domingo, 23 de outubro de 2011

Da reiterada falta de vergonha - é uma casa de ministro, com certeza

Miguel Macedo que, ao que parece, tem algumas dificuldades em saber o significado de alguns termos, veio agora a público dizer que por decisão pessoal dele vai apresentar amanhã a renúncia a um direito que lhe assiste - o subsídio de alojamento que pelos vistos apenas alguns funcionários públicos têm, e apesar de ter um apartamento seu (onde fica quando está deslocado). Deve ser bonito, mês após mês, Miguel Macedo, o Ministro, entregar a Miguel Macedo, o proprietário, o arrendamento do apartamento que ocupa durante a semana quando anda a ministeriar pela Capital. Resta saber se Miguel Macedo, o proprietário, passa recibo a Miguel Macedo, o ministro...

Ainda que não concorde com o facto de se autointitular como agente decisor neste caso - já que a decisão pessoal dele só surgiu depois de a situação ter sido escarrapachada nos escaparates dos jornais - concedo que foi mais agente decisor que qualquer um de nós (funcionários públicos/as que não têm subsídio de alojamento quando estamos deslocados): é que a nós, não houve qualquer problema de nem nos consultarem sobre a decisão de perdermos um direito que também a nós nos assistia. 

Faltam 8 (como este Miguel Macedo) renunciarem, por decisão pessoal deles, ao direito que os assiste de serem pagos pela casa que é deles.

A decisão pessoal que deles se exige não é esta. Mas tenho para mim que nenhum é suficientemente sério para tomar a única decisão séria no meio desta palhaçada. É que a esta altura ainda não deverão ter direito a subsídio de reintegração.

sábado, 22 de outubro de 2011

É uma casa de ministro, com certeza

Qualquer professor/a que neste País (parto deste exemplo porque é o que conheço melhor) seja colocado em zona que não contemple a sua área de residência, tem que contar com o facto de ter que arranjar alojamento na área em que ficou colocado. Muitas das vezes, tal implica assegurar duas rendas: a da própria casa e a renda do alojamento perto do local de trabalho. Suponho que em outras profissões o mesmo se passe, principalmente desde que este princípio de a zona de residência do trabalhador não contar para quase nada. O regime de mobilidade e a necessidade de colocar comida na mesa assim obrigam.
Há cerca de uma semana, soubemos que seremos obrigados a ceder os nossos subsídios nos próximos 2 anos (período mínimo) em nome da quase bancarrota em que o País se encontra (dizem-nos que vivemos acima das nossas posses, nós os que ganhamos mais de 500 euros). Para não haver despedimentos, há que cortar na gordura - os funcionários públicos, nomeadamente aqueles que ganham mais de 500 euros por mês (progressivamente) e aqueles que ganham mais de 1000 euros por mês, que como toda a gente sabe, no primeiro caso é uma fortuna e no segundo roça o ordenado de um milionário. A justiça assim o exige, diz-nos o governo, constituído pelos partidos PSD e CDS, gente séria e preocupada.
Pois é exatamente esta gente séria que se atreve a atribuir aos da matilha subsídios de alojamento, que coitadinhos estão deslocados. E vai daí, toma lá 1400 euros mensais, que esta coisa de arrendar casa está pela hora da morte e o teu vencimento justifica este pequeno presente no sapatinho (mensal, que o Natal é sempre que um membro do executivo quiser). E não interessa nada que até tenhas segunda casa na zona. 
E aqui fica, para memória futura, os carenciados que se fazem pagar pelos contribuintes portugueses - aqueles que perderam qualquer margem de manobra em nome de uma austeridade que a estes  não bate à porta de certeza (todos pertencentes ao executivo que nos diz que somos milionários com 1000 euros mês):

Miguel Macedo
Aguiar Branco
Juvenal Peneda
Paulo Júlio
Cecília Meireles
Daniel Campelo
Marco António Costa
Vânia Barros

Com gente séria desta, só mesmo à lei da bala.

sábado, 15 de outubro de 2011

Larry Fink, 1967

O Segredo (nova edição)

Uma escola em Barcelos, desolada com a posição que obteve no ano transato nos afamados rankings, decidiu oferecer uma recompensa monetária aos alunos que obtivessem, nos exames, notas superiores a 13 valores. Resultou. Tendo gasto ao todo 700 euros com a estratégia, os/as alunos/as com notas superiores a 16 valores receberam 60 euros; os/as alunos/as que conseguiram notas entre os 13 e 16 valores, receberam 40 euros.
Ao que parece, o que faz falta à malta é pagamento imediato, que com objetivos a longo prazo já não vai lá.

PS:
Nem quero pensar no que irá acontecer aos/às alunos/as que ficaram pendurados/as no boicote do Crato ao prémio que lhes havia sido prometido.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

«Só um Estado controlado por cidadãos livres pode oferecer-lhes qualquer segurança razoável»*

No dia em que Passos Coelho deita por terra tudo o que serviu de bandeira para forçar a queda do governo anterior, no dia em que Passos Coelho anuncia que toda a sua campanha eleitoral foi uma gigantesca fraude, deixo um excerto de Tony Judt. E só tenho pena de no dia 15 de Outubro não poder estar em nenhuma das cidades que aderiu ao protesto.

«Os ricos não querem o mesmo que os pobres. Os que dependem do seu emprego para viver não querem o mesmo que os que vivem de investimentos e dividendos. Os que não precisam de serviços públicos - porque podem adquirir educação, proteção e transportes privados - não procuram o mesmo que os que dependem exclusivamente do sector público. 
(...).
Os mercados têm uma disposição natural para favorecer necessidades e desejos que podem ser reduzidos a critérios comerciais ou medições económicas. Se se puder vender ou comprar, então é quantificável e podemos avaliar a sua contribuição para medidas (quantitativas) de bem estar coletivo. Mas, e aqueles bens que o ser humano sempre valorizou mas que não se conseguem quantificar? 
(...).
Por outras palavras, e se tomássemos em consideração nas nossas estimativas de produtividade, eficiência ou bem estar a diferença entre uma escolha humilhante e um benefício de direito?»
Tony Judt, Um Tratado Sobre os Nossos Descontentamentos, pp. 162-163

*Karl Popper, citado por Tony Judt

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Boa Semana


Will The Circle Be Unbroken

I was standing by my window
On a cold and cloudy day
When I saw that hearse come rolling
For to carry my mother away

domingo, 2 de outubro de 2011

Manuel Subtil e os média

Em 2001, Manuel Subtil barricou-se numa casa de banho da RTP. Imediatamente o caso foi seguido e exaustivamente analisado pela maioria dos órgãos de informação do País (Madeira incluída, por incrível que pareça). De repente o País ficou suspenso perante o ato daquele homem desesperado, trancado com a família numa zona do edifício muito pouco nobre. Ameaçava suicidar-se (e levar quem pudesse com ele). Ao fim de oito horas de atualizações constantes (perfil traçado, amigos entrevistados, projeções, enfim, o carnaval habitual neste género de situação), as notícias pariram um rato.
Em 2011, numa ilha que se tornou presença constante nos noticiários nacionais com reportagens exaustivas sobre  um líder desorientado e respetivos/as seguidores/as, um grupo de deputados de um partido da oposição invadiu um órgão de informação dominado pelo Governo Regional (sob a complacência de uma igreja que tem pautado a sua atuação por uma quase total promiscuidade com o poder político). Na verdade, não foi a primeira vez que um partido da oposição tentou despoletar o debate sobre o tema (suponho que tenha sido essa a intenção dos assaltantes: provocar celeuma para colocar o assunto sobre algumas meses mais renitentes). A última tentativa (antes desta ação mais radical do PND) partiu do Bloco de Esquerda (salvo erro), que quis levar o assunto da liberdade de imprensa na RAM à Assembleia da República, não tendo a proposta sido aceite  pela maioria parlamentar. 
Não me interessa aqui emitir qualquer juízo sobre a performance do PND (ou do Bloco, ou da maioria parlamentar da Assembleia da República). Interessa-me antes refletir sobre a atuação dos meios de comunicação; em alguns casos, nomeadamente nos canais televisivos (à exceção da RTP), a omissão foi ensurdecedora. No que diz respeito à imprensa, os principais jornais nem referem o caso no dia seguinte. Perante isto, ficamos com a sensação de que o Jornal da Madeira não é muito diferente dos principais órgãos do Continente: a transgressão dos deputados, que seria notícia nem que fosse por isso mesmo (pelo caráter transgressor da performance) foi sumariamente ignorada pelos principais órgãos de comunicação. 
Compreende-se. Tal notícia embaraçosa vai de encontro (e não ao encontro) à imagem construída de que a Ilha está isenta de detratores/as relativamente ao poder político regional. E isso não pode ser. É que nesta Ilha apenas acontece o que os média quiserem que aconteça. E os média querem a ilha a uma só voz. Tudo o resto, torna-se silêncio.