terça-feira, 20 de maio de 2008

Este País não é para velhos de espírito (se calhar, até é)

Ouço, incrédula, aquele homem trémulo e inseguro proferir as enormidades de há meio século. Uma plateia de saudade escuta-o desatentamente, imersos nos seus próprios pensamentos (e ainda bem).
Ele prega, balbucia os terrores com que amaldiçoa os que não o ouvem. Fala repetida e monocordicamente de castigo, de horrores eternos, de almas em suplício. Monotonamente. Evoca os círculos de Dante, promete e distribui condenações. Enfadonhamente. Renega os que renegam, evocando o Santo nome do Espírito em vão. Consciente e (desconfio) maliciosamente.
Termina titubeante, na esperança que o arrependimento divino acometa o público que desconfia ser infiel à noção de Pai castigador que apresenta com tanto desvelo. Já não é deste tempo, aquele velho homem amargo, cansado, que fala da morte provavelmente porque a pressente perto e a tenta renegar amaldiçoando desta forma os que em vida permanecem por enquanto. Crê-se salvo. Crê salvar os outros com aquele grasnar irritante e agoirento. Bate no peito na oração da culpa, logo depois de ter praguejado: por vossa culpa, por vossa máxima culpa.

3 comentários:

APE disse...

Há padres que irritam e alguns irritam mais do que outros. Por outro lado, há também outros que sabem o que estão cá a fazer.

António Conceição disse...

Tsc, Tsc, Tsc,
Um dia vai agradecer as palavras deste padre. Vão ser elas que lhe vão permitir escapar ao fogo eterno.

Woman Once a Bird disse...

Eu não sei, mas pergunto-lhe a si:acha que o homem, através deste post, fará com que o Funes escape?