Em 2001, Manuel Subtil barricou-se numa casa de banho da RTP. Imediatamente o caso foi seguido e exaustivamente analisado pela maioria dos órgãos de informação do País (Madeira incluída, por incrível que pareça). De repente o País ficou suspenso perante o ato daquele homem desesperado, trancado com a família numa zona do edifício muito pouco nobre. Ameaçava suicidar-se (e levar quem pudesse com ele). Ao fim de oito horas de atualizações constantes (perfil traçado, amigos entrevistados, projeções, enfim, o carnaval habitual neste género de situação), as notícias pariram um rato.
Em 2011, numa ilha que se tornou presença constante nos noticiários nacionais com reportagens exaustivas sobre um líder desorientado e respetivos/as seguidores/as, um grupo de deputados de um partido da oposição invadiu um órgão de informação dominado pelo Governo Regional (sob a complacência de uma igreja que tem pautado a sua atuação por uma quase total promiscuidade com o poder político). Na verdade, não foi a primeira vez que um partido da oposição tentou despoletar o debate sobre o tema (suponho que tenha sido essa a intenção dos assaltantes: provocar celeuma para colocar o assunto sobre algumas meses mais renitentes). A última tentativa (antes desta ação mais radical do PND) partiu do Bloco de Esquerda (salvo erro), que quis levar o assunto da liberdade de imprensa na RAM à Assembleia da República, não tendo a proposta sido aceite pela maioria parlamentar.
Não me interessa aqui emitir qualquer juízo sobre a performance do PND (ou do Bloco, ou da maioria parlamentar da Assembleia da República). Interessa-me antes refletir sobre a atuação dos meios de comunicação; em alguns casos, nomeadamente nos canais televisivos (à exceção da RTP), a omissão foi ensurdecedora. No que diz respeito à imprensa, os principais jornais nem referem o caso no dia seguinte. Perante isto, ficamos com a sensação de que o Jornal da Madeira não é muito diferente dos principais órgãos do Continente: a transgressão dos deputados, que seria notícia nem que fosse por isso mesmo (pelo caráter transgressor da performance) foi sumariamente ignorada pelos principais órgãos de comunicação.
Compreende-se. Tal notícia embaraçosa vai de encontro (e não ao encontro) à imagem construída de que a Ilha está isenta de detratores/as relativamente ao poder político regional. E isso não pode ser. É que nesta Ilha apenas acontece o que os média quiserem que aconteça. E os média querem a ilha a uma só voz. Tudo o resto, torna-se silêncio.
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