quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

O Rei vai Nu

Desde que foram divulgadas as medidas de austeridade específicas para a Região (que foi) Autónoma da Madeira, leio e ouço que agora é que é, bem feita, quem os mandou eleger o AJJ, julgavam que não iam pagar, etc. O que me parece mais curioso é que estas bocas cheias são as mesmas que elegeram PPC e que pelos vistos estão satisfeitíssimos com a magnífica escolha que fizeram.

(estou perfeitamente à vontade para manifestar a minha perplexidade, eu, que não votei em nenhum deles).

sábado, 24 de dezembro de 2011

Longa, longa gargalhada

do blogue Aventar
porque não vale a pena chorar (nunca valeu, de qualquer forma)

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Desconheço a autoria, mas estou certa que a mesma apreciará a disseminação da obra.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Are you Scared?


"Ela devia estar em casa a cuidar dos filhos em vez de andar a destruir a vida de alguns homens"*


*Declaração de uma habitante de New Bedford, descendente de portugueses - tal como a vítima - Cheryl Araújo - e os acusados, de resto - a propósito de um caso de violação em grupo, que originou este filme. A comunidade portuguesa organizou-se e manifestou-se contra a condenação de quatro violadores.

in Allison, J. A. "Rape: the misunderstood crime"


Eis uma entrevista a Daniel e Michael O'Neill, que socorreram Cheryl.
Um artigo de Grégoir Seither acrescenta que o padre referiu que uma rapariga que vai a um "local daqueles já se sabe o que é que anda à procura e por isso, que não venha chorar depois"
Quase tão hilariante quanto a declaração do pastor, foi a defesa alegar que ao "aceitar beber um copo de vinho com os seus agressores ela estava a concordar com o sexo" e, portanto, o episódio tratar-se-ia de "sexo consentido" e que o pormenor de ela gritar NÃO e se debater "fazia parte do jogo".
...................
Por vezes, ao ler certos comentários a casos de violação  nos jornais, ou em blogues, vem-me à memória a frase do título, que tão bem espelha uma mentalidade que gostaria de acreditar datada.....

sábado, 10 de dezembro de 2011

A escolha é fundamental


Seus olhos se encheram de lágrimas. «Ingrata», pensou ele escolhendo mal uma palavra de acusação. Como a palavra era um símbolo de queixa mais do que de raiva, ele se confundiu um pouco e sua raiva acalmou-se.
Clarice Lispector, Laços de Família

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

"Para ti, sabes porquê"

Manuel Rodríguez Sánchez

Canto-te...
Canto o teu nome porque só as coisas cantadas
realmente são e só o nome pronunciado inicia
a mágica corrente
(...)

Canto-te 
E tu definitivamente existes nos meus olhos
são os olhos da criança que nós somos sempre
diante da imensidão do teu espaço.

Ana Hatherly

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

A paciência dos doentes e a sapiência de uma equipa ministerial

Segundo o ministro Paulo Macedo e outras vozes apoiantes da actual linha condutora para a saúde, as taxas moderadoras servem, como o próprio nome indica, para moderar o acesso aos serviços, sobretudo ao de urgência hospitalar, a qual, segundo palavras do ministro e seu séquito, são usadas abusivamente pelos/as utentes (os quais, por certo, devem dar como bem passadas as horas nos corredores e salas de espera de um hospital público). É, manifestamente, um abuso, e há que pôr esta gente na ordem e informar que se se tem uma dorzinha no rim, isso não significa que se esteja a morrer, porque só quem está com o pé para a cova é que pode ir às urgências.


Ora, segundo entendi das palavras do ministro, no programa Prós e Contras, palavras essas repetidas nos meios de comunicação social, nomeadamente no Expresso, tudo irá depender da capacidade de auto-diagnóstico do doente: "as taxas moderadoras vão depender do facto de ser uma urgência ou de ser uma consulta de cuidados primários". Ora, uma vez que o raciocínio é: aumentando a taxa de acesso às urgências as pessoas irão pensar duas vezes antes de desembolsar 20€ para ser tratado como gado e irão aguardar pela consulta no centro de saúde. Assim a ser, não consigo perceber o porquê da duplicação da taxa moderadora de acesso a estes serviços. E, por muito, que a deputada Teresa Caeiro venha dizer, aos microfones da TSF, que o número de pessoas abrangidas pela isenção irá aumentar (talvez já estejam a contar com os futuros desempregados), há que sublinhar que se está a colocar uma baliza nos 624€ para a isenção (para além das grávidas e crianças até aos 12 anos, desempregados/as e doentes crónicos cujas consultas sejam referentes a essa mesma doença). Ou seja, uma família cujo rendimento per capita seja 650€* não estará isenta. As taxas moderadoras não farão mossa caso os membros desta família usem o Centro de Saúde uma a duas vezes por ano, mas... e se for mais vezes? É que, sinceramente, não consigo entender a lógica do: "ah, e queremos que as pessoas só vão às urgências hospitalares quando realmente for caso de urgência, porque quando se trata de cuidados primários têm de ir ao Centro de Saúde". É que isto até poderia ter fazer todo o sentido se, aumentando (imensamente!) a taxa de acesso às urgências se se mantivesse a dos Centros de Saúde ou, pelo menos, não a duplicassem (isto para não falar do facto de haver uma enormidade de gente sem médico/a de família, ou sequer sem acesso a um centro de saúde que funcione todos os dias da semana, como é o caso do interior do território nacional).

Nota*: Eu já ganhei (e não foi assim há tanto tempo) 650€/mês e por vezes não dava sequer para pagar as despesas fixas: renda, água, luz, gás, passe, combustível, Internet.
Supermercado? Pois...

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Boa Semana [de melancolia]





Este é o tempo
Este é o tempo
Da selva mais obscura

Até o ar azul se tornou grades
E a luz do sol se tornou impura

Esta é a noite
Densa de chacais
Pesada de amargura

Este é o tempo em que os Homens renunciam.

Sophia de Mello Breyner, 1958

E isto é só o início



segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Matem as Mulheres Primeiro - e de todas as maneiras.

Depois de Lara Logan (e quantas mais terá havido, sem que delas se ouvisse falar), outras repórteres ocidentais foram atacadas física e sexualmente, no cumprimento da sua função, na praça Tahir. 

Entretanto, a associação Repórteres Sem Fronteiras (RSF), tão ciente da importância da liberdade de imprensa, não vê outra solução para o problema que não o afastamento das mulheres repórteres da zona. 
Mas, se a questão é a segurança d@s profissionais de imprensa, então porque vem a RSF recomendar que se retirem as mulheres (esses seres que provocam perturbações incontroláveis no sexo oposto) da praça Tahir ao invés de colocar a tónica no aumento das condições de segurança para @s trabalhador@s da imprensa? A não ser que os homens estejam livres de perigo, esta recomendação não parece fazer muito sentido. Alás, um breve passar de olhos na página da associação, que costuma colocar apontar o dedo a quem agride, mata ou censura jornalistas, permite perceber que também OS jornalistas não estão isentos de perigos. Eles também são censurados, isolados, perseguidos, torturados e atacados sexualmente (parece que os homens jornalistas provocam o mesmo efeito junto de certos meios, que as mulheres repórteres junto do sexo oposto, na Praça Tahir). Alguma vez, ouvimos a RSF proclamar que as agências, jornais e televisões deveriam parar de enviar repórteres para cobrir a guerra do Iraque ou do Afeganistão devido aos repetidos ataques aos profissionais da imprensa? Alguma vez a RSF recomendou o não envio de repórteres para uma zona de guerra alegando que... sei lá, entre outras coisas, existia uma enorme probabilidade de... serem mortos? Então porquê agora esta posição?


Imaginando que a imprensa substituiria os membros femininos das suas equipas (temos muitos exemplos portugueses de mulheres em zonas de conflito), estariam os homens mais seguros? Ou iriam estes com mais condições de segurança? Mas, em que se baseia a RSF para acreditar que os jornalistas estrangeiros estarão em segurança na Praça Tahir, desde que sejam homens? E quando forem os homens jornalistas a ser atacados, irá a RSF aconselhar: "não enviem repórteres para a Praça Tahir? Enviem só as câmaras, os computadores e microfones, os homens que fiquem em casa"? Será que a RSF acha que isto é um 'assunto de mulheres'? É que, enquanto no mundo francófono europeu se legisla para proibir o uso da burqua, alegadamente, em "nome da liberdade individual das mulheres e da segurança nacional", a RSF acha que o ataque aos profissionais da imprensa (desde que estes sejam mulheres) se resolve fechando-as nas redacções. Será isto um ataque contra as mulheres - e por isso, a RSF descarta-se dizendo simplesmente: "não enviem mulheres e o assunto fica resolvido" - ou é isto um ataque à liberdade de imprensa e, em simultâneo, um ataque às mulheres repórteres?


As mulheres (jornalistas ou não) já adoptam uma série de comportamentos 'preventivos' de ataques sexuais (evitar certos percursos, evitar sair a certas horas, entre uma longa lista de coisas e comportamentos a 'evitar' e que não inibem a incidência do crime de violação), revelando uma adaptação do comportamento à prevalência deste crime. Já vi, diversas vezes, mulheres repórteres em directos a partir de países islâmicos menos moderados, com a cabeça coberta com um lenço, porém, jamais vi um repórter ocidental, no mesmo país com a barba comprida ou com a cabeça coberta (não são só as mulheres que cobrem a cabeça no Islão). São sempre as vítimas que se têm que adaptar ao comportamento do agressor. O mais grave parece-me quando uma instituição que defende a liberdade, adopta uma posição tão desigual em termos de liberdade, ferindo claramente o direito das redacções à escolha d@ enviad@ e não protegendo o direito a informar em condições de dignidade que tod@s têm.

Boa Semana



"In this economy, we all need more...."


Sábado de festa, com a K. dar o seu terceiro concerto (com baquetas a voar), domingo em reflexão,
e a longa semana a ler sobre misérias humanas.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

EM GREVE

Ainda tenho esperança que esta minha Ilha atinja a maioridade. Ainda tenho esperança que esta minha Ilha seja capaz de dizer que não é feita de gente que aceita, acriticamente, um executivo que lhes diz que este País (e esta ilha) tem gente a mais, que os que trabalham não são grande coisa porque são despesa. 
Ainda tenho esperança que esta minha gente, HOJE, manifeste o seu descontentamento perante um executivo que lhe diz que andou a gastar de mais, quando a maior parte apenas tem sobrevivido. Tenho esperança que esta minha gente entenda que a greve é um imperativo, que não pense apenas «com o meu rico dinheirinho (do dia de hoje) eles não ficam».
Ainda tenho esperança que a gente desta minha Ilha perceba que não basta que outros combatam por ela.


I believe everything we dream 
can come to pass through our union 
we can turn the world around 
we can turn the earth's revolution 
we have the power 
People have the power

(e os que só agora se preocupam com o que isto fará à economia que vão dar banho ao cão. 
Mas amanhã, que hoje é dia de greve.)

sábado, 12 de novembro de 2011

Já chegamos a Abril - O perfume da Filosofia

O Ministério da Educação, com o seu muito aclamado Ministro, já veio provar que é muito diferente das suas anteriores responsáveis.
No que diz respeito à disciplina de Filosofia, começamos o ano já com toda a informação relativa aos exames nacionais e testes intermédios.
 Este ano, percebemos que as coisas tinham realmente mudado por lá e teremos um exame norteado pelo programa de Filosofia (goste-se ou não) e não apenas por grupos de influência. Este ano, os/as docentes não terão que retroceder na matéria para lecionar conteúdos que não fazem parte do programa, mas que surgem nos conteúdos previstos para o teste intermédio (e que fazem parte de um ou outro manual). Este ano, a terminologia utilizada não versa apenas sobre a terminologia de uma corrente, com um  ou outro manual. Este ano, os conteúdos previstos para o teste intermédio não indicam o privilégio de conteúdos (lógica e argumentação) em detrimento de outros (Kant, mas quem é esse, que não interessa nada, principalmente no que diz respeito ao Conhecimento? O Conhecimento Científico? Mas por alma de quem é que se aborda em Filosofia o conhecimento científico?)
Não, este ano, tem-se provado que o Ministério tem gente séria e que o que de lá emana é completamente diferente do que se viu anteriormente. E a Filosofia continua a ser perfumada.

domingo, 23 de outubro de 2011

Da reiterada falta de vergonha - é uma casa de ministro, com certeza

Miguel Macedo que, ao que parece, tem algumas dificuldades em saber o significado de alguns termos, veio agora a público dizer que por decisão pessoal dele vai apresentar amanhã a renúncia a um direito que lhe assiste - o subsídio de alojamento que pelos vistos apenas alguns funcionários públicos têm, e apesar de ter um apartamento seu (onde fica quando está deslocado). Deve ser bonito, mês após mês, Miguel Macedo, o Ministro, entregar a Miguel Macedo, o proprietário, o arrendamento do apartamento que ocupa durante a semana quando anda a ministeriar pela Capital. Resta saber se Miguel Macedo, o proprietário, passa recibo a Miguel Macedo, o ministro...

Ainda que não concorde com o facto de se autointitular como agente decisor neste caso - já que a decisão pessoal dele só surgiu depois de a situação ter sido escarrapachada nos escaparates dos jornais - concedo que foi mais agente decisor que qualquer um de nós (funcionários públicos/as que não têm subsídio de alojamento quando estamos deslocados): é que a nós, não houve qualquer problema de nem nos consultarem sobre a decisão de perdermos um direito que também a nós nos assistia. 

Faltam 8 (como este Miguel Macedo) renunciarem, por decisão pessoal deles, ao direito que os assiste de serem pagos pela casa que é deles.

A decisão pessoal que deles se exige não é esta. Mas tenho para mim que nenhum é suficientemente sério para tomar a única decisão séria no meio desta palhaçada. É que a esta altura ainda não deverão ter direito a subsídio de reintegração.

sábado, 22 de outubro de 2011

É uma casa de ministro, com certeza

Qualquer professor/a que neste País (parto deste exemplo porque é o que conheço melhor) seja colocado em zona que não contemple a sua área de residência, tem que contar com o facto de ter que arranjar alojamento na área em que ficou colocado. Muitas das vezes, tal implica assegurar duas rendas: a da própria casa e a renda do alojamento perto do local de trabalho. Suponho que em outras profissões o mesmo se passe, principalmente desde que este princípio de a zona de residência do trabalhador não contar para quase nada. O regime de mobilidade e a necessidade de colocar comida na mesa assim obrigam.
Há cerca de uma semana, soubemos que seremos obrigados a ceder os nossos subsídios nos próximos 2 anos (período mínimo) em nome da quase bancarrota em que o País se encontra (dizem-nos que vivemos acima das nossas posses, nós os que ganhamos mais de 500 euros). Para não haver despedimentos, há que cortar na gordura - os funcionários públicos, nomeadamente aqueles que ganham mais de 500 euros por mês (progressivamente) e aqueles que ganham mais de 1000 euros por mês, que como toda a gente sabe, no primeiro caso é uma fortuna e no segundo roça o ordenado de um milionário. A justiça assim o exige, diz-nos o governo, constituído pelos partidos PSD e CDS, gente séria e preocupada.
Pois é exatamente esta gente séria que se atreve a atribuir aos da matilha subsídios de alojamento, que coitadinhos estão deslocados. E vai daí, toma lá 1400 euros mensais, que esta coisa de arrendar casa está pela hora da morte e o teu vencimento justifica este pequeno presente no sapatinho (mensal, que o Natal é sempre que um membro do executivo quiser). E não interessa nada que até tenhas segunda casa na zona. 
E aqui fica, para memória futura, os carenciados que se fazem pagar pelos contribuintes portugueses - aqueles que perderam qualquer margem de manobra em nome de uma austeridade que a estes  não bate à porta de certeza (todos pertencentes ao executivo que nos diz que somos milionários com 1000 euros mês):

Miguel Macedo
Aguiar Branco
Juvenal Peneda
Paulo Júlio
Cecília Meireles
Daniel Campelo
Marco António Costa
Vânia Barros

Com gente séria desta, só mesmo à lei da bala.

sábado, 15 de outubro de 2011

Larry Fink, 1967

O Segredo (nova edição)

Uma escola em Barcelos, desolada com a posição que obteve no ano transato nos afamados rankings, decidiu oferecer uma recompensa monetária aos alunos que obtivessem, nos exames, notas superiores a 13 valores. Resultou. Tendo gasto ao todo 700 euros com a estratégia, os/as alunos/as com notas superiores a 16 valores receberam 60 euros; os/as alunos/as que conseguiram notas entre os 13 e 16 valores, receberam 40 euros.
Ao que parece, o que faz falta à malta é pagamento imediato, que com objetivos a longo prazo já não vai lá.

PS:
Nem quero pensar no que irá acontecer aos/às alunos/as que ficaram pendurados/as no boicote do Crato ao prémio que lhes havia sido prometido.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

«Só um Estado controlado por cidadãos livres pode oferecer-lhes qualquer segurança razoável»*

No dia em que Passos Coelho deita por terra tudo o que serviu de bandeira para forçar a queda do governo anterior, no dia em que Passos Coelho anuncia que toda a sua campanha eleitoral foi uma gigantesca fraude, deixo um excerto de Tony Judt. E só tenho pena de no dia 15 de Outubro não poder estar em nenhuma das cidades que aderiu ao protesto.

«Os ricos não querem o mesmo que os pobres. Os que dependem do seu emprego para viver não querem o mesmo que os que vivem de investimentos e dividendos. Os que não precisam de serviços públicos - porque podem adquirir educação, proteção e transportes privados - não procuram o mesmo que os que dependem exclusivamente do sector público. 
(...).
Os mercados têm uma disposição natural para favorecer necessidades e desejos que podem ser reduzidos a critérios comerciais ou medições económicas. Se se puder vender ou comprar, então é quantificável e podemos avaliar a sua contribuição para medidas (quantitativas) de bem estar coletivo. Mas, e aqueles bens que o ser humano sempre valorizou mas que não se conseguem quantificar? 
(...).
Por outras palavras, e se tomássemos em consideração nas nossas estimativas de produtividade, eficiência ou bem estar a diferença entre uma escolha humilhante e um benefício de direito?»
Tony Judt, Um Tratado Sobre os Nossos Descontentamentos, pp. 162-163

*Karl Popper, citado por Tony Judt

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Boa Semana


Will The Circle Be Unbroken

I was standing by my window
On a cold and cloudy day
When I saw that hearse come rolling
For to carry my mother away

domingo, 2 de outubro de 2011

Manuel Subtil e os média

Em 2001, Manuel Subtil barricou-se numa casa de banho da RTP. Imediatamente o caso foi seguido e exaustivamente analisado pela maioria dos órgãos de informação do País (Madeira incluída, por incrível que pareça). De repente o País ficou suspenso perante o ato daquele homem desesperado, trancado com a família numa zona do edifício muito pouco nobre. Ameaçava suicidar-se (e levar quem pudesse com ele). Ao fim de oito horas de atualizações constantes (perfil traçado, amigos entrevistados, projeções, enfim, o carnaval habitual neste género de situação), as notícias pariram um rato.
Em 2011, numa ilha que se tornou presença constante nos noticiários nacionais com reportagens exaustivas sobre  um líder desorientado e respetivos/as seguidores/as, um grupo de deputados de um partido da oposição invadiu um órgão de informação dominado pelo Governo Regional (sob a complacência de uma igreja que tem pautado a sua atuação por uma quase total promiscuidade com o poder político). Na verdade, não foi a primeira vez que um partido da oposição tentou despoletar o debate sobre o tema (suponho que tenha sido essa a intenção dos assaltantes: provocar celeuma para colocar o assunto sobre algumas meses mais renitentes). A última tentativa (antes desta ação mais radical do PND) partiu do Bloco de Esquerda (salvo erro), que quis levar o assunto da liberdade de imprensa na RAM à Assembleia da República, não tendo a proposta sido aceite  pela maioria parlamentar. 
Não me interessa aqui emitir qualquer juízo sobre a performance do PND (ou do Bloco, ou da maioria parlamentar da Assembleia da República). Interessa-me antes refletir sobre a atuação dos meios de comunicação; em alguns casos, nomeadamente nos canais televisivos (à exceção da RTP), a omissão foi ensurdecedora. No que diz respeito à imprensa, os principais jornais nem referem o caso no dia seguinte. Perante isto, ficamos com a sensação de que o Jornal da Madeira não é muito diferente dos principais órgãos do Continente: a transgressão dos deputados, que seria notícia nem que fosse por isso mesmo (pelo caráter transgressor da performance) foi sumariamente ignorada pelos principais órgãos de comunicação. 
Compreende-se. Tal notícia embaraçosa vai de encontro (e não ao encontro) à imagem construída de que a Ilha está isenta de detratores/as relativamente ao poder político regional. E isso não pode ser. É que nesta Ilha apenas acontece o que os média quiserem que aconteça. E os média querem a ilha a uma só voz. Tudo o resto, torna-se silêncio. 

terça-feira, 27 de setembro de 2011




In a room where people unanimously maintain a conspiracy of silence,
one word of thruth sounds like a pistol shot.

Czeslaw Milosz



segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Estranhos alinhamentos - TSF Madeira


No dia seguinte a Miguel Relvas ter informado de que não serão anunciadas as medidas a aplicar na RAM  em função da dívida (a falta de garantia é isso mesmo, nada antes de 9 de outubro, como convém); no segundo dia de campanha eleitoral para as regionais e após uma manifestação de indignação no aterro do Funchal, a TSF abre o jornal das 7:30 com a vitória do marítimo, direito a entrevista e tudo (não faço ideia a quem, mas qualquer coisa como o treinador e o presidente do clube pode muito bem ter sido). Depois dessa notícia importantíssima houve espaço para os assuntos menores acima mencionados. Relvas então, foi um apontamento.zinho.de nada.

(O marcador A Origem da Obra de Arte é dedicado ao cinema. Mas apeteceu-me classificar este post com esse marcador. É que é realmente preciso muito engenho para um trabalho informativo tão cuidado).

Boa Semana


Chorei porque já não podia acreditar e eu adoro acreditar
Anäis Nin

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Boa Semana


"I want to buy you something
 but I don't have any money"

Em breve, em muitas casas portuguesas.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Declaração pública de interesse

Gosto de parênteses. 

Uma obra com a qualidade Porto Editora

O Prontuário da Língua Portuguesa - Acordo Ortográfico, da Porto Editora, proclama na capa que é «o único com o antes e o depois do Acordo Ortográfico». E tem toda a razão. No índice e nas várias secções, uma autêntica sessão de nostalgia com colectivos, adjectivos, objectos, directos e indirectos. Com um desacordo destes, quem precisa de inimigos?

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Pontos nos i´s

Vítor Gaspar, esse terrível maçon, claramente em conluio com a Internacional Socialista que elegeu como principal alvo a abater AJJ (e o povo superior). Ah, a inveja é uma coisa muito feia e é preciso ter a noção que não é (povo) superior quem quer. Só quem pode!


(em "estrangeiro" é ainda mais internacional)

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Contos do Nada

Tomos Rawski

A inspiração... ah... soubera ela como se inspirar e não procuraria a palavra certa com o ouvido no toque do arco na corda do violino. Não. Soubesse ela como onde e como se inovocava a musa e não lhe chamaria nomes insultuosos, já com as lágrimas a escorrer pela face perdida pelos prazos apertados. Percebesse ela que a inspiração estava a descer pelo seu rosto naquela lágrima de raiva e que os céus.... e não teria perdido tanto tempo ... - (quantos anos?) - à espera d'A resposta. Soubesse ela que a inspiração é como os deuses e não teria desperdiçado a sua juventude à procura do nada.

M-u-i-t-o Boa Semana ;-)


A minha sê-lo-à certamente!

domingo, 28 de agosto de 2011

A ditadura é uma arte

Entrevista a Susie Orbach, na Revista Pública de hoje:

«Não há nenhuma mulher imune - eu não sou diferente. Abram-se os jornais, as revistas e há uma cultura visual que representa algumas mulheres icónicas — portanto há uma representação física — vezes e vezes sem conta. Depois, há uma constante auto-representação de mulheres que precisam de estar no centro do consumo, olhar-se a si próprias, apresentarem-se de certa forma, fazer determinadas coisas, ter 'este emprego' — como se o corpo e a pessoa fossem uma produção.»

Não deixa de ser curioso (para ser simpática) que a revista  tenha optado por, a par com a entrevista à Susan Orbach, colocar uma página de publicidade ao seu canal LifeStyle, que anuncia ser «um canal cheio de estilo e glamour que lhe mostra as novas tendências que vão melhorar o seu estilo de vida. Conheça em primeira mão a última criações de moda, os tratamentos de beleza e as personalidades mais badaladas.» 

sábado, 27 de agosto de 2011

O Direito é um mundo estranho

Rosie Hardy

O Direito é um mundo estranho. Subjuga e liberta, confina e abre horizontes, cria identidades e destrói-as. Não haverá talvez zona do seu discurso em que isto seja mais verdade do que a da formação de relações sociais de género, ou seja, produção normativa de hierarquias e propriedades nas posições e competências relativas de homens e mulheres.

Teresa Beleza in Clitemnestra por uma noite


segunda-feira, 22 de agosto de 2011

O segundo caso sério de hoje

Não sendo leitora assídua, considero este post incontornável. 

Um caso sério (perdi-lhes a conta)

Muito interessante, o post justamente intitulado de "Dúvida Existencial", do blog(ue) 2 Dedos de Conversa. Postas as coisas nestes termos e eventualmente até os/as criadores/as do impresso em questão o considerariam ridículo.Ou não?

Boa Semana



sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Un intero popolo che paga il pizzo è um popolo senza dignità 1


O pizzo pode ser também o voto que é inserido nas urnas; acrítico, carneiro, um gesto que não é gesto, fruto do hábito. 
Um povo que voluntariamente abdica da liberdade em troca de subsídios é um povo sem dignidade. 
Um povo que alimenta o polvo na esperança de fazer parte dos/as privilegiados/as é um povo sem dignidade. 
Um povo que se cala perante jogos de poder, que assiste impávido e sereno a ataques ao livre pensamento é um povo sem dignidade. 

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Un intero popolo che paga il pizzo è um popolo senza dignità

Uma das memórias de infância que mantenho dizem respeito a uma série italiana muito popular em Portugal: O Polvo (La Piovra). À altura, pudemos acompanhar os meandros da atuação da máfia italiana (ainda que a partir de um relato ficcionado), as suas relações estreitíssimas com o poder e a dificuldade em travar uma organização violentíssima que subjuga um povo (a máfia não atua apenas a sul, nem apenas na Sicília). 
Nas férias, um caro amigo que nos acolheu voltou a falar-nos deste flagelo. E foi ele que nos falou de Addiopizzo*, uma organização que a partir do centro de atuação da máfia italiana, Palermo, recupera um pouco da dignidade de um povo subjugado pelo terror e habituado a ter que pagar para poder viver normalmente.


Sob o lema pago a quem não paga, Addiopizzo é um movimento de resistência que ao longo dos anos tem vindo a ganhar força e aderentes e merece ser apoiado além fronteiras. Apela para um consumo crítico: que as pessoas frequentem e comprem apenas nos estabelecimentos que se recusam a pagar o pizzo - ou que denunciam as tentativas de extorsão.


* Pizzo diz respeito ao pagamento que os/as comerciantes fazem à máfia a fim de poderem manter os seus estabelecimentos sem problemas de maior.

À atenção da Comissão Nacional de Eleições


Artigo 57.º *
Início e termo da campanha eleitoral 
O período da campanha eleitoral inicia-se no 14.º dia anterior ao dia designado para a 
eleição e finda às vinte e quatro horas da antevéspera do dia marcado para a eleição.  

É normal que as ruas do Funchal estejam já carregadas de cartazes com apelo ao voto para as eleições que acontecerão apenas a 9 de Outubro de 2011?

*da Lei Eleitoral para a Assembleia Legislativa Regional.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Terei que esperar sentada?

O ensino tendencialmente gratuito e obrigatório manifesta a sua voracidade por esta altura: para além do material básico (cadernos, estojos, lápis, etc.), há ainda a aquisição obrigatória dos manuais escolares. 
Hoje, nos vários diários portugueses, é anunciado que o preço dos manuais* do ensino básico sofreu um aumento abaixo da inflação e que o preço dos manuais do ensino secundário não sofreu qualquer alteração. Aparentemente, boas notícias para as famílias de um País em que os aumentos se têm anunciado vertiginosos. Efetivamente seria uma boa notícia, se não estivéssemos perante produtos que são detentores de preços que roçam o absurdo e que provocam graves desequilíbrios na maioria dos orçamentos familiares.
O negócio dos manuais escolares é um escândalo. A obrigatoriedade da sua utilização torna-o extremamente apetecível e até agora não houve vontade política para regulamentar este sector em que as editoras dispõem como muito bem entendem da carteira do consumidor. O excesso é, claramente, palavra de ordem.
Em primeiro lugar, fico perplexa  perante a quantidade de títulos que são propostos por cada disciplina (e que se tenha em conta que me refiro ao número de títulos por editora). De salientar que todos esses títulos devem ser analisados pelas várias escolas (ou seja, por quem lecciona). Ora, a avaliação que os/as docentes têm que fazer dos mesmos é praticamente nula, já que os exemplares chegam às escolas tardiamente e com prazos para análise escolha que são risíveis face à quantidade de títulos recebidos. 
Em segundo lugar, a qualidade dos manuais que são produzidos, no que diz respeito ao material que é utilizado. Comecemos pelo papel utilizado pela esmagadora maioria das editoras - o papel couché - que para além de não ser o melhor para o que se destina (ora sublinhem/escrevam sobre este tipo de papel), é um tipo de papel que é excessivamente pesado e é dos mais caros do mercado. Acresce o facto de estarmos a falar de publicações em que o uso da cor é muito comum, o que aumenta os custos de produção. Obviamente que em determinados casos as cores são importantes (caso dos manuais de Biologia, ou  Física e Química, entre outros exemplos) mas noutros casos é praticamente dispensável (um manual de Filosofia, ou de Português não necessita de ser abundantemente ilustrado).
Em terceiro lugar, o carnaval que é montado em torno das apresentações dos manuais, que certamente é pago e bem pago pelo consumidor final. E refiro-me aos brindes, às apresentações em hotéis com beberetes e afins.
Não esqueçamos que o consumidor final não são apenas as famílias - é também o Estado, que tem a obrigação de fornecer manuais aos/às alunos/as carenciados/as. Por tudo isto, não percebo por que razão o Estado, que se imiscui em quase tudo, não regulamenta este sector. A começar pela exigência que a produção destes objetos seja feita com custos controlados, a fim de que não se produzam objetos de luxo quando na verdade estamos perante bens essenciais (e, repito, de consumo obrigatório).
Também a este respeito, fico à espera de novidades por parte do novo Ministério...

*Sem esquecer a novidade dos blocos pedagógicos, com uma profusão de materiais que, com mais um esforço, aparentam dispensar a presença de um/a docente em sala de aula.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Letícia, essa grande pecadora


O que é que Letícia tem que outras mulheres que praticam sexo casual
[with no strings attached/one night stand/sexo descomprometido] não têm?

This isn't happiness

Um blogue.

Letícia, mulher, acabada de entrar nos 30, decide começar a contar os homens que leva para a cama.... e escrever sobre o assunto num blogue. Põe uma meta para este ano: cem. Cem homens. 
Infantil? Talvez, mas não o será menos do que os rankings de deuses do sexo que as revistas masculinas costumam fazer. Como é mais do que lógico, o facto de Lemmy dizer que foi para a cama com 1000 ou "talvez 1200" (na verdade ele não sabe muito bem, e aqui entre nós, se eu contasse com um milhar de parceiros sexuais, provavelmente, eu também não saberia a conta exata) faz dele um deus do sexo. O facto de Letícia apenas ter arrebatado 10% da conta daquele "sex god" faz dela... ora, adivinhem lá... [uma principiante, pensarão alguns/mas de vocês]... uma vadia, claro. Desde que Lola divulgou o blogue de Letícia que a autora se viu confrontada com um aumento exponencial dos insultos já habituais. Sim, habituais, porque há sempre gente com muita dificuldade em aceitar que há pessoas que pensam de formas diferentes da sua, ou seja, pensa pela sua cabeça e não pelas deles/as e, claro, isso é fonte de grande aborrecimento para certas mentes que acham que o universo tem que ser todo da mesma cor. Mas, acima de tudo, há sempre muita gente com enorme dificuldade em aceitar a liberdade pessoal dos outros. Letícia fala de sexo, da sua sexualidade e dos seus parceiros sem revelar as suas identidades. Não tece comentários jocosos ou sequer revela uma atitude predatória. Mais, Letícia não engana ninguém. Não afirma que não quer compromissos para depois os exigir, nem inventa uma paixão assolapada por um rapaz qualquer para o seduzir para a sua cama. Ela - e os seus parceiros - são claros: sabem o que querem, e não o escondem do(s) parceiro(s). Ou seja, ela não está a ser desonesta, não está a mentir, não está a roubar, não está a matar ou a magoar alguém. E, acima de tudo, não está a defender que a sua forma de viver a sexualidade é a única possível. Contudo, a blogger é confrontada com comentários acerca do seu caráter e, naturalmente, da sua moral sexual  - incrível como em pleno séc. XXI ainda haja pessoas que não saibam o que é uma prostituta (para ajudar os/as mais confusos/as, aqui vai uma definição em termos bem simples: mulher que cobra dinheiro em troca da prestação de serviços sexuais - também há a versão masculina: prostituto). Ora, Letícia vai para cama com homens, pedindo em troca apenas respeito. Se isto faz dela uma prostituta? Não, não faz. 
Óóóó... mas, a grande pecadora diz que gosta de sexo - aliás, diz que gosta MUITO de sexo - (o que já é contra-natura, pois todos sabem que as mulheres que gostam muito de sexo são ninfomaníacas - quem é que inventou isto mesmo?) - mas o pior ainda está para vir.... Letícia gosta muito de sexo com homens DIFERENTES!!! e... pior!!! (ainda há pior?), ela ... não os AMA, apenas nutre carinho por alguns deles (por alguns, não se empolguem, ok?). Ah! Como pode ser? Então ela não é mulher!!! Claro. Só pode ser uma prostituta. E como sabemos, as prostitutas não são mulheres, são algo intermédio: entre os objectos que todas as mulheres são e o lixo que muitas pessoas (algumas mulheres incluídas) vêem no sexo e na sexualidade femininas.

Adenda: a leitura do blogue de Letícia deixou alguns participantes de um fórum de "homens honrados" (seja lá o que isso for), cheios de interrogações, algumas tão criativas - e que são exemplificativas da honradez daqueles rapazes, que muito envergonham o sexo masculino - que não me contenho em parafraseá-las aqui: perguntava-se um participante como era possível fazer sexo oral a uma mulher que tinha estado em contacto com o membro viril de outrém 24 horas antes? E tendo em conta, segundo diversos comentadores, que as mulheres são "depósitos de esperma", seria fenomenal se a grande pecadora da Letícia apanhasse uma DST - mas não uma DST qualquer, uma daquelas lixadas, que demora a tratar ou, melhor ainda, que é incurável. Fiquei comovida com tanta honradez!

Ah, para estes honrados a Nadia El Fani também é uma "vadia", com a agravante de ser "feminista".
Outra adenda: em Portugal, Letícia ainda teria outro factor de crucifixação: além de ser mulher, gostar de sexo casual, é brasileira, e, portanto, está explicado porque ela é como é.

Parole

Ao fim de alguns dias, desistiu. 
Ao início ensaiava longos monólogos mentais em que punha em prática a Língua. Imaginava respostas, limpas e certeiras. Treinava o que diria na padaria, no quiosque, como pedir um café ou comprar um livro. Soavam-lhe maravilhosamente bem estes diálogos inventados. E depois, quando interpelada (na padaria, no quiosque, no café ou na livraria) uma profusão de signos (outros) silenciavam-lhe as respostas. 
Desistiu e começou a comunicar maioritariamente por gestos. Na padaria, já lhe conheciam o gosto pelos croissants a que chamavam brioches. Sabiam que os entendia, mas não ouviam redondas palavras da sua boca em resposta. 
As palavras eram silenciadas, cobertas por camadas de outras palavras que ela sabia não serem a Língua. Pode uma Língua ser dita apenas na nossa mente?

(muito!) Boa Semana



domingo, 14 de agosto de 2011

Entre um País e uma Ilha


Um italiano percebe perfeitamente o estado de espírito de uma madeirense sempre que fala do estado da realidade política no local de origem. O inverso também é verdade. 

terça-feira, 26 de julho de 2011

Espírito de Calimero

É confrangedor assistir às filas a pedinchar privilégios. De mão estendida e olhos baixos, não são os/as mesmos/as que, pelos corredores e longe dos ouvidos mais influentes, dizem aos/às de passagem que não gostam de chefias, não se aproximam de hierarquias e não devem nada a ninguém.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

À atenção de NYX(des)VELADA


«(...)é o "olho todo", o todo do olho que chora.»
Jacques Derrida, Memórias de Cego

segunda-feira, 18 de julho de 2011

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Get It On

No passeio marítimo de Algés (dia 8 de Julho), apenas uma desculpa era possível: Grinderman. Num palco dito secundário, ignorando os dramas adolescentes dos/das miúdos/as que suspiravam por uma grua que lhes trouxesse os ídolos do seu contentamento, a quadrilha inicia o concerto pontualmente.
Sem gruas, porque não precisam de artifícios para se elevarem, os Grinderman deram o grande concerto da noite -  não vi os outros, mas acredito em quem o afirma. Afinal de contas, eu não estava ali para mais nada (já o Jools esperava também por Thievery Corporation).
Nunca vi Nick Cave And The Bad Seeds ao vivo, mas não cometeria a ingenuidade de achar que seriam parecidos. Grinderman poderá ser the dark side of the moon destes putos de meia-idade. São viscerais, sem quaisquer laivos de questionamento sobre a existência de Deus ou de crença no amor que acabou ou vai iniciar.  Com Grinderman, não existem quaisquer filtros: é a libido à solta, sem qualquer mecanismo de defesa. Perante isto, Grinderman nunca poderiam estar em palco como Nick Cave And The Bad Seeds*. A distorção das guitarras e as líricas desenfreadas não o permitem (para não invocar tudo o resto...).

*(mesmo quando estamos perante líricas menos consensuais)



Zoriah

Da Russia, com Amor.


segunda-feira, 4 de julho de 2011

quarta-feira, 29 de junho de 2011

A Disciplina Amansada 2

Têm sido tempos aparentemente mansos, os que medeiam este post e estes outros, escritos há tanto tempo. Mas esta mansidão esconde um turbilhão latente, contido por estratégias mais comedidas face às resistências que aqui e ali surgiram (e que culminou com a suspensão do exame nacional - uma espécie de agora ninguém brinca). 
A verdade, é que a filosofia está cada vez mais amansada e temo que os próximos tempos revelem o trabalho ardiloso de quem apenas sussurra. Eficazmente. 

Esta semana, descobri nos escaparates das tabacarias uma revista sobre Filosofia (ignorância minha). Comprei-a por curiosidade e a primeira coisa que li foi a entrevista a Daniel Lins, que originou a repescagem dos posts acima lembrados. É que Lins, a determinada altura afirma (relativamente ao Brasil, mas que poderia perfeitamente ser em relação ao nosso País) que «a Filosofia, salvo exceções, é marcadamente teológica, com seu cortejo de 'padres', os novos padres 'ateus', comentadores atrelados à Filosofia do Estado (...)» e mais à frente continua «'Isto não é Filosofia', diz o filósofo do Estado. Pode-se até mesmo sorrir desses mestres da significação, mas são eles que nos altos arraiais da burocracia emperram o pensamento e instalam a sua representação:'Isto não é Filosofia, mas literatura.'», tendo como referência a obra de Nietszche - entre outros -  por oposição ao modelo de conhecimento defendido pelas teorias ontológicas  (e analíticas, acrescento eu). E percebo como a minha análise na altura foi ingénua, que julgava tratar-se de uma seita. Mas Lins tem razão: é, cada vez mais, a Filosofia do Estado. 

*Pormenor de O Grito, de Edvard Munch

quinta-feira, 23 de junho de 2011

"It is not so easy to fool little girls nowadays as it used to be"

terça-feira, 21 de junho de 2011

Disse o quê? É que não me lembro


Fernando Nobre faz questão de não nos surpreender quanto ao peso que atribui à (sua) palavra dada: ao que parece, manter-se-á como deputado (quem aprecia este registo é o Sócrates, que vai ser feliz para França - e continua a apostar em denegrir a Filosofia).

terça-feira, 14 de junho de 2011

Bruno Nogueira oscula o espelho todas as manhãs antes de sair de casa


O dia começa bem quando ouço Fernando Alves. Mas hoje, a TSF (madeira) fez o favor de o preceder com o anúncio ao programazito Tubo de Ensaio. A entoação que emprega quando fala aos(às) preguiçosos(as) mentais deste País (vulgo portugueses) causa-me náuseas. Parece-me claramente que é essa a premissa da qual parte o criativo Bruno Nogueira quando performa os seus programazinhos (suponho que muito bem pagos) para os(as) idiotas do seu País. Ou não tivesse feito tão grande elogio à sua obra em detrimento da inteligência do público-alvo, quando entrevistado há umas semanas pela Visão.

Perplexidades

Anuncia-se a IV Corrida da Mulher, sob o alto patrocínio do Grupo Sá e organizada pela Associação de Atletismo da Madeira. O que me faz espécie é que a receita resultante da iniciativa reverta para a Criamar, quando existem associações e instituições direccionadas para os direitos das mulheres, com trabalho feito e manifesta falta de verbas.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Boa Semana

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Post-it de uma gata quase adormecida


Afinal não sou a única (e só por isso interrompo o meu longo silêncio, que já não vos visitava há que tempos). Mas voltemos ao assunto que me trouxe de volta ao teclado; ao que parece, a caríssima companheira para quem trabalha esta I. também não gosta de visitas de quatro. É para verem, para saberem o que nós sofremos. O meu perseguidor também era o demo, que eu bem sei que era, apesar de cá em casa começarem logo com o  "coitadinho, sem pai nem mãe". Insuportáveis, é o que vos digo, essa gatalha toda que nos entra pelo asseio dentro de pata estendida e com miaus de o "peixe para o povo". Mas não, comigo não, que sou gata desocupada, mas nada estúpida. Não há cá biscoitos para mais ninguém, nem lata para outros que não eu. 
Conselho à felina em apuros (peço imensa desculpa por lhe desconhecer o nome): ponha-o a mexer e reeduque as criaturas que trabalham para si. Coloque o proletariado no seu devido lugar, companheira de agruras. É que hoje dão um prato, amanhã dão-lhe cama e não tarda nada tem que dormir acompanhada. E mal acompanhada. Não se meta nisso, cara amiga. Ouça o meu conselho, que já cá ando há uns aninhos e tive uns quantos a rondar-me a propriedade. Xô gato!

terça-feira, 24 de maio de 2011

Um lançamento é para despachar

No átrio do Teatro Municipal Baltazar Dias, em meia hora, falou-se de Mulheres e Teologia. O pretexto, o lançamento do livro E Deus Criou a Mulher – Mulheres e Teologia. O convidado, Anselmo Borges, um dos organizadores do Congresso agora foi apresentado em livro. O contexto, a Festa do Livro do Funchal. 
Uma apresentação que estava agendada para as 17:30 mas que começou muito depois das 17:45, por ajustes de agenda de última hora. A eles voltaremos.

Anselmo Borges começou por chamar a atenção de que o/a leitor/a não pode esquecer o contexto histórico na leitura dos textos sagrados, que é perigosa quando literal. Assim, um/a leitor/a atenta está consciente que se tratam de textos que procuram responder à pergunta fundamental que é também a da religião, a saber, o quê ou quem traz liberdade e sentido último ao ser humano. E que, portanto, a finalidade das religiões e dos seus textos é trazer liberdade e não opressão e quando se tornam o seu inverso – quando se tornam opressão em vez de libertação, então deve ser posta de lado.
Deste modo, continua Anselmo Borges, uma hermenêutica feminista dos textos sagrados deve ser uma hermenêutica da suspeita, em que é preciso não esquecer que os seus escritores e intérpretes foram, ao longo, dos tempos, os homens, os varões. Assim, reiterou, uma hermenêutica feminista tem que ter uma leitura crítica da História e tem que ser uma hermenêutica da memória, que procura o lado esquecido da História, que vai para além da História dos vencedores porque são os que dominam o discurso. E a verdade é que durante muito tempo, a mulher não deteve qualquer poder.
Exortou também à reformulação dos próprios rituais religiosos, que influenciam a auto-identidade da mulher: batizada pelo padre, pelo bispo, pelo papa, em nome do pai, do filho e do espírito santo. É necessário desconstruir essa imagem masculina de Deus, porque «se Deus é masculino, então o masculino é divino, porque é Deus.»
É preciso não esquecer (como tem acontecido) que deus é assexuado e não a imagem patriarcal dominante, que é apresentada muitas vezes como opressora, autoritária; Deus Pai, que é juiz, rei e soberano.
Exortou ainda à urgência de que a crítica hermenêutica faça parte de todas as religiões, para que estas tenham capacidade de se reformularem em função do tempo em que estamos e não em função do tempo em que estivemos. E este trabalho é um trabalho de toda a humanidade, porque de direitos humanos se trata - «nada daquilo que é humano me é estranho». E lembrou Kant que, já no século XVIII,  considerou que o ser humano deve ser sempre um fim em si mesmo e nunca um meio.

Finda a apresentação, o ajuste de agenda  proibiu questões ao público (que só depois veio saber porque não havia sido aberto espaço para debate) e convidou o autor a abandonar a mesa em que assinava livros aos/às assistentes que o solicitavam, pelo que a tarefa que teve continuar em cima do joelho, ao fundo da sala. 
Ao que parece, o ajuste de agenda apenas disse respeito ao lançamento deste livro. Tudo o resto, continuou placidamente na mesma.