Vivamente recomendada a leitura deste post da Ecila, sobre os critérios de beleza que pesam sobre as mulheres. Facto é que por muito que tentemos escapar-lhes, a verdade é que não lhes somos imunes - e quem nunca fez depilação, contemplou o estômago, quem nunca pesou e repesou o corpo, quem come sem culpa, quem nunca comentou a indumentária de outrém, quem... quem... que atire a primeira pedra.
Se a História da Mulher nos dá a conhecer um corpo martirizado apenas por sê-lo - fonte de pecado e portanto sempre recusado, ofensivo, velado por isso - chegamos ao tempo que a tomada de posse desse corpo ainda não se deu porque continua perversamente inantigível, mas de um modo radicalmente oposto: se antes o corpo era recusado/humilhado/flagelado/castigado por ser fonte de possível prazer, agora esconde-se/humilha-se/flagela-se porque não corresponde a um padrão escandalosamente impossível.
E não se trata de conjurar um assalto ao Mundo tal como o conhecemos, mas de começar a redefinir os padrões com que nos deixamos desenhar e, principalmente, com que nos desenhamos. Conjuremos para recuperarmos os nossos corpos tão violentamente de nós afastados por uma imagem que de mulher pouco ou nada tem.
O título é parte da citação que a Ecila faz no final do seu post e que pertence ao livro Body Outlaws.
Se a História da Mulher nos dá a conhecer um corpo martirizado apenas por sê-lo - fonte de pecado e portanto sempre recusado, ofensivo, velado por isso - chegamos ao tempo que a tomada de posse desse corpo ainda não se deu porque continua perversamente inantigível, mas de um modo radicalmente oposto: se antes o corpo era recusado/humilhado/flagelado/castigado por ser fonte de possível prazer, agora esconde-se/humilha-se/flagela-se porque não corresponde a um padrão escandalosamente impossível.
E não se trata de conjurar um assalto ao Mundo tal como o conhecemos, mas de começar a redefinir os padrões com que nos deixamos desenhar e, principalmente, com que nos desenhamos. Conjuremos para recuperarmos os nossos corpos tão violentamente de nós afastados por uma imagem que de mulher pouco ou nada tem.
O título é parte da citação que a Ecila faz no final do seu post e que pertence ao livro Body Outlaws.
6 comentários:
sim, é um facto que há mulheres que são escravas das modas.
Eu cá, por exemplo, nunca percebi a função dos saltos altos. Não uso, são desconfortáveis e acho-os muito inestéticos.
Em relação à depilação, faço no Verão porque acho que é até bastante higiénico e nós, mulheres, nem sofremos muito, pois a quantidade de pêlos a retirar é pouca. Agora quando vejo homens depilados... Coitados, nem quero imaginar!!!
Lamento imenso, mas acho que o "corpo estético" veio mesmo para ficar... Aliás, já não são só as mulheres que se vêem afastadas do seu corpo, os homens também sofrem pressões nesse sentido, com depilações (???), dietas e afins. As modas e estéticas vão muito para além do aspecto ideológico; enquanto forem autênticas máquinas de fazer dinheiro (lojas de roupa, lojas de cosméticos, ginásios, SPAs, etc. etc.), vamos continuar a ser bombardeados com esses mesmos ideais. Cabe a cada um e a cada uma gerir isso da forma mais sensata...
concordo em parte consigo Alice. A estética tal como a conhecemos não será meramente conceptual e responde a valores económicos muito fortes. Mas não passa ao lado dessa conceptualização de corpos femininos excessivamente infantilizados, quase desprovidos do que caracteristicamente será um corpo feminino. E não é a androginia que dita o ideal: é mesmo a infantilização.
Sim, a infantilização presente no subtexto de alguns ideais estéticos é uma forma de "congelar" o corpo numa fase de imaturidade e de juventude perpétua (inatingível, claro está). Mas continuo a achar que, ao problematizarmos esta questão apenas em termos de mulheres, ignorando o outro lado da equação que também é afectado por estas pressões, ainda que de forma diferente, perdemos de vista alguns pontos igualmente importantes. Falo aqui sobre a valorização excessiva do parecer em detrimento do ser, a objectificação do corpo (esta já é tão velhinha que já se podia ter reformado...), entre outros tantos.
Claro que o ideal seria deixarmo-nos de ideais e aceitarmo-nos tal como somos, redondas ou quadradas, peludos ou carecas. Não é de todo impossível, mas é difícil. O que não implica que não se tente! :)
De acordo. :) Considero que os homens também começam a sentir este tipo de pressão. É absurdo que os padrões se pautem por homens magros e musculados, em que a pilosidade também neles desaparece. Mas também me parece que, por condicionantes culturais, são mais permeáveis a este tipo de ditadura da beleza.
As mulheres são o que quiserem ser, assim como os homens. A verdade é que existem pessoas, de ambos os sexos, que se gostam de tudo ao natural e com eles a moda não vinga, e pelo que sei de alguns, são muito felizes e têm prazer, que é o que faz falta a muito boa gente.
Enviar um comentário