sábado, 31 de maio de 2008

A doçura da provocação: da contra-série "La beauté est dans la rue" - Fin


"(...) a moral masculina, no que lhe diz respeito, é uma vasta mistificação. O homem acena-lhe pomposamente com o seu código de virtude e honra, mas incita-a a desobedecer; espera, mesmo, essa desobediência; sem esta, a bela fachada arás da qual ele se abriga desmoronar-se-ia." Simone de Beauvoir

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Post pseudo-funiano(??)

Ao sentar-me para metodicamente redigir um post, reflicto mais atentamente e "vejo com clareza que vigília e sono nunca se podem distinguir por sinais seguros, o que me espanta(...)"*: na verdade a questão dos universais não passa de um sonho. *Com uma ajudita de Mestre Descartes

É sempre em frente

... e, depois,

terça-feira, 27 de maio de 2008

Pérolas a porcos

"(...) Os gestos não totalmente sinceros vão sempre atrasados."
ssss
O Evangelho segundo Jesus Cristo, José Saramago

sábado, 24 de maio de 2008

Lullaby de Domingo

Uma promessa de há muito a Nefertiti. Para animar a viagem.

A doçura da provocação: da contra-série "La beauté est dans la rue"


"O saber absoluto, tal como foi procurado, prometido ou recomendado pela filosofia, é um pensamento do Igual. (...) sem dúvida, o ser finito que somos não pode, no fim de contas, levar a bom termo a tarefa do saber; mas, dentro dos limites em que esta tarefa fica cumprida, ela consiste em fazer que o Outro se torne o Mesmo. "
Emmanuel Levinas

sexta-feira, 23 de maio de 2008

(Almost) Closed Door




Encerro o meu dia de trabalho. A três horas e meia de iniciar a próxima tarefa. mas o excelente que recebi e os dois cafés das últimas horas tiraram-me o sono. Vem aí outro dia de olheiras e a porta está entre- a-b-e-r-t-a.

Instalação de Jessica Feldman

quarta-feira, 21 de maio de 2008

terça-feira, 20 de maio de 2008

Este País não é para velhos de espírito (se calhar, até é)

Ouço, incrédula, aquele homem trémulo e inseguro proferir as enormidades de há meio século. Uma plateia de saudade escuta-o desatentamente, imersos nos seus próprios pensamentos (e ainda bem).
Ele prega, balbucia os terrores com que amaldiçoa os que não o ouvem. Fala repetida e monocordicamente de castigo, de horrores eternos, de almas em suplício. Monotonamente. Evoca os círculos de Dante, promete e distribui condenações. Enfadonhamente. Renega os que renegam, evocando o Santo nome do Espírito em vão. Consciente e (desconfio) maliciosamente.
Termina titubeante, na esperança que o arrependimento divino acometa o público que desconfia ser infiel à noção de Pai castigador que apresenta com tanto desvelo. Já não é deste tempo, aquele velho homem amargo, cansado, que fala da morte provavelmente porque a pressente perto e a tenta renegar amaldiçoando desta forma os que em vida permanecem por enquanto. Crê-se salvo. Crê salvar os outros com aquele grasnar irritante e agoirento. Bate no peito na oração da culpa, logo depois de ter praguejado: por vossa culpa, por vossa máxima culpa.

"Emissário de Um Rei Desconhecido"

Emissário de um rei desconhecido Eu cumpro informes instruções de além, E as bruscas frases que aos meus lábios vêm Soam-me a um outro e anómalo sentido... Inconscientemente me divido Entre mim e a missão que o meu ser tem, E a glória do meu Rei dá-me o desdém Por este humano povo entre quem lido... Não sei se existe o Rei que me mandou. Minha missão será eu a esquecer, Meu orgulho o deserto em que em mim estou... Mas há! Eu sinto-me altas tradições De antes de tempo e espaço e vida e ser... Já viram Deus as minhas sensações... Fernando Pessoa

domingo, 18 de maio de 2008

Um fim de semana cheio de suspiros por uma adolescência longínqua.

A doçura da provocação: da contra-série "La beauté est dans la rue"

"(...) e vós, Senhor meu Deus! concedei-me a graça de produzir alguns belos versos que me provem a mim mesmo que não sou o último dos homens, que não sou inferior àqueles que desprezo." Baudelaire

Lullaby de Domingo

Can't break that which isn't yours.

sábado, 17 de maio de 2008

A minha verdadeira devoção

(Marc Chagall)


Nada garante que tu existes

Não acredito que tu existas

Só necessito que tu existas


de David Mourão-Ferreira


A Sócrates o que é de Sócrates (o novo)

A Sócrates* não basta parecer sério. É preciso efectivamente sê-lo.
*Retiremos a mulher de César que, coitada, era séria e ainda lhe exigiam que o parecesse.
Sócrates, o velho, supostamente disse umas coisitas sobre esta nova interpretação do velho ditado. Uma vez mais, Sócrates contra Sócrates.

Aos 5 infames votantes da sondagem de Mr. Lekker

Estou em crer que não conseguirão degustar nada decente nos próximos tempos, tal o peso da consciência sobre a vossa digestão!

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Também nós vamos a fumos

As declarações de Sócrates quanto à possibilidade de se chicotear em público quem, como ele, fuma nos espaços que ele próprio proibiu, faz-me lembrar o bebé na incubadora do Santana Lopes.

Ao cuidado do camarada Funes

Acabei de ler A Fenomenologia assinada por Lyotard. Suponho que fique mais satisfeito em saber que abandono a indecência dos franceses e abro agora a radiante obra de um inglês: lanço-me ao Stuart Mill em A Sujeição das Mulheres.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Porque dizem que anda por aí uma espécie de crise alimentar e tal

Fábula Menino gordo comprou um balão e assoprou assoprou com força o balão amarelo. Menino gordo assoprou assoprou assoprou o balão inchou inchou e rebentou! Meninos magros apanharam os restos e fizeram balõezinhos. José Craveirinha, Moçambique

quarta-feira, 14 de maio de 2008

A doçura da provocação: da contra-série "La beauté est dans la rue"


"O teu corpo composto - três quartos de água, mais um punhado de minerais terrestres. E essa grande chama em ti de que desconheces a natureza. E nos teus pulmões, sorvido e libertado sem cessar no teu tórax, o ar, esse belo estrangeiro, sem quem não podes viver." Marguerite Yourcenar

terça-feira, 13 de maio de 2008

Declaração pública de interesse

Ide votar na sondagem do nosso Mr. Lekker. É que prometeu cozinhar, pour moi, o prato vencedor - logo, a última opção está-vos proibida. Entendido?

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Só porque me apetece...

Há muito tempo que quero criar um novo ditado popular. Parece-me a altura certa.
aaa
aaaa
Cada tolo com a sua mania, e os três pastorinhos na Cova da Iria.

sábado, 10 de maio de 2008

devoções

"O Sr. Funes escreve Direito por linhas tortas. " Ámen

A doçura da provocação: da contra-série "La beauté est dans la rue"


"Vejo eu o que vejo? O que não estava ali se calhar estava. Ser e não ser não se excluíam mais." Hélène Cixous

O Paul do romance não passava de um porco (badalhoco)

Deixo aqui uma passagem do fascinante livro: O velho que lia romances de amor, de Luís Sepúlveda

“ Paul beijou-a ardorosamente enquanto o gondoleiro, cúmplice das aventuras do amigo, fingia olhar noutra direcção e a gôndola, equipada com macios coxins, deslizava tranquilamente pelos canais venezianos”.

Leu a passagem várias vezes em voz alta.

Que raios seriam as gôndolas?

Deslizavam por canais. Devia tratar-se de botes ou canoas, e quanto àquele Paul, era óbvio que não se tratava de um tipo decente, já que beijava “ardorosamente” a rapariga na presença de um amigo, e ainda para mais cúmplice.

Gostou do começo.

Pareceu-lhe acertado que o autor definisse os maus com clareza desde o princípio. Dessa maneira evitavam-se complicações e simpatias imerecidas.

E quanto a beijar, como é que ele dizia? “ardorosamente” como diabo seria isso?

(…)

Não. Os xuar não se beijavam.

Recordou-se também de que, em certa ocasião, vira um garimpeiro acasalando com uma jíbara, uma pobre mulher que deambulava por entre os colonos e os aventureiros implorando uma golada de aguardente. Quem tivesse vontade puxava-a de parte e possuía-a. A pobre mulher, embrutecida pelo álcool, não tinha consciência do que estavam a fazer com ela. Dessa vez, o aventureiro montou-a na areia e procurou-lhe a boca com a sua.

A mulher reagiu como uma besta. Tirou o homem de cima dela, arremessou-lhe um punhado de areia e desatou a vomitar com um nojo indissimulável.

Se beijar ardorosamente era isso, então o Paul do romance não passava de um porco.

(...)

Ditado

Concordo com o texto da magnífica Ana. E acrescento que a palavra dita tem uma violência -e erosão - mais acentuada que a palavra escrita. A brejeirice pronunciada é-me sempre mais desagradável que a escrita, como se o silêncio da leitura a consiga quase silenciar, como se a audição a tornasse insuportável.
Curiosamente, raramente interpreto a utilização de tal linguagem como um insulto a quem é dirigido. Insistentemente, soa-me como um auto-insulto, uma auto-depreciação disfarçada de violência contra Outrém. O que a torna mais traiçoeira: o efeito boomerang do insulto - lançado ao rosto do Outro, por um passe de mágica volta à face dos lábios que a proferiram, que despudoradamente a lançaram. Esta é a única utilidade que lhe vislumbro, que na verdade é uma utilidade perversa, recontada ao longo dos tempos: a criatura que devora o criador, quando este apenas contava instrumentalizá-la.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

A doçura da provocação: da contra-série "La beauté est dans la rue"

"(...) quando nos encontramos diante das repetições mais mecânicas, mais estereotipadas, fora de nós e em nós, extraímos constantemente delas pequenas diferenças (...)." Deleuze

Subsídios Para Uma Conjugalidade Pacífica

Lenha para a fogueira do nobilíssimo Funes:
"Eu dou-te a palavra, e tu jogarás nela
e nela apostarás com determinação.
Seja a palavra “biltre”. Talvez penses num cesto, Açafate de ráfia, prenhe de flores e frutos. Talvez numa almofada num regaço onde as mãos ágeis manobrando as linhas as complicadas rendas vão tecendo. Talvez num insecto de élitros metálicos emergindo da terra empapada de chuva. Talvez num jogo lúdico, numa esfera de vidro, pequena, contra outra arremessada. Talvez... Mas não. Biltre é um homem vil, infame e ordinário. São assim as palavras." António Gedeão

terça-feira, 6 de maio de 2008

domingo, 4 de maio de 2008

Pérolas a porcos

O tempo parece infinito e a ambição inútil. Por cima de tudo paira a sensação de inutilidade de qualquer acção humana.
ddd
As Ondas, Virginia Wolff

Lullaby de Domingo

"Quando lhe falava, qualquer que fosse o tema do discurso, muitas vezes X... parecia olhar e escutar o que se passava em redor, vigiando qualquer coisa: detinha-me desencorajado; depois de um prolongado silêncio, X... dizia 'continua, estou a ouvir-te'; retomava então, tanto quanto possível, o fio de uma história em que já não acreditava."
Roland Barthes, Fragmentos de um Discurso Amoroso

sexta-feira, 2 de maio de 2008

A beleza renascentista


( David - Miguel Ângelo)


"Novas" fragrâncias feministas

O Congresso Feminista, já antes abordado por cá e com direito a cartaz logo ali ao lado, tem o condão de propagar a sua fragrância para outras paragens. Ao ponto de atravessar o Atlântico e, oficialmente, também chegar até nós. Assim, aqui fica - e ali ao lado também - o endereço do blog da equipa cá da Ilha, com direito a divulgação do que por cá se fizer. Não poderia deixar de assinalar o seu nascimento...

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Morre de uma vez e não chateies

"Acabo de reler Werther, não sem irritação. Esquecera-me que ele demorara tanto tempo a morrer. Nunca mais acaba e chega-se a querer empurrá-lo pelos ombros. Ao fim de quatro ou cinco vezes, quando se esperava o seu último suspiro, segue-se ainda um outro e mais um outro(...) as partidas buriladas exasperam-me."
André Gide, citado por Roland Barthes em Fragmentos de um Discurso Amoroso
Ainda não li Werther, mas desconfio que tenderei a simpatizar com a afirmação de Gide. (ao contrário de Barthes, que a considera uma tolice. Sempre tive queda para as tolices.)

Viagens...

Antes seja afastado do que já alcancei que o seja daquilo para que vou. A posse é um declínio. Antes um pássaro a voar que dois na mão. Dois pássaros na mão são o que já não falta. Um pássaro a voar: é ir com os olhos a voar com ele; ir sobre os montes, sobre os rios, sobre os mares; dar a volta ao mundo e continuar; é ter um motivo de viver — é não ter chegado ainda.
Branquinho da Fonseca
Nota: depois de ter lido O Barão, quero conhecer melhor a obra deste ilustre escritor. Uma revelação para mim. Uma excelente descoberta.

In the mood for...

Rever esta magnífica. O inferno está sempre nos empata-génios.