quarta-feira, 29 de janeiro de 2014




Isso não é verdade (para além de ser um argumento totalmente idiota).

O Estado proíbe a condução a pessoas sem habilitação legal e que estejam sob efeito de um determinado valor de substância alcoolizante ou estupefaciente. Aliás, é precisamente porque «morrem pessoas nas estradas» e com o objetivo de dissuadir certas condutas consideradas perigosas para si e para os/as outros/as, que o Estado as criminaliza. Adicionalmente, pode haver cassação da carta de condução... portanto, sim, proibe-se muita gente de andar na estrada! Mais, a ignorância da lei (desconhecer que sem um título legal não se pode conduzir) não inibe a culpa (embora a possa atenuar) pelo crime. E sim, dependendo do grau de intoxicação e do comportamento do/a condutor pode ser crime, e portanto, ser punido com pena privativa da liberdade, que é como quem diz, cadeia. 

Há coisas fantásticas, não há?

As pessoas às vezes dizem cada coisa. Se o administrador não é favorável à proibição da praxe (e está no seu direito) então que defenda a sua convicção com argumentos... sei lá, intelectualmente honestos e, já agora, racionais.


sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Oh Boy




A sessão de abertura da Mostra de Cinema de Expressão Alemã - Kino (cinema, em alemão), organizada pelo Goethe Institut - continua a  proporcionar excelentes serões no São Jorge. 

Depois de Barbara (as idiossincrasias, tensões e contradições de uma alemanha dividida), de Almanya (filme maravilha sobre uma família turca a viver há duas gerações na terra da Angela Merkel, cujo patriarca decide fazer uma viagem familiar ao país do Atartürk); Drei, que como o próprio nome indica, relata o encontro e (reencontro) de três pessoas que se relacionam romanticamente (esqueçam as estórias de um gajo que trai a mulher ou da gaja que trai o marido. Este não é um filme de triângulos em que há uma pessoa traída e outra que trai. Esta é uma estória fantástica ao agrado da comunidade poliamorosa) e de Same same but different (a história de Benjamin Prüfer baseada num episódio marcante da sua vida), eis que a Kino traz para o ecrã do São Jorge (e, pela primeira vez, para o Teatro do Campo Alegre no Porto, e para o TAGV em Coimbra), Oh Boy, um filme a preto e branco, com um Tom Schilling verdadeiramente entregue à tarefa de fazer viver Nico Fischer, esse trintinho alemão que não sabe bem o que fazer à vida.

Para além das bandas sonoras (os filmes alemães que vi são um bom exemplo de como uma banda sonora bem escolhida pode melhorar substancialmente a experiência de assistir ao desenrolar de uma estória), os filmes selecionados para abrir as Kino refletem muito da vivência alemã. Apesar de o Drei se poder passar em qualquer país ocidental (sobretudo do norte da Europa), e de a nacionalidade do rapaz do Same same but different facilmente se poder alterar sem adulterar o conteúdo da história, a verdade é que há imensos detalhes que só poderiam passar-se na Alemanha. As reações dos clientes do bar (Oh Boy) onde o velho faz a saudação hitleraiana não poderiam ocorrer noutro local que não na Alemanha. A narração da noite de cristal também não.

Contudo, a Kino é uma mostra de cinema de expressão alemã e não de cinema alemão (apesar de este post poder indiciar outra coisa, mas apenas me refiro a filmes de abertura) e, portanto, as películas em exibição podem ser suiças, luxemburguesas, austríacas e alemãs). Portugal, o Brasil, Timor e os PALOP nunca poderiam fazer uma coisa destas, pois não? Estamos demasiado concentrados/as em provar como o português europeu é melhor que o do Brasil e ignoramos magistralmente Timor e qualquer país dos PALOP. Não, o alemão que se fala no cantão alemão da Suiça, evidentemente, não é igual ao que se fala em Berlim. Aliás, duvido muito que o que se fala em Berlim seja igual ao que se fala em Bona. O português padrão - que se ouve na televisão e nos media - não representa todos/as os/as falantes. A língua é muito mais rica do que aquilo que os media (e alguns/mas intelectuais) nos fazem (querem fazer) crer.


terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Sedução

This isn't happiness


Durante anos (na verdade, séculos), a legislação portuguesa previa o crime de estupro, o qual consistia na relação sexual (ou melhor, na cópula) consentida - e conseguida - através de sedução. Ora, por causa disto, os nossos doutos juízes discorreram linhas e linhas acerca do que seria «seduzir alguém». Alguns sustentavam que sedução seriam atos de «fraude ou engano». Ou seja «um processo de determinar alguém a praticar uma ação contrária ao seu dever ou aos seus interesses, e que, sem a sedução, não teria praticado».

E eu estou aqui a pensar que uma sociedade que acredita e define sedução como um processo com vista à manipulação é uma sociedade com muito pouca imaginação.


segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Runião geral das pessoas que dizem tufone

The GatheringGlen Tarnowski


Eu bem sei que a Língua é um organismo vivo e, portanto, em permanente mudança. Que o que dita a curva da fertilidade lexical é o uso que os/as falantes fazem da sua Língua. Também estou ciente que é provável que, daqui a uns anos, quinhentas gramas se tenha tornado na fórmula correta, apesar de, atualmente, a palavra [grama] ser (ainda) do género masculino.

Mas estou convicta que no dia em que, por insistência de alguns/mas cidadãos/ãs,  os telefones passarem a tufones e as reuniões a runiões  ter-se-à prestado um estranho [péssimo] serviço à Língua portuguesa.