quinta-feira, 6 de maio de 2010

Divino - mas Pouco

A visita dessa imagem peregrina (e já discorremos sobre a ocupação no avião: é carga ou passageira?) trouxe ao de cima uma ilha que ainda se verga perante imagens como se de gente se tratasse. Não seria mau, se as mesmas gentes que acenam de lágrima no olho ao barro moldado por mãos humanas, tivessem o mesmo desvelo pelas mãos. Humanas. Mas a imagem percorre as terras com honras que pouca gente teve e depois da passagem fica tudo exactamente na mesma. Como a reza que se desfia, mas da qual fazemos ausentar qualquer significado.
O desvelamento do significado de uma imagem destas revela-se também nas pequenas coisas. Instrumentalizada na perpetuação de uma fé genuína - mas cega, revela-se, também ela, instrumento da política (no pior sentido que o termo pode ter).
Continua o Carnaval que arrancou com um Bispo de orgulho ferido. Depois da excomunhão do padre que fazia política na facção errada (nunca fez espécie à igreja Madeirense meter-se na política, desde que fosse em consonância com o poder estabelecido), a festa continua, passados quase 30 anos. A vinda de um novo Bispo acalentou algumas esperanças; às primeiras movimentações, percebeu-se que mudava a forma, mas não o conteúdo. A renovação mostrou-se, uma vez mais, bafienta e sujeita aos interesses do beija-mão (e de quem beijar-a-mão). A imagem peregrina assim o vem atestar, escolhendo fiéis mais iguais que os outros. Temos uma igreja interdita à imagem, uma igreja desde há muito na margem, à margem, deliberadamente excluída dos altos interesses (com letra minúscula) de uma diocese que deixa o culto para estar presente em inaugurações. E portanto, não é de espantar que esta igreja recuse entrar na Igreja da Ribeira Seca e que venha um dos (quase) grandes desta igreja cada vez mais pequenina alegar que não é hora de justificações sérias, quando estas não convêm.

E com tudo isto, só me lembro da cena emblemática de um Cristo que há sensivelmente dois mil anos expulsou os vendilhões do templo. Pois o templo está novamente pejado deles. Quem os expulsa?

2 comentários:

Sancho Gomes disse...

woab,
não percebo como pode ser ofensiva a peregrinação de uma imagem de Maria, que visa reforçar a fé das pessoas.
como não percebo qual é o drama da organização não intregrar, no périplo, um homem que não é sacerdote (estou certo que concordas que, noutras áreas que não sejam as religiosas, é necessária a correspondência entre o indivíduo e aquilo que é feito, assumido pela organização que tutela. ie, não pode ser professor de filosofia um arquitecto, apenas porque lhe apetece e os alunos gostam. e também não me venhas com a história das pessoas, porque a imgem esteve na Ribeira Seca).
por outro lado, quando eu li o teu texto pensei: um santo, um mártir, esse Martins Junior. mas depois lembrei-me da história da Madeira e do passado do indivíduo e da tentativa de linchamento de dois jovens da FLAMA que esse imbecil promoveu em Machico. também lembrei das perseguições que que o estalinista incitou e desenvolveu. e concluí que o santo de que falas não é o Martins Junior da realidade.
beijo. e ainda bem que veio a lulla, que no último fds sentimos saudades. e não espumei, até porque discordando do texto, está muito bem escrito e isso é que é perigoso! (tu és uma mulher perigosa...)

Woman Once a Bird disse...

Da história que me contas nada sei, portanto, por ela não me posso pronunciar.
Apenas sei que é um homem excluído por um bispo vaidoso e do regime, que não é caso encerrado e que, acima de tudo, aquela igreja é mais dele que de qualquer outro que possa ser entretanto nomeado.
Sancho, eu sei que sou perigosa. Então não há esse célebre livro com o título: "Mulheres que lêem são perigosas". Ora, que tenho feito eu ultimamente que não isso mesmo?

Estalinista é bonito, perfeitamente condizente com a tua suavidade e brandura nestas coisas.