segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Diz que é um País laico

Eles por lá
Leio num jornal que um professor, em Espanha, foi interrogado pela Polícia por ter falado de presunto, em uma das suas aulas. Um aluno e respectivos pais acusam-no de comportamento xenófobo e falta de respeito para com a sua religião (pelos vistos o profeta não tem especial apreço por carne de porco).


Nós por cá
Em contrapartida, na minha terra, chegamos à época de inferno. Eu, que vivo num Estado pretensamente laico, acordo agora todas as manhãs com uma cerimónia religiosa berrada aos meus ouvidos. Note-se bem: estou deitada, no meu quarto, noite escura, e acordo estremunhada com um virgem do parto, ó maria, seenhooora da conceiçããão. E a coisa persiste em nome do pai, do filho e do espírito santo. Mais à frente (e eu às voltas) o sermão do padre, que como todos os sermões de padres desta altura falam de luz, de candeias e velinhas a alumiar o caminho dos(as) pobres pecadores(as) - que somos todos(as) nós, principalmente os(as) que praguejam na cama porque a liberdade religiosa lhes invade o seu espaço privado - desde as 5.30 da matina, que a salvação quer-se bem cedo. 
Esta redenção é-me impingida todos os dias, uma tradicional salvação que acontece todos os Natais. A esta salvação não chega remir os(as) que cheios(as) de boa vontade (e outras coisas mais) preenchem os bancos da igreja a horas de se estar a dormir; esta salvação obriga também os(as) que estão em casa e que não querem nem precisam ser salvos(as) a fazer parte de tudo isto. Porque num Estado que se diz laico, as Câmaras ainda acham que podem privilegiar desta forma indecorosa uma confissão religiosa e permitir-lhe a propagação da boa nova mesmo para quem não quer ser evangelizado(a). Num Estado que se diz laico, eu não tenho opção de escolha e na época do natal ouço re-li-gio-sa-men-te a missa todos os dias, que é para aprender a não ter a mania que estou num País livre.

(pintura de Hieronymus Bosch)

3 comentários:

Táxi Pluvioso disse...

São as vantagens de se viver num país rico (se fossem pobres estariam a trabalhar) com um povo evoluído (se fossem subdesenvolvidos estariam a discutir futebol na tasca).

Desejo um bom Natal e já agora boas missas.

António Conceição disse...

A que se refere, Táxi Pluvioso?
Aos que estão na igreja a papar a missinha para ganhar o céu? Ou aos que estão na cama a remoer contra ela para ganhar o inferno? Quem são os ricos a que se refere?
Quanto a si, WOAB, sempre lhe direi: nesta época, antes uma missa do que um centro comercial. O consumismo já suplantou o catolicismo no coração e na alma dos fiéis.

Alix disse...

Sofre, minha filha, e teu será o reino dos céus. Se não aguentas na cama, junta-te a eles que consta que as missas do parto terminam em patuscadas e altas bezanas. Não sei porquie há 10 anos deixei de ter uma igreja como vizinha (foi a pior vizinhança que tive na vida...)