
Tendo feito parte de uma formação para docentes sobre Teatro, escandalizei o formador com a minha teimosia. Queria lá saber da mimetização em si mesma e por si mesma; de me enrolar sobre mim porque estava com frio ou fugir da ameaça imaginária (aliás, não tão imaginária quanto isso, já que o homem berrava literalmente aos meus ouvidos). Ainda recordo (com algum carinho, confesso) o ar de escandalizado quando me recusei a participar em outra mimetização improvisada (perante uma plateia de gente convidada à pressa - e à força, diga-se) de uma suposta peça que deambula agarrada por um fio e que se une para formar a máquina. Patético.
Como disse anteriormente, para mim, um bom texto é (quase)

Barbara é a velha professora desencantada que se impõe essencialmente pelo medo. A certa altura é a própria que afirma que sabe que os alunos não gostam dela, mas que a respeitam. E o respeito é tudo, nessa dependência da segurança social em que se tornou o ensino público (segundo a própria Bárbara). É preciso ensinar a escrever, ler e contar, para que possam ser os empregados fabris de amanhã, imersos na miséria de onde a escola não tem que os resgatar.
Sheba é a novata diáfana acabada de chegar à Escola (e ao ensino), com a esperança de conseguir encontrar quem realmente queira aprender e, principalmente, com a esperança de escapar a um casamento que iniciou com um grande festim sexual mas que acabou na rotina de uma família comum. Impossível não perceber Sheba, quando esta tenta descrever o desespero de perceber a distância entre aquilo que sonhou ser a sua vida e aquilo em que ela efectivamente se torna.
Diário de Um Escândalo é uma síntese dos problemas que estão na ordem do dia; uma professora que mantém um caso com um aluno de quinze anos, uma mulher (quase) idosa que se debate contra o medo de estar só, de ficar eternamente só. Na verdade, o medo da solidão (nas suas múltiplas formas) funciona como motivação para ambas as mulheres.
Se é verdade que o aspecto cândido de Sheba nos leva a simpatizar imediatamente com a personagem e que os escritos (deliciosamente) cruéis de Bárbara nos levam a repeli-la de início, também é verdade que a determinada altura a tendência é de convergir: simpatizar menos com Sheba, antipatizar menos com Bárbara. A perversidade domina, mas não apenas a personagem de Bárbara, dolorosamente só ao ponto de a tornar absolutamente obssessiva perante a esperança de uma relação com alguém (em que até um toque acidental com o motorista do autocarro se torna uma esperiência quase erótica). A perversidade também reside em Sheba, que em momento algum percebe a extensão da sua transgressão. Tal como ela o afirma, fê-lo p

Magnífica, a cena em que Sheba percebe que tem sido manipulada por Bárbara; ainda mais porque até ali não se apercebera que o jogo era efectivamente jogado ao contrário. Sheba percorre quase todo o filme como uma mulher que se atormenta suavemente com a delicada situação em que se encontra; confia no background pobre do seu apaixonado e na fidelidade da sua mais recente amiga que lhe promete discrição. A queda é brutal quando percebe que nem o jovem é pobre ou apaixonado, nem Bárbara é a ingénua discreta que ela julgava. O tombo é grande, mas ainda assim insuficiente. A cena em que acusa Bárbara de a ter destruído é brutal, já que nem mesmo perdendo a família e incorrendo em pena de prisão percebe que é a principal responsável pela delicada situação. Afinal de contas, Bárbara ganhou tudo simplesmente fazendo (quase) nada. Sheba encarregou-se de tudo o resto.
1 comentário:
Ainda não vi o filme - confesso que não me parecia valer a pena. Mudo de ideias ao ler o post… Que te concedam/ concedas alforria mais vezes! :)
Enviar um comentário