terça-feira, 27 de outubro de 2009

Na avaliação, o tempo ditará, mas ninguém o ouvirá.

Passei a semana a ver crianças a correr tresloucadamente e aos gritos nos corredores, nas salas e nos jardins do recinto da escola. Crianças a discutirem com os professores, funcionários e com tudo que se mexia... Crianças mal-dispostas e com o dedo acusador para o colega do lado. Crianças a serem acusadas de roubos e agressões. Crianças a destruírem material. Crianças a enganar os professores e os pais. Crianças sem vontade de ouvir. Crianças a fazer exigências, a mentir e dizer palavras feias, muito feias, feiíssimas. Gostam de gritar, mas não têm tempo nem vontade de ouvir. Crianças que não admitem advertências... conselhos. Não têm tempo nem vontade de ouvir. Crianças a odiarem os adultos!! Crianças sem tempo nem vontade de ouvir. Crianças que só proferem e percebem frases do tipo imperativo e da forma negativa; e que acreditam que o seu futuro passa por aguentar o máximo de tempo na escola. Crianças sem tempo nem vontade de ouvir. O parâmetro mais importante na avaliação de desempenho dos alunos é o tempo, não importa em que nível, nem o conhecimento que possam adquirir. Aprender a aperfeiçoar o fazer mal sem olhar a quem, a quê e nunca perceber o porquê. A avaliação do professor passa pela resistência psicológica, pela resistência dos ouvidos e da garganta. Vamos ver quem e que vai ter as melhores notas: os professores ou os alunos? Eu cá choro por todo este leite derramado... Que desperdício!

Cogitações avulsas de uma saudosista

Inicio a leitura de um post que mistura Coimbra, Faculdade, cabelos longos e utopias de início de percurso. Imediata e inadvertidamente, redesenho a leitura como se da minha Coimbra e do(s) meu (s)ano se tratasse(m). As minhas personagens povoam o texto até ao momento em que uma data lhes rouba existência; a autora do texto refere-se a 2002 e nessa data já não havia Coimbra para mim (apenas Coimbra em mim).

domingo, 25 de outubro de 2009

Histórias da Madeira Nova

Numa região que se diz de brandos costumes e que acena esquizofrenicamente com o estribilho de Madeira Nova, são 86 as queixas mensais formalmente apresentadas e referentes a violência doméstica.  O que equivale a uma média diária de 3 queixas.
É verdade que as coisas tendem a melhorar; se há uns anos atrás o fenómeno nem era considerado, hoje há um esforço para que a realidade não continue tão cruel.  É uma boa notícia, a existência de um Plano Regional Contra a Violência Doméstica, é uma boa notícia a existência de 3 casas abrigo, é uma boa notícia a sensibilização e especialização de agentes da autoridade  para este tipo de crime. É excelente o trabalho desenvolvido  pela equipa do Centro de Segurança Social da Madeira e de todas as associações que se dedicam a este flagelo. Mas, como muito bem aponta André Escórcio, não bastam as medidas de remediação e de apoio à vítima, ainda que essenciais. E certo é que essas medidas, pela natureza difícil deste tipo de crime, penalizam ainda mais a vítima, que é quem se esconde e modifica toda a sua vida em função da intolerância de outrem. É preciso ir mais longe no combate a este tipo de crime e apostar na sua prevenção; parece-me essencial que a problemática seja trabalhada nas Escolas, na formação das nossas crianças que convivem com esta realidade e estruturam desde cedo os relacionamentos a dois a partir do princípio de propriedade. É preocupante constatar que em muitos casais adolescentes existam já casos de intolerância em relação ao comportamento do outro; que se valorize a questão do ciúme - que em última análise conduz a comportamentos mais violentos. É preciso apostar na educação dos afectos, na medida em que muitos dos/das nossos/as jovens nunca tiveram exemplo de uma relação saudável em casa e tendem a repetir comportamentos.



 (Helena Almeida)


É absolutamente necessário apostar no esbatimento dos preconceitos de género ainda tão arreigados na RAM, em que muitos homens consideram que o comportamento de galo da capoeira ainda está muito bem cotado e em que muitas mulheres consideram que quem deve mandar lá em casa é o elemento do sexo masculino e que ainda precisam de quem delas tome conta.O mais trágico é que este tipo de crença não se verifica somente nas franjas mais empobrecidas; estes princípios são repetidos um pouco por todo o lado, por pessoas que tiveram a oportunidade de crescer e não a aproveitaram condignamente, pessoas com responsabilidade no amanhã da Região e que continuam a perpetuar os costumes sexistas numa Madeira Nova por vir. Não basta anunciá-la, não basta desejá-la. É preciso construí-la e o trabalho começa desde cedo.
É lamentável que um projecto como o EQUAL - Projecto Agir Para a Igualdade  não tenha encontrado eco na maior parte das escolas do Funchal, ainda que há algum tempo sejam convidadas para as sessões de sensibilização. Neste ano lectivo, apenas uma escola do Funchal aderiu ao projecto (e curiosamente é o Concelho onde se regista maior número de queixas). Todas as outras escolas integrantes do projecto são de outros concelhos. (o que é, obviamente, uma mais valia para as regiões a que pertencem). Mas não deixa de ser curioso que seja no dito centro da Região, onde a intelectualidade regional tende estar concentrada, que não haja suficiente sensibilização para estas questões.  Esclarecedor, não é?

Lullaby de Domingo



Sou capaz de ouvir isto ininterruptamente.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Considerações rápidas sobre VPV

Medíocre, é a única coisa que me ocorre ao ler a sua crónica, sobre a qual recebi recomendações via sms. E nada mais precisa ser dito.

(E não, Sancho, com isto não quero legitimar as afirmações de Saramago, até porque não as ouvi).

sábado, 17 de outubro de 2009

Feministas honestas têm ouvidos

Desafia-me o Sancho a responder a uma das suas muitas provocações; percebo-lhe o horizonte  e a finura. Poderia deixar passar em claro, já que o silêncio também escapa radicalmente a caracterizações de conveniência, mas concedo ao Sancho a dádiva da dúvida e assumo a sua pergunta como sendo questionamento genuíno e isento de malícia.

Comecemos (que já não é um começo,  dado que este género de diálogo entre nós tem sido, ao longo dos anos, ininterrupto).
Começas por apresentar o Feminist Philosophers como sendo uma associação (concedendo o facto de ignorares se legalmente constituída). Foste muito mais longe do que sou capaz de ir. Nunca vi Este Blog Que Seja Seu como uma associação (ainda que legalmente por constituir), nem o Conspiração às Sete como espaço promotor de uma associação conspiradora (por natureza fora da legalidade). 

Na senda deste primeiro ponto, questionas a possibilidade de uma filosofia feminista e apresentas generosamente como contraponto não acreditares igualmente na possibilidade de uma filosofia machista. Começo pelo fim, dado que é conceptualização há muito debatida entre nós, julgando-a eu mais do que debelada: não percebo porque insistes em contrapor feminismo com machismo. Machismo reflecte um posicionamento que procurou e procura inferiorizar as mulheres, ao passo que o feminismo reflecte um pensamento (com múltiplas correntes, sublinho) que pretende um estatuto para as mueres que não as inferiorize em relação aos homens. Falamos, portanto, de conceitos muito diferentes, na medida em que o primeiro procura subjugar as mulheres, enquanto que o segundo pretende libertá-las (o que não significa inferiorizar os homens, note-se). Logo, colocas-me perante um oxímoro quando formulas a questão em tais termos, o que não deixa de ser irónico.

Perguntas, retoricamente, como pode a filosofia ser machista. Não é, respondo-te.  Mas não prossigo tão rapidamente para outro ponto como se a questão estivesse resolvida com esta negação. Basta atentar na História da Filosofia para perceber que, em muitos casos, os filósofos representaram as mulheres a partir de um ponto de vista  profundamente depreciativo; isto significa que não sendo a Filosofia machista, os seus intervenientes podem efectivamente  veicular horizontes falocentricos. Leia-se Platão e Aristóteles, Tertuliano, Santo Agostinho, Rousseau e  Nietszche (que exemplarmente citas), entre muitos outros. Obviamente (e é um obviamente devidamente  sublinhado) que há que ter em conta os contextos em que os mesmos desenvolveram concepções de inferiorização do feminino - é difícil estar acima da sua época.

 À pergunta (que considero outra por tudo o que foi explanado anteriormente - e anteriormente não me refiro apenas a este post), de como pode a filosofia ser feminista, respondo de igual modo. Mas sublinho novamente que não sendo a Filosofia feminista, as questões feministas  podem ser pensadas a partir de um discurso filosófico, como de resto foi feito e continua a ser feito; atente-se no trabalho de Santo Anselmo, de Stuart Mill, de Lévinas ou de uma Cixous, para nomear muito poucos/as.
Extrapolando bastante o que me é possibilitado responder (não detenho conhecimento de causa suficiente para acreditar que as/os autoras/es do blog subscrevam tudo o que aqui escrevi) não considero escandalosa a existência de um blog em que se assume uma correlação entre o discurso filosófico e o feminismo.


(Nicholas Stael)

Não tem havido uma neutralidade sexual nos textos filosóficos, nem por parte de quem os escreve nem por parte de quem os lê. Mas é a partir da  assunção  lúcida e corajosa desta dissimetria que podemos aspirar a pensar um Pensamento anterior e para além da diferença sexual.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Fim-de-semana, posso?

Pedem-me o e-mail para, durante o fim-de-semana, enviarem carregadas de T.P.C.´s!! É grelhas e mais grelhas para preencher!! Devem julgar que um professor não tem vida pessoal e que não precisa de descansar!! Apetece-me dizer: “Apaz!!!! N´há pachorra!”* Tradução: Ó rapaz!!! Não há pachorra!

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

O que eu gosto do Louboutin e do Lauren

Enquanto este tipo de estética continuar a ser premiado pelas imbecilidades que produz, não chegaremos a lado nenhum. 
Proponho tentem enfiar-se nos trapos e solas que desenham; a ver se têm bustos e tornozelos mais delicados.
(Já estivemos mais longe do pézinho enfaixado e dos desmaios por falta de oxigénio).

Serviço Público (via Jugular)

Quem quiser ter uma ideia em relação ao novo trabalho de Tom Waits, pode passar por aqui, deixar o endereço electrónico e esperar que lhe seja enviado o link para download de algumas faixas do novo trabalho. Enjoy it.

Silêncio ressoante




Nos próximos tempos, acordar e adormecer assim.
(regresso às emoções de infância, mas agora na comodidade do lar)

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Assumamos

Em vez de estarmos com soluções intermédias, de quem viu, gostou, recomendou, acha que sim, propõe assado... em vez destas soluções intermédias que nos levam a lado nenhum (muito menos à Finlândia), tenho para mim que o Sócrates devia ir à fonte dos milagres: propor ao ministro da educação Finlandês que venha assumir o cargo e ponha a casa em ordem. Para quê rezar aos santos quando se pode pedir a Deus?
E já agora, substituir o nosso primeiro pelo primeiro finlandês. Era capaz de ser coisa para resultar. Sendo que deve ficar bem claro que não aceitamos devoluções.

domingo, 11 de outubro de 2009

sábado, 10 de outubro de 2009

A mí me gusta


"¿qué importa si el universo se expande interminablemente o se contrae? Esto es asunto sólo para agencias de viajes."
Jaime Sabines

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

As meninas

E já agora anexem um cérebro para ofertar  às aderentes.
No caso de quem idealizou tão grande estratégia de inovação, temo que só um cérebro não seja suficiente.

Na Região, nem toda a gente alinha por este diapasão

Em terra que raramente se utiliza os conceitos de forma fidedigna e rigorosa - o facismo e o comunismo estão na boca de todos e serve para apodar a todo/a e qualquer um/a que não alinhe - mais uma demonstração ridícula da intolerância manchou as primeiras páginas: ao que parece AJJ  diz só admitir polícias naturais da Região nas múltiplas inaugurações realizadas em vésperas das autárquicas (mas que obviamente não visam "fazer campanha"). Grave é já não estranharmos este tipo de vociferações absurdas e que em nada dignificam as gentes que, apesar de tudo, não se identificam com esta postura. E pergunto-me quantos das fileiras do PSD regional coram de vergonha ao ouvir tais desmandos.
Ainda assim, relembro: pode parecer estranho, mas na Região, nem toda a gente alinha por este diapasão.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Venenos e Remédios

"- Então, Excelência - inquire o velho Sozinho - tão cedo e já a chatear as moscas? - Que se passa, Suacelência? - pergunta o português, emendando a indelicadeza do seu paciente. - A rapaziada da banda eleitoral - suspira, contendo uma emergente onda de fúria- a rapaziada fugiu com os instrumentos. - Mas isso é um bambúrrio de azar. Então os bandos roubaram-lhe a banda? Ignorando o tom irónico da pergunta, o Administrador acena com gravidade. Não se tratava, segundo ele, de um simples furto. Aquilo era uma cabala política, manobra dos inimigos da Pátria. - Um feiticeiro conhece todos os feiticeiros...- ironiza o velho Sozinho. - Por que não me respeita, Bartolomeu? A mim que fiz tanto pelo país? - O país preferia que o senhor não tivesse feito nada. - Por que não gosta de mim? - Eu gosto da minha terra, da minha gente. E o senhor gosta de quem? Contudo, o Administrador já desandou, estrada a fora, coxeando levemente. Bartolomeu e Sidónio ficam olhando a figura do dirigente desvanecer-se como se assistissem ao seu ocaso político. - Sinto pena dele - admite o português. - Pois eu estou-me merdando para o gajo - remata Bartolomeu. (...) - Posso fazer-lhe uma pergunta íntima? - Depende - respondeu o português. - O senhor já alguma vez desmaiou, Doutor? - Sim. - Eu gostava muito de desmaiar. Não queria morrer sem desmaiar. O desmaio é uma morte preguiçosa, um falecimento de duração temporária. O português, que era um guarda-fronteiras da Vida, que facilitasse uma escapadela dessas, uma breve perda de sentidos. - Me receite um remédio para eu desmaiar. O português ri-se. Também a ele lhe apetecia uma intermitente ilucidez, uma pausa na obrigação de existir. - Uma marretada na cabeça é a única coisa que me ocorre. Riem-se. Rir junto é melhor que falar a mesma língua. Ou talvez o riso seja uma língua anterior que fomos perdendo à medida que o mundo foi deixando de ser nosso."
In Venenos de Deus, Remédios do Diabo, Mia Couto

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

British Pathé

Em dia de campanha autárquica (so boring!) misturada com as celebrações da implantação da República, descubro isto: "(...) the world's first finest digital news archive" (or at least, that's what they say...)

Boa Semana




domingo, 4 de outubro de 2009

O Evangelho Segundo Clarice


 Shiori Matsumoto

"Entre duas notas de música existe uma nota, entre dois factos existe um facto, entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam existe um intervalo de espaço, existe um sentir que é entre o sentir – nos interstícios da matéria primordial está a linha de mistério e fogo que é a respiração do mundo, e a respiração contínua do mundo é aquilo que ouvimos e chamamos de silêncio."
in A Paixão Segundo G.H.

Lullaby de Domingo

 

Uma faixa fabulosa, ainda que a lírica seja algo irascível.
Para além da voz da menina, que é muito ao meu gosto.
 

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

O problema não é/era a Maria de Lurdes

Já antes havia escrito por cá: o problema do Ministério da Educação não estava somente na figura de Maria de Lurdes, e por isso sempre me fez confusão que se clamasse pelo seu, vá, despedimento. É aquela velha história de se mudarem as moscas, mas o restante não. Ora, aqui o restante é mesmo Sócrates. E os rumores que por aí andam são realmente risíveis, mas a verdade é que são irrelevantes. Venha quem vier, com este homem a ***** é sempre a mesma.

Confesso que fiquei deliciada com a ideia de a pasta ser entregue a Margarida Moreira. Por um lado, era para esta gente aprender a não colocar os ovos debaixo da mesma galinha (se bem que a galinha do vizinho também não fosse grande chocadeira).