sexta-feira, 11 de junho de 2010

Não faz mal a ninguém

Em conversa com uma das minhas turmas, soube que um sem abrigo das imediações mete-se com as adolescentes que transitam para a escola. Desde convites obscenos até apalpões indecorosos, o homem não se coibe. E é esperto, porque só se mete com as adolescentes, sabendo que, à partida, a vergonha as deixará com uma capacidade de reacção muito limitada. Tenho alunas que confessaram fazer um percurso alternativo - mais longo - a fim de evitarem passar pelo indivíduo. 
Os rapazes confirmavam o testemunho das raparigas e acrescentavam com episódios que consideravam cómicos, a que tinham assistido. 
Perante os relatos, defendi que alguma coisa tinha que ser feita; que as autoridades teriam que ser alertadas e a escola estar ciente dos repetidos episódios. De imediato, um aluno alega que o homem não faz mal a ninguém, coitado. Quando lhe perguntei se considerava que o tipo de agressões que as colegas sofriam se enquadravam no "não fazer mal a niguém" - só aí ele hesitou e acabou por conceder que os actos descritos não eram tão inofensivos quanto tinha julgado.
E este é um dos nossos maiores problemas: desvalorizar estes episódios em que as mulheres - meninas e adultas - são violentadas na sua liberdade para circularem livremente porque se considera, na generalidade, que a exposição a comentários obscenos, convites maliciosos, encontrões propositados e apalpões é suportável, normal, pouco grave. 
Na realidade, se pensarmos sobre a frequência com que acontecessem, são efectivamente normais - porque a norma é que uma mulher, invariavelmente, os sofra.Porque convencionou-se que este tipo de abordagem não é importante, que é suportável, que é um exagero reclamar por tão pouco. Enquanto desvalorizarmos este tipo de agressão estaremos a validar a (escalada de) violência contra as mulheres.

4 comentários:

r disse...

Pois sim!
Já o sem abrigo será um menino à procura de um prato de sopa.Mais fácil arranjar-lhe a sopa [Deus Nosso Senhor não há-de permitir que seja como a Mafaldinha] do que saber o que dizem às meninas e aos meninos, os pais, os tios, os padrinhos, os avós e outros tais

Anónimo disse...

Fiquei bastante apreensiva perante a constatação de existir um sem abrigo perturbado. Ninguém pode ajudar essa pessoa? Dar-lhe um abrigo, comida e, talvez, um tratamento.

Helena

Woman Once a Bird disse...

Ele recusa Helena. Aliás, ele é auxiliado periodicamente, quando permite.

Anónimo disse...

Então, se não é doente, deverá responder pelos seus actos como qualquer outro cidadão com ou sem abrigo. Este ente é uma barreira para alguns cidadãos que querem exercer os seus direitos em liberdade! InadmissíveL.
(Percebo agora a tua revolta, Woab!)

Helena