O homem que escolheu o que eu haveria de fazer na vida foi o mesmo que me feriu o orgulho de morte numa das suas aulas. Quando recebi o primeiro teste, não queria acreditar. Para além das advertências normais, um outro pormenor abalou o meu edifício: todo o teste estava pintalgado na palavra análize. E eu tinha a certeza de que a minha análize era a correta, de que a minha análize era motivo de orgulho. Mas não, ele havia desenhado um vergonhoso s curvilíneo por cima dos meus orgulhosos z's. Apesar de adolescente, já havia aprendido que antes de ripostar, o melhor é confirmar. E quando consegui confirmar, o meu espanto não poderia ter sido maior. Efetivamente, análize nunca mais deveria ser redigida com z.
Durante vinte anos, grafei religiosamente a palavra como havia aprendido com o professor de filosofia que não alegava, como tantos outros, que não era professor de português. Ontem, no quadro, grafei inexplicavelmente a palavra como se tivesse 15 anos e ainda não tivesse recebido aquele primeiro teste. Desfiz-me em pedidos de desculpa, enquanto o queixo me tremia de raiva pelo incompreensível retrocesso. Nem sei como fui capaz. É que hoje, ao redigir este post, tive que esforçar-me para conseguir escrever a palavra como se não tivessem passado vinte anos desde que aprendi a escrevê-la. Exceto ontem em que, mais uma vez, uma aula de filosofia foi palco da minha vergonha.
1 comentário:
Nunca é vergonha dizer, escrever ou fazer asneiras. Vergonha é não termos a humildade de assumir que errámos.
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