sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Ora dá cá um beijinho...

...pediu ele a babar pelo canto dos lábios. Viam-se todos os dias, na aterradora fila para o café que se tornava insuportável nos intervalos. Ela não sabe bem o que fazer. Tenta recuar, ele já se aproxima, beiçolas ameaçadoramente em riste, certeiramente apontadas para as suas bochechas. Rende-se à situação e, resignada, obriga-se a aceitar o cumprimento baboso do patético homenzinho. Ele agarra-lhe no braço, como que a assegurar que os lábios assentem exemplarmente nas faces dela, um beijo carregado da espuma que lhe enche os beiços. O mo(vi)mento prolonga-se para a outra face. A criatura, matemático de profissão, tem problemas com o cálculo; elenca um, pespega-lhe dois. Dupla agonia. Instintivamente, limpa a face conspurcada; só lhe ocorre ripostar com "Pois é, não nos vemos todos os dias." E ainda bem, acrescenta mentalmente.

5 comentários:

Anónimo disse...

reviver pesadelos! credo.
muito bem contado.

rps disse...

Este post não deixa de ter algo de assutador...

Edelweiss disse...

Pior do que dois beijos babosos, só três. Um suíço nosso amigo costuma dar-me 3 beijos bem molhados e nojentos.

Bayushiseni disse...

Uma abelha sobre uma flor.
Em suave adejo. Beijo.
Roubado.

E na humidade que fica.
Ansiosa.
A pergunta toda sobre a Humanidade.

(Cara WOAB. Não é um problema meramente feminino. Também tenho que mudar de rua para não ser humidamente (arrepio) beijocado.)

Woman Once a Bird disse...

Acredito, caro Talisca. ;)