A argumentação de João Miguel Tavares, no Governo Sombra de hoje, sobre as declarações de Hélder Trindade, relativas à interdição da doação de sangue por homossexuais, é um exemplo da ignorância atrevida: não sabe, mas opina acerca do que desconhece, como se fosse um especialista.
Para além das afirmações que remetem para a utilidade das práticas sexuais [só o sexo com potencialidade procriativa é 'natural', segundo o jornalista], Tavares lança dados inexistentes. Na lógica de João Miguel Tavares, não são outros hábitos, nomeadamente o uso de preservativo, que influenciam a probabilidade de transmissão de DST, em particular, do VIH-SIDA. Não, segundo Tavares tudo se resume às práticas [sexuais]. O jornalista reduz o sexo à cópula heterossexual vaginal e à cópula anal homossexual e heterossexual, defendendo que, a prática anal representa maior perigo de transmissão, o que está correto, mas apenas num cenário de sexo desprotegido (ver imagem). Adicionalmente, Tavares tem tiradas como: «estás a colocar a pilinha num sítio no qual a natureza não...». A ideia de as práticas sexuais sem potencialidade reprodutiva serem anti-natura, é antiquíssima. Na Idade Média, o pecado [e crime] da sodomia incluía todas as práticas sexuais 'inúteis', como sejam o coito interrompido, o coito interfemural ou o bucal e, claro, o anal, sem esquecer a masturbação. Inúteis para fins reprodutivos, assinale-se, que eram os únicos admitidos para a prática de relações de sexo.
Tavares é, naturalmente, livre de ter uma visão biologizante das práticas sexuais e de partilhar a ideologia do imperativo coital, no entanto, é grave que, num programa de rádio, afirme, como se fosse verdade, que a infeção e transmissão de VIH-SIDA entre homossexuais é muito superior à de heterossexuais [isso é tão anos 80!]. Só se for na cabeça de Miguel João Tavares.
Diz o jornalista que, no que respeita à doação de sangue, o direito «é o de quem recebe sangue e não o direito dos homossexuais em dar sangue». Da minha parte, espero que os serviços competentes façam o seu dever antes de qualquer transfusão de sangue - isto é, que o submetam a todos os testes legalmente obrigatórios, para além do teste do HIV, independentemente da orientação sexual do/a dador/a. Este é que é o direito de quem recebe sangue: é ter a garantia de que que lhe vão injetar um produto que cumpre todos os parâmetros estipulados legalmente. E esses parâmetros devem ser assegurados independentemente da orientação sexual do dador. Escrevo no masculino porque claramente, esta é uma questão que afeta desproporcionadamente os homens homossexuais.
Diz o jornalista que, no que respeita à doação de sangue, o direito «é o de quem recebe sangue e não o direito dos homossexuais em dar sangue». Da minha parte, espero que os serviços competentes façam o seu dever antes de qualquer transfusão de sangue - isto é, que o submetam a todos os testes legalmente obrigatórios, para além do teste do HIV, independentemente da orientação sexual do/a dador/a. Este é que é o direito de quem recebe sangue: é ter a garantia de que que lhe vão injetar um produto que cumpre todos os parâmetros estipulados legalmente. E esses parâmetros devem ser assegurados independentemente da orientação sexual do dador. Escrevo no masculino porque claramente, esta é uma questão que afeta desproporcionadamente os homens homossexuais.
O discurso de Tavares está pleno de ignorância e estereótipos que revelam a adesão a mitos da homossexualidade que servem para alimentar a homofobia. Foi também confrangedora a falta de preparação dos restantes participantes da tertúlia pública (ninguém se deu ao trabalho de consultar estatísticas?). É verdade que há mais homens infetados do que mulheres. Mas não se pode concluir, a partir deste dado, que a maioria dos homens infetados seja homossexual.
Bastaria a Tavares consultar os dados e o relatório.
É lamentável a falta de preparação e, sobretudo, a difusão de mitos que reforçam a discriminação contra pessoas com orientação sexual diferente da heterossexual.
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