domingo, 31 de outubro de 2010

"Sou o que quero ser"

Ao ler esta notícia, lembro-me do que sempre aprendemos sobre as mulheres: que são frágeis, que são emocionais, que não são feitas para trabalhos deste género. Coitadinhas. E se já antes conhecemos mulheres que atestam que esta condescendência é falaciosa (lembram-se da polémica da entrada das mulheres nas forças armadas?), temos agora esta mulher, de 20 anos, a assumir um cargo que todos/as sabem ser perigoso. Torçamos por ela e não esqueçamos o seu nome e o seu rosto.

*Título roubado a Clarice.

Lullaby de Domingo


Há que perceber o seguinte: só sou bem mandada de mim mesma. Não tenho por hábito obedecer a déspotas. Nem à direita nem à esquerda.

sábado, 30 de outubro de 2010

Bastaram Alguns Telefonemas

Finalmente percebe-se o amuo de meados da semana. É que era mesmo preciso fundamentar todo aquele discurso do Cavaco sobre como é peça fundamental para a salvação do País. O Governo e o PSD lá lhe fizeram a vontadinha e agora passa-se de fininho a ideia de que o homem teve dedo na coisa:


(imaginar Teixeira dos Santos e Eduardo Catroga comovidos com o fado de Cavaco)

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Olha, rolou cá para baixo novamente

 (Ticiano)

A recandidatura que todos/as nós sabíamos que ia acontecer está aí. E porquê? Não é que realmente quisesse: Cavaco sacrifica-se pelo País, Cavaco vai salvar o País. 
As mesmas promessas messiânicas de há 4 anos atrás. Ficamos todos/as muito mais descansados/as com tanto fervor patriótico do homem que pouco se fez notar nos anos de Presidência (e quando se fez notar, foi o que se viu). Carregou nos últimos quatro anos com a crise nos ombros, qual Sísifo, Portugal acima. Ao que parece, voltou tudo ao início. Minto, está substancialmente pior. Mas já se sabe que é o homem certo. Afinal de contas, há melhor que um economista para presidir a um País em crise? Temos visto...

terça-feira, 26 de outubro de 2010

"Le meilleur point de vue"

Aquele que é o meu texto de Derrida está finalmente traduzido. Por Fernanda Bernardo. Publicado pela Fundação Calouste Gulbenkian (capa do livro aqui ao lado).

Divergências conceptuais

Sobre isto, mantenho um saudável diálogo com Jools; eu sou do clube do caríssimo Funes. Já Jools é um acérrimo defensor de que um alargamento do prazo limite até cerca de 3 anos (após a data indicada) é perfeitamente aceitável. O critério passa pelo aspecto da coisa...

"Piquenos" enganos

Indicar o Google (imagens) como fonte é equivalente a indicar como referência bibliográfica a Biblioteca Municipal do Funchal.

domingo, 17 de outubro de 2010

Lullaby de Domingo


Dedicada à minha direcção de turma (teremos uma longa conversa).

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

E depois acontece isto, caros/as amantes do acordo ortográfico

 (a imagem aparece com link quebrado, pelo que não é possível determinar a proveniência)

Facto continua a ser facto, na medida em que apenas desaparecem as consoantes mudas. Mas há jornais e revistas que alegremente cortam tudo e todas. Já parecem a Rainha de Copas da Língua Portuguesa.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

A Verdadeira Vocação

Na avaliação de Professores/as , dá-se especial ênfase ao verdadeiro intuito de tal carreira: a leccionação e tarefas relacionadas com esse acto (veja-se o caso da publicação de manuais escolares, por exemplo) não é tão válida quanto outras modalidades assaz pertinentes para o ensino em Portugal: primeiro o trabalho de deputado/a, autarca ou dirigente sindical. Só depois a ralé, os que ficam nas escolas e "só" leccionam.
Chamam-lhes cargos de reconhecido interesse público. Percebe-se a distinção: é que leccionar obviamente não é um cargo de interesse público, excepto quando se trata de perorar sobre a avaliação de quem o exerce.

Baile de Máscaras - o PCP que temos (e por vezes esquecemos que temos)

 (imagem daqui)

O Partido Comunista Português, que reclama a luta pela Liberdade para seu feudo, faz comunicados destes, a lamentar a atribuição do prémio nóbel da Paz a Liu Xiaobo. Ao que parece, ao PCP não fazem impressão os regimes ditatoriais; ou melhor, apenas tem pruridos em relação aos que não são da sua cor política. 21 anos depois, Tiananmen torna a desvelar o rosto que por vezes esquecemos estar lá.

domingo, 10 de outubro de 2010

Lullaby de Domingo


"Insinuo o «coração partido» e o «amor» e alguma ordem misteriosa do Universo, mas 'I dare not speak it's name" (...). Porquê? Por medo de diluir o seu sentido, nomeando-a, ou por medo de deixar de acreditar, depois de repetir a mesma coisa, concerto após concerto, ou por medo de que aquilo se torne um cliché. "

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Viva o Regabofe!

Claro que para quem governa este país, o facto de 'o povo' (seja lá o que isso for! E, please, poupem-me à definição da CRP ou de um Dicionário!) se concentrar nos que já pouco podem traz vantagens óbvias. Enquanto 'o povo' se entretém a gastar munições contra as minorias étnicas, contra @s beneficiários do Rendimento Mínimo de Inserção (ess@s ladrões que nada querem fazer!), contra @s desempregad@s (esses que nada querem fazer!), os institutos públicos vivem à grande e à francesa. Os convites da festa do 20º aniversário da ANACOM (tinha que ser uma coisa a sério, afinal de contas, só se tem 20 anos uma vez) devem ter sido bordados pelas  mesmas virgens cegas que bordam alguns diplomas universitários....  pois custaram 12 mil euros... o que é isso nos dias que correm, em que se cortam abonos de família a quem ganha 630€....????
Para se rirem daquilo que as entidades públicas afirmam ser "compras transparentes de acordo com o código das compras públicas" e dentro da total legalidade, á favor visitar e explorar o base.

Liu Xiaobo


Nós homenageamos-te.
a ti, e a tod@s @s que sobreviveram à perseguição de um regime que insiste em matar a própria população.
E também aos que ofereceram o corpo em sacríficio por uma liberdade sonhada.
@s mort@s de Tiananamen ainda não foram suficientemente chorad@s.



O Povo que temos 2

Nos jornais portugueses, a notícia de que o Nobel da Paz será entregue a Liu Xiaobo tem indignado inúmeros leitores, que consideram um ultraje que tal prémio seja entregue a um desobediente. Preso, ainda por cima, porque não consegue ficar calado e desobedece ao Estado e promove manifestos e horrores do género. Há que encarneirar, senhoras e senhores. Sobretudo encarneirar.

O Povo que temos 1

Dos argumentos mais extraordinários que já ouvi sobre o desastre que seria a eleição de Manuel Alegre para PR, ressalvo o seguinte (cito de memória): o senhor não é bom para o cargo porque não é obediente nem disciplinado. Desobedece ao partido e isso, claro, não pode ser uma virtude nos tempos que correm. Há que encarneirar, senhores e senhoras.
If you are lonely when you're alone, you are in bad company.
Jean-Paul Sartre 
Picture by Henri Cartier-Bresson

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Contos Exemplares


"I Dare Not Speak It's Name"

Esta semana a Visão justifica o preço que por ela é pago. Na página 114.

O homem pássaro está entre vós: falou-vos no passado dia 1 de Outubro e toca esta noite na Aula Magna, também para vós . O vós só é extensível a quem está no Continente, especialmente a quem está por Lisboa (porque estar no Continente não basta e há quem trabalhe amanhã cedo e não possa ter o luxo de se deslocar até à Aula Magna e depois regressar calmamente a casa).  O homem pássaro está entre vós e desconfio que vos falou da mesma forma sublime como compõe e  como escreveu uma belíssima crónica que justifica o que se paga pela Visão (esta semana). E eu, esmagada pela inveja de apenas lhe beber as palavras escritas e a nada mais ter direito.

(a próxima lullaby será dele)

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

A ignorância Atrevida

Ouço Miguel Sousa Tavares (MST) garantir assertivamente, no Jornal das 9, na SIC, a inexistência de monarquias ditatoriais. Talvez não fosse má ideia, sei lá, mandar-lhe umas informações das ONG's de Direitos Humanos sobre... as monarquias (na visão dele tão democráticas) da Arábia Saudita, do Camboja, da Tailândia, do Brunei, Omã, dos Emirados Árabes Unidos.... A ignorância é triste, mas a ignorância atrevida é insuportável! MST diz estas incorrecções sem qualquer pudor. Sem qualquer reconhecimento pela responsabilidade que é ser um personagem que tem acesso ao espaço público de forma privilegiada. Não preciso de ver um telejornal para ouvir o que MST disse: já o ouvi anteriormente (por parte de alguns defensores do regime monárquico). É curioso como uma ideia se pode perder no caminho sinuoso dos argumentos e de quem os recebe. Não entendo esta defesa da monarquia baseada na alegada 'inexistência de ditaduras monárquicas' - o que, para além de ser uma incorrecção - não invalida que as monarquias europeias tivessem tido períodos de regimes ditatoriais. Sou republicana porque não concebo a ideia de que alguém ganhe o direito de representar/e/ou governar a nação apenas porque nasceu numa determinada família [terá por certo as suas vantagens - encontram-se, naturalmente, prós e contras no facto de se educar alguém (de nascença) para as tarefas de representação do reino (consoante o tipo de monarquia pode ser bem mais que representação)]. Mas voltando o foco aqui para o rectângulo, e pensando no papel do PR: sim, apesar de todos os constrangimentos existentes na eleição de um(a) PR (apenas as personalidades escolhidas pelos partidos podem ser eleitas na prática e, os partidos mais fortes - mais ricos -, têm mais hipótese que os outros) - apesar destas (e de outras questões que fragilizam a eleição de um representante da nação e outras que fragilizam o próprio regime em si), continuo a preferir um regime onde eu possa escolher quem me representa. A ideia das castas e dos privilégios e obrigações à (por) nascença carece de algum tipo de crença no destino - da qual eu sou desprovida. É claro que, reconheço a existência de castas (de famílias, de profissões, partidárias, etc.) no regime republicano democrático em que vivemos. Claro, e pior que isso, existem privilégios quanto ao número de nomes que @s descendentes da ex-família real podem usar (privilégios esses que não são extensíveis aos restantes cidadãos). Dizia MST que "foi um erro esconder o que foi a 1.ª República: que se acha que se instituiu o sufrágio universal, a inclusão das mulheres na política, a promoção da educação". Não sei com quem anda MST a falar, mas eu soube há já alguns (bastantes) anos que as mulheres acederam - timidamente - aos lugares de eleição e eleitoras já durante o Estado Novo. O que se sabe é que a Iª República prometeu o voto às mulheres republicanas e que lho retirou logo após a médica Carolina Beatriz Ângelo ter exercido o seu direito de voto (não sem antes a questão do recenseamento ter ido a tribunal). Por isso se costuma dizer que a Iª República traiu as mulheres sufragistas. E se falhou no número de escolas que implementou (porque não cumpriu o seu plano para a educação), lembremo-nos que a monarquia já contava com alguns séculos sem tentar - tão pouco - democratizar o ensino. As coisas são como são, mas eu gostava, sinceramente, que @s monárquic@s deste país dissessem mais em prol da defesa do regime que acreditam ser melhor para o país, para além de se queixarem do dinheiro gasto na representação da República (na Monarquia devia ser menos, com certeza...), ou no facto de algumas personalidades da República terem mais privilégios que ele@s (não é que tod@s nós, é del@s!) - como se o mesmo não acontecesse na monarquia... Depois, claro, para não ajudar, ainda há aquela gente que gosta de usar palavras light como nomes próprios e nomes de peso nos apelidos, a quem as revistas cor-de-rosa acompanham com títulos de baronesa, duque, e aparentados. Esses trataram de ridicularizar qualquer réstia de dignidade à coisa.

Picture by Diane Arbus

Boa Semana

sábado, 2 de outubro de 2010

Lullaby de Sábado


(lullaby de sábado para DE)

Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles. Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração. Como eles admiravam estarem juntos!
 Clarice Lispector