Ando entretida a tentar perceber (!) como é que na era dos testes de sangue e de ADN, os nossos tribunais ou a respectiva jurisprudência se sai com mimos destes:
"(...) ouvido o presidente da Junta de Freguesia como forma
de ajuizar o comportamento de Luísa, vem o mesmo correar aos autos afirmações
pouco abonatórias da seriedade e honestidade dessa no campo sexual.
Seguramente se conclui não haver prova que o indigitado Pedro seja o pai do menor" (
extracto de autos de um processo de averiguação oficiosa de paternidade)
Mas ao ler
os comentários do Luís Lavoura a um post da Fernanda Câncio sobre a novela que opõe uma família adoptiva a um pai biológico, suspeitei que este fosse um dos juízes dos quais tenho lido algumas pérolas:
"A Fernanda não tem em conta duas coisas: que este caso se passa com uma brasileira e com um homem relativamente pobre.
Quando a mulher vai ter com Baltazar e lhe diz que está grávida dele, Baltazar pensa, muitíssimo legitimamente, que boa parte das brasileiras que vivem em Portugal são mulheres engatatonas, que ganham parte das suas vidas em prostituição e artes similares. Talvez seja maior a fama do que o proveito das brasileiras, mas é a fama delas. Então Baltazar raciocina que a mulher deve ter tido relações sexuais com muitos outros além dele, e que, embora até seja possível que a menina seja sua filha, não há grande certeza nesse sentido. E então decide não a perfilhar. É uma solução razoável, em minha opinião. A Fernanda saberá que estudos realizados em países desenvolvidos mostram que 10% das crianças não são filhas biológicas de quem julgam que são. No caso das brasileiras residentes em Portugal, talvez a percentagem seja maior.
Ou seja, Baltazar não tem qualquer obrigação de perfilhar uma criança quando tem fundadas suspeitas de que a sua mãe não é uma mulher séria.
Resumindo: Baltazar nada fez de errado, tendo em conta que é pobre - não se pode dar ao luxo de andar a pagar testes de ADN a crianças que, com boa probabilidade, não são suas - e tendo em conta que a mulher com quem se envolvera é uma brasileira. Ou seja, mais ou menos, uma puta."
Caramba, este senhor é um génio! Como é que tal nunca me tinha ocorrido? A nacionalidade da mãe, bem como as condições económicas do provável pai são os elementos cruciais para averiguar a paternidade de uma criança. Sendo que, se a nacionalidade da mãe é o elemento mais fidedigno para comprovar a sua (tão crucial nos tempos que correm) honestidade sexual.
6 comentários:
Para não ter mais dúvidas, Baltazar deveria ser castrado! Não só o Baltazar, mas também quem pensa como ele. Estorvos da sociedade.
Desculpem-me, mas eu não tão má (quase que me apetecia ser).
digo não sou tão
Quatro anos e meio morados em Milao e Roma:
Um ano morando com amigos pois uma brasileira que tem dinheiro suficiente para alugar uma casa sozinha é prostituta e para prostitutas o aluguel é mais caro.
Um cliente do restaurante que trabalhei por alguns meses como chefe da sala me perguntou quanto custava para passar a noite comigo.
Devo ter escutado pelo menos umas dez vezes por mês que a Italia é para os italianos.
Me disseram umas duas vezes que não entendiam porque eu tinha tantos amigos negros e até um namorado negro, ja que sou tão branquinha deveria arrumar um europeu para pelo menos melhorar a estirpe.
Queres que eu continue?
Eu gostaria de dizer que não me assusto com nada mais, mas nao é verdade, a discriminação me coloca de joelhos, eu não sei lidar com ela de forma fria e racional, viro logo um bicho e não preciso ser eu a discriminada.
Otima semana
Minha querida Samya:
Também tenho muita dificuldade em não disparatar perante exemplos dos que constam do post e os que acrescentaste agora aqui.
É trabalho hercúleo, imperativo, este partir constante de calhaus.
E manter a compostura...
Um abraço. ;)
Que cabecinhas medievas...
Cá está a educação.
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