(fotografia de Enric Vives-Rubio, publicada na notícia do Público)
Demagogia é uma palavra gasta, já que à mínima os intervenientes políticos são considerados demagogos quando tomam alguma medida que contrarie o usual; ultimamente foram acusados Rui Barreto (deputado na Assembleia da República pelo CDS-PP Madeira), pelo facto de o seu voto contra o orçamento não ter consequências na sua aprovação, e Maximiano Martins, pelo facto de ter vindo esclarecer que não acumulará o salário de deputado da Assembleia Legislativa Regional com a reforma da CGD. Na minha perspetiva, em nenhum dos casos estamos perante o uso de demagogia; no entanto, os detratores a todo o custo bradam aos céus e gritam por demagogia.
No entanto, ainda nada ouvi sobre o que se passou esta manhã na Universidade Nova e com a participação daquele que insiste em ser Primeiro-Ministro deste País, apesar da contestação generalizada de quem o elegeu (sim, eu sei que essa contestação não se traduz na Assembleia da República).
Todos nós, contribuintes, pagamos pela equipa de segurança do Primeiro-Ministro. Este é, diria, um serviço fundamental para assegurar a integridade dos elementos que integram os nossos Órgãos de Soberania. Contudo, o que se passou no seminário da Universidade Nova não foi, claramente, uma questão de segurança. Um grupo de estudantes, em silêncio, ostentou uma faixa que exigia a demissão do orador do cargo de Primeiro-Ministro. Em momento algum esteve em causa a segurança e a integridade física do palestrante. E, no entanto, a equipa de segurança (paga pelos contribuintes - e consequentemente também por quem ostentava a dita faixa) tentou coagir o grupo a baixá-la. Numa atitude absurdamente (aqui sim) demagógica o orador, que também é o ainda Primeiro-Ministro, pediu aos responsáveis para não continuarem a pressionar os manifestantes porque «vivemos, felizmente, numa situação de boa saúde da nossa democracia, e não vemos nenhuma razão para que os senhores não possam ostentar as faixas que entenderem». Os senhores e as senhoras, acrescento eu, que entre os estudantes estavam também mulheres.
O problema não está, obviamente, nesta afirmação. O problema está na necessidade de ter sido proferida aos microfones daquela universidade e naquela situação. Porque naturalmente a equipa de segurança deveria estar devidamente preparada para intervir apenas em caso de perigo quanto à segurança do Primeiro-Ministro. Mas parece que não (sendo que esta não foi a primeira intervenção do género, como recentemente se viu também num outro estabelecimento de ensino). Portanto, do meu ponto de vista, o paternalismo insuportável de Passos aos microfones da Universidade Nova é um gesto vazio, hipócrita, de quem se comporta em público de forma diferente do que diz em privado (em função do facto de aqueles seguranças julgarem que a intervenção neste caso fazia parte do cumprimento do seu dever). E isto em nada atesta que vivemos «numa situação de boa saúde da nossa democracia». Mas isso, também já o sabíamos.
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