sábado, 28 de fevereiro de 2009

Mártires da calçada


Do Martim Moniz até ao Campo de Sant'Ana a subida ainda é considerável. O dia estava magnífico, o que dificultou a tarefa. A meio, uma encruzilhada obriga-nos a parar e procurar orientação. Dirigimo-nos ao homem de bigode farto e avental que à porta do seu estabelecimento põe a conversa em dia. Solícito, ouve-nos a pergunta, mas ofende-se com a ausência que nela detecta. Afinal de contas, perguntamos pelo Campo de Sant'Ana e ele orgulhosamente repete, duplamente, Campo dos Mártires da Pátria. Repete-o convictamente, certo que nos corrige o erro grosseiro. Eu acredito que sim, que efectivamente chegar até lá requer alguma dose de martírio.
A subida vale a pena; no alto, Morfeu espera-nos, com a fachada já impoluta do PCP toscamente desenhado nas paredes do prédio. Ainda assim, serviu para que reconhecêssemos onde bater, já que eu jurava a pés juntos que o edifício era cor-de-rosa: não era. Depois... depois ficamos um bocado pelo jardim, à conversa, enquanto esperávamos pela chegada da outra martirizada pela subida. E o dia estava efectivamente bonito.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

"Crimes contra crianças e violência doméstica vão permanecer no registo criminal por 20 anos", escreve hoje o Público, a propósito de uma recém aprovada proposta de lei que obriga à manutenção do registo de crimes de pedofilia e de violência doméstica, no cadastro criminal. Acrescenta o jornal que o registo dos referidos crimes podia permanecer activo, no máximo, até 15 anos.

Redondo engano o do jornal e da Lusa (fonte da notícia). Basta dar um olhinho no artigo 15º, da lei da Identificação Criminal 57/98 para se perceber que não há vigências de 15 anos. O máximo é 10 anos:

"1 - São canceladas automaticamente, e de forma irrevogável, no registo criminal:
a) As decisões que tenham aplicado pena principal ou medida de segurança, decorridos 5, 7 ou 10 anos sobre a extinção da pena ou medida de segurança, se a sua duração tiver sido inferior a 5 anos, entre 5 e 8 anos, ou superior a 8 anos, respectivamente, e desde que, entretanto, não tenha ocorrido nova condenação por crime".

Como se pode perceber pela leitura da lei, a decisão de cancelamento nada tem a ver com o crime, mas com o tipo e duração da pena aplicada. Por exemplo, nos casos de violência doméstica, em que as penas são multas ou penas suspensas, a contagem do tempo faz-se a partir da data do trânsito em Julgado da condenação ou, no caso de multa, a partir da data da sua liquidação. Na prática, significava que, alguém condenado em 28 de Março de 2006, a dois anos de prisão suspensa por dois anos, verá o seu registo criminal cancelado a 28 de Março de 2011 (sob condição de não ter praticado mais crimes entretanto, naturalmente).

Mais, todos os candidatos a empregos na função pública (como é o caso dos docentes) já tinham que pedir o registo criminal. Contudo, o mesmo ia sempre negativo, (art.º 11.º da mesma lei) isto é, sem quaisquer condenações existentes, uma vez que uma das variáveis de análise da análise criminal (AC) é o efeito para o qual se está a pedir o registo. No caso de emprego para a função pública o registo criminal obriga à NÃO declaração das condenações, o que não significa que se apague o cadastro, porque o mesmo estará activo se a polícia ou um tribunal o solicitar à DGAJ. No entanto, uma vez eliminado um cadastro este deixará de existir para sempre - artº 29º - (excepto em caso de reactivação devido à condenação de novo crime que encadeie com os anteriores, daí que haja dois anos de espaço entre o cancelamento e a eliminação informática - ou manual - do cadastro). O registo criminal irá também negativo (independentemente das condenações existentes) se o efeito do pedido for, por exemplo, pedido de licença para abrir um lar de idosos..... no entanto, já há certos crimes (nem todos) que devem constar no caso de o efeito ser obtenção de carta de taxista, ou segurança privado. E outra variável a ter em conta é o grau de reincidência da pessoa: isto é, se é primário, ou não.

O espírito da lei é o de que tod@s têm o direito à reabilitação e a uma nova oportunidade. Assim, após a condenação e cumprimento da pena decidida pelo tribunal como justa, existe um prazo (que ia de 5 a 10 anos) considerado o suficiente para a reintegração d@ cidad@o. Esqueceram-se de clarificar como é que vão fazer com as Medidas Tutelares Educativas (MTE), já que os cadastros d@s menores são eliminados após el@s atingirem os 21 anos. E sim, eu vi cadastros de menores acusados e condenados por abuso sexual de crianças e por violação.

Mais, a notícia não esclarece o essencial: uma vez que a vigência do cadastro não é suficiente para que os crimes apareçam nos cadastros, será que a partir de agora, todos os crimes de pedofilia e/ou de violência contra cônjuge ou equiparado irão ser de obrigatório registo? Mesmo os que tenham tido como pena apenas uma multa/Admoestação/Dispensa de pena ou pena suspensa? E mesmo para os que se estejam a candidatar a um emprego na função pública, como é o caso dos docentes? E será que @s juíz@s vão poder decidir da não transcrição da decisão, como actualmente (art.º 17.º)? E os MTE irão permanecer activos após o seu 21.º aniversário? E já agora, porque é que crimes como lenocínio, violação, acto sexual de relevo e/ou estupro também não estão contemplados na nova lei?

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Momentos felizes, momentos de pouso


( num dos Jardins do Funchal)

Internamento é a solução para o (meu) problema

A Marta escreveu sobre Porto Santo e sobre o livro Crónicas do Porto Santo, de José Maria Cibrão Campinho, professor há alguns anos naquela ilha. Lembro-me que nos primórdios deste blog lhe fizemos referência e a Marta registou - e leu - no local apropriado.
O Funes comenta o post da Marta, assegurando que pela dupla recomendação terá a única atitude que lhe é possível: não ler, já que anteriormente provamos que as nossas leituras - e refere Torga e Sartre - são comportamentos criminosos. Da minha parte, li muito pouco Torga e algum Sartre. Mas concordo com o Funes que o meu comportamento é, de facto, resultado de uma profunda tendência para o fomento de leituras pouco recomendáveis, nomeadamente blogosféricas. É que efectivamente, a minha sanidade mental não pode ser famosa já que há alguns anos alimento o mau hábito de ler Funes, El Memorioso e, pior que isso, gostar do que leio.

Do movimento da mão ao olhar: tecedor de sonhos

Le Philosophe, 1969
É engraçado, estar aqui como espectador, diz-me com aquela doçura que lhe é tão característica. E eu, sem jeito, não consigo transmitir-lhe o gosto e a gratidão pelo que experimento ao olhar um quadro seu. Peço-lhe para colocar aqui aquele que suspeito ser um auto-retrato. De 69 até agora, Morfeu certamente mudou ainda que a mão lhe permaneça a mesma; longa, talentosa, comunicante, uma mão que fala, que co-manda, verbo dos sonhos nas telas que tece.
Observo-lhe a atenção aos funcionários, cumprimentando-os um a um, oferecendo-lhes palavras de apreço, a simpatia para com quem o reconhece e se lhe dirige. Aqueles são os seus corredores, os seus sonhos expostos para que outros sonhem com ele(s). Infinitamente Morfeu.
Raúl Perez, Le Philosophe

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Radiografia de uma relação

"- Da minha parte uma óbvia tentativa de aniquilação, da parte dela uma claríssima tensão sexual."
(longo período de tentativa de controlo do riso)
- Cale-se, seu..., seu..., pífio. Não conspurque os meus ouvidos"

(Este post é da exclusiva responsabilidade da Ceridwen e da Woab. Qualquer parecença com a realidade é pura má língua.)

Sábado de aleluia

O melhor Carnaval é aquele que acontece sossegadinho, sem as máscaras esgazeadas que imploram por divertimento, sem a música irritante com os batuques infernais, sem a alegria peganhenta de quem quer que todos estejam (e sejam) exactamente como eles.

O melhor (sábado de) Carnaval envolveu sangria de frutos vermelhos e música apropriada: The Smiths a competir com Ziggy Stardust, Transmission a acompanhar uma miúda que julgava ter o talento de Curtis a "dançar", Placebo para delícia dela, Kate Moss para ele. Só foi pena não ter Pixies a destabilizar everything in its right place. Quanto a mim, só faltou um bocadinho assim. Fica para a próxima.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Lullaby de Domingo



Bom, se o tempo retrocedesse alguns anitos, certamente estaria em Coimbra a ouvir isto (entre outras). Finalmente, após tantos anos, estamos novamente juntos, mesmo que só por um weekend.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Porreiro, pá!

Ide ao www.PUBLICO.pt

"Escritura da casa da Braancamp foi feita por 235 mil euros
Escrituras no prédio onde Sócrates mora com valores divergentes
O apartamento de José Sócrates em Lisboa, segundo consta da escritura notarial, foi adquirido pelo preço de 47 mil contos (235 mil euros). Dois anos antes desta venda, um apartamento idêntico no mesmo prédio (o 3º E) foi comprado por um emigrante português que estava isento do imposto de sisa por 70.200 contos (351 mil euros), ou seja, mais 50 por cento do que o valor declarado por Sócrates."

e mais:

"Ministério Público proíbe sátira ao Magalhães no Carnaval de Torres Vedras
19.02.2009 - 15h57 Romana Borja-Santos
O presidente da Câmara Municipal de Torres Vedras, Carlos Miguel, foi surpreendido ao início da tarde com um fax do Ministério Público no qual era dado um prazo à autarquia para retirar o conteúdo sobre o computador Magalhães, que fazia parte do "Monumento", e onde apareciam mulheres nuas no ecrã do portátil. “Achamos que pela primeira vez após o 25 de Abril temos um acto de censura aos conteúdos do Carnaval de Torres”, lamentou o responsável, em declarações à Antena 1."

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

atualidade


Mudanças impostas!
Mudam-se os tempos e algumas vontades!

Haja o que houver...

Ouvi esta música e lembrei-me de ti*

Eu hoje fui à escola

...e lá, na opinião de alguém de palmo e meio, deveria haver mais COMPORTADORES por tácteis.

Post scriptum: eu cá achei a ideia muito boa.

Um docinho de homem vs génio de mulher

Gosto do estilo, em que palavras mansas convocam a menorização da mulher; o acolhimento, a humildade de que aqui se fala são deveras elucidativos do papel que esta instituição masculina preconiza para a mulher. Sob o signo da diferença - e da exaltação da diferença (mas uma diferença castradora, redutora, bélica) - o génio da mulher concede-lhe o singular favor de responder com amor ao amor do esposo; assim é definido o papel do feminino no seio desta instituição perita em humanidade que evoca a diferença para sustentar a escolha de arredar o feminino do centro da decisão: ela não decide porque o seu génio consiste em responder com amor ao amor que lhe é ofertado. A atitude de contestação da mulher em relação à sua exclusão dos centros de decisão é, portanto, uma infantilidade de quem busca o poder, criando uma perniciosa confusão que assenta na rivalidade dos sexos e que fere de morte a sagrada família. Daí que se perceba esta generosidade de a excluir, por exemplo, da ordenação sacerdotal. Contudo, subjaz o paradoxo de não considerar esta identidade de dádiva ao outro (o génio da mulher) como absolutamente coincidente com os requisitos sacerdotais. Percebe-se melhor quando se pensa que seria a porta aberta para lugares decisivos... e decisores.
E os outros é que não são normais...

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Pequenos nadas que cansam


acordar no sofá, seis horas depois de lá ter pousado o corpo prometendo-lhe uma breve sesta. Erguer o tronco e desligar o computador. Arrastar-se até à cama e demorar uma hora a adormecer sabendo que isso significa apenas mais duas horas de descanso. Levantar quase uma hora depois do despertador ter cumprido a sua tarefa. Fazer tudo a correr, e ao lá chegar, não poder trabalhar porque o menino 'faltou'.

Voltar para casa, comprar cigarros pelo caminho, pensar nas tarefas que a esperam. Ligar o computador. Fazer os telefonemas obrigatórios. Responder a e-mails. Que cansaço.
Picture by John Javellana

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Ricos laços e laços ricos


Não percebo qual é o problema do Sr. Político José Sócrates ajudar o Tio nos negócios! Por acaso o tio também não é um cidadão português? E quem pode, pode!
Nós por cá, mais concretamente no Funchal, temos a cidadã portuguesa, Mãe do Eminente Futebolista Cristiano Ronaldo, que recebeu um prémio porque enriqueceu e já não trabalha. Ela foi considerada uma das personalidades do ano porque deu à luz um rico filho e um filho rico (dois em um). E querem saber mais? Porque há razões que só o coração conhece!

"É como se os sonhos me saíssem pelas mãos..."

Raúl Perez - Desenho e Pintura é inaugurada hoje, pelas 19h e 30min no Museu Colecção Berardo. Estará patente até 12 de Abril de 2009.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Lullaby de Domingo


Há mais de uma semana que os Madrugada rodam nas minhas viagens. E pelos vistos, não será hoje que mudarei o reportório. A escolha foi difícil, mas outras lullaby's virão.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

"No tempo da maldade acho que a gente nem tinha nascido"


São ambos minúsculos e pertencem à mesma turma numa escola totalmente nova. Pela primeira vez, uma profusão de aulas diferentes e professores diferentes a cada 90 minutos; dizem os que estão no Ministério que tanta mudança os traumatiza, exacerbando-lhes as fragilidades. Mas eles não: nem o tamanho nem a idade indiciam o tipo de negociatas em que estão envolvidos.
Engalfinham-se em arranhadelas e acusações múltiplas e ninguém percebe o que provocou a algazarra. À interrogação professoral, a vergonha, a dificuldade em apontar a causa.

Ela fez-lhe uma proposta muito simples: "Se me mostrares a tua pilinha, dou-te um euro." Ele hesita; dizem que a pilinha é o que faz dele um menino-homem e não sabe se pode desbaratar assim o tesouro. Mas um euro significa chocolates, ou gomas ou...
Acede ao pedido da menina. Mostrar não tira bocado e um euro é precioso, principalmente quando temos 10 anos. Combinam o local da transacção: a visão pela moeda Ele saca do seu tesourinho. Ela olha, vira costas e vai embora. Ele aperta rapidamente as calças para não a perder, para lhe exigir o pagamento do serviço. Ela diz que não paga (não gostou do que viu ou é uma velhacazinha sem escrúpulos?)
Discutem; ele torna a exigir, ela recusa. Choros, gritos, arranhadelas... entorna-se o caldo.

Tivesse ela mais idade e alegaria que não pagava porque ele não passava recibo...

Fotografia de Cartier-Bresson

As gordas

Ali em baixo estão uns ponteiros parados sem título e um fado falado sem vírgulas.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

A Guidinha Antes e Depois, de Luís Sttau Monteiro

A Guidinha diz:

"(...) Com que então a minha propriedade é de todos? pois então experimentem lá meter pontos e vírgulas no bocado que se segue para ver se são capazes ÁGUA BEBER TOMAR ASPIRINA NÃO SE MÃOS LAVAR AS DEVE VAI ou neste que eu meto aqui em honra dum menino que anda lá no Liceu Pedro Nunes e que eu quero tramar porque recebeu as ordens de levar uma redacção da Guidinha e não reclamou em nome dos meus direitos morais de propriedade: MENINOS CULTURAL E QUE PAZ JORNALÍSTICA DEIXEM ME SOU EM PONTOS NO CAMÕES E VÍRGULAS QUE EM QUE ora toma para ver se gostam que se julgam que isto é só gozar enganam-se que há muito boa gente neste mundo capaz de defender os seus direitos e de armar sarilhos e agora para acabar se os meninos não entenderem estes períodos que eu escrevi podem dizer-me que eu explico e se quiserem pôr vírgulas e pontos que as ponham mas que usem os meus pontos e as minhas vírgulas e aqui vão alguns para eles usarem a partir de agora as minhas redacções sem pontos nem vírgulas custam um preço mas estojo completo com pontos e vírgulas é mais caro quando eu tiver fixado o preço digo entretanto cá vão alguns de borla é aproveitar que se julgam que vai haver mais saldos enganam-se....................................???????????;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;!!!!!!!!!!!!ADEUS ATÉ AO MEU REGRESSO"


In Mosca, 30 Janeiro 1972

Morfeu - contagem decrescente (cont)

"O que é ser surrealista? Acho esquisito, parece um partido político...
Eu ponho em primeiro plano a liberdade e a autenticidade.
Não me quero envolver nesses "ismos"."


(Entrevista à Time Out, 10 de Fevereiro)

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Ainda não li:

Uma descompensada, é o que é

You're The Sound and the Fury!
by William Faulkner
Strong-willed but deeply confused, you are trying to come to grips
with a major crisis in your life. You can see many different perspectives on the issue,
but you're mostly overwhelmed with despair at what you've lost. People often have a hard
time understanding you, but they have some vague sense that you must be brilliantanyway. Ultimately, you signify nothing.
Cá está o resultado da coisa. Uma teimosa confusa, a atravessar uma crise brutal (é natural, com o Sócrates como Primeiro, qualquer um está em crise). Uma desesperada crónica que é incompreendida, armada ao pingarelho, já que pelos vistos os outros têm a vaga sensação de que sou brilhante (tão enganadinhos). Pena que o brilhantismo nunca me tenha dado para ler este livro; não poderia ter saído um que tivesse realmente lido?

Haja coragem!

Então agora espetam com os asteriscos? Assumam de uma vez e não me psicofodam o juízo com estrelinhas!

Morfeu - contagem decrescente

Raúl Perez
"Esta tendência ocidental de querer explicar tudo... Tem de se racionalizar tudo... Estas coisas têm outra linguagem. Se abordarmos isto de uma maneira racional, adulteramos as coisas. A maior parte dos críticos tem um discurso lógico que, ao abordar este quadros, desvaloriza-os, criando uma imagem adulterada." (Entrevista à Time Out, 10 de Fevereiro)

Morfeu expõe, a partir da próxima segunda-feira, no Museu Colecção Berardo. Ide que eu vou lá ter.
coisas boas da blogoesfera: partilha(S). Esta é uma descoberta a partir do blog da Luna.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

A professora de Português manda bocas!

(Bocas!? O desenho animado?!)
Exercício para os alunos do oitavo ano: "Explica como as boas condições de trabalho podem levar a uma vida melhor."
Uma aluna: -Professora, não tenho ideias!
Eu: -Ó minha querida, não diga isso! Uma pessoa sem ideias é como um jardim sem flores!

Directora de turma: Tens que ser mais directa! Eles dizem-me que tu mandas bocas!

(Haja imensa paciência e força para eu conseguir aturar isto!)

A escola é um espectáculo!

A Escola é um espectáculo onde existe muita “avariadade”.
Venham! Venham! É fácil e é barato. É pó menino e é pá menina!

Problemas existenciais do blog

Faltam quatro dias até domingo e ainda bem, porque a lullaby será certamente Madrugada. O busílis da questão está em escolher a faixa (na génese do problema está o Repolho, que me põe a ouvir estas coisas).

Num dia em que o desalento se apoderou de mim


Educação: Sector necessita de "menos Ministério e mais escola", estima Marçal Grilo
10.02.2009 - 14h21 Lusa

O ex-ministro da Educação Marçal Grilo defendeu hoje, em Castelo Branco, que o sector em Portugal necessita de "menos Ministério e mais escola, menos sindicato e mais professores".

Para o ex-responsável da pasta da Educação, é necessário, entre outras tarefas, mobilizar os professores.

"Tenho a sensação de que há algum desalento, é preciso ganhá-los, porque não se fazem alterações significativas sem os professores", disse, acrescentando: "o que não significa que não haja reformas de fundo, que não haja reformas que afectem alguns direitos adquiridos pelos professores".

Segundo Marçal Grilo, os docentes aceitam tudo o que lhes for apresentado com racionalidade num processo negociado e acertado.

"É preciso diminuir o papel do Ministério e aumentar o papel das escolas. As escolas têm que ser ouvidas e ter voz, os sindicatos devem ter o papel de pugnar pelos interesses sindicais dos professores e os professores têm que ter uma voz (...) no seu relacionamento com os pais e com os estudantes", defendeu.

Falando à margem de uma conferência sobre Ambiente, promovida pela Fundação Calouste Gulbenkian, Marçal Grilo considerou ainda que nos últimos anos a família tomou consciência da importância da Educação.

"Finalmente, o país e as famílias perceberam que não basta andar na escola e passar de ano, é preciso saber", disse o ex-governante.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

A correspondência dela na minha correspondência

Novos alentos. Hesito se entro logo em casa ou faço paragem na caixa de correio. O cansaço não me derruba e abro-a displicentemente. Na minha correspondência, a correspondência de Clarice brilha acompanhada por amorável dedica(ção)tória: "(...) envio-lhe este da sua Clarice" e o dia ilumina-se pelas palavras dela e pelas de Clarice em consentânea, inabalável e originária aliança. Ela, que me apresentou Clarice há 9 anos, reenvia-ma, renova o compromisso com a minha memória, com a minha gratidão, com a capacidade de esgrimir a distância.
(6-2-2009)

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Subsídios de domingo à noite

li algures que os gregos antigos não escreviam necrológios,
quando alguém morria perguntavam apenas:
tinha paixão?
quando alguém morre também eu quero saber da qualidade da sua
paixão:
se tinha paixão pelas coisas gerais,
água,
música,
pelo talento de algumas palavras para se moverem no caos,
pelo corpo salvo dos seus precipícios com destino à glória,
paixão pela paixão,
tinha?
e então indago de mim se eu próprio tenho paixão,
se posso morrer gregamente,
que paixão?
os grandes animais selvagens extinguem-se na terra,
os grandes poemas desaparecem nas grandes línguas que desaparecem,
homens e mulheres perdem a aura,
na usura,
na política,
no comércio,
na indústria,
dedos conexos, há dedos que se inspiram nos objectos à espera,
trémulos objectos entrando e saindo
dos dez tão poucos dedos para tantos
objectos do mundo
¿ e o que há assim no mundo que responda à pergunta grega,
pode manter-se a paixão com fruta comida ainda viva,
e fazer depois com sal grosso uma canção curtida pelas cicatrizes,
palavra soprada a que forno com que fôlego,
que alguém perguntasse: tinha paixão?
afastem de mim a pimenta-do-reino, o gengibre, o cravo-da-índia,
ponham muito alto a música e que eu dance,
fluido, infindável,
apanhado por toda a luz antiga e moderna,
os cegos, os temperados, ah não, que ao menos me encontrasse a
paixão e eu me perdesse nela,
a paixão grega


Herberto Helder




Lullaby de Domingo



Tratado sobre malandragem pelo inigualável Chico Buarque, pois.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Quem é que escreveu isto?

Apressadamente, terminaram a leitura do Acto II- cena XV:
Jorge -Romeiro, romeiro! quem és tu?
Romeiro -Ninguém!
Avidamente, começaram a fazer a pergunta do último Acto - cena habitual:
Os Alunos - Já podemos sair?
Eu - podem!
(Antes de ouvirem a resposta, todos os alunos saem a correr como se tivessem acabado de ver uma assombração).

Além do meu, havia outro (idêntico). Trouxe o livro de um aluno, por engano. Não sei como foi acontecer... Isto é um péssimo agouro! Logo à sexta-feira!
Ainda não sei de quem é o livro, contudo já sei qual é o que me pertence.
Como conclusão (sem ponta por onde se lhe pegue, mas é-me, por vezes, favorável chamar conclusão ao início...), devo referir que, no meu livro, existem algumas didascálias que descrevem ambientes austeros e melancólicos; no do aluno, para além desses textos, existe também um apontamento (orfão!) que diz: "o espaço é melacalico e austerco".

Sublinhado - Dioniso again

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Happy Day - "Unconcerned But Not Indifferent"



"Uma oferta diversificada que inclui propostas variadas, desde as artes plásticas ao teatro ou ao jazz, é o que oferece o Centro das Artes Casa das Mudas, na sua programação para 2009 e 2010. Um expoente é, sem dúvida, a realização, de 18 de Dezembro de 2009 a Março ou a Maio de 2010 (não está ainda decidida a data de encerramento), de uma grande exposição de Man Ray (1890-1976), o notável criador norte-americano (nascido Emmanuel Radnitzky) que se firmou como uma referência incontornável na fotografia e nas artes plásticas do século XX.

Intitulada 'Man Ray: Unconcerned but Not Indifferent' (Man Ray: Despreocupado Mas Não Indiferente), título retirado do seu epitáfio, esta mostra incluirá cerca de 300 itens, desde objectos de uso pessoal a fotografias, litografias, desenhos, pinturas e esculturas, documentando todo o percurso de uma vida, ao longo de quatro diferentes períodos de trabalho: Nova Iorque, Paris, Los Angeles e, novamente, Paris.

Comissariada por Noriku Fuku e John Jacob, a exposição, de carácter itinerante, é a primeira a dar a conhecer ao grande público o vasto espólio do artista, espólio esse que, depois da sua morte em 1976, ficou a cargo da Fundação Man Ray, sedeada em Long Island (Nova Iorque) e criada pela viúva. Parte do acervo foi confiado a museus nacionais da França, país onde Man Ray passou grande parte da sua vida; para a colecção americana, a Fundação reteve uma extensa quantidade de trabalhos artísticos, de documentos e de objectos, que, conjuntamente, representam todas as fases da sua vida e da sua produção artística."
DN Madeira de 5-2-09

O dia melhora substancialmente com a perspectiva de ter encontro marcado com Man Ray. 2009 vai ser um ano bastante longo...
Já agora, pense-se em marcar encontro também com Duchamp. E se não for pedir muito, também gostaria de rever o trabalho de Joel-Peter Witkin, se faz favor.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Está na moda


O voluntariado. Generalize-se.
"Dêem, por favor, hipótese de redenção a todos quantos pretendam desempenhar os seus cargos sem a maçada de uma remuneração mensal."

Despejo da Confap

"Esta coisa de despejar a matéria e depois esperar que, em casa, os pais tenham literacia suficiente e computadores para ajudar os filhos a perceber as matérias tem que acabar, porque o mundo mudou e as escolas têm que se adaptar."

Finalmente a Confap chega ao cerne da sua cruzada: uma escola que abre portas às 7:30 e encerra às 19:30 e orientada para o domínio do entretenimento. O objectivo não passa já pelo ensino - a que o Presidente da Confap prosaicamente traduz por um "despejar matéria" - mas passa seguramente por garantir um depositário para crianças a que os Pais não saibam propriamente que fazer com elas (por enquanto no primeiro ciclo). Doze horas na escola é obra e pergunto-me que efeito terá a longo prazo; considero que à altura que redijo este texto a maioria dos nossos alunos passa demasiado tempo na escola, com disciplinas e actividades que francamente apenas lhes consome o tempo. Não se fomenta a autonomia: é preciso estar tudo criteriosamente organizado e compartimentado por toques de entrada e saída, todos os dias, todo o dia. Não é portanto de estranhar que muitos estejam fartos desta escola. Mas a Confap acha que é pouco e que essa escola, que está dotada de profissionais incompetentes e malandros (não esqueço o posicionamento anterior), deve estender o horário e garantir a educação das crianças, em todas as vertentes. Não compete aos Pais e é preciso que a escola se deixe de lérias e actue em função disso.A afirmação do Presidente da Confap ilustra perfeitamente como o objectivo passa por "deixar de despejar matéria" para passarmos a "despejar crianças." É preciso é entretê-las. Porque o mundo mudou e Deus nos livre que se exija aos Pais que se responsabilizem pela educação dos seus filhos.

Já estivemos mais longe do dia em que se reinvindicará uma escola pública que funcione integralmente, com as crianças a visitar os pais aos fins-de-semana - ou o inverso, porque se ponderarmos bem, as crianças desarrumam e sujam uma casa e se a coisa puder ser feita na escola, tanto melhor.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Down the road

Tinha esperança numa promessa que nunca foi realmente feita, diz a certa altura April Wheeler (Kate Winslet) perante os despojos dos seus sonhos.

Saio do cinema ligeiramente irritada e profundamente incomodada com o filme que escolhi ver. Irritada pelos adultos adolescentes que povoam as salas de cinema e não se coibem em partilhar com estranhos os seus risinhos e comentários perfeitamente idiotas enquanto aguardam impacientemente pelo fim. E as crianças? Onde andam as crianças? perguntam em alta voz, como se fosse um comentário brilhante. E se de repente Kate Winslet as olhasse nos olhos e lhes dissesse: porra para as crianças, ainda não percebeste? E porra para ti, que te dás ao luxo de comprar um bilhete e sentar esse rabo de ginásio enquanto me esfalfo para que ponderes sobre o seguinte: a tua existência é povoada por um vazio desesperante (hopeless). Certamente as criaturas calar-se-iam perante a ousadia. Mas a Kate permaneceu onde era esperado, a fazer o que lhe competia e eu tentei concentrar-me apenas nela (personagem): na projecção de si que desfiou ao longo da narrativa, na esperança de fuga sustentada por aquele homem que havia considerado a pessoa mais interessante que havia conhecido e que entretanto havia entrado - e ela com ele - na norma.
A personagem de Kate é interessantíssima; uma mulher que desafia o seu tempo (anos 50) e propõe-se a ser o sustento da casa para dar hipótese ao marido para se encontrar e saber o que realmente quer ser. Parece suspirar ao longo da narrativa o célebre trecho inicial da Tabacaria
Eu não sou nada.
(...)
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
(esqueçamos, por enquanto, Nunca serei nada/Não posso querer ser nada).
A esperança de todos os sonhos do mundo em mim, é transferida para o amante, inebriada pelo desejo de escapatória a dois. Termina no dia em que ele, apanhado pela normalidade dos dias foge ao sonho e a acusa de ser pouco mulher. E na narrativa, a palavra sonho/desejo é gradualmente substituida por infantilidade/loucura/estado febril.
Ele recupera a capacidade mentir muito bem (todos nós reconhecemos a verdade, apenas aprendemos a mentir muito bem, diz-lhe a determinada altura) e ela percebe que não pode querer ser nada. Tem que ser alguma coisa, dentro da norma pré-estabelecida (por quem? por todos os que apesar de reconhecerem a verdade - ou pelo menos parte dela - aprendem a mentir muito bem) e aprender também ela a fazê-lo, a considerar interessante o que nunca o foi, a afirmar amor quando já não o tem. E por momentos ela fá-lo, por instantes deixa-se inundar pela normalidade e pela máscara da realidade que trai a verdade (o vazio desesperante) para só então dar, definitivamente, o salto*.

*A certa altura uma personagem secundária mas, a meu ver, fundamental (doido, pois claro) refere que muitos conseguem perceber o vazio, mas muito poucos conseguem alcançar que este é absolutamente desesperançado.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Secreto

Tenho a obsessão pela escrita secreta. Pelo desfiar das letras no íntimo da (des)apropriação do segredo. O enigma é-me sempre desejável e por isso acarinho o fantasma de mim na escrita de outrém: a (minha) leitura é acto egoísta, de roubo descarado da intimidade tornada pública. A escrita também.

Quando o escriba desenha palavras, carrega-as da intimidade dos que o rodeiam, expondo-os secretamente ao olhar ávido do (seu) leitor que, pode não o pressentir, mas apenas quer reconhecer(-se n)aquelas páginas. E estes movimentos aparentemente díspares - o movimento da leitura e o movimento da escrita - pretendem apenas constranger a distância que permeia cada um de nós; tentativa utópica de trazer o outro a nós, ao nosso espaço: na leitura, amorável intruso; na escrita, desejado convidado.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Lullaby de Domingo





Há muito que não ouvia este cd. Encontrei-o abandonado por entre outros e resgatei-o à falta de memória. Cá fica a aliança perfeita entre uma boa composição e uma magnífica interpretação: Rodrigo Leão secundado por Beth Gibbons.