Ao que parece, devo ser das poucas que nunca leu Isabel Alçada e só sabe vagamente em que consiste a colecção Uma Aventura; portanto, até agora, apenas sabia que a senhora tinha escrito uma catrefada de livros juvenis nos quais nunca pus olhinhos. Obviamente que li literatura juvenil; recordo-me das leituras a más horas das colecções Colégio das Quatro Torres e d Patrícia. Esta última foi decididamente a minha paixão mais violenta; era viciada na miúda ruiva e sardenta que andava com um grupo de amigos e um cão em actividades detectivescas (e que obviamente nunca tive a sorte de me acontecerem). A veneração prolongou-se até por volta dos meus 12 anos e até aí reuni todos os livros que consegui apanhar (ano após ano constavam da minha lista de presentes a pedido nos anos e no Natal). Recordo a ofensa que foi ouvir a alguém que aquela paixão haveria de passar. O ultraje foi enorme e secretamente jurei nunca trair a autora de Patrícia, nem a Patrícia, nem o Tim, nem todos os outros. Ao fim de tantos anos, não recordo quem escreveu, nem me lembro da maior parte das personagens. Relego Patrícia apenas para a minha infância e sei que é uma heroína datada.
Por tudo o que desinspiradamente expus anteriormente, não percebo o entusiasmo quase unânime com a mudança para Isabel Alçada. Não compreendo como pessoas adultas colocam esperanças numa pessoa única e exclusivamente porque fez parte do seu universo infantil; ainda que importante, o facto de ter escrito livros juvenis não lhe confere mais ou menos competências para exercer o cargo que agora inicia. Não me interpretem mal; não condeno a senhora por tê-los escrito, nem tão pouco vaticino um desempenho menos brilhante porque os escreveu. Apenas não consigo vislumbrar qualquer correspondência entre o que escreveu e o cargo que agora ocupa. Prefiro esperar para ver.
Confesso que me preocupa o facto de a saber crente em Sócrates.