sábado, 10 de junho de 2006

Na berma do túnel chorei.


A enormidade dos túneis que percorro, com cheiro a borracha e escape. Todos os dias, os camiões de Sísifo, carregados de pedras, cimentos e preguiças a alimentarem uma autêntica corrida de obstáculos. Todos os dias, o ensurdecedor barulho dos carros e camiões, em túneis escuros alumiados pela pressa de chegar a horas.
No outro dia, algo diferente. Em pleno túnel, bafiento, barulhento, assustadoramente escuro, os faróis alumiam, depois de uma curva, uma cria de gato, abandonada (atirada?) na berma. E os faróis alumiam também o pavor - o da cria e o meu ao cruzar olhar com ela.
A única coisa que lá ficou foi a desumanidade de quem a deixou, na esperança de que alguém lhe passasse em cima.
O coraçãozinho palpitou desenfreadamente na minha mão, quando a consegui finalmente apanhar e meter no carro. Quem lhe fez isto não. Quem lhe fez isto não tem nada a palpitar. Só pode ser a vazio.
Um nojo!

4 comentários:

Nefertiti disse...

será o inferno de Bosch!

Nefertiti disse...

que é feito do bichinho? Ficaste com ele?
Este mundo é mesmo um nojo!!!

Vénus disse...

Cada vez mais me convenço que a espécie humana será a desgraça deste planeta...Enquanto que não percebermos (e acredito que nunca o vamos perceber) que co-habitamos com outras espécies diferentes (não superiores ou inferiores) e que merecem o nosso respeito, tudo o que conhecemos está condenado....
Fica a tua atitude, de louvar, e a de outros tantos que continuam a sua luta; no entanto, infelizmente, não deixa de ser uma gota no oceâno de tanta prepotência e cegueira para lá do próprio umbigo...

Anónimo disse...

Woman, sou eu.

passei para te dizer que tb chorei muito, caminhei muito e ri muito. Foi magnifique!