A primeira vez que ouvi falar do Cardeal Ratzinger foi durante uma caminhada Coimbra acima, em busca de uma Casa da Cultura escondida por Sereias, para uma conferência com Leonardo Boff. Nessa caminhada um professor, que me é muito querido, explicava aos peregrinos as nuances do percurso de Leonardo e o braço comprido de Ratzinger. A partir dessa data mantive-me atenta.
Quando Ratzinger foi eleito Papa a sentença pareceu-me, no melhor dos casos, como a manutenção da linha de J. P. II (convenhamos, Ratzinger sempre foi próximo ao anterior Papa) e, num cenário menos optimista, uma maior radicalização da posição católica relativamente a algumas questões fracturantes.
Viajando até à tarde-noite em Coimbra, jardim acima, lembro-me de se ter dito que este era um homem capaz do melhor, mas também capaz do pior.
Pois esta semana, este homem surpreendeu-me com a sua atitude em Auschwitz; acreditemos ou não nessa entidade superior, a pergunta/lamento de Ratzinger é absolutamente radical e, parece-me também, corajosa face ao significado das vestes com que as fez. Questão limite e no limite. Escrevam o que quiserem (e têm escrito muito).
Contudo, não resisto ao texto de Bérnard Da costa, hoje no Público. Cito e subscrevo:
"(...), a imagem do Papa foi sobretudo a imagem de um homem só, na terrível solidão de Auschwitz. (...). Nas nossas memórias futuras, não o veremos, como João Paulo II, imerso na multidão, mas sozinho e inclinado, no pórtico do que simbolicamente assinala o maior horror que a humanidade conheceu.
(...) Que o vigário de Cristo na Terra - (...) - se dirija a esse mesmo Cristo, (...), para lhe perguntar por que ficou silêncioso, onde estava, como tolerou aquilo, é talvez o que de mais ousado e abissalmente radical me lembro de ter ouvido da boca de um Papa."
Em Auschwitz, parece-me que ele foi capaz do melhor. Escrevam o que quiserem os cínicos.
9 comentários:
Ele sem dúvida foi capaz do melhor!
Devíamos todos ser capazes do melhor.
É de facto mto ousado, noutros tempos seria mesmo uma heresia fazer esta pergunta mas hoje, é demasiado fácil fazê-la.
Mais difícil seria ao Papa dizer-nos onde estava nesse tempo. Qual foi a sua opinião. Como lhe foi possível tolerar.
Deus tem as costas largas.
WOAB:
Desta vez o Papa não me surpreendeu, porque acho que aquela encíclica sobre o amor erótico apontou a direcção do seu ministério. Não minimizo, contudo, a importância do seu acto em Auschwitz, bem pelo contrário.
Começo é a achar que afinal tu ainda não serás um caso (uma alma?) totalmente perdido. ;D
Caro anónimo: Não sei se Deus tem costas largas ou não.
Mas também não sei quantos de nós teríamos uma posição corajosa em situação idêntica. Eu pelo menos, não me sinto em condições de fazer perguntas dessas. É que nós toleramos uma data de coisas... E não nos lembramos de perguntar porque não fizemos nada.
Sancho:
Alma, que alma? ;)
Tu é que andas com posições cada vez mais corajosa, mulher de outros voos.
Não sou eu que ando numa luta de Titãs com o Insónia.... ;)
Independentemente de tudo a sua relação com o Leonardo Boff não há-de ser melhor do que a do seu predecessor. A não ser que haja uma surpresa.
Não acredito que melhore, bem pelo contrário. Embora também me pareça que as ditas "heresias" hoje lhe parecem menos graves. Ou pelo menos, com outros actores.
O Wojtyla tinha um carisma fora do comum.
O Ratzinger tem uma inteligência e uma solidez intelectual fora do comum.
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