sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Uma história que seja sua

Aos 24 anos, Monica Lewinsky foi o dano colateral da tentativa de derrubar Bill Clinton, então Presidente dos EUA. Este artigo do The Guardian é muito interessante porque apresenta-nos o ponto de vista da jovem que foi apanhada no turbilhão da luta pelo poder em que tudo vale. Ela foi - continua a ser - queimada na praça pública por algo que diz respeito apenas às três pessoas envolvidas.Este artigo fala-nos de bullying, e mais concretamente de slut-shaming (que diz respeito à condenação social de de mulheres e meninas pela assunção de um comportamento sexual que contraria as normas sociais, condenação que não é aplicada aos homens e jovens rapazes, bem pelo contrário). Na altura, isto aconteceu também da parte de algumas feministas, como Lewinsky refere*: «It was very scary and very confusing to be a young woman thrust on to the world stage and not belonging to any group. I didn't belong to anybody.»
Neste processo há uma despossessão da identidade das mulheres para reduzi-las apenas à condenação de um comportamento que só a elas deveria dizer respeito: «Overnight, I went from being a completely private figure to a publicly humiliated one worldwide. Granted, it was before social media, but people could still comment online, email stories, and, of course, email cruel jokes. I was branded as a tramp, tart, slut, whore, bimbo, and, of course, ‘that woman’.» Não surpreende, portanto, pensar que quem se vê desta forma despojada da sua identidade, pondere alternativas mais radicais. Uma das partes que considero mais interessantes neste artigo é quando Monica diz que quem se suicida não procura propriamente o fim de tudo, mas uma espécie de reset, poder começar tudo de novo, apagar aquela parte (da vida) que se tornou insuportável. Passou-lhe pela cabeça. Claro que sim.
Então como declinar a objetificação e reivindicar uma identidade que seja sua?
«(...)Sandra Jovchelovitch. "She said to me, 'Whenever power is involved, there always has to be a competing narrative. And you have no narrative.' It was true. I had mistankenly thought that if I retreated from public life the narrative would dissipate. But instead it ran away from me even more." That's when Lewinsky realised she had to do something to de-objectify herself.»
É preciso recuperar (um)a voz, falar-mulher: é preciso que as mulheres (se) escrevam (Hélène Cixous), é preciso que as mulheres (se) falem (Luce Irigaray). Recuperar o poder é reivindicar uma voz, o direito à sua história, isto é, o direito ao seu corpo, à sua escolha, à sua palavra.

*E exaustivamente é preciso lembrar, não existe um feminismo, existem vários, que coexistem, debatem diferentes horizontes e posicionamentos teóricos.


segunda-feira, 30 de maio de 2016

Antilocução

Apesar de inicialmente contextualizado na realidade do Brasil, este texto tem pistas sobre como as mulheres são tratadas, por norma, no espaço público.
Em 1929, Virginia Woolf reivindicou um quarto que fosse só das mulheres para que elas - nós - pudessem(os) dar largas ao pensamento.
Em 2016 é preciso ainda continuar a reivindicar um espaço - desta feita não o almejado quarto que seja seu, um espaço privado - mas o direito ao espaço público.
Aos pontos descritos no artigo, acrescentaria a compulsão para o descrédito de tudo o que diga respeito às mulheres - e ao género. Estamos a falar de uma área das ciências humanas com trabalho reconhecido há décadas mas que muitos e muitas insistem comentar como se de «opinião» se tratasse. A desconsideração pelo labor de muitas e de muitos (que não se conhece) é reflexo desta propensão para desvalorizar tudo o que diz respeito aos estudos sobre as mulheres. Aliás, o recurso à ridicularização de tudo o que diz respeito às questões que dizem respeito às mulheres é um recurso clássico de quem «não é machista, mas...». E é um bom exemplo de como se engendra o ambiente perfeito para a aceitação de comportamentos discriminatórios mais explícitos. Mas isso não é nada. O que importa é que «Jusqu'ici tout va bien. Jusqu'ici tout va bien. Jusqu'ici tout va bien.»


Helena Almeida, «Ouve-me», 1979

quarta-feira, 25 de maio de 2016

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

terça-feira, 18 de agosto de 2015



Quer me parecer que não foi bem isto que os/as gregos/as que votaram não no referendo tinham em mente. Acredito que não seja fácil estar no lugar de Tsipras, mas o facto de fazer o contrário do que prometeu, isto é, do que o fez ser eleito, aproxima-o perigosamente de Passos Coelho. E isso é muito, muito mau. Para a Grécia. E para a Europa.


segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Esmaga o/a magistrado/a que há em ti



as pessoas são tão rápidas a julgar.
O mundo está cheio de juízes/as prontos/as a sentenciar sem ouvir e sem nada avaliar.

Nesta audiência permanente em que vivemos, todas as palavras que contrariam as nossas crenças padecem de falta de conhecimento empírico: "em vez de escrever esse texto com base em preconceitos, já experimentou ir ao local e ver?". Mas se se vem do centro da sensação, então carece-se de distanciamento objetivo: "claro que não pode avaliar com rigor e objetividade, se é sujeito no cenário" [sim, porque é preciso ser mutilado de guerra para entender que a guerra é multifacetada e muito mais complexa do que o resultado de uma experiência localizada]. "Se é deficiente não pode escrever sobre deficiências de forma objetiva, está claro". [claro, como é que tal não me teria ocorrido].

Para certas pessoas, os direitos humanos são matéria para se parecer bem. Parece que quem defende direitos humanos agora é acusado de pertencer a uma qualquer brigada de policiamento. Como se os direitos humanos - de todos/as os/as humanos/as não precisassem, de facto, de defesa e proteção e, sobretudo, de reconhecimento! Mas não, para estas pessoas, é tudo uma questão de parecer e não, efetivamente, de ser.

Quem é lesto/a em julgar, sem sequer fazer o esforço de se colocar no lugar do/a outro/a, acusa e condena o/a outro/a com base numa tal «brigada do politicamente correto» apenas revela desinformação e ignorância e arrogância.

Se lutar pelos direitos humanos é ser politicamente correto/a, então que seja.

Eu quero ser MUITO politicamente correta. TODOS OS DIAS.

Simon Walker

segunda-feira, 29 de junho de 2015

Juncker, o movedor de montanhas

já estou de lágrima no canto do olho ao ouvir o Juncker a garantir que foi a troika a insistir nas medidas sociais durante as conversações, porque o governo grego nem sequer queria saber. Não sei o que pensar sobre o facto de ele assegurar que isto não era mais um pacote de «austeridade estúpida». Isto quererá dizer que os outros pacotes eram «estúpidos»? Estou emocionada, Juncker. Obviamente que, para além de preguiçosos/as, os/as Gregos/as são os/as vilões/ãs europeus (esta mania do berço da democracia do mundo ocidental escolher os seus próprios líderes e de estes insistirem em manter o programa com o qual foram eleitos, tem de acabar!)


O Juncker acaba de dizer que eles «moveram montanhas!» - havia alguma figura bíblica com este feito?

[já o ouvi falar em francês, em inglês, e agora está a falar em alemão - quero ver se fala grego]

terça-feira, 5 de maio de 2015

E insiste

É impressionante que João Miguel Tavares fale em «números» relativos à infeção por VIH/SIDA que «pululam em blogues e redes sociais» como se fossem falsos, apresente dados da OMS e cale os dados nacionais.

O argumento dos «países civilizados» é tão válido quanto na civilizada Suíça alguma gastronomia típica incluir carne de cão, ou os civilizados EUA condenarem pessoas à pena de morte, e alguns dos seus Estados interditarem uma panóplia de atos sexuais. Não basta que seja importado para ser bom. Convém que tenhamos capacidade para analisar as importações. Portugal criminalizou a violação marital em 1982, enquanto a «civilizada» Inglaterra só o fez dez anos depois.


sexta-feira, 1 de maio de 2015

Doar sangue e sexo anti-natura, segundo João Miguel Tavares


A argumentação de João Miguel Tavares, no Governo Sombra de hoje, sobre as declarações de Hélder Trindade, relativas à interdição da doação de sangue por homossexuais, é um exemplo da ignorância atrevida: não sabe, mas opina acerca do que desconhece, como se fosse um especialista.

Para além das afirmações que remetem para a utilidade das práticas sexuais [só o sexo com potencialidade procriativa é 'natural', segundo o jornalista], Tavares lança dados inexistentes. Na lógica de João Miguel Tavares, não são outros hábitos, nomeadamente o uso de preservativo, que influenciam a probabilidade de transmissão de DST, em particular, do VIH-SIDA. Não, segundo Tavares tudo se resume às práticas [sexuais]. O jornalista reduz o sexo à cópula heterossexual vaginal e à cópula anal homossexual e heterossexual, defendendo que, a prática anal representa maior perigo de transmissão, o que está correto, mas apenas num cenário de sexo desprotegido (ver imagem). Adicionalmente, Tavares tem tiradas como: «estás a colocar a pilinha num sítio no qual a natureza não...». A ideia de as práticas sexuais sem potencialidade reprodutiva serem anti-natura, é antiquíssima. Na Idade Média, o pecado [e crime] da sodomia incluía todas as práticas sexuais 'inúteis', como sejam o coito interrompido, o coito interfemural ou o bucal e, claro, o anal, sem esquecer a masturbação. Inúteis para fins reprodutivos, assinale-se, que eram os únicos admitidos para a prática de relações de sexo.


Tavares é, naturalmente, livre de ter uma visão biologizante das práticas sexuais e de partilhar a ideologia do imperativo coital, no entanto, é grave que, num programa de rádio, afirme, como se fosse verdade, que a infeção e transmissão de VIH-SIDA entre homossexuais é muito superior à de heterossexuais [isso é tão anos 80!]. Só se for na cabeça de Miguel João Tavares.

Diz o jornalista que, no que respeita à doação de sangue, o direito «é o de quem recebe sangue e não o direito dos homossexuais em dar sangue». Da minha parte, espero que os serviços competentes façam o seu dever antes de qualquer transfusão de sangue - isto é, que o submetam a todos os testes legalmente obrigatórios, para além do teste do HIV, independentemente da orientação sexual do/a dador/a. Este é que é o direito de quem recebe sangue: é ter a garantia de que que lhe vão injetar um produto que cumpre todos os parâmetros estipulados legalmente. E esses parâmetros devem ser assegurados independentemente da orientação sexual do dador. Escrevo no masculino porque claramente, esta é uma questão que afeta desproporcionadamente os homens homossexuais.

O discurso de Tavares está pleno de ignorância e estereótipos que revelam a adesão a mitos da homossexualidade que servem para alimentar a homofobia. Foi também confrangedora a falta de preparação dos restantes participantes da tertúlia pública (ninguém se deu ao trabalho de consultar estatísticas?). É verdade que há mais homens infetados do que mulheres. Mas não se pode concluir, a partir deste dado, que a maioria dos homens infetados seja homossexual.

Bastaria a Tavares consultar os dados e o relatório.


É lamentável a falta de preparação e, sobretudo, a difusão de mitos que reforçam a discriminação contra pessoas com orientação sexual diferente da heterossexual.


sábado, 25 de abril de 2015

Portugal, Abril de 1974

detenção de um agente da PIDE testemunhada por Henri Bureau, Abril 1974

Hoje, ainda é assim.

Adenda: no segundo episódio de Os Últimos Dias da PIDE, alude-se a esta foto (vencedora de um prémio da World Press Photo) esclarecendo que não se trata de um agente da polícia política, mas sim de um sem-abrigo.

terça-feira, 7 de abril de 2015

segunda-feira, 6 de abril de 2015

Passos Coelho assegura que vencemos Voldemort



Rodney Pike

Passos Coelho, titular do cargo primeiro-ministro de Portugal, junta-se à lista de personalidades que recusa nomear a grande ameaça que todos/as conhecemos, mas cujo nome ninguém ousa pronunciar.

domingo, 5 de abril de 2015

Os excessos das feministas de segunda vaga



A Elle deste mês traz um artigo sobre o «novo feminismo». De acordo com a diretora da revista, cuja citação encerra o texto, ficamos a saber que «o feminismo de agora» é «solto, relevante e livre». E eu aqui a achar que os feminismos, desde a sua origem, sempre tinham sido relevantes, mas afinal, parece que é só "agora". O que não deixa de ser irónico, uma vez que vivemos numa altura em que muita gente defende que os feminismos deixaram de fazer sentido, precisamente, por já se ter conquistado a igualdade formal.

Entrevistadas pela revista, as fundadoras da página Maria Capaz acreditam estar a contribuir para «as pessoas» deixarem de temer a «palavra 'feminismo'». A plataforma Maria Capaz tem subjacente uma ideia que me parece louvável e que poderia ser de extrema utilidade, para informar e contribuir para as reivindicações feministas, caso não repetissem ad nauseam uma mão cheia de senso comum, que reforçam essencialismos, sobre os quais urge refletir e desconstruir. Sim, há alguns contributos interessantes na plataforma e algumas tentativas de incentivar a reflexão. Julgo, no entanto, que estas são neutralizadas pelo tom generalizadamente essencialista e acrítico da maioria das narrativas. Aliás, a Rita Dantas fez um post maravilhoso sobre o assunto.

Que as palavras feminismo e feminista metem medo até mesmo às cobras, sobretudo em Portugal, já se sabe há muito. Aliás, as Actas do Congresso Feminista de 2008 intitulam-se precisamente «Quem tem medo dos feminismos?». Algumas pessoas poderão ilustrar, de viva voz, os motivos pelos quais ser feminista, em Portugal, é coisa para se ser proscrita. Se falarem com a Maria Teresa Horta ela explicará - ilustrando com a sua experiência própria, porque é que assim é. Do lado académico, várias pessoas abordaram o assunto também. Apesar de haver, em Portugal, um trabalho de desconstrução de que feminismo não é o contrário de machismo, a propaganda com vista à desinformação rende até hoje. São comuns as respostas a garantir que são «humanistas» e não «feministas», porque são muito «femininas» e outras ignorâncias similares.

A explicação avançada por Rita Ferro Rodrigues e Iva Domingues, fundadoras do Maria Capaz, e reproduzida pela Elle, é que, pelo menos para mim, é inovadora. De acordo com o citado na revista, aquelas afirmam que o mau nome do feminismo se deve ao feminismo de segunda vaga:

«(...) na segunda grande vaga destes movimentos (que aconteceu entre o final dos anos 60 e os anos 70), acabaram por ser cometidos alguns excessos e isso, de certa maneira, acabou por contaminar a palavra».

Podem repetir?

Jill Posener fotografa o resultado do vandalismo feminista que comprova os excessos cometidos por feministas de segunda vaga.
Claro, como é que nunca tinha pensado nisso? Foram as feministas que deram mau nome ao feminismo! 

Um pouco de conhecimento de história dos feminismos permite perceber que as feministas da chamada primeira vaga, frequentemente chamadas sufragistas, também não caíram bem no goto da maior parte das pessoas. E a palavra feminismo - entre a primeira e a segunda vaga - nunca foi bem vista (tal como ainda não é hoje, basta pensar no facto de, após o discurso na ONU, a Emma Watson ter recebido inúmeras ameaças). 

A revista não explica que excessos das feministas de segunda vaga são esses e que Rita Rodrigues e Iva Domingues acreditam terem «contaminado» a palavra  (terá sido exigir liberdade e autodeterminação sexual? Terá sido a exigência de acesso a direitos sexuais e reprodutivos? Terá sido a exigência de eliminação de cláusulas discriminatórias no direito da família, e no direito penal? Terá sido a exigência da criminalização da violação marital? Terá sido a exigência da criminalização dos maus tratos conjugais? Terá sido a exigência de que o trabalho doméstico fosse pago? Que para trabalho igual houvesse salário igual? ....) Qual das exigências das feministas de segunda vaga terá sido o(s) excesso(s)? Não sabemos o que querem as fundadoras do Maria Capaz dizer com aquela frase enigmática porque, ainda que a tenham explicado à autora do artigo, a revista não o esclarece.

Se estavam a pensar em queimas de sutiãs, convinha começarem por investigar um pouco mais acerca do mito da queima. Não há, evidentemente, garantias de que uma (ou várias) feministas não tenham nunca queimado sutiãs, mas, por cá, decididamente, nunca o fizeram. Não sei que excessos* é que as citadas se referem, mas a ideia de que foram as feministas a dar mau nome ao feminismo é coisa de fazer chorar, de tão perverso que me parece. Acredito até que não tenha sido essa a intenção das autoras, ou mesmo da diretora da revista ao afirmar que o feminismo «agora» é que é «relevante», «solto» (seja lá o que isso for) e «livre» - mas que a apropriação dos feminismos por parte da indústria da moda, moldando-o para ser um produto vendável, pode causar mais danos ao «nome» do que alguma vez antes, lá isso pode.

Para além de remeter para um mundo ainda mais obscuro as mulheres e os homens que lutaram pela igualdade, de forma pioneira e absolutamente corajosa, o maior perigo é, precisamente, o da confusão de que ser feminista é acreditar que as mulheres (ou a mulher, como tanto gostam de escrever no Maria Capaz, como se todas as mulheres fossem iguais e uma massa uniforme de gente. Aliás, sobre isto já a autora do 30epicos escreveu uma crítica contundente.) podem fazer tudo o que quiserem, como se a igualdade se resumisse a uma qualquer liberdade individual de uma mulher «mãe, profissional (bem-sucedida), consciente, empreendedora, reivindicativa, na medida certa, feminina, feminista (...)». Como se todas as mulheres partissem [e estivessem] do/no mesmo ponto.

Os feminismos partem de uma base comum, que é a do reconhecimento da existência de um sistema social de ordem patriarcal que prejudica mulheres e homens, com especial incidência nas primeiras. Os feminismos diferem nas abordagens que apresentam e nas soluções que preconizam para lutar (sim, lutar) contra as desigualdades (re)produzidas por esse mesmo sistema social.

Independentemente de que tipo de feminismos estejamos a falar, o objetivo é que uma pessoa possa tomar as decisões que entender sobre a sua vida sem ser prejudicada apenas porque é mulher. Alguns feminismos salientam outras categorias além do género (etnia, orientação sexual, orientação religiosa, aspeto físico, classe social, orientação política, nacionalidade, entre outras). Alguns feminismos centram-se em problemas globais nos quais acreditam que as mulheres podem ter um papel preponderante (ecofeminismo, p.e.). Há temas que dividem as feministas: a prostituição é um deles, a pornografia é outro, entre vários. Decididamente, há espaço para toda a gente e todos os contributos sérios e bem intencionados são desejáveis. A discussão, a reflexão e a (auto) crítica são pontos fulcrais de desenvolvimento de ideias e das suas concretizações. Convém, no entanto, que se tente não reforçar os estereótipos e a ignorância que se tenta combater.

everydayfeminism.com

Seja «novo» ou «velho», não há UM feminismo. HÁ FEMINISMOS 
(não sei qual das ligações "se inspirou" na outra, uma vez que têm conteúdos muito similares, ainda assim, a wiki parece-me mais completa).

*saliente-se, p.e., que a ação de feministas, usando máscaras a representarem cães, e que forçaram a entrada de um estabelecimento comercial, em Lisboa, que ilegalmente e impunemente, interdita a entrada a cidadãs, foi também apelidada de «excessiva» por parte de muita boa gente que se diz «humanista» e «defensora dos direitos humanos de homens e de mulheres».

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Hermética?

Elisa Imperi


«Ganhei o troféu da criança-1967 com o meu livro infantil O Mistério do Coelho Pensante. Fiquei contente, é claro. Mas muito mais contente ainda ao me ocorrer que me chamam de escritora hermética. Como é? Quando escrevo para crianças, sou compreendida, mas quando escrevo para adultos fico difícil? Deveria eu escrever para os adultos com as palavras e os sentimentos adequados a uma criança? Não posso falar de igual para igual?
(...).»
Clarice Lispector (2013). A Descoberta do Mundo - Crónicas. Relógio D'Água, p. 104.

quarta-feira, 25 de março de 2015

A Queima dos/as nabos/as

A Associação Académica da Universidade da Beira Interior (UBI) publicou no youtube o seu vídeo promocional à Semana Académica da UBI. O João Mineiro (JM), do Bloco de Esquerda (BE), afirmou que o vídeo era misógino, e houve alguém - aparentemente, um dos autores do vídeo -, que o acusou de estar a seguir modas. Parece que misoginia agora é uma palavra popular, deve ser como troika, sei lá (e a julgar pelo vídeo, a misoginia vai de muito boa saúde, sim senhora). É nesta troca de conversa entre o João Mineiro e o autor do vídeo (que o JM nunca nomeia), que este ensina que um vídeo promocional:


Espera... 

se bem entendi, o vídeo dirige-se a um target, [em português: público-alvo], que são "miúdas bêbedas"?

Pode repetir? Espera, é às miúdas bêbebas, «com decotes grandes e que cravam beijos em troca de uma passa por um charro» que este vídeo se dirige? Ah, bom... ainda bem que esclarecem, por momentos cheguei a pensar que era a quem estuda na Universidade da Beira Interior (UBI) e à população em geral que que costuma frequentar as Queimas, independentemente de usar decotes e de se embriagar, ou não.

Mas pelos vistos não, e atenção que não basta estar bêbeda. É preciso também usar decotes - mas não é qualquer decote, tem que ser dos grandes. Ah, e não se esqueçam de cravar uma passa num charro, se não reunirem as três características, estão safos/as - este vídeo não é para vocês.








É todo um mundo de poesia nos objetivos na promo da Queima de 2015, nas palavras de um dos autores desta obra prima, que tanto envergonha o cérebro de qualquer publicitário/a. Ah, e anotem bem a lição do génio criativo: um vídeo promocional está-se nas tintas para o politicamente correto. É todo um poço de profundidade e de iluminação técnica nestes ensinamentos. Na verdade, explica o autor, um vídeo promocional está-se nas tintas para o facto de as mulheres, bêbedas, ou não, com decotes, ou sem eles, a cravar shots na noite - ou de dia - ou o que bem lhes apetecer serem pessoas (porque, sei lá, assim de repente, ocorre-me que sejam sujeitos com direitos e garantias iguais aos de qualquer outro cidadão/ã; seres autodeterminados, cuja liberdade sexual é um bem jurídico reconhecido como a qualquer outra pessoa, independentemente do tamanho do decote e do grau de álcool no sangue). Nã, nã, meninos/as. É o target - e o target é uma mistura de qualquer coisa - porque «é feito de miúdas bêbebas» - que estão representadas no vídeo por miúdas em calções a passear uma cabra e que representam essas mesmas miúdas bêbedas.... ou seja, o vídeo dirige-se ao grupo que representa. Estou confusa (deve ser por ser da quantidade de shots que já ingeri enquanto escrevia este texto). Então a Semana Académica é para  miúdas bêbedas, que usam decotes grandes e cravam shots e uns bafos em charros. Hum.. então e se cravarem pastilhas? Ou LSD, já não dá?

Digam-me que ninguém recebeu dinheiro para fazer isto, por favor. A ideia por si só já é muito má, a imagem é péssima, a luz horrenda, e os planos nem na companhia do «senhor humor» se safam. Só faltava alguém da AAUBI ter pago para isto.

Alguém traga um mapa do século XXI para estes/as cavalheiros/damas da AAUBI acabadinhos/as de chegar do século XVIII.


quinta-feira, 19 de março de 2015

Passos Coelho, o Indeciso



Informa a TSF que Passos Coelho quer «"remover num par de anos" todas as medidas extraordinárias do tempo da troika». Nem sei se ria agora, ou espere pelas eleições.