segunda-feira, 4 de abril de 2011

Confissões Festivaleiras

Quem lê este blog há algum tempo - e atende a quem assina os posts - sabe que sou moça para figuras lamentáveis. A ter uma boa memória, o encontro infeliz com o pai do Centro das Artes da Calheta deveria despoletar um pico de timidez confortável (para além da que já é habitual), que impedisse esta infeliz escriba de renovar certas figuras muito tristes. Mas se há algo que me caracteriza é a pobreza da memória que permite que, em tão curto espaço de tempo, repita a proeza.
Um festival com trinta escritores é uma experiência alucinante - para agudizar os sentidos, relembrar paixões e, num registo muito mais mundano, para a conta bancária (a perigar os últimos dias deste mês que ainda vai no início); uma banca de livros num festival literário é um verdadeiro assalto (quase) à mão armada e um perigoso estimulante para comportamentos compulsivos.

Ler é sempre um ato de injustiça. De cada vez que escolhemos um livro numa livraria e não o do lado, cometêmo-la em relação ao autor que ficou abandonado a outra sorte. Não foi a primeira vez que ouvi falar de Afonso Cruz; na preparação do Festival, tratei de conhecer o percurso dos intervenientes, mas a sinopse não me preparou para o que viria. Não lhe reconheci o nome, mas reconheci um dos seus títulos; há muito que lia sobre este livro, mas o nome do seu autor permaneceu obscurecido por qualquer mecanismo de defesa (da minha carteira). No segundo dia do Festival, vi os seus livros na bancada da Bertrand mas, como é (injusto) hábito, resisti-lhe. Escolhi outros, comprei livros para oferecer a algumas alunas (tive a graça de ter alunas a assistir a algumas mesas do Festival). 
O Domingo e a mesa subordinada ao tema "Os Escritores Esquecidos" (excelentes intervenientes) fizeram-me querer ler Afonso Cruz. Nada de grave, uma benção até, porque adivinhar afinidade com a escrita de alguém é sempre um pequeno milagre. Mas não contente com a compra do título que lhe conhecia - A Boneca de Kokoschka - encomendei a voz amiga que lhe solicitasse assinatura por e para mim (esta minha impossibilidade de me dirigir naturalmente às pessoas que não conheço tem destes inconvenientes.) E lá estive frente a frente com o autor que não li, num triste papel de justificar a minha ignorância perante a sua escrita e o meu fascínio pela palavra acabada de dizer. Leitura a iniciar assim que abandone a literatura que tenho em mãos - as cerca de 50 fichas de avaliação que aguardam pela minha justiceira mão.

3 comentários:

Sancho Gomes disse...

Lindo. Pagava, para ver a figura (a tua, claro). De resto, também não conheço nada do senhor. É bom? (ando à procura de coisas para ler, que valham a pena, pois as minhs reservas estão-se a esgotar e tenho receio de entrar por coisas que não conheço...)

Woman Once a Bird disse...

É como te digo Sancho: começarei a leitura este fim-de-semana. Mas a atestar pela maravilhosa intervenção no Festival, é urgente ser lido.

Woman Once a Bird disse...

Para aguçar o apetite, dá uma voltita por aqui: http://afonso-cruz.blogspot.com/