quarta-feira, 5 de julho de 2006

Rebuçados no olhar


Uma pausa nos amargos de boca que só terminam sexta-feira - a serem deglutidos e mastigados rapidamente, que nem para o mau sabor nos dão tempo...
Na memória dos dias, a doçura materializada, transformada em corpo, olhos... lábios que respiram e suspiram dádiva. É nos sítios mais estranhos que de repente somos surpreendidos com a ternura no(do) outro. Numa sala impessoal, enche-se o espaço com a cadência da voz que pre-(de)-nuncia a dádiva como vocação.
Sentada na cadeira do hall de hotel, imagina o seu epitáfio - apenas gostaria de ser recordada como alguém que nunca prejudicou ninguém. É muito pouco para um olhar e para um sorriso daqueles.

9 comentários:

Anónimo disse...

Por vezes, e por razões que o tempo apaga, perdem-se pessoas…
O ácido amargo, o orgulho, os porquês deixam de ter sentido quando ao se olhar se vê quem se via… E, aí, no impulso do momento, tudo cai com uma palavra, um brilho de olhos verdes límpidos, um sorriso que ilumina a face…
E é bom saber que, afinal, não nos pensam tão mal, não nos vêem tão rude…vazio…
E perde-se tanto…
E são tão poucas as pessoas que realmente valem a pena estar com…
Será que ainda é tempo?
Ainda restam muitas sextas-feiras… ao longo de toda uma eternidade…
J.A.

Woman Once a Bird disse...

J.A.
Na maior parte das vezes somos injustos com o Tempo. Partimos do princípio que só nos arranca (a vida), mas na verdade, somos nós que impregnamos a cadência ao nosso tempo. E é a partir daqui que gosto de me posicionar... de parar os ponteiros do marcador de tempo, abrandá-lo... permitir-me a não deixar que corra. Portanto, ainda é tempo sempre que quisermos. Ainda é tempo porque queremos. O marcador do tempo é nosso, de mais ninguém. ;)

Anónimo disse...

Este texto causou-me um grande aperto na alma... o Tempo que nos apaga, que nos faz perder... Tenho sentido muito isso...
Outras sextas virão... outros dias, outros tempos e outras vontades!
O Tempo que nos rouba...
Enfim, só mesmo na eternidade é que o "Tempo é um dia sem ontem nem amanhã"...
H.

Woman Once a Bird disse...

Cara(o) H:
Não é o tempo que nos apaga. Perdemos única e exclusivamente aquilo que queremos perder. Somos nós que apagamos o texto. O tempo apenas o permite. De qualquer modo, espero que o aperto passe e que o sentimento de perda se esbata.

Anónimo disse...

O Tempo deixa as suas marcas por onde passa… Lambe-nos ao de leve e leva-nos momentos que não vivemos, que não dissemos…
E nós, tal qual uma folha ao sabor da corrente, deambulamos com ele, por força, por ordem…
E ao olhar em redor, e ao vermos tão claro, semicerramos os olhos como quem não quer ver…
E só quando o tempo nos atinge, golpeia, naqueles que mais amamos, nos lembramos de olhar e ver os outros…
E, só aí, pensamos que não vale a pena… o rancor, o fel…
E, surgindo do nada, morre-nos a dor por dentro e abre-se a palavra…
J.A.

rps disse...

Mais um post "Miss WOAB no seu melhor". Um tipo não tem nada para acrescentar senão o óbvio.

Anónimo disse...

Woman, estes "apertos" nunca irão desaparecer... património que o tempo vai deixando.
No entanto, sei que é preciso seguir com optimismo, força e muita coragem.
J.A., o seu comentário dava um post! Gostei muito.
H.

Dirim disse...

:) Miss WOAB.. por onde andas tu, que não te encontro?

Woman Once a Bird disse...

Rectificação:
Neste post, não falo de mim, mas de alguém que conheci no decorrer desta semana. O sorriso e o olhar de rebuçado é dela, não meu.
Dirim, em princípio, a minha carta de (semi) alforria adquiro-a hoje, a partir das 17.