Os locais de trabalho são sítios estranhos. Com estranhos que partilham mesas, cafés e sobretudo, rotinas. Nas escolas, os toques de saída e entrada encerram malevolamente minutos de perfeita imbecilidade, trocados a um balcão ou a uma mesa de café.
Em Janeiro, acabam-se as salas de chuto que, de certo modo, até agora têm preservado os seus frequentadores das enchentes engalfinhadas em conseguir uma mesa, ou das conversas sobre nada: das crianças impossíveis, das odiosas, das brilhantes, dos maridos, das mulheres, filhos e filhas, netos e netas, genros, cunhadas, sogras. Dos namoros dos miúdos, das querelas, das disputas, dos horários, apoios, clubes, projectos... Um burburinho ensurdecedor.
É claro que é sempre necessário passar pela fila interminável da compra do café, a espera tremenda pela senha e pelo serviço lento de quem tem apenas duas mãos em luta com cem que lhes estende as senhas.
No meio de tudo isto, destacam-se os paradoxos. O
paradoxo, neste contexto, é um conceito que engloba os tipinhos de mãozinhas pegajosas. De labiozinhos apertados pela lascívia e gulodice. Lambões de olhos miudinhos, a denunciar a jarretice. Em quase todos os espaços, suponho que se encontrem personagens destas que instintivamente nos fazem limpar as mãos depois de os cumprimentar.
O título do presente post tem um duplo sentido: segundo post sobre Paradoxos desta natureza. E também porque, pelos vistos, por vezes andam aos pares. Dupla calamidade. Passam os anos a saltitar por entre escolas, a formar quem está efectivamente em sala, munidos de projectos manhosos que apenas servem para entreter. Passeiam por entre corredores a santa idiotice, srs. inspectores da treta, incompetentes que só papagueiam sobre competências e ped(em)agogias. E entretanto, o elogio fácil dos tipinhos que se julgam inteligentes e confortavelmente camuflados pelos anos que já lhes pesam nas carecas. Enfim, lá vão sendo (in)suportáveis, por dois ou três dias, que mais que isso é humanamente impossível.
Pintura de Ignacio Lloret