sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Oh Boy




A sessão de abertura da Mostra de Cinema de Expressão Alemã - Kino (cinema, em alemão), organizada pelo Goethe Institut - continua a  proporcionar excelentes serões no São Jorge. 

Depois de Barbara (as idiossincrasias, tensões e contradições de uma alemanha dividida), de Almanya (filme maravilha sobre uma família turca a viver há duas gerações na terra da Angela Merkel, cujo patriarca decide fazer uma viagem familiar ao país do Atartürk); Drei, que como o próprio nome indica, relata o encontro e (reencontro) de três pessoas que se relacionam romanticamente (esqueçam as estórias de um gajo que trai a mulher ou da gaja que trai o marido. Este não é um filme de triângulos em que há uma pessoa traída e outra que trai. Esta é uma estória fantástica ao agrado da comunidade poliamorosa) e de Same same but different (a história de Benjamin Prüfer baseada num episódio marcante da sua vida), eis que a Kino traz para o ecrã do São Jorge (e, pela primeira vez, para o Teatro do Campo Alegre no Porto, e para o TAGV em Coimbra), Oh Boy, um filme a preto e branco, com um Tom Schilling verdadeiramente entregue à tarefa de fazer viver Nico Fischer, esse trintinho alemão que não sabe bem o que fazer à vida.

Para além das bandas sonoras (os filmes alemães que vi são um bom exemplo de como uma banda sonora bem escolhida pode melhorar substancialmente a experiência de assistir ao desenrolar de uma estória), os filmes selecionados para abrir as Kino refletem muito da vivência alemã. Apesar de o Drei se poder passar em qualquer país ocidental (sobretudo do norte da Europa), e de a nacionalidade do rapaz do Same same but different facilmente se poder alterar sem adulterar o conteúdo da história, a verdade é que há imensos detalhes que só poderiam passar-se na Alemanha. As reações dos clientes do bar (Oh Boy) onde o velho faz a saudação hitleraiana não poderiam ocorrer noutro local que não na Alemanha. A narração da noite de cristal também não.

Contudo, a Kino é uma mostra de cinema de expressão alemã e não de cinema alemão (apesar de este post poder indiciar outra coisa, mas apenas me refiro a filmes de abertura) e, portanto, as películas em exibição podem ser suiças, luxemburguesas, austríacas e alemãs). Portugal, o Brasil, Timor e os PALOP nunca poderiam fazer uma coisa destas, pois não? Estamos demasiado concentrados/as em provar como o português europeu é melhor que o do Brasil e ignoramos magistralmente Timor e qualquer país dos PALOP. Não, o alemão que se fala no cantão alemão da Suiça, evidentemente, não é igual ao que se fala em Berlim. Aliás, duvido muito que o que se fala em Berlim seja igual ao que se fala em Bona. O português padrão - que se ouve na televisão e nos media - não representa todos/as os/as falantes. A língua é muito mais rica do que aquilo que os media (e alguns/mas intelectuais) nos fazem (querem fazer) crer.


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