domingo, 9 de março de 2008

A brasileira e o homem pobre

Ando entretida a tentar perceber (!) como é que na era dos testes de sangue e de ADN, os nossos tribunais ou a respectiva jurisprudência se sai com mimos destes: "(...) ouvido o presidente da Junta de Freguesia como forma de ajuizar o comportamento de Luísa, vem o mesmo correar aos autos afirmações pouco abonatórias da seriedade e honestidade dessa no campo sexual. Seguramente se conclui não haver prova que o indigitado Pedro seja o pai do menor" (extracto de autos de um processo de averiguação oficiosa de paternidade) Mas ao ler os comentários do Luís Lavoura a um post da Fernanda Câncio sobre a novela que opõe uma família adoptiva a um pai biológico, suspeitei que este fosse um dos juízes dos quais tenho lido algumas pérolas:

"A Fernanda não tem em conta duas coisas: que este caso se passa com uma brasileira e com um homem relativamente pobre.

Quando a mulher vai ter com Baltazar e lhe diz que está grávida dele, Baltazar pensa, muitíssimo legitimamente, que boa parte das brasileiras que vivem em Portugal são mulheres engatatonas, que ganham parte das suas vidas em prostituição e artes similares. Talvez seja maior a fama do que o proveito das brasileiras, mas é a fama delas. Então Baltazar raciocina que a mulher deve ter tido relações sexuais com muitos outros além dele, e que, embora até seja possível que a menina seja sua filha, não há grande certeza nesse sentido. E então decide não a perfilhar. É uma solução razoável, em minha opinião. A Fernanda saberá que estudos realizados em países desenvolvidos mostram que 10% das crianças não são filhas biológicas de quem julgam que são. No caso das brasileiras residentes em Portugal, talvez a percentagem seja maior.

Ou seja, Baltazar não tem qualquer obrigação de perfilhar uma criança quando tem fundadas suspeitas de que a sua mãe não é uma mulher séria.

Resumindo: Baltazar nada fez de errado, tendo em conta que é pobre - não se pode dar ao luxo de andar a pagar testes de ADN a crianças que, com boa probabilidade, não são suas - e tendo em conta que a mulher com quem se envolvera é uma brasileira. Ou seja, mais ou menos, uma puta." Caramba, este senhor é um génio! Como é que tal nunca me tinha ocorrido? A nacionalidade da mãe, bem como as condições económicas do provável pai são os elementos cruciais para averiguar a paternidade de uma criança. Sendo que, se a nacionalidade da mãe é o elemento mais fidedigno para comprovar a sua (tão crucial nos tempos que correm) honestidade sexual.

6 comentários:

Anónimo disse...

Para não ter mais dúvidas, Baltazar deveria ser castrado! Não só o Baltazar, mas também quem pensa como ele. Estorvos da sociedade.

Anónimo disse...

Desculpem-me, mas eu não tão má (quase que me apetecia ser).

Anónimo disse...

digo não sou tão

samya disse...

Quatro anos e meio morados em Milao e Roma:
Um ano morando com amigos pois uma brasileira que tem dinheiro suficiente para alugar uma casa sozinha é prostituta e para prostitutas o aluguel é mais caro.
Um cliente do restaurante que trabalhei por alguns meses como chefe da sala me perguntou quanto custava para passar a noite comigo.
Devo ter escutado pelo menos umas dez vezes por mês que a Italia é para os italianos.
Me disseram umas duas vezes que não entendiam porque eu tinha tantos amigos negros e até um namorado negro, ja que sou tão branquinha deveria arrumar um europeu para pelo menos melhorar a estirpe.
Queres que eu continue?
Eu gostaria de dizer que não me assusto com nada mais, mas nao é verdade, a discriminação me coloca de joelhos, eu não sei lidar com ela de forma fria e racional, viro logo um bicho e não preciso ser eu a discriminada.
Otima semana

Woman Once a Bird disse...

Minha querida Samya:
Também tenho muita dificuldade em não disparatar perante exemplos dos que constam do post e os que acrescentaste agora aqui.
É trabalho hercúleo, imperativo, este partir constante de calhaus.
E manter a compostura...
Um abraço. ;)

Anónimo disse...

Que cabecinhas medievas...

Cá está a educação.