domingo, 25 de novembro de 2007

vertigens

(de René Magritte)

"É natural que quem quer "elevar-se" sempre mais, um dia, acabe por ter vertigens. O que são vertigens? Medo de cair? Mas então porque é que temos vertigens num miradoiro protegido com um parapeito? As vertigens não são o medo de cair. É a voz do vazio por debaixo de nós que nos enfeitiça e atrai, o desejo de cair do qual, logo a seguir, nos protegemos com pavor. (...)Poderia dizer que ter vertigens é embriagarmo-nos com a nossa própria fraqueza. Temos consciência da nossa fraqueza, mas, em vez de resistir-lhe, queremos abandonar-nos a ela. Embriagamo-nos com a nossa própria fraqueza, queremos ficar ainda mais fracos, cair por terra em plena rua à frente de toda a gente, ficar por terra, ainda mais abaixo do que a terra."


Milan Kundera- A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DO SER.


9 comentários:

Woman Once a Bird disse...

Exactamente porque é uma fraqueza, é-nos impossível resistir. Resta apenas minimizar o golpe. Move on.

Anónimo disse...

Em vez de ser encarado sob o prisma das fraquezas, porque não pensar nesse caminho do "abismo" como uma das infinitas possibilidades que a cada momento nos surgem e que apenas não temos capacidade/coragem de furar o establishment social e avançar e viver plenamente essas mesmas possibilidades alternativas com alegria e felicidade ?
Porque nos havemos de manter tristemente ao cimo do precipicio, sempre a olhar com desejo de arriscar e de descobrir que "we all have wings but some of us don't know why".

Bayushiseni disse...

Há um perder a memória de se ter tido asas que me persegue desde a minha meninice.

Anónimo disse...

Pois, mas as asas continuam suas e apenas depende de si voltar a saber usá-las.

nuno disse...

e eu... que em pequeno abandonava-me de prédio em prédio... subindo e descendo andares do lado de fora... sem esforço... apenas suave deslizar...

talvez uma das faces da vertigem seja saber que somos de mergulho nas profundezas... e que toda a naturalidade é-nos rapidamente roubada...

que saudades dos sonhos de prédios brancos e estradas longas...

bartleby disse...

Embora muito goste de Milan Kundera, também não veria a coisa pelo lado da fraqueza, nem pela ideia das asas... antes pelo desejo físico extremo; o extase potenciado em milhões de vezes. Sempre achei que era a forma suprema de cometer suicídio.

Maria Viene disse...

Amei este livro, há muitos anos :)

Anónimo disse...

esta citação para mim não tem qualquer sentido conotativo, é mesmo assim que me sinto quando estou com vertigens. tenho vergitens.

Anónimo disse...

digo vertigens