(imagem roubada ao blog Rua do Patrocínio)
A minha participação cívica não se resume aos queixumes à mesa do café.
"(...) chegara a hora de enrolar o papiro dos acontecimentos do dia, com todos os seus problemas, impressões, tristezas e alegrias." Virginia Woolf
7 comentários:
Lamento muito desiludi-la, mas a sua participação cívica na greve em nada se distingue dos meros queixumes de café.
Como em 1910, como em 1926, como em 1974, no estado a que as coisas chegaram, uma participação cívica responsável não pode prescindir hoje da violência e das armas.
Isso é o ponto de vista do Funes. Na minha, a violência e as armas podem ser sempre prescindíveis. Mas então parto do princípio que o Funes hoje vai desatar aos tiros? Ou vai ficar na mesa de café a queixar-se dos queixumes dos outros?
Um País em Crise em Greve Geral:
Não! Esta cambada de "portuguesinhos" não "aderiu à greve geral" (e que me desculpem, de coração, aqueles que realmente sabem o que reivindicam)! Podia enunciar as frases que fui anotando ao longo do dia, mas não. Venho só expressar o quão lamento que por "Greve" se entenda: "Ando tanto a precisar de um dia de descanso a meio da semana! Que bom dormir até às 12. Andamos tão deprimidos com a política portuguesa que o melhor é ir ver as montras ali ao centro comercial do lado". Um dia importante para a unidade sindical portuguesa?! Mais perto da União Europeia?! Coitadinhos de nós que podemos "parar" um dia (até "fazer greve a 100%" em alguns hospitais deste país) para que isso se traduza no nosso orçamento interno (que já é tão bom) e se torne em mais uma anedota no panorama mundial…O Senhor Proença agradecer aos trabalhadores que foram persuadidos a "abanarem bandeiras", sem saberem porquê, mas «porque sim» parece um bom motivo?!
Gostava de sentar perto de mim, um a um e uma a uma, previamente, para lhes perguntar: sabe o que vai reivindicar amanhã?
Jeune Dame:
As situações que descreves também fazem parte de tudo isto e acredito que existam. Mas não acredito que estejamos a falar da maioria e ainda assim, parecem-me muito diferentes da posição de "isto está tudo muito mau, mas vou ficar quietinho, que dar a cara é que não". Detesto cobardias desta estirpe e que se defenda que os/as grevistas queriam um dia de férias. Para isso, não seria descontado um dia de salário, o que implica um esforço financeiro para quem a faz. Mas é de lamentar a cada vez menor consciência social de um País que só muito recentemente a começou a ter. Este "medinho" (que nos torna pequeninos/as) de lutar pelo que se acredita. Ou, pior que isso, não é assim tão mau para mim portanto fico-me quietinho/a.
A crise não explica tudo o que estamos a passar, nem pode justificar que as pessoas mais carenciadas sejam as que pagam a maior factura.
Woman Once a Bird, creio entender o que me diz. De qualquer modo, para muitos "grevistas" esse dia de salário é "o menos mal". Dar a cara e o pulso (esquerdo), mas criticismo vazio é que não. E, de facto, acredito, sinceramente, que esta Greve nada traduz de uma minoria lúcida! NADA, mesmo NADA! Lutar pela força de uma imposição é que não e, viver sem "medinho" de uma democracia representativa vazia de conteúdo, muito menos…! Não tenho tolerância para isso. "Nestes dias", gostava de levar algumas pessoas a "passear" pelos corredores das urgências (um ad misericordiam (itálico) fica sempre bem) para verem como algumas "pessoas mais carenciadas" pagam a maior factura!
(*Desculpe a ironia).
Então que sugere?
Sossegadinhos/as, que não sabem o que fazem? Ou resignem-se, porque há quem esteja muito pior?
Quanto a passear as pessoas, Jeune Dame, não seria apenas nestes dias. A miséria continua para além dos dias de greve. O perigo está mesmo na usura dos dias, com cada um e cada uma mergulhado/a no seu individualismo.
Em relação ao que um dia de salário a menos é para "os grevistas", nada posso afirmar, para além do meu caso pessoal. Quanto aos restantes, penso que apenas eles/as poderão ajuizar se é mesmo apenas um mal menor.
Para mim, é uma forma de manifestar publicamente o meu descontentamento para com quem escolhemos para nos representar. Como forma de aviso que não podemos permitir ser representados por quem não elegemos. Que não podemos continuar a permitir que um mercado nos decida as misérias - e ainda por cima, um mercado que especula com o dinheiro de todos/as nós.
Woman Once a Bird,
talvez eu não esteja a ser suficientemente clara. Não! Apáticos(as) "sossegadinhos(as)" temos nós em demasia na AR. Por outro lado, incomoda-me, vivamente, ver o raio de uma "espécie" de "vitória" sindical de um país (anunciada sob metáfora na maioria das notícias de hoje) que não traduz a democracia representativa deste mesmo país. Ocorreu-lhe perguntar a um/uma funcionário(a) dos hipermercados Continente o que sentira hoje? (e olhe que eu perguntei). Esses, que hoje não tiveram voz, mas que, "nas suas singularidades", têm direito à palavra e fazem parte da democracia representativa (paradoxal não é?!). Notícias a falar de expressão colectiva (palmas)?! Não poderia concordar mais consigo: "… é uma forma de manifestar publicamente o meu descontentamento para com quem escolhemos para nos representar. Como forma de aviso que não podemos permitir ser representados por quem não elegemos". Mas, Woman, a minha preocupação passa por não querer uma representação cega e, portanto, injusta. E eu preferia queimar as minhas mãos do que acreditar cegamente numa reivindicação vazia, mas que foi «em grande escala». Nada disto se compara ao referido por Faunes, o memorioso – que lamentável é, se a reminiscência de um Maio de 68, não é suficiente para o elucidar que uma «participação cívica responsável» exclui, justamente, a violência e as armas…
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