sexta-feira, 31 de março de 2006







"Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?"
Álvaro Campos
(Pintura de Paula Rego)

quinta-feira, 30 de março de 2006

Colombos... há muitos!

Uma figura que me é mui cara!!
" Os Colombos"
Outros haverão de ter
O que houvermos de perder.
Outros poderão achar
O que, no nosso encontrar,
Foi achado, ou não achado,
Segundo o destino dado.

Mas o que a eles não toca
É a magia que evoca
O longe e faz dele história.
E por isso a sua glória
É justa auréola dada
por uma luz emprestada.

Fernando Pessoa in Mensagem
(Pintura de Leandro Carvalho um artista de 8 anos)

quarta-feira, 29 de março de 2006

Sugestões, actualizações e confissões 2


Ainda no outro dia, no blog da feniana me confessava (à caixa de comentários) desgostosa pelo desaparecimento de um blog das minhas preferências! E hoje, numa outra página surge novamente, uma ideia soberba materializada (???) num magnífico espaço que adiciono ali à minha coluna de recomendações (que tem sido uma querida e continua cá em cima).
Nefertiti, vais gostar muito!
(Fotografia de Abelardo Morell)

terça-feira, 28 de março de 2006

Sugestões, actualizações e confissões.

Ainda que conste da lista do lado (este mês estamos com sorte), chamo agora formalmente a atenção para este post que merece ser lido. E a propósito do seu autor, ainda ontem dei por mim a pensar em alguém que não conheço, porque sabia que passava um filme que lhe cai no goto. Estranha forma de vida, esta de conhecer os gostos de alguém que nunca se viu...

E por falar na coluna ondulante... de salientar que lhe acrescentei finalmente uma das minhas resistências (ainda eu não era uma mulher que já foi pássaro, já lhe lia os comentários corrosivos e vociferava contra ele, mas enfim, uma pessoa rende-se)... Barbed Wire consta das recomendações, logo a seguir de Grandes Fixações.

domingo, 26 de março de 2006

(in)decisões


Decididamente…

Quem me conhece minimamente sabe que eu sou extremamente indecisa… a decisão para mim é o desafio que faço às leis do mundo, a hibris
As indecisões são a minha consciência... que se reparte, por vezes, em várias vontades; são as personnas do meu ser.
Contudo, há uma panóplia de decisões preconcebidas na minha pessoa que me ajudam (quase) sempre a dar respostas (quase) imediatas.
Decididamente sei que “levantar cedo e cedo erguer” não é o mais aconselhável para mim, ou até poderá ser, mas eu não gosto!
Decididamente não gosto do padre da terra onde vivo, a não ser que ele me deixe estacionar o meu carro no local “reservado à paróquia” (sítio há muito cobiçado por mim).
Decididamente gosto muito de animais e não concebo a minha existência sem a presença deles (sempre tive cães e gatos); mas reconheço que quando vejo aracnídeos, répteis, pequenos roedores e insectos desejo-lhes, sem dó nem piedade, a morte!
Decididamente amo a minha família, é e sempre será a minha prioridade! Mas confesso que o ente mais querido me faz passar alguma vergonha quando compra o jornal Crime e lê em pleno café. Apesar de ser uma óptima pessoa, é de mórbidas leituras. Concluo que não há bela sem um senão!
Decididamente gosto de ver novelas quando o dia foi muito preenchido com afazeres profissionais. Sei que têm conteúdos estéreis e desinteressantes, mas sempre distraem com os visuais dos actores e decorações de interiores.
Decididamente odeio touradas e neste ponto não há mas!
Decididamente gosto de amores correspondidos mesmo que Thomas Mann diga in Morte em Veneza que “O amante é mais divino que o amado, visto que naquele existe o deus e nestoutro não”, pois, para mim, isso não vale de nada! A não ser para fazer poesia… “ai, flores, ai flores de verde pino,/ sabedes novas do meu amigo?/ ai, Deus, e u é? (El- rei D. Dinis).
Decididamente adoro dos meus amigos que compreendem as minhas indecisões… pois são muito inteligentes e sabem que há Bela (não é propriamente o caso) com muitos Senões!
Decididamente não gosto de fado cantado mas gosto do Fado Falado!
Decididamente gosto de perfumes fortes e quentes, mas no Verão raramente uso!
Decididamente gosto de jogar cartas, damas e xadrez, mas sofro quase sempre um processo metamórfico doloroso e arrepiante, por isso evito jogar!
Decididamente gosto das estórias da História, mas também é importante contextualizá-las porque senão, ora vejamos, iríamos pensar que D. Sebastião esteve em iminência de aparecer num dia de nevoeiro e salvar a pátria de uma vez por todas!
Decididamente não gosto nada de elogios do género “és tão linda” ou “és mesmo linda”, pois para mim é a brejeirice óbvia e condensada em poucas palavras! Credo!... mas há quem goste…
Decididamente não compactuo como o poema “ Cântico Negro” de José Régio quando decide dizer Não aos olhos doces que o chamam… pois eu pensaria duas ou mais vezes.
E, por fim, numa miríade de decisões e de indecisões, decido ficar por aqui.

quinta-feira, 23 de março de 2006

O Perfume



Ainda sobre o exame de filosofia... subjaz uma consequência que poderá ser fatal à disciplina. A partir do presente ano (e relativamente ao novo plano de estudos, ou seja, aos alunos que terminam este ano o 11º ano), os alunos que quiserem ingressar nas Universidades com o exame de Filosofia, fazem-no já no 11º ano. Esclareço: se até aqui, o plano de estudos previa que o aluno fizesse a disciplina bienal de Introdução à Filosofia e depois, se quisesse candidatar-se a determinados cursos, faria o exame de Filosofia (correspondente ao conteúdo da disciplina de 12º ano - disciplina de opção), a partir do presente ano, o aluno fará, para ingresso na universidade, exame à disciplina de Filosofia de 10º e 11º ano (disciplina bienal). Assim, filosofia no 12º ano só a título de - e esta nomenclatura foi atribuída por um colega - perfume do currículo!

quarta-feira, 22 de março de 2006

Tapar os ouvidos com as mãos.


Certas cadências não se esquecem. Ficam no canto do ouvido, em suaves murmúrios, abafados pelos gritos diários do carro que passa, da televisão ligada, dos olhos que lêem em silêncio. São cadências latentes, pulsantes que despertam na suspensão da usura dos dias.
Sai a correr para o Hall do Hospital, tem que dar lugar a quem quer subir. Pára ao ouvir a voz que a chama. Viaja imediatamente - ouve agora mentalmente Eduardo Lourenço, numa entrevista, dizer que nos apaixonamos principalmente pela voz...
A voz continua a dizer-lhe. Balbucia respostas (paragem cerebral em curso) e a voz continua e nem consegue processar. Tenta dizer uma graça, conta da gata - a que restou, que continua loura - e a voz confunde-se com o olho que a ouve atentamente.
"Sabes onde estou, passa por lá para tomarmos café." Ao mesmo tempo que diz que sim com os lábios, os olhos sabem que não. Aquela voz é perigosa, mesmo quando em silêncio (principalmente quando em silêncio, na rouquidão do quase murmúrio).
(Fotografia de Man Ray

terça-feira, 21 de março de 2006

"A urgente vocação do poema é o espaço
e por isso ele quer romper o interior onde acena
com vagos sinais para o que ainda não existe
para que nele cresça tudo o que vai perder

(...)

Nunca o poema é como uma árvore ou como um corpo
mas toca a sua própria fome com o espaço
embora nunca encontre a sua morada nem o seu solo."

António Ramos Rosa

domingo, 19 de março de 2006

A Disciplina Amansada


Inicio a semana com o cansaço de quem esteve por uns dias numa sala num exercício intensivo e estranho, que misturou lavagem cerebral e respectivo adestramento. Senti-me, na verdade, uma heroína romântica, uma espia que foi levada para uma cave suja e escura (não foi o caso, mas podia), onde membros de uma qualquer organização (não tão) secreta tentam (por via de aliciamento e tortura) esvaziar-me das minhas mais profundas e secretas convicções.
Oferecem-nos doces, primeiro: chamam-nos de professores, de inteligentes, de esclarecidos. Com o pêlo (suficientemente??) amaciado, convidam-nos a confrontar situações, de raíz enviesadas para o resultado que já sabemos ser o esperado. É então que começa o verdadeiro jogo, que entretece os dias de suposta reflexão e clarificação: jogam-nos teses e argumentos/(falácias), gritam imparcialidade e justeza, jogam-nos teses e argumentos/(falácias), murmuram sobre a necessidade de leccionar desta forma, jogam-nos teses e argumentos/(falácias), dizem-nos o que é (e o que não é) filosofia, jogam-nos teses e argumentos/(falácias), alegam rigor científico, jogam-nos teses e argumentos/(falácias), declamam os conteúdos que devem ser irrelevantes, jogam-nos teses e argumentos/(falácias), rematam com Esta é a verdadeira via. Querem que repitamos à saída: crítica, analítica, crítica, analítica, crítica, analítica. Os murmúrios suspendem-se à porta do auditório, os olhos semicerrados pelo sol da tarde de sábado, o cheiro a terra molhada, o arco-íris prometendo trégua por algum tempo.
(Pintura de Basquiat)

sexta-feira, 17 de março de 2006

Vive proporcionalmente só...



POR TODOS QUE A OBSERVAM ... e é assim, com o seu sorriso, que Mona Lisa retribui!

terça-feira, 14 de março de 2006

"Animal Farm"

Quando Deus ordenou a Noé que colocasse na arca um casal de cada espécie por forma a que o piedoso homem conseguisse repovoar o mundo ameaçado pelo Dilúvio, nunca pensou que que daí a uns milénios, algumas criaturas se lembrariam de tal coisa para gerirem o seu quintal. Ou seja, já andava desconfiadA(O) que o pessoal (a nível global) anda a brincar às divindades, mas agora, com os 100 mil imprescindíveis, teve a certeza.
Na verdade, também nós já deveríamos ter desconfiado; com os anúncios de apocalipse relativamente ao estado da economia da Nação Valente (e Imortal propositadamente entre parêntesis), às proclamações calamitosas relativamente ao estado do erário público do Nobre Povo, desconfio que alguns dos imprescindíveis (ou pelo menos, alguns que se julgam...) já devem vislumbrar a luz ao fim do túnel. É que em caso de pandemia, a prevenção não será a melhor opção. Distribui-se a cura milagrosa por alguns e, de uma assentada, acaba-se com o excesso de pessoal a quem pagar as reformas (esses esbanjadores que, ao fim de quarenta anos de trabalho, julgam que têm direito a descanso).
O mais engraçado no meio de toda a trama é que, ninguém percebeu ainda bem como preencher o formulário de candidatura: quer de divindade quer de imprescindível.
Já agora, quem enviará o imprescindível-mor, verificar se "as águas" da gripe já baixaram? É que na Bíblia consta que foi uma pomba... mas essa ainda volta, não com um ramo de Oliveira, mas a espirrar em cima dos "Escolhidos".

domingo, 12 de março de 2006

Concerto para teclado a quatro mãos...




No final do fim de semana de excepções, em que o Sol alumia, ao mesmo tempo, a mulher egípcia e a mulher sem asas - colocar por instantes o pé na areia de outros tempos em esplanadas de tempos idos...
O café latino, com pares de pés de salto em riste, no bambolear sensual de ancas sincronizadas, observados por línguas viperinas (as nossas), que destilam a crítica aos corpos e mentes (simples) de quem responde ao limbo ou à cadeira.
A praia espraia o sonho e a despedida.

quarta-feira, 8 de março de 2006

DIREITO À DIFERENÇA!


Isto de haver o dia da Mulher tem muito que se lhe diga...Ser mulher é, no meu entender, fazer parte de um TODO DIVERSIFICADO (reino animal, vegetal, orgânico…).
Ser Mulher também é ser diferente! A ARTICULAÇÃO de qualquer SER neste TODO só é possível com as diferenças! A COMPLEMENTARIDADE tem por essência a DIFERENÇA!
É preciso dar LIBERDADE à expressão da diferença, pois ela é um bem necessário para fazer FUNCIONAR todo este sistema complexo: o MUNDO.
A opressão, o preconceito, a violência e a ignorância são a ferrugem que surge no TODO e, assim, as SALIÊNCIAS (diferenças) tendem a desaparecer e o mecanismo tende a ficar lasso ou frouxo!
O RESPEITO pela diferença deveria ser uma ideia preconcebida, inquestionável e consciencializada!

(Pintura de Ivan Leichsenring)

segunda-feira, 6 de março de 2006

"Como às vezes num dia azul e manso..."


"Há metafísica bastante em não pensar em nada". Sussurra-me Caeiro ao ouvido e eu finjo não percebê-lo e decido apenas registar o final da frase. Tal como os miúdos o fazem e riem alto e afirmam "Vê? Ele diz que não é preciso pensar! Eu só obedeço!"
Que fazer quando a preguiça nos invade? Como contrariar a tentação de nada fazer, de se deixar diluir na paisagem, de imiscuir-se na tela, não se fazer percebida?
Cerro os olhos, com vontade que seja uma persiana fiel, que me deixe descansar sem a cegueira da luz ténue.
E logo a seguir, num gesto rebelde, estremunhado, levanto o véu e abro a janela.
A semana ainda no início e eu com todos estes sintomas de 6ª Feira!
(Pintura de Picasso)
(Título roubado no sítio do costume: a Pessoa)

domingo, 5 de março de 2006

CineMuerte.

O elogio rasgado no Geração Rasca, colocou-me no caminho destes senhores. E ainda bem, porque gostei muito!

quinta-feira, 2 de março de 2006

Indo eu...

Indo eu ... Indo eu, a caminho de Viseu, encontrei as pessoas do costume, ou seja, passageiros, hospedeiras (os), comissários de bordo, etc... e, com alguma pena minha, não encontrei o meu amor. Desbravando ares, mares e terras em busca daqueles abraços por terras de Viriato, fui, em silêncio, fazendo um balanço daquilo que concretizei ultimamente... Reconheço que já estava a precisar deste interregno. O desgaste faz-me sentir alguém sem eira nem beira. Na Beira... tenho uma eira onde o sol bate logo de manhã cedinho (dizem... pois eu levanto-me sempre tarde, com muita pena minha). Ainda a caminho de Viseu, fiz uma retrospectiva das minhas acções, também destes últimos tempos... e cheguei à conclusão que andava demasiado susceptível e... frontal(!?). Creio que até gerei algum mau tempo [num certo] canal. Lembrei-me do Retrato de Dorian Gray (de Oscar Wilde)... e o meu retrato, naquele momento, já devia ter umas quantas rugas e até verrugas! Credo! Foi sem querer! Juro! A tonalidade que, por vezes, dou às palavras nem sempre surte o efeito desejado... Estas reflexões, a caminho de Viseu, eram, de vez em quando, interrompidas pela hospedeira de sorriso (re)forçado que, em cuidados profissionais, perguntava se queria o jornal, o café ou chá. Relembrei e visualizei tudo aquilo que iria encontrar umas horas depois. Comecei a rejuvenescer! Sei que aquela alegria sentida não se deveu à época do Carnaval, presentemente festejada, mas sim à ideia do reencontro com aqueles abraços, sorrisos, falas, cheiros, sons... com tudo aquilo que eu considero o elixir da minha juventude. Ao meu lado ia alguém muito absorvido a fazer su-doku; quase que estive tentada a fazer também as minhas palavras-cruzadas, mas achei melhor continuar a preparar o meu espírito para o tratamento de beleza que se aproximava. Este tratamento tinha hora marcada e durabilidade de uma semana. O pagamento?! Impagável!
Na cidade Invicta, a primeira paragem e, só mais tarde, a terra desejada. No final da viagem, cansada? Eu?! Quem corre por gosto não se cansa!
Sr. F., escusa de perguntar qual é a fórmula que uso para permanecer jovem, já sabe! Ou então responder-lhe-ei: " São afectos , afectos, Senhor!"
(Pintura de Raquel Gralheiro)