Chocam-se sempre os outros quando afirmo esta minha vontade de não ter filhos. O olhar de incredulidade é avassalador porque continua a conceber-se que uma mulher não poderá desejar outra coisa; quantas vezes ouvimos rasgadas exclamações quanto à maternidade como condição necessária à concretização feminina? Portanto, após o movimento inicial de incredulidade, imediatamente ouço o inevitável "Isso é agora, porque ainda não sentiste o apelo." E o encolher de ombros imaginário é mútuo.
Não tendo especial inclinação para a maternidade, admiro a coragem de quem assume o passo. Ter um filho é um compromisso vitalício, um gesto de dádiva ao outro (quase) ímpar. Assumo assim, que a decisão da maternidade excede-me, implica um acto de responsabilização radical absoluto para o qual não me sinto preparada. Ao acolher uma criança em mim, acolho o compromisso de a acompanhar até onde ela queira e possa. Decisão difícil, assustadora. Não tendo vocação para uma dádiva tão extensa, mantenho-me quieta, ocupada pela educação criteriosa de uma gata.
O apelo de que todos falam, o relógio biológico que desperta em todos - homens e mulheres - é, portanto, inevitável. Pelo menos no imaginário da maior parte dos mortais. E, portanto, as crianças nascem orgulhosamente embaladas pelos olhares da Mãe orgulhosa e do Pai babado.
Frequentadora assídua dos corredores das instituições públicas de educação, também sei que o fascínio inicial muitas vezes esbate-se perante as necessidades da criança. É que a criança chora; adoece; tem birras. Bate o pé e exige atenção. E o olhar embevecido muitas vezes torna-se um olhar desesperado. Mais, a criança tem que ser alimentada, vestida. A criança exige a última playstation. E, portanto, os progenitores muitas das vezes bem intencionados encontram-se em conflito aberto entre as birras da criança e as birras da entidade patronal.
Os pais extremosos saem todas as manhãs e regressam às noite; acompanham o pequeno almoço e o jantar dos meninos. Quando acompanham. Tudo o mais, passa-se na instituição que os acolhe, substituindo-os enquanto procuram pagar o pão e a estadia na tal instituição. Para colmatar esta lacuna - dos pais que ainda passam um fim de tarde com as suas crianças - cogita-se a hipótese de o horário das creches ser prolongado até às 22 horas. Diz-se que para garantir que os Pais com horário nocturno também sejam abrangidos. Os horários nocturnos não terminam às 21.30, nem sequer às 22. Mas certamente as entidades patronais agradecem o desvelo. A criança das 8.30 às 22 horas no jardim de infância. Que maravilha!
Ainda assim, é pouco. Proponho então que as educadoras tenham também a tarefa de ir deitar as crianças nas suas caminhas, já que tal pode roubar tempo aos Pais. Vamos até mais longe: as crianças só deverão regressar a casa aos fins de semana - e só no caso de não constituir entrave para a vida profissional dos progenitores. Na verdade, o ideal reside na possibilidade dos Pais só retirarem as crianças do infantário ao fim de semana se tal lhes apetecer. Porque nem só de trabalho vive um casal, convém que possam ter tempo só para si, sem os berros de uma criança que reinvindica atenção. Estamos no bom caminho.
Fotografia de Jan Saudek
O apelo de que todos falam, o relógio biológico que desperta em todos - homens e mulheres - é, portanto, inevitável. Pelo menos no imaginário da maior parte dos mortais. E, portanto, as crianças nascem orgulhosamente embaladas pelos olhares da Mãe orgulhosa e do Pai babado.
Frequentadora assídua dos corredores das instituições públicas de educação, também sei que o fascínio inicial muitas vezes esbate-se perante as necessidades da criança. É que a criança chora; adoece; tem birras. Bate o pé e exige atenção. E o olhar embevecido muitas vezes torna-se um olhar desesperado. Mais, a criança tem que ser alimentada, vestida. A criança exige a última playstation. E, portanto, os progenitores muitas das vezes bem intencionados encontram-se em conflito aberto entre as birras da criança e as birras da entidade patronal.
Os pais extremosos saem todas as manhãs e regressam às noite; acompanham o pequeno almoço e o jantar dos meninos. Quando acompanham. Tudo o mais, passa-se na instituição que os acolhe, substituindo-os enquanto procuram pagar o pão e a estadia na tal instituição. Para colmatar esta lacuna - dos pais que ainda passam um fim de tarde com as suas crianças - cogita-se a hipótese de o horário das creches ser prolongado até às 22 horas. Diz-se que para garantir que os Pais com horário nocturno também sejam abrangidos. Os horários nocturnos não terminam às 21.30, nem sequer às 22. Mas certamente as entidades patronais agradecem o desvelo. A criança das 8.30 às 22 horas no jardim de infância. Que maravilha!
Ainda assim, é pouco. Proponho então que as educadoras tenham também a tarefa de ir deitar as crianças nas suas caminhas, já que tal pode roubar tempo aos Pais. Vamos até mais longe: as crianças só deverão regressar a casa aos fins de semana - e só no caso de não constituir entrave para a vida profissional dos progenitores. Na verdade, o ideal reside na possibilidade dos Pais só retirarem as crianças do infantário ao fim de semana se tal lhes apetecer. Porque nem só de trabalho vive um casal, convém que possam ter tempo só para si, sem os berros de uma criança que reinvindica atenção. Estamos no bom caminho.
Fotografia de Jan Saudek