sábado, 29 de dezembro de 2012

De pequenino se educa o ouvido


As bandas devem evitar-se, A única exceção é mesmo Emir Kusturica & The No Smoking Orchestra.

sábado, 22 de dezembro de 2012

De pequenino se educa o ouvido


O Pai Natal (da coca-cola) por norma assusta as crianças mais pequenas. 
Tenho a certeza que o problema está nas barbas.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Diário de uma gata amarela de 12 anos*


Acordo.
Vou até à casa de banho e exijo que me abram a torneira do bidé.
Bebo água e regresso à cama.
Exijo festas. Quando tal não acontece, dou umas lambidelas de aviso nas mãos dos escravos. Se não reajem imediatamente (são lentinhos, deusa minha), mordo os dedos para os incentivar a cumprirem com as suas obrigações.
Canso-me de festas e salto para o chão.
Exijo que me abram a porta.
Desço as escadas a correr e encaminho-me para a cozinha.
Vou até ao prato. Recuso os restos do jantar. Biscoitos novos, precisam-se.
Já mais compostinha regresso ao quarto. Casa de banho. Bidé. Água, por favor.
Satisfeitas as necessidades básicas, dedico-me a esticar as patas na cama macia e preparo-me para as atividades matinais: ver televisão (com um olho aberto que com os dois é esforço desnecessário), adormecer e ressonar.
Ao almoço acordo e faço os alongamentos: patas da frente e, se estiver bem disposta, patas traseiras também. Arqueio o tronco e abro a boca (os maxilares também se alongam). Exibo os dentinhos, a anunciar que estou pronta para nova pratada de biscoitos.
Desço as escadas a correr até à cozinha. Exijo novos biscoitos no prato, que os que restam do pequeno-almoço de certeza que estão demasiado moles.
Vou até à varanda, enquanto a família almoça na mesa da sala, para fazer algum exercício físico: divirto-me a entrar e sair pela porta de correr; mio quando estou dentro para sair, re-mio quando estou fora para entrar. É preciso exercitar os nossos humanos. Faz-lhes bem, acreditem.
Desço até ao escritório. Uma magnífica cadeira de leitura que há muito reivindiquei para uso pessoal.
Enrolo-me sobre mim mesma.
Adormeço.
Ressono.
Abro o olho quando fazem menção de me tirar de lá ou quando pegam em algum livro.
Rosno mentalmente,
Recuam nas intenções e deixam-nos em paz (a mim e à cadeira).
Acordo.
Subo para jantar. Prato limpo, por favor.
Desço para o escritório.
Retorno à cadeira.
Quando já são horas, começo a encaminhar os humanos para a cama. Invariavelmente lembro-lhes que está na hora de dormir.
Lá tenho que fazer o número das escadas com um deles, de outro modo não sobe. Resulta sempre.
Casa de banho. Bidé. Água a correr.
Cama. Festas. Mais festas.
O humano das escadas também gosta que brinque com ele até ficar cansado. Pronto, já parou com a brincadeirinha.
Podemos dormir?
Levantem lá os lençóis e cheguem para lá.
Boa noite.
Mais para lá.
Boa noite.
Ainda não está bem. Será preciso fazer uso das unhas?
Obrigadinha.
Até amanhã.

* Então até para o ano, que será mais ou menos quando terei novamente paciência para vos escrever.

domingo, 16 de dezembro de 2012

Mensagem natalícia de Um Blog Que Seja Seu: galardão natalício «solidariedade»*


E por falar em campanhas natalícias de solidariedade (como já aqui o escrevi, é boicotar as popotas, leopoldinas, arredondamentos e afins)... adoro a história dos/das «famosos/as» serem solidários através do incentivo aos outros (o bolso dos outros, pois claro). A eles... basta-lhes a presença, o sorriso e a histeria. 
A Jonet deve gostar imenso.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012



Adam Martinakis 

O princípio, formulado pelos juristas romanos tardios, de que a societas leonina já se não pode considerar como contrato de sociedade, mostra de modo relativo que a eliminação de todo e qualquer significado autónomo de uma das partes suprime o próprio conceito de sociedade. Com referência aos operários menos qualificados nas grandes empresas modernas, que excluem toda a concorrência eficaz no seu recrutamento por empresários rivais, disse-se, neste mesmo sentido, que a diferença de posição estratégica entre eles e os patrões é tão avassaladora que o contrato de trabalho deixa de ser um 'contrato' no sentido normal, porque uns estão incondicionalmente entregues aos outros. Nesta medida a máxima moral de nunca utilizar uma pessoa como simples meio, revela-se como a fórmula de toda a socialização. Quando o significado de uma das partes desce a um ponto em que a ação emada do eu como tal, já não entra na relação, não se pode mais falar de sociedade, tão pouco como entre o carpinteiro e o seu banco.

Georg Simmel (1923)
Barbara Kruger


De um modo geral ninguém está interessado em que a sua influência seja determinante para o outro, mas sim que esta influência, este determinar do outro, reverta sobre si próprio. Por isso existe já uma ação recíproca naquela sede de domínio que se dá por satisfeita quando o fazer ou o padecer, o estado positivo ou negativo do outro se apresenta ao sujeito como produto da sua própria vontade. (...) De resto, a sede de domínio, mesmo nesta forma sublimada, cujo sentido prático não é a exploração do outro, mas a mera consciência dessa possibilidade, não significa de modo algum uma forma extrema de desconsideração egoísta. É que a sede de domínio, por muito que queira quebrar a resistência interior do submetido (enquanto o egoísmo só se costuma importar com a vitória sobre o seu exterior) ainda assim tem uma espécie de interesse pelo outro, é para ela um valor. Só quando o egoísmo nem sequer é sede de domínio e o outro lhe é absolutamente indiferente, mero instrumento para objetivos que estão acima dele, é que desaparece a última sombra de colaboração socializadora.

Superioridade e Subordinação, Georg Simmel (1923)

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

10 de dezembro é Clarice (e 9 também)


Ainda tenho medo de me afastar da lógica porque caio no instintivo e no direto, e no futuro: a invenção do hoje é o meu único meio de instaurar o futuro. Desde já é futuro, e qualquer hora é hora marcada. Que mal porém tem eu me afastar da lógica? Estou lidando com a matéria-prima. Estou atrás do que fica atrás do pensamento. Inútil querer me classificar: eu simplesmente escapulo não deixando, género não me pega mais. Estou num estado muito novo e verdadeiro, curioso de si mesmo, tão atraente e pessoal a ponto de não poder pintá-lo ou escrevê-lo.
Água Viva, p. 12.


Depois de coletar todos estes fragmentos, comecei a perceber, comecei a coletar. Então, não é difícil estruturar Clarice, ou é infinitamente difícil, a não ser que você comungue com ela e já tenha o hábito da leitura. 
(Olga Burelli citada por Benjamim Moser, Clarice Lispector - uma vida, p. 429)

sábado, 8 de dezembro de 2012

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Para ti, sabes porquê

John William Waterhouse



One sits; the other, without.
Daylong a duet of shade and light
Plays between these. 


In her dark wainscoted room

The first works problems on
A mathematical machine.
Dry ticks mark time 


As she calculates each sum.
At this barren enterprise
Rat-shrewd go her squint eyes,
Root-pale her meager frame. 


Bronzed as earth, the second lies,

Hearing ticks blown gold
Like pollen on bright air. Lulled
Near a bed of poppies, 



She sees how their red silk flare
Of petaled blood
Burns open to the sun's blade.
On that green alter 


Freely become sun's bride, the latter

Grows quick with seed.
Grass-couched in her labor's pride,
She bears a king. Turned bitter 

And sallow as any lemon,
The other, wry virgin to the last,
Goes graveward with flesh laid waste,
Worm-husbanded, yet no woman.

Two Sisters of Persephone, by Sylvia Plath

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Sobre demagogia e a boa saúde da nossa democracia

(fotografia de Enric Vives-Rubio, publicada na notícia do Público) 

Demagogia é uma palavra gasta, já que à mínima os intervenientes políticos são considerados demagogos quando tomam alguma medida que contrarie o usual; ultimamente foram acusados Rui Barreto (deputado na Assembleia da República pelo CDS-PP Madeira),  pelo facto de o seu voto contra o orçamento não ter consequências na sua aprovação, e Maximiano Martins, pelo facto de ter vindo esclarecer que não acumulará o salário de deputado da Assembleia Legislativa Regional com a reforma da CGD. Na minha perspetiva, em nenhum dos casos estamos perante o uso de demagogia; no entanto, os detratores a todo o custo bradam aos céus e gritam por demagogia.
No entanto, ainda nada ouvi sobre o que se passou esta manhã na Universidade Nova e com a participação daquele que insiste em ser Primeiro-Ministro deste País, apesar da contestação generalizada de quem o elegeu (sim, eu sei que essa contestação não se traduz na Assembleia da República).
Todos nós, contribuintes, pagamos pela equipa de segurança do Primeiro-Ministro. Este é, diria, um serviço fundamental para assegurar a integridade dos elementos que integram os nossos Órgãos de Soberania. Contudo, o que se passou no seminário da Universidade Nova não foi, claramente, uma questão de segurança. Um grupo de estudantes, em silêncio, ostentou uma faixa que exigia a demissão do orador do cargo de Primeiro-Ministro. Em momento algum esteve em causa a segurança e a integridade física do palestrante. E, no entanto, a equipa de segurança (paga pelos contribuintes - e consequentemente também por quem ostentava a dita faixa) tentou coagir o grupo a baixá-la. Numa atitude absurdamente (aqui sim) demagógica o orador, que também é o ainda Primeiro-Ministro, pediu aos responsáveis para não continuarem a pressionar os manifestantes porque «vivemos, felizmente, numa situação de boa saúde da nossa democracia, e não vemos nenhuma razão para que os senhores não possam ostentar as faixas que entenderem». Os senhores e as senhoras, acrescento eu, que entre os estudantes estavam também mulheres. 
O problema não está, obviamente, nesta afirmação. O problema está na necessidade de ter sido proferida aos microfones daquela universidade e naquela situação. Porque naturalmente a equipa de segurança deveria estar devidamente preparada para intervir apenas em caso de perigo quanto à segurança do Primeiro-Ministro. Mas parece que não (sendo que esta não foi a primeira intervenção do género, como recentemente se viu também num outro estabelecimento de ensino). Portanto, do meu ponto de vista, o paternalismo insuportável de Passos aos microfones da Universidade Nova é um gesto vazio, hipócrita, de quem se comporta em público de forma diferente do que diz em privado (em função do facto de aqueles seguranças julgarem que a intervenção neste caso fazia parte do cumprimento do seu dever). E isto em nada atesta que vivemos «numa situação de boa saúde da nossa democracia». Mas isso, também já o sabíamos.

Sobre extraordinárias tentações e ainda mais extraordinários gastos. E sobre telhados de vidro.

António Borges considera que o Estado é mau gestor. Concordo com a convicção de António Borges, já que esse mesmo Estado paga-lhe um salário que continua no segredo dos deuses... mas se tivermos em conta que a equipa custa cerca de 25 mil euros por mês, e se tivermos em conta a necessidade de recato quando se trata de divulgar o valor... 
Em contrapartida, a concordância fica por aqui; num outro passo, penso que António Borges empregou mal o tempo verbal quando afirma que «estávamos a viver muito acima das nossas possibilidades». Não estávamos. Estamos. Continuamos. Entre outras, também pela razão supracitada no primeiro parágrafo deste post.


segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Boa Semana






Gostaria tanto de poder dizer que estou em rota de colisão com o meu banco (gostaria muito mais de poder dizer o meu banco). Gostaria tanto de poder estar em rota de colisão com o banco
Gostava de poder seguir o conselho que se dá a alguém que tenha o azar de se cruzar com um/a sociopata predadores/as: fogeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee!
Mas este matrimónio apimentado com imensa troca de correspondência e visitas semanais está para durar.