De regresso a casa, recordo-me dele(s) porque vislumbro um altivamente sentado a afinar as cordas sedosas do pêlo.
Terei certamente outros gatos. Os nomes dos gatos amaldiçoam-se, e as pegadas dos predecessores assombram os seguintes.
O primeiro Cupido não era meu, mas ajudei a dar-lhe nome. Preto e vadio, como este outro. Não nasceu em ilha, porque era gato de bairro a feder a mofo, de casas altas de soalho podre. Cupido sénior era o marialva da travessa, provocador nato dos outros gatos das redondezas, engatatão das gatas mais aristocratas.
Convencido que era lorde, regressava a casa onde sabia ser pacientemente esperado. Trazia amigos, que em desespero morreram-nos nos braços; trazia inimigos, que num golpe bem calculado ainda o conseguiam puxar ao postigo. Cupido do Mondego era um verdadeiro estudante, sempre em fuga dos acéfalos que de capa e batina lhe queriam ensinar a palavra caloiro. Nunca lhe bateram nas unhas, mas apanharam-lhe diversas vezes o lombo e foi sempre salvo por mulheres. Por nós.
Perdi-o quando saí da viela. Cupido ficou, pertença de outras que por lá também ficaram. Amei-o como se fosse meu ao ponto de, anos mais tarde, ao encontrar na ilha dentro da ilha outro com aquele mesmo ar de mafioso, não resistir a repetir-lhe o nome. Outro negro cintilante com sede de rua não poderia ser de forma diferente.
Também lhe perdi o rasto. Nunca mais repito nomes aos gatos.
terça-feira, 12 de junho de 2007
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6 comentários:
Mas conseguirás ter um gato preto com outro nome?
Não tinha lido o outro post. Gostei muito dos dois.
Não sei se conseguirei ter outro gato preto.
Cupido dizia "remimau", un chat très chic.
aliás era "reminhau"
Mais uma vez...
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