paradigma da busca pelas bolotas das nossas vidas, mesmo quando fazemos ruir tudo o resto. Se ser vegetariano causa tanto transtorno porque não experimentar um bom naco de carne (ou de peixe)?
O espectador descontraído também é apresentado a uma família estranhíssima composta por dois gambás e um mamute fêmea que julga que é gambá. O trio está muito bem conseguido e constituem a lufada de ar fresco.
No que diz respeito aos problemas existenciais que assaltam a mamute fêmea, não consegui deixar de pensar na quantidade de mamutes que julgam que não passam de gambás... e mais ainda na quantidade de gambás que se julgam mamutes. E é ver os primeiros a esconderem-se ridiculamente das águias nas suas vidas, e os segundos a pavonearem-se como se animais de grande porte fossem.
O êxodo das criaturinhas em busca da arca de Noé que os salvaria do degelo fez-me recordar aquela história dos 100 mil fundamentais do nosso petit País...

PS: RPS, muita bicharada para teu gosto, mas tendo em conta que o que está em causa é a extinção... quem sabe?

sexta-feira, 7 de abril de 2006

quinta-feira, 6 de abril de 2006

Um caso sério 2.

Não resisto a recomendar. Tomem nota de todos os pormenores do blog. Vai direitinho para a coluna do lado (este mês, tem sido generosa, a miúda).

quarta-feira, 5 de abril de 2006

Um caso sério.

De morrer a rir. Aqui.

Obviamente tu, Brutus.



Tenho seguido fielmente a série Roma, na 2: às segundas, pelas 23 horas.
No episódio da passada segunda, especial atenção à relação entre César e Brutus. Sabemos o desfecho; sabemos que César fechará os olhos, atravessado especialmente pela dor aniquilante do punhal sustido pela sua mão. Sabemos que as palavras eternamente suspensas nos seus lábios moribundos serão "Também tu, Brutus". Neste episódio (o que passou na passada segunda) desenha-se o desfecho; quando Brutus apresenta o discurso inflamado de apoio a César (os maiores cobardes sempre foram homens com o dom da palavra), quando em privado lhe assegura que os rumores da sua traição são infundados...
As palavras de César também pressentem a deslealdade e a desonra de Brutus; quando lhe diz que nunca duvidou da sua lealdade e honra, mesmo quando Brutos se posicionou contra ele. É que importa o que não foi dito.
Uma espécie de: Nunca duvidei da tua lealdade e da tua honra. Só não especifiquei de que forma.
No último episódio, restarão os cínicos e os cobardes.

terça-feira, 4 de abril de 2006

Ouvir o silêncio.

Da música que (não) coloco por cá...
Ouvir o que este senhor compõe.
E esta é magnífica, na dupla que faz com a P. J. Harvey.
Semana de Murder Ballads.

Get down, get down,
little Henry Lee
And stay all night with me
You won't find a girl in this damn world
That will compare with me
And the wind did howl and the wind did blow
La la la la la la la la la lee
A little bird lit down on Henry Lee
I can't get down and I won't get down
And stay all night with thee
For the girl I have in that merry green land
I love far better than thee
And the wind did howl and the wind did blow
La la la la la la la la la lee
A little bird lit down on Henry Lee
She leaned herself against a fence
Just for a kiss or two
And with a little pen-knife held in her hand
She plugged him through and through
And the wind did roar and the wind did moan
La la la la la la la la la lee
A little bird lit down on Henry Lee
Come take him by his lilly-white hands
Come take him by his feet
And throw him in this deep deep well
Which is more than one hundred feet
And the wind did howl and the wind did blow
La la la la la la la la la lee
A little bird lit down on Henry Lee
Lie there, lie there, little Henry Lee
Till the flesh drops from your bones
For the girl you have in that merry green land
Can wait forever for you to come home
And the wind did howl and the wind did moan
La la la la laLa la la la lee
A little bird lit down on Henry Lee