Há aproximadamente um ano, fui ao cinema ver esta maravilha. E com esta, descobri esta outra(nestas coisas da música tenho tendência a apanhá-las tarde). Decidi rever a primeira, depois de ter passado o dia a ouvir a segunda no rádio do meu carro. Numa versão horrorosa legendada em brasileiro(que me foi dada há uns meses, já que eu anunciava aos quatro ventos que tinha adorado o filme), lá tive o prazer de degustá-lo novamente. É certo que a experiência foi algo estranha; tentei abstrair-me ao máximo da legendagem que teimava em aparecer. Exercício estóico de resistência à leitura, com a tentação (pecaminosa, no caso) de por vezes escapar-se-me o olho para as abomináveis letras. Enfim, não foi perfeito, mas foi muito bom poder visioná-lo novamente.
Lembro-me que há um ano saí da sala de cinema como se tivesse sido atingida por um raio. É certo que as espectativas não eram muitas (Julia Roberts, e tal). E, nestes casos, o estuporamento é muito maior, porque não é pressentido ou esperado.
Desta vez, porém, estava preparada. Até incrédula, já que me sabia prevenida (e estas re-leituras por vezes roubam-nos o encantamento).
Novamente magnífico. Na sua crueza, nos diálogos muitas vezes magnificamente maliciosos. Profundamente focalizado no demónio das relações; na forma como as pessoas se tocam e deixam tocar, da distância (ou da quase ausência dela). Sobre o estar sobre o fio da navalha, o Eu em relação com o Outro, a tentativa da apreensão, do aniquilamento de tudo o que difere (do que Eu quero e do que Eu desejo). Das máscaras que se assumem de cada vez que é declinado o verbo amar... das suas implicações. Acima de tudo, da não compreensão do que é amar o Outro na sua distância, exactamente porque distante e diferente de mim. E de como isso aniquila, ou, pelo menos, adormece inevitavelmente (de olhos bem fechados) o que deveria estar permanentemente acordado e alerta - a descoberta do Outro como sendo o diferente, o mistério velado que inebria e seduz.
Novamente magnífico. Na sua crueza, nos diálogos muitas vezes magnificamente maliciosos. Profundamente focalizado no demónio das relações; na forma como as pessoas se tocam e deixam tocar, da distância (ou da quase ausência dela). Sobre o estar sobre o fio da navalha, o Eu em relação com o Outro, a tentativa da apreensão, do aniquilamento de tudo o que difere (do que Eu quero e do que Eu desejo). Das máscaras que se assumem de cada vez que é declinado o verbo amar... das suas implicações. Acima de tudo, da não compreensão do que é amar o Outro na sua distância, exactamente porque distante e diferente de mim. E de como isso aniquila, ou, pelo menos, adormece inevitavelmente (de olhos bem fechados) o que deveria estar permanentemente acordado e alerta - a descoberta do Outro como sendo o diferente, o mistério velado que inebria e seduz.
Vasculhando os meus rascunhos de há um ano atrás, encontro estas impressões que agora reproduzo, porque a elas voltei neste novo visionamento:
Curiosas as diferenças quase opostas entre as duas personagens femininas. Por um lado a fotógrafa de estranhos, de rostos anónimos tornados familiares; por outro lado, a dançarina de striptease que se desnuda (expõe) perante estranhos. A primeira apreende/captura a estranheza; a última deixa-se apreender. Em ambos os casos, o estranho perante a captura do olho. A mensagem que permanece: o Outro escapa sempre à apreensão; e talvez por isso a dançarina só se desnude perante o estranho (ela só revela o nome, a identidade, no local da distância absoluta), porque a proximidade (a relação) é perigosa, aniquiladora da estranheza. E por isso mesmo ela escapa sempre à proximidade - deixa de amar no exacto momento em que lhe é exigida pertença. E aqueles que permanecem no "Perto Demais" (a fotógrafa e o dermatologista) terminam adormecidos, porque a coincidência adormece os sentidos.
E hoje passei o dia a ouvir isto :
E hoje passei o dia a ouvir isto :
and so it is
just like you said it would be
life goes easy on me
most of the time
and so it is
the shorter story
no love no glory
no hero in her skies
i can't take my eyes off of you
and so it is
just like you said it should be
we'll both forget the breeze
most of the time
and so it is
the colder water
the blower's daughter
the pupil in denial
i can't take my eyes off of you
did I say that I loathe you?
did I say that I want to
leave it all behind?
i can't take my mind off of you
my mind
'til I find somebody new
16 comentários:
A tradução fantástica que eu já ouvi é: " Não consigo désviar mês olhos di você..." (mais ou menos assim, pois eu também desviei a minha atenção)
Bem! que belas recordações... apesar da tradução o filme e a Música é fantástica.
ADORO
Nefertiti:
E a "casca do pão"... Brrrr. Mas diz lá, foi um serão bem passado, quase tanto como aquele outro de "A Vida é Um Milagre", com aquela saída fabulosa de "Eu não gosto muito de filmes franceses..."
Esta música é demolidora! Até para mim que não sou muito romântica ou lamechas.:)
Tens razão. Aliás, apercebi-me depois, ao ouvir o cd que esta não é propriamente a única música com estas características no cd. Muito, muito bom, mesmo.
lol
estas tuas palavras (que penso já ter lido noutro local, não é?) fizeram-me lembrar que ao pedir, por duas vezes, para o livra me apagar, perdi tudo o que tinha escrito sobre livros, filmes, música. Tinha uma escrita sobre este filme. cinco estrelas. na altura penso que leste as minhas palavras, pelo que sabes, mais ou menos, o que penso do filme. :)
Perfeitamente. aliás, quando decidi escrever novamente sobre isto, pensei em ti e nos comentários que trocamos na altura.
Por isso bem procurei pelos teus textos e o resultado era nulo. Desapareceram os teus textos e os teus comentários.
Naquele outro filme alguém estava a viver um "milagre" por isso andava distraído, e realmente foi uma pena ter pensado que era francês... pois tenho quase a certeza que se identificaria com o "burro"!
Em lágrimas a meio da linha de comboio? Duvido.
Não vi!
Hipermetropia, aristóteles?
Hm:
Se é verdade que algumas músicas são fraquinhas, outras igualam (ou até ultrapassam)a qualidade da música motora do filme. Aliás, é um cd duplo. Algumas desagradam-me, mas no geral, para mim, foi uma excelente compra. Ao ponto de me tornar reincidente quando sair novo (que parece ser ainda este ano).
senhor hm: qual FNAC?
diga-me que eu espero-o.
H de Humbert?
Como temos uma Lolita, julguei que o Humbert tb estaria entre nós...:)
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