(O título do post, já utilizado anteriormente aqui, foi roubado à Isabela.)
Um programa numa estação televisiva sobre mulheres, com mulheres à conversa. Com carreiras e vivências diferentes. Mulheres com família*, com compromissos, empregos exigentes e entidades patronais ainda mais. Todas consensuais, quando afirmam que estar apenas em casa as encheria de nada.
O curioso da conversa reside no facto de todas jurarem a pés juntos que nunca sentiram qualquer dificuldade, por serem mulheres, no que diz respeito às suas vivências profissionais. Sinto-me aliviada e começo a cogitar que eventualmente estou mais errada do que penso, no que diz respeito a esta questão.
O discorrer da conversa faz-me voltar atrás. A exemplificar a equidade, puxam triunfantemente do exemplo universitário: são mais as mulheres na universidade que os homens! Portanto, essa coisa da discriminação é passado. Pergunto pelo depois, ciente de que não formularão a pergunta e muito menos procurarão a resposta. Algumas perguntas incomodam as consciências bem intencionadas (e descansadas). Perguntar demasiado solta pontas ao bordado e convém que este permaneça impecável.
Recuo ainda mais quando ouço uma das entrevistadas, seguramente mais velha que eu uma década, assegurar que ainda é do tempo em que havia alguma depreciação em relação às mulheres. Num País em que há 38 anos a Mulher necessitava da autorização do Marido para transpor a fronteira e em que somente há 33 (portanto, do tempo da entrevistada e quase do meu) foram abolidas todas as restrições quanto ao voto feminino, num País com elevados níveis de violência doméstica, em que determinadas entidades patronais ainda diferenciam os índices salariais em função do sexo, em que muitas famílias continuam a diferenciar a educação entre meninos e meninas (as meninas educam-se para tomar conta de uma casa, os meninos para tomar conta de uma esposa), ouço uma mulher afirmar que em tempos idos havia alguma depreciação em relação ao género feminino. Em que País cresceu ela, que certamente não foi o meu? Em que País vive presentemente a senhora?
Continuamos a aprender a lição toda, não é?
*Que é isso de mulheres (ou homens) DE família?
quinta-feira, 16 de agosto de 2007
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6 comentários:
Ora, cresceu no país que, há pouco mais de cem anos, abriu as portas das universidades ao belo sexo, apesar de estas estarem abertas para o sexo masculino desde a sua (a da Universidade) existência. Cresceu no país onde, durante esse período de tempo, as mulheres se tornaram - à semelhança de outros países - o grupo mais letrado. Onde o belo sexo demora menos tempo a concluir um curso superior e sai da universidade com melhores notas. Claro que, para compensar tanto esforço, nesse mesmo país, o grupo do belo sexo é o que demora mais tempo a conseguir o 1º emprego, e o que permanece mais tempo desempregado. Claro que, neste país onde @s cidadãos já interiorizaram todas as dimensões da igualdade formal, o tempo que os elementos do sexo masculino dedicam às tarefas domésticas em casa é inferior ao que dedicam ao tempo a si próprios na casa de banho e no ginásio. E no final de contas, o importante, é que, ainda que nos peçam para ir buscar café - durante uma reunião de trabalho onde somos a única mulher, nos levantemos de sorriso afivelado e mostremos que, vamos porque queremos, porque colaboramos, somos superiores a essas coisas. E afinal de contas, que mal tem sermos nós a servir o sexo forte? Feminismo? Ah! Isso é coisa de tipas hirsutas e com falta de peso (a anorexia, como sabes, é um mal que grassa sobretudo os corpos das mulheres - a julgar pela expressão, acabei por aprender que atinge, em particular, os das feministas)!
pois é.
O problema é que na cabeça de grande parte das mulheres ainda imperam muitas ideias machistas.
Cada vez tenho tenho mais amigas mulheres (uma redundância...)e considero isso um bom sinal, mas ainda vejo tantas anormalidades de pensamento à minha volta...
Eu tenho um filho de 10 anos (um rapaz fantástico) e "esforço-me" para que ele não venha a adquirir determinadas mecanismos de pensamento. Às vezes parece que estou a conduzi-lo numa corda bamba.
(até já ando a ensiná-lo a cozinhar!:))
Concordo com o que dizes Ana. Só acrescentaria que também na cabeça das mulheres existem algumas ideias machistas. O que é normal (para nus e para outros, como é óbvio. Desmontamos lentamente um intricado emaranhado de padrões culturais que perpetuamos quase sem pensar.
tens razão sim. de facto não me posso excluir; algumas situações haverá das quais nem me apercebo certamente.
bj.
woab, o teodolito era eu...desculpa.
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