quarta-feira, 30 de julho de 2008

Acefalias diplomadas

Estou como o Funes. Conheço muito pouco do percurso de Helen Keller. Mas a verdade é que a evocação do seu nome me provoca uma situação idêntica à do cão do Pavlov - com as devidas distâncias. Obviamente, eu seria um gato a salivar ao som da campainha.
Helen Keller é uma das minhas campainhas. Inscrevi-me, há uns tempos, numa formação sobre Neuropsicologia e como a formadora inicialmente prevista adoeceu enviaram, em substituição, uma outra, esta especialista em Necessidades Educativas Especiais. Obviamente, desconfiei da troca - até porque o meu historial de formações não é dos melhores. Sou especialmente dotada na escolha das piores coisinhas que por aí andam (não é à toa que estou inscrita para fazer uma com D.M. em Setembro - é agora que o Funes aplaude mentalmente e julga que serei finalmente doutrinada como deve ser). Mas fui. A senhora, com grau de mestre e doutoramento na faculdade "estrongeira"de esfrega o certificado que fica sempre bem, já tinha uma certa idade e anunciou-se como sendo uma entendida em crianças invisuais. Até aqui a coisa não parecia excessivamente má, até que a criatura, entusiasmada por uma plateia que certamente lhe pareceria certamente de idiotas (ah e tal, eles na ilha, eu na Capital) enceta uma formação com resmas de papelada que (in)felizmente recalquei num qualquer caixote do lixo, salpicada por pérolas de preconceito(pensei, generosamente, ao início) e acefalia (sendo que esta última conclusão não precisou de muito tempo).
Na verborreia que a senhora derramava, pérolas houve que sobressaíram do seu discurso; a senhora considerou que bebés filhos de fumadores sofrem imenso com o vício dos pais, já que nascem todos mais pequeninos (o que se verifica) mas também com cara de macaquinhos - surpresa total na sala com esta informação que obviamente (não) foi desde logo fundamentada com quadros estatísticos exaustivamente apresentados, seguidos de relatórios médicos com a descrição precisa das características dos tais macaquinhos.
A senhora também permitiu-se a exortar às possíveis parideiras da sala: de que era preciso começarmos a parir (sim, neste caso utilizo as palavras odiadas), já que o País está a ser dominado pelos negros: em cada 10 crianças nascidas na Maternidade Alfredo da Costa, 9 são negras. É preciso, portanto, ganhar a corrida de emprenhamento, para não nos tornarmos num País entregue aos pretos.
As necessidades educativas especiais, obviamente, moravam ali.

4 comentários:

António Conceição disse...

Minha cara,

Desejo ardentemente que nunca chegue o dia em que eu tenha que vir aqui e escrever: "a WOAB tem toda a razão no modo como rebate e desconstrói o vazio absoluto que é o pensamento de Derrida".
O dia em que eu chegar aqui e a encontrar "doutrinada como deve ser" será o último dia que cá venho.

Quanto ao fundo da questão, sendo a tal criatura (presumo) técnica do Ministério da Educação que nunca pôs os pés numa sala de aula, não compreendo como lhe pôde dar inicialmente o benefício da dúvida quanto à presença do seu cérebro pequenino de um qualquer sinal de inteligência.

Woman Once a Bird disse...

Descanse Funes, que sou imune ao adestramento do Desidério. Desconstruir é a palavra de ordem.

Anónimo disse...

Desgraçada senhora, tão senhora de "saberes" propriamente ditos e reconhecidos.
Ó Woman, tu também?! : ) Ela (obtusa) só quer uma sociedade perfeita!!

Su disse...

..já tinha uma certa idade ....

não serve de desculpa para a estupidez...............

..com grau de mestre e doutoramento na faculdade ...

esta sim, serve de desculpa para as barbaridades ditas............

enfim.............


jocas maradas