segunda-feira, 9 de julho de 2007

era uma vez...

O príncipe Sapo "Era uma vez uma princesinha que quando se cansava da sua luta inglória contra a estrutura machista do poder que vigorava no castelo, se descontraía passeando a pé pelo bosque e sentando-se à beira de um pequeno lago. Aí se entretinha a brincar com a bola de ouro preferida, que atirava ao ar para depois apanhar, e a reflectir sobre o papel da militante eco-feminista na sua época. Certo dia, enquanto acalentava a utopia em que o seu reino se transformaria se coubessem às mulheres as rédeas do poder, deixou cair a bola, que rolou para dentro do lago. Ora, o lago era tão fundo e a água tão turva que ela não teve hipóteses de ver para onde a bola tinha ido. (…) De repente ouviu uma voz dizer: - Eu posso ir buscar a vossa bola, princesa. A princesa olhou em volta e viu a cabeça de um sapo que rompia a superfície do lago. - Não, não- disse ela. – longe de mim escravizar um membro de outra espécie, para, com o produto do seu trabalho, satisfazer os meus desejos egoístas. - Então e se fizéssemos um contrato de reciprocidade? (…) – A questão é esta: eu não sou realmente um sapo. Sou um homem a quem um feiticeiro mau lançou um feitiço. Embora a minha forma de sapo não seja melhor nem pior (apenas diferente) da minha forma de homem, adorava regressar ao convívio das pessoas. E a única coisa capaz de quebrar o feitiço é um beijo dado por uma princesa. A princesa reflectiu um pouco sobre a possibilidade da ocorrência de assédio sexual entre espécies, mas a difícil situação comoveu-a. (…) Ali estava, um homem em camisa de golfe e calças aos quadrados de cores berrantes – meia-idade, estatura média e dando sinais incipientes, mas já visíveis, de calvície . A princesa ficou siderada e recuou: - Desculpe… vai talvez achar que tenho preconceitos classistas, mas… Não é costume nestes casos os feitiços serem feitos em príncipes? - Lá costume é (…), mas eu sou construtor civil e o feiticeiro pensou que estava a enganá-lo num negócio de terrenos. Vai daí convidou-me para uma partida de golfe e, quando eu ia para dar a primeira tacada, transformou-me. Mas (…) não foi tempo perdido. Aproveitei para conhecer o terreno, que considero ideal para a construção de um complexo de escritórios/habitação/ lazer. (…) Basta esvaziar o lago, cortar oitenta por cento das árvores, conseguir licenças de… A carreira do sapo bravo acabou no momento em que a princesa lhe voltou a enfiar a bola na boca, o empurrou para debaixo da água e ali manteve preso até que ele parou de estrebuchar. Durante o seu passeio de regresso ao castelo, a princesa pensou, espantada, na quantidade de boas acções que uma pessoa pode praticar em apenas uma manhã. (…)" James Finn Garner, Histórias Tradicionais Politicamente Correctas Achei a estória muito engraçada, contudo não a explorei nas aulas, apesar de constar no manual do oitavo ano de Língua Portuguesa. Por questões que achei óbvias, virei a página… Não fosse alguém querer também praticar boas acções logo pela manhã. Pouco provável, mas…
No próximo o ano lectivo, vou pedir aos meus alunos para alterarem o final desta estória.

4 comentários:

Woman Once a Bird disse...

O autor comete um erro logo ao início: as prince(sinh)as geralmente não são feministas. Eco qualquer coisa só se estiver na moda.
De seguida, desconfio seriamente de um construtor que, com olho para o negócio, abrisse o jogo para a primeira fulana - ainda que princesa - que lhe aparecesse à frente. Nem com beijos.
O texto cai por terra, face à improbabilidade das personagens. ;)

Anónimo disse...

olha esses preconceitos! É claro que as princesas e as inhas podem ser feministas! por que não?

Sancho Gomes disse...

Ea só o que faltava, uma pincesa dandy e xonhinhas ser feminista! Nefertiti, por quem nos tomas?

Anónimo disse...

a Woman tem razão, o texto é horrível! Foi o que eu pensei qd li.