segunda-feira, 16 de julho de 2007

Do poder do BCE

Dizem que o dinheiro não traz felicidade. Pode ser. Mas tenho para mim, que dá outra cor, outro cheiro à infelicidade. Esta (a infelicidade) - por muito que me tentem convencer do contrário -, escolhe classes e castas, sim senhora. E tem umas bem em melhor conta que outras. Um rico deprimido compra um cruzeiro, bronzeia o couro nas bahamas ou numa outra qualquer ilha paradisíaca, o da classe privilegiada pela infelicidade pousa os pés nas praias da linha - se tiver dinheiro para o comboio; lava o pêlo no chafariz comum do bairro, que há muito que se sabe que a água é um bem escasso. Um próspero desanimado pode procurar um tesouro nos territórios incas ou nas pirâmides do México ou escolher ver o metal dourado no Museu do Ouro na Colômbia, em vez de se contentar em olhar pelas montras de uma qualquer ourivesaria da rua da prata. Pode gabar-se de conhecer as cores genuínas dos quadros dos pintores famosos. Sabe de cór os museus com os maiores escultores do século e até pode regalar-se com as melhores bibliotecas de todo o mundo. Quando o desalento bate à porta de um milionário este pode atirar-se aos melhores pratos do mundo, escolher ir à janela em vez da coxia ou apanhar um autocarro apinhado. Um abatido endinheirado vai buscar a sua cura a uns mergulhos turísticos nas águas gélidas do Titanic. Perde a graça dos mergulhos ali do cais da rocha, podem dizer. Pois claro, que as águas castanhas do rio também têm o seu encanto. Sobretudo o desafio de dizer que o pobre também combate a infelicidade - tem é um bocado mais de trabalho. Tenho para mim que o dinheiro traz outra cor à infelicidade. Outro cheiro. Não que a praça do Rossio não sirva de regalo - mas para turista, que para quem lá mora, os fontanários e o dona maria já perderam a graça de tanto olhar para o mesmo. Acima de tudo, traz o poder de escolha. Da escolha de um tratamento médico em vez de outro, de uma carreira em vez de nenhuma. E isto, caríssimos, faz toda a diferença.

3 comentários:

Woman Once a Bird disse...

E a depressão nunca sabe tão bem quanto ao endinheirado. Ai, anos e anos de psicanálise; o culto do divã.

feniana disse...

gostei das ironias desta reflexão.
gostei, particularmente, do"próspero desanimado"!

Anónimo disse...

eu costumo a dizer que o da classe privilegiada da infelicidade faz, no tempo de férias de Verão, piquenique e praia ao mesmo tempo e, se possível, perto de casa.