Trabalho realizado por uma amiga no âmbito de uma formação de produção de conteúdos multimédia. Não resisto a chamar a atenção do vosso ouvido para a faixa escolhida. Bom gosto, não é?
quinta-feira, 31 de julho de 2008
quarta-feira, 30 de julho de 2008
Contextualização de uma releitura
Resgatei Derrida da estante. A culpa, como é óbvio, é do Funes.
"O País precisa voltar à escola"
E o exemplo deve ser dado. In english, please.
Acefalias diplomadas
Estou como o Funes. Conheço muito pouco do percurso de Helen Keller. Mas a verdade é que a evocação do seu nome me provoca uma situação idêntica à do cão do Pavlov - com as devidas distâncias. Obviamente, eu seria um gato a salivar ao som da campainha.
Helen Keller é uma das minhas campainhas. Inscrevi-me, há uns tempos, numa formação sobre Neuropsicologia e como a formadora inicialmente prevista adoeceu enviaram, em substituição, uma outra, esta especialista em Necessidades Educativas Especiais. Obviamente, desconfiei da troca - até porque o meu historial de formações não é dos melhores. Sou especialmente dotada na escolha das piores coisinhas que por aí andam (não é à toa que estou inscrita para fazer uma com D.M. em Setembro - é agora que o Funes aplaude mentalmente e julga que serei finalmente doutrinada como deve ser). Mas fui. A senhora, com grau de mestre e doutoramento na faculdade "estrongeira"de esfrega o certificado que fica sempre bem, já tinha uma certa idade e anunciou-se como sendo uma entendida em crianças invisuais. Até aqui a coisa não parecia excessivamente má, até que a criatura, entusiasmada por uma plateia que certamente lhe pareceria certamente de idiotas (ah e tal, eles na ilha, eu na Capital) enceta uma formação com resmas de papelada que (in)felizmente recalquei num qualquer caixote do lixo, salpicada por pérolas de preconceito(pensei, generosamente, ao início) e acefalia (sendo que esta última conclusão não precisou de muito tempo).
Na verborreia que a senhora derramava, pérolas houve que sobressaíram do seu discurso; a senhora considerou que bebés filhos de fumadores sofrem imenso com o vício dos pais, já que nascem todos mais pequeninos (o que se verifica) mas também com cara de macaquinhos - surpresa total na sala com esta informação que obviamente (não) foi desde logo fundamentada com quadros estatísticos exaustivamente apresentados, seguidos de relatórios médicos com a descrição precisa das características dos tais macaquinhos.
A senhora também permitiu-se a exortar às possíveis parideiras da sala: de que era preciso começarmos a parir (sim, neste caso utilizo as palavras odiadas), já que o País está a ser dominado pelos negros: em cada 10 crianças nascidas na Maternidade Alfredo da Costa, 9 são negras. É preciso, portanto, ganhar a corrida de emprenhamento, para não nos tornarmos num País entregue aos pretos.
As necessidades educativas especiais, obviamente, moravam ali.
Helen Keller é uma das minhas campainhas. Inscrevi-me, há uns tempos, numa formação sobre Neuropsicologia e como a formadora inicialmente prevista adoeceu enviaram, em substituição, uma outra, esta especialista em Necessidades Educativas Especiais. Obviamente, desconfiei da troca - até porque o meu historial de formações não é dos melhores. Sou especialmente dotada na escolha das piores coisinhas que por aí andam (não é à toa que estou inscrita para fazer uma com D.M. em Setembro - é agora que o Funes aplaude mentalmente e julga que serei finalmente doutrinada como deve ser). Mas fui. A senhora, com grau de mestre e doutoramento na faculdade "estrongeira"de esfrega o certificado que fica sempre bem, já tinha uma certa idade e anunciou-se como sendo uma entendida em crianças invisuais. Até aqui a coisa não parecia excessivamente má, até que a criatura, entusiasmada por uma plateia que certamente lhe pareceria certamente de idiotas (ah e tal, eles na ilha, eu na Capital) enceta uma formação com resmas de papelada que (in)felizmente recalquei num qualquer caixote do lixo, salpicada por pérolas de preconceito(pensei, generosamente, ao início) e acefalia (sendo que esta última conclusão não precisou de muito tempo).
Na verborreia que a senhora derramava, pérolas houve que sobressaíram do seu discurso; a senhora considerou que bebés filhos de fumadores sofrem imenso com o vício dos pais, já que nascem todos mais pequeninos (o que se verifica) mas também com cara de macaquinhos - surpresa total na sala com esta informação que obviamente (não) foi desde logo fundamentada com quadros estatísticos exaustivamente apresentados, seguidos de relatórios médicos com a descrição precisa das características dos tais macaquinhos.
A senhora também permitiu-se a exortar às possíveis parideiras da sala: de que era preciso começarmos a parir (sim, neste caso utilizo as palavras odiadas), já que o País está a ser dominado pelos negros: em cada 10 crianças nascidas na Maternidade Alfredo da Costa, 9 são negras. É preciso, portanto, ganhar a corrida de emprenhamento, para não nos tornarmos num País entregue aos pretos.
As necessidades educativas especiais, obviamente, moravam ali.
terça-feira, 29 de julho de 2008
"(...) o sentimento de um pensamento que partiu. (...). E não é possível ir para trás."*
Só hoje terminei a tarefa de arquivar o ano transacto. Fico sempre com um amargo de boca; cada documento que guardo são rostos que desaparecem, presenças que se esbatem na partida. Outros permanecem, mas sempre de modo diferente. Nesta altura do ano fico sempre orfã e sem saber que fazer com os meus minutos.
*Maria Zambrano, Clareiras Do Bosque
Pode a retina mais que o tímpano?
"Preciso ficar isenta de mim para ver."
Clarice Lispector, A Paixão Segundo G.H.
Clarice Lispector, A Paixão Segundo G.H.
domingo, 27 de julho de 2008
À atenção da Su e do Gonçalo
Repesquei este post porque vai ao encontro de uma das conversas do jantar. A voz e a palavra para mim são absolutamente essenciais.
A propósito de uma conversa ao longo do jantar
Ao longo do jantar de bloggers, foram múltiplos os assuntos colocados em cima dos pratos. Já nem sei muito bem como, chegamos à leitura e ao que conseguimos ou não ler. Como o tema me é querido. trago a discussão aqui para o blog. Sem pratos.
Saramago é, para mim, uma melancolia. Gostava genuinamente de o conseguir ler, mas há algo em mim que o interdita. Tanto quanto já pude ouvir sobre os seus livros, há alguns conceitos que considero geniais. Simplesmente, não consigo ler-lhe as entrelinhas. Pela forma como espraia esses conceitos pelo texto, Saramago é-me ilegível.
O mesmo já não acontece com Miguel Sousa Tavares. Como já tive a oportunidade de explicar anteriormente, as minhas razões para a recusa da leitura de MST são absolutamente irracionais: o homem irrita-me solenemente. Nem precisa abrir a boca. A postura corporal e os trejeitos de lábios são suficientes para me provocarem náuseas. O vaidosão da opinião contaminou completamente a minha visão sobre a sua escrita, pelo que nem consigo pegar num dos títulos dele para folhear em plena livraria. Desleitura antes da leitura, portanto.
Por outro lado, também tenho as minhas paixões assolapadas. Clarice Lispector é uma delas. Foi-me apresentada numa algo distante aula de Filosofia Contemporânea (quiz endereçado a Sancho: quem terá sido?). Ninguém como ela para me atingir com as palavras. Irónico que eu, que não consigo ler quase nada em português do brasil, eleja uma brasileira como uma das escritoras da minha eleição. A outra é, evidentemente, Virgínia Woolf (o nome deste blog assim o denuncia).
A escapar a esta catalogação, está Patricia Dunker. Dela, apenas li um pequeno livro, A Sombra de Foucault, que devorei. Difícil de encontrar nas livrarias, tenho o meu completamente rasurado, com as páginas a despenarem do manuseamento. Na verdade, a minha adoração por este pequeno livro é algo ridícula: não está maravilhosamente escrito. Mas tem passagens sublimes e essas bastam-me.
Passo a bola para o vosso lado: quem é o autor(a) da vossa eleição (e já agora, que livro)?Saramago é, para mim, uma melancolia. Gostava genuinamente de o conseguir ler, mas há algo em mim que o interdita. Tanto quanto já pude ouvir sobre os seus livros, há alguns conceitos que considero geniais. Simplesmente, não consigo ler-lhe as entrelinhas. Pela forma como espraia esses conceitos pelo texto, Saramago é-me ilegível.
O mesmo já não acontece com Miguel Sousa Tavares. Como já tive a oportunidade de explicar anteriormente, as minhas razões para a recusa da leitura de MST são absolutamente irracionais: o homem irrita-me solenemente. Nem precisa abrir a boca. A postura corporal e os trejeitos de lábios são suficientes para me provocarem náuseas. O vaidosão da opinião contaminou completamente a minha visão sobre a sua escrita, pelo que nem consigo pegar num dos títulos dele para folhear em plena livraria. Desleitura antes da leitura, portanto.
Por outro lado, também tenho as minhas paixões assolapadas. Clarice Lispector é uma delas. Foi-me apresentada numa algo distante aula de Filosofia Contemporânea (quiz endereçado a Sancho: quem terá sido?). Ninguém como ela para me atingir com as palavras. Irónico que eu, que não consigo ler quase nada em português do brasil, eleja uma brasileira como uma das escritoras da minha eleição. A outra é, evidentemente, Virgínia Woolf (o nome deste blog assim o denuncia).
A escapar a esta catalogação, está Patricia Dunker. Dela, apenas li um pequeno livro, A Sombra de Foucault, que devorei. Difícil de encontrar nas livrarias, tenho o meu completamente rasurado, com as páginas a despenarem do manuseamento. Na verdade, a minha adoração por este pequeno livro é algo ridícula: não está maravilhosamente escrito. Mas tem passagens sublimes e essas bastam-me.
E quem nunca conseguiram ler, apesar de inglórios esforços?
Lullaby de Domingo
Scout Niblett é um vício. Se inicialmente algumas das suas composições soaram-me demasiado cruas, a verdade é que cada vez mais me apetece ouvi-la. E mesmo quando interpreta velhas melodias, a senhora é sublime. A lullaby que vos deixo - e é uma canção de lamento - é interpretada em parceria com Bonnie Prince Billy (a ele chegaremos não tardam muitos domingos).
sábado, 26 de julho de 2008
sexta-feira, 25 de julho de 2008
Confissões de uma menina mal comportada*
Confesso a minha dificuldade em retirar o cartaz do Congresso ali do lado.
*O título alude a uma das obras de Beauvoir(Memórias de Uma Menina Bem Comportada) e pretende contrariar, em absoluto, os arquétipos de princesa (das arábias ou de qualquer outro reino que não seja seu) e de Anjo da Casa, de que fala Woolf no texto transcrito no post anterior.
Diário das princesas em geral
"(...) vocês não devem saber o que eu quero dizer com o Anjo da Casa. Eu vou descrevê-la da forma mais simples possível.
Ela era intensamente sensível. Era imensamente encantadora. Era profundamente dedicada. Ela dominava todas as difíceis artes da vida familiar. (...) - resumindo, ela era tão condescendente que nunca tinha tido uma ideia ou um desejo próprio - em vez disso preferia concordar sempre com as ideias e desejos dos outros.
Acima de tudo - nem era preciso dizer - era pura. A pureza era considerada a sua maior beleza - o pudor das faces era a sua maior qualidade.
E quando vim a escrever, encontrei-me com ela logo nas primeiras palavras. A sombra das suas asas caiu sobre a página; (...) quando peguei na caneta para escrever sobre aquele romance do homem famoso, ela deslizou por trás de mim e sussurrou «Minha querida, és uma rapariga. Estás a escrever sobre um livro que foi escrito por um homem. Sê bondosa, sê terna, elogia, ilude, (...). Nunca deixes ninguém supor que tu tens vontade própria."
Ela era intensamente sensível. Era imensamente encantadora. Era profundamente dedicada. Ela dominava todas as difíceis artes da vida familiar. (...) - resumindo, ela era tão condescendente que nunca tinha tido uma ideia ou um desejo próprio - em vez disso preferia concordar sempre com as ideias e desejos dos outros.
Acima de tudo - nem era preciso dizer - era pura. A pureza era considerada a sua maior beleza - o pudor das faces era a sua maior qualidade.
E quando vim a escrever, encontrei-me com ela logo nas primeiras palavras. A sombra das suas asas caiu sobre a página; (...) quando peguei na caneta para escrever sobre aquele romance do homem famoso, ela deslizou por trás de mim e sussurrou «Minha querida, és uma rapariga. Estás a escrever sobre um livro que foi escrito por um homem. Sê bondosa, sê terna, elogia, ilude, (...). Nunca deixes ninguém supor que tu tens vontade própria."
Virginia Woolf, Profissões Para Mulheres
terça-feira, 22 de julho de 2008
Fotodiário de duas princesas
segunda-feira, 21 de julho de 2008
Ai que tempo
O Tempo cria Caruncho e Eu deambulo no Labirinto das Vontades.
sábado, 19 de julho de 2008
Pérolas a porcos
Vives rodeado de mistério
E jamais o dominarás.
Vive-o, respira-o.
E dorme nele como no seio de uma floresta.
E jamais o dominarás.
Vive-o, respira-o.
E dorme nele como no seio de uma floresta.
Vergílio Ferreira, Pensar
sexta-feira, 18 de julho de 2008
Interregno - lullaby extraordinária
Em direcção ao sol e à água. Portanto, Lullaby à sexta. Domingo em silêncio. Obviamente, deixo-vos muito bem acompanhados.
quinta-feira, 17 de julho de 2008
Não vou a tempo para o ver e ouvir, CARAGO!
Castração das liberdades
"La burqa, c'est une prison, une camisole de force, ce n'est pas un signe religieux mais le signe visible d'un projet politique totalitariste prônant l'inégalité des sexes et qui porte en soi l'absence totale de démocratie. C'est une castration de libertés."
A propósito desta questão, estive a reler a discussão que ocorreu no Síndrome de Estocolmo em Novembro. E mais uma vez lamentei ter lido mulheres afirmarem que gostavam que a nossa organização social fosse semelhante aos países islâmicos que obrigam ao uso do véu, porque teriam homens que cuidassem do seu bem estar e as tratassem como princesas. Juízo, minhas senhoras. Dois palmos de testa a funcionar. O mínimo de decoro!
Mais uma vez, a minha recusa visceral de loas à menoridade mental. E não, os valores que temos não são os melhores, mas nunca retroceder ao ponto da perda total de identidade, de deixar que nos agrilhoem o pensamento.
"Antes o poço da morte, que tal sorte" (Já cantava o Sérgio Godinho)
Mais uma vez, a minha recusa visceral de loas à menoridade mental. E não, os valores que temos não são os melhores, mas nunca retroceder ao ponto da perda total de identidade, de deixar que nos agrilhoem o pensamento.
"Antes o poço da morte, que tal sorte" (Já cantava o Sérgio Godinho)
Galgar montanhas
Gosto de estar a caminho. E após um interregno de quase dois anos, finalmente dediquei um dia a simplesmente caminhar- De mochila às costas, mp3 para o caso de uma paragem mais prolongada, água, protector solar, algo para trincar em hamonia com a natureza - e ala que que se faz tarde. Eu e mais 56 pessoas.
Foi a primeira vez que fiz uma caminhada com um grupo em que praticamente não conhecia ninguém. A diferença não é tão grande assim. A maior parte permaneceu desconhecida, mas forneceu o conforto de não me saber sozinha. Flor estava comigo e Flor bastou para me que sentisse acompanhada no meio de tantos rostos sem rasto.
Isto de estar a caminho no meio de nada provavelmente revela a minha faceta mais masoquista. Caminhar incertamente, com um objectivo algo ridículo - atingir o ponto x e voltar - sob um sol abrasador com descidas acentuadas que na volta se tornam subidas (e vice-versa) é saudavelmente doloroso.
Lá em cima, a meio do percurso, quando decidi que não queria chegar ao cume do Pico, que queria ficar ali - sem os cinquenta rostos sem rasto - permiti-me a deitar-me sobre a erva (não confundir com relva), colocar os phones e conjugar os cheiros com os sons.
Já tinha esquecido quão dolorosamente reconfortante é estar no meio de nada, o peso de saber que ainda restam uns bons quilómetros para andar. O cheiro da terra em mim, as calças sujas, a camisola a roçar na erva e os cabelos baços da poeira dos pés em andamento sobre o solo nú. Alma de cabra, diz-me Flor - este espírito de andar para sítio nenhum, esta apetência por veredas e levadas, por doer-nos as pernas e os pés.
Havemos de voltar.
As fotografias são da responsabilidade do organizador da caminhada.
Foi a primeira vez que fiz uma caminhada com um grupo em que praticamente não conhecia ninguém. A diferença não é tão grande assim. A maior parte permaneceu desconhecida, mas forneceu o conforto de não me saber sozinha. Flor estava comigo e Flor bastou para me que sentisse acompanhada no meio de tantos rostos sem rasto.
Isto de estar a caminho no meio de nada provavelmente revela a minha faceta mais masoquista. Caminhar incertamente, com um objectivo algo ridículo - atingir o ponto x e voltar - sob um sol abrasador com descidas acentuadas que na volta se tornam subidas (e vice-versa) é saudavelmente doloroso.
Lá em cima, a meio do percurso, quando decidi que não queria chegar ao cume do Pico, que queria ficar ali - sem os cinquenta rostos sem rasto - permiti-me a deitar-me sobre a erva (não confundir com relva), colocar os phones e conjugar os cheiros com os sons.
Já tinha esquecido quão dolorosamente reconfortante é estar no meio de nada, o peso de saber que ainda restam uns bons quilómetros para andar. O cheiro da terra em mim, as calças sujas, a camisola a roçar na erva e os cabelos baços da poeira dos pés em andamento sobre o solo nú. Alma de cabra, diz-me Flor - este espírito de andar para sítio nenhum, esta apetência por veredas e levadas, por doer-nos as pernas e os pés.
Havemos de voltar.
As fotografias são da responsabilidade do organizador da caminhada.
terça-feira, 15 de julho de 2008
Subsídios para uma história do amor humano
"(...) os nossos antepassados tinham uma consciência aguda da contingência do amor e recusavam-se a construir fosse o que fosse sobre um alicerce tão frágil."
Elisabeth Badinter, In O Amor Incerto,
História do Amor Maternal do sec. XVII ao sec. XX
Picture by Brassäi
segunda-feira, 14 de julho de 2008
À atenção dos promotores de espectáculos na RAM
Há música para além da porcaria dos dj's da moda, com as porcarias das líricas de que querem voar alto, muito alto (pena que não voem de vez e em silêncio). Por cá também queremos gajos como estes, ou estes, ou estes (notem bem que refiro quem passou ou passará este ano por terras continentais). Aliás, até poderia fornecer uma lista inteira (por exemplo este, esta e esta), que espero que não seja totalmente desconhecida do vosso apurado ouvido musical.
domingo, 13 de julho de 2008
Lullaby de Domingo
Estes senhores já não passam aqui há demasiado tempo. À atenção do(s) capuchinho(s) vermelho(s): como deixar o(s) lobo(s) à porta.
Show must go on
Espancaram uma mulher na via pública. Espancou-a o seu companheiro. Durante o dia, ao que parece. Este crime público na via pública suscitou interesse nos trausentes: turistas, empregados de hotelaria, passeantes... Todos pararam para ver. Ninguém se lembrou de intervir, ninguém se lembrou de a socorrer. Não, ficaram a observar a cena, interessados, provavelmente a comentar entre si o espectáculo. Foi preciso uma outra mulher* parar o carro e chamar a polícia. Os que já lá estavam, apenas observaram como se de uma novela se tratasse. É nestas alturas que se quedam as vozes. E os discursos do está tudo feito fazem uma pausa, com algum pudor. Amanhã recomeçam, indiferentes aos estalos de hoje. Estalos não. Socos.
*Que fique bem claro que não fui eu; tomei conhecimento do caso pelo jornal.
Serviço Público
Uma preciosidade. A consultar.
Aviso à navegação em geral e ao Funes em particular: preparem-se para uma baforada de feminismo. É passível de ferir algumas susceptibilidades mais delicadas.
sábado, 12 de julho de 2008
Convocatória
Chamam-nos ali ao lado, para uma prova oral que terá lugar no próximo da 25. Aceitamos o convite. Seria maravilhoso se Ceridwen, Eurídice e Mr. Lekker também pudessem, mas sabemos como tal é praticamente impossível. Quem gostaria que participasse da convocatória? Num mundo perfeito* convocaria Lois, RPS, Jorge C, Funes, Isabela, Luís, Bartebly, Cuscavel, Talisca... Num mundo imperfeito, a convocatória fica-se por um desejo separado por um oceano.
terça-feira, 8 de julho de 2008
segunda-feira, 7 de julho de 2008
Actualizações
O Blog da equipa da Madeira que participou no Congresso tem vindo a ser actualizado. A procissão ainda vai no adro, mas é dar um saltinho até lá, s.f.f. E já que estamos com a mão no teclado - e nos links - também se recomenda a leitura do texto de encerramento do Congresso, a cargo da incansável Salomé Coelho. Digam lá: quem é amiguinha (feminina/ista), quem é?
domingo, 6 de julho de 2008
Lullaby de Domingo
Ouvir a faixa (das magníficas CocoRosie) e ler a crónica do Anselmo Borges que também remete, de alguma forma, para o post anterior.
sábado, 5 de julho de 2008
"Ver era um crer vacilante. Tudo era talvez. " Hélène Cixous
A discussão começou com a Ana, com a sua escrita agressiva e muitas vezes maniqueísta. Gosto do que escreve, da forma como o faz, muito embora por vezes o meu instinto inicial repudie o que escreve. O meu apreço pela sua escrita é proporcional ao desprezo que tem manifestado pelas feministas. Por mim, portanto.
A discussão que lançou com este post, evocando o santo nome do Congresso em vão, despoletou uma grande variedade de respostas por esses blogues fora. Não os linko, porque perdi-lhes, na maior parte dos casos, o rasto.
Mas a questão do véu (e afins) e da excisão feminina é uma questão feminina/ista. E a acusação da Ana parece-me injusta. Pelo menos no que diz respeito à concepção de feminismo que milito.
Recuso-me a afirmar, taxativamente que as mulheres não podem usar o véu. Esse é um direito que lhes assiste, enquanto cidadãs dotadas de livre arbítrio. Mas é aqui que reside o cerne da questão: uma cultura que não promova uma escolha consciente e esclarecida não está, efectivamente, a permitir que a mulher assuma essa decisão conscientemente. Logo, na minha óptica, não há padrão cultural ou preceito religioso que o valha que justifique uma violentação tão grave à liberdade do outro, que neste caso é a mulher (nem agenda política, ou interesse económico - e sobre isto escreverei um dia).
No que diz respeito à excisão, a única que tolero é a que corte definitivamente com estes costumes milenares. Sem piedade, com a agravante de que o ritual não acontece na infância do mesmo. Dura há demasiado tempo.
O exemplo que a Luna apresenta não me suscita dúvida; não me incomoda que uma mulher minimamente dotada de liberdade escolha velar-se. Escolheu - espera-se que - conscientemente. Tal como as religiosas cristãs a determinada altura escolhem pelo uso do véu. Mas a uma mulher que nunca teve oportunidade de vivenciar a possibilidade de escolha endereço o meu pensamento, a minha fé fervorosa de que lhe é amputado um direito fundamental que a mim me foi ofertado: o direito de (quase) livre escolha.
sexta-feira, 4 de julho de 2008
Com a mão no poema
Encerro a noite. Roubo uma vez mais Ana Luísa Amaral e endereço as suas palavras ao desincomodado Funes (estas feministas são umas mãos largas, desbaratam poemas e canções alheias pelos bloguistas mais próximos, que observam o congresso à distância de um link):
"O que perturba a mais: corredores negros, ao fundo nem janela. Luz demais ofuscando a pupila.Às vezes, só um olho em sobressalto."
Exercícios de paciência e auto-controle
Ler os artigos online do Público e ignorar os comentários.
quinta-feira, 3 de julho de 2008
Mas Ana
Eu, apesar de feminista, também prefiro que se deite pela pia abaixo uma cultura milenar (??) que defenda a excisão ou o uso do véu. E fui ao congresso, onde estas e outras questões foram discutidas.
Da desconstrução
Após três dias de congresso, com múltiplas discussões, reflexões - contentamentos e decepções também - saio com a convicção de que quebramos o silêncio. E quebrar o silêncio é sempre uma violência para o instituido, uma violência para os que, confortavelmente instalados, dissertam sobre o que fizemos e dissemos. Aliás, a maior parte dos confortavelmente instalados - mas ainda assim "ligeiramente" incomodados com o que se passava - espreitou apenas as parangonas (as letrinhas maiores, claro está) e imediatamente começou o discurso verborréico e secular dos lugares comuns repetidos.
Reina o estereótipo e o preconceito, neste reino de que vos falo. O mesmo que ainda hoje fala dos soutiens que nunca foram queimados nas nossas praças e que ignoram as agressões que sofreram algumas das nossas mulheres, porque se atreveram a desafiar os senhores das poltronas. Porque as houve. Porque ainda as há. Exactamente porque incomodam e abalam algumas das estruturas mais emperdenidas e ferrugentas que exortam ao deixa estar que estamos muito bem e tempos melhores chegarão naturalmente, preferencialmente distantes do nosso.
Porque incomodamos e abalamos - e fomos mais de 500, e somos muitas/os mais - e porque pacifica e cordialmente propusemo-nos a pensar as questões de todas e de todos nós. Que nos importamos e nos empenhamos e ignoramos os/as senhores/as da verdade e do discurso descansadinho de que até aqui estamos muito bem. Não estamos. E apenas quem se contenta com o seu umbiguinho satisfeitinho é que julga que estamos no fim da linha. Ou melhor, que o futuro só por si resolverá o problema sem que levantemos um dedo - ou um pensamento.É preciso que, pacientemente, partamos pedra. E o Congresso Feminista 2008 foi um bom exemplo disso.
Somos porvir - um porvir que não acredita no destino. O futuro somos nós, que o desenhamos a partir do aqui e agora.
Reina o estereótipo e o preconceito, neste reino de que vos falo. O mesmo que ainda hoje fala dos soutiens que nunca foram queimados nas nossas praças e que ignoram as agressões que sofreram algumas das nossas mulheres, porque se atreveram a desafiar os senhores das poltronas. Porque as houve. Porque ainda as há. Exactamente porque incomodam e abalam algumas das estruturas mais emperdenidas e ferrugentas que exortam ao deixa estar que estamos muito bem e tempos melhores chegarão naturalmente, preferencialmente distantes do nosso.
Porque incomodamos e abalamos - e fomos mais de 500, e somos muitas/os mais - e porque pacifica e cordialmente propusemo-nos a pensar as questões de todas e de todos nós. Que nos importamos e nos empenhamos e ignoramos os/as senhores/as da verdade e do discurso descansadinho de que até aqui estamos muito bem. Não estamos. E apenas quem se contenta com o seu umbiguinho satisfeitinho é que julga que estamos no fim da linha. Ou melhor, que o futuro só por si resolverá o problema sem que levantemos um dedo - ou um pensamento.É preciso que, pacientemente, partamos pedra. E o Congresso Feminista 2008 foi um bom exemplo disso.
Somos porvir - um porvir que não acredita no destino. O futuro somos nós, que o desenhamos a partir do aqui e agora.
Amnésica
"Uma pessoa julga que quer saber qualquer coisa e, depois de a saber, só tem um desejo: apagá-la do espírito. Daí em diante, quando me perguntassem o que queria ser quando fosse crescida, responderia Amnésica".
In A Vida Secreta das Abelhas by Sue Monk Kidd
Picture by Frida Kahlo
quarta-feira, 2 de julho de 2008
Lullaby fora d'horas
Esta não é a lullaby do domingo passado. Essa, foi escolhida por nós - as que participaram no Congresso - e dedicamo-la integralmente ao RPS. Dela tratará Ceridwen, que a tem quase preparadinha para entrar em cena - ou em blog.
Estas são apenas duas lullaby's indissociáveis, que registam o meu regresso à ilha, depois de uma quase semana intensa. Estou cansada e apenas mantenho a audição atenta. Por isso, aqui fica uma descoberta vergonhosamente recente, já que quem m'os apresentou afirma que é sacrilégio eu ter chegado a esta idade sem ouvir GodSpeed You! Black Emperor. Eu concordo.
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