segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Neutro, mas pouco

Em pré-início de ano lectivo, os escaparates das livrarias e editoras anunciam orgulhosamente os instrumentos que melhorarão a vida à classe docente: são cadernetas dO professoR, dO directoR de turma, dO educadoR de infância... sempre assim, masculino neutro, em profissões que são exercidas maioritariamente por mulheres.

27 comentários:

António Conceição disse...

Ora batatas, um post sobre feminismo primário.
Por certo, foi pelo facto de vivermos numa sociedade patriarcal que o masculino é também usado no nosso idioma para o neutro. Mas isso é um facto. E um facto contra o qual é absurdo lutar. É como tentar que o dia de natal deixe de ser feriado, porque anda associado a um evento religioso, o que é incompatível com um Estado laico.
Pois é. E depois?
Há guerras formais que, mesmo quando são aparentemente justas, causam mais dano do que benefício. Não sei por que razão, as feministas são especialistas em comprar essas guerras. É também por isso que não são levadas a sério pela maioria das mulheres.

Nefertiti disse...

e depois põem AS reuniões (de quatro horas!!!) no feminino!!! Assim uma mulher fica desmoralizada!!!

rps disse...

O que me choca mais é no atletismo: elas correm 100 metros barreiras e eles correm 110 metos barreiras. Humilham as mulheres por uma tuta e meia de dez metros.

Woman Once a Bird disse...

Funes, com isso quer dizer que a língua não pode sofrer alterações? É isso? Não sendo uma questão central, havendo outras mais prementes, este é um ponto que também considero que não é tão desimportante quanto isso.

Woman Once a Bird disse...

E já agora,o feminismo não é uma questão só de mulheres, não é dirigida só para mulheres nem tão pouco pensada única e exclusivamente por mulheres. Não ponha as coisas assim, de forma tão redutora.

António Conceição disse...

1- Funes, com isso quer dizer que a língua não pode sofrer alterações? É isso?

Não. Não quer dizer isso. Quer dizer que a língua nunca, mas NUNCA, sofre alterações por decreto. O que é que propõe: que o Governo decrete a criação de um neutro e que se passe a dizer e a escrever, por exemplo, "a agenda de professore, para não ser nem do professor nem da professora? Ou que passe a ser obrigatório dizer "a agenda do professor e/ou da professora", começando-se então a discutir a razão do professor vir à frente da professora?
Como é óbvio, esta discussão não é séria, mas não vejo como pode ser resolvida noutros termos. Estou diposto a considerar as suas sugestões.

2- Eu nunca disse que o feminismo era uma questão de mulheres, dirigida só a mulheres. Isso seria extraordinariamente amplo e excessivo. Disse (ou, se não disse, digo agora) que era uma questão de meia dúzia de pessoas interessadas no tema, dirigida exclusivamente a si próprias. Falam umas para as outras perante a indiferença geral. São um grupo de amigos.

Woman Once a Bird disse...

Caro Funes:
As ilações do início do ponto dois são suas, não minhas. Se existe a palavra também no feminino, porque não utilizá-la também? Ou é demasiado comichoso para um outro tipo de grupos de amigos que falam de si, para si, comentam entre si e decidem o que é sério ou não para todos os restantes?

Alice Gabriel disse...

É este tipo de "argumentação" que (infelizmente) torna obrigatória a existência do feminismo... E, se bem me lembro da última vez que contei, andávamos perto da dúzia. Dúzia e meia, vá.

António Conceição disse...

Concedo Alice. Estou até disposto a ir até às duas dúzias. Mas não percebi o resto do seu argumento. Por que é que o meu comentário anterior postula a obrigatoriedade da existência do feminismo?
É que para mim a obrigatoriedade da existência do feminismo decorre apenas da liberdade que reconheço a qualquer pessoa de ser o que quiser, de ser feminista se lhe apetecer. Mas que decorra de mais alguma coisa não percebo.

Alice Gabriel disse...

Passo então a comentar os dois pontos sobre os quais me parece estar assente a sua argumentação, se bem que numa ordem inversa:
1 – as feministas constituem um pequeno círculo, dentro do qual se debatem ideias que não interessam a mais ninguém. Realmente, esta é a percepção generalizada que se tem do feminismo, o que resulta naquilo a que o Funes chama de “indiferença geral”. Ora, este tipo de entendimento ignora por completo o trabalho que as feministas têm levado a cabo ao longo de várias décadas. Falo, claro está, do direito de voto, da (suposta) equidade laboral, entre muitas outras questões que julgo serem do interesse de todas as pessoas.
2 – o debate de questões linguísticas é associado a um “feminismo primário”, uma vez que o masculino é entendido como a norma, “um facto contra o qual é absurdo lutar.” E se a norma fosse o feminino (algo que o Funes nem chega a contemplar na sua suposição)? A Professora? A Directora de Turma? Que absurdo seria ignorar quase metade da população deste país, não lhe dando qualquer representatividade verbal… Mas é exactamente isso que acontece quando assumimos o masculino como norma universal, ou seja, ignoramos mais de metade da população. Não quero com isto dizer que se deva substituir uma norma pela outra; o meu argumento visa apenas ilustrar o quão redutor é assumir um dos sexos como norma linguística.
Para benefício dos homens e das mulheres (ou das mulheres e dos homens), não entendamos como “facto” algo que é socialmente construído. Enquanto estas construções forem aceites como norma, vejo-me obrigada, na minha liberdade de ser o que quiser, a ser feminista. Não porque me apeteça, mas porque a minha consciência cívica assim mo pede.

António Conceição disse...

1- Em primeiro lugar, deixe-me dizer-lhe que não vou cair na armadilha retórica que me estendeu logo no início da sua resposta. Como bem salientou a WOAB, o movimento feminista não é um movimento exclusivo de mulheres. Supostamente, também o é de homens. A Alice, tenho a certeza, partilha desta tese. Apesar disso, começa a sua resposta dizendo "as feministas constituem um pequeno círculo". Estava por certo à espera que eu começasse por protestar contra o artigo feminino as, usado por si para designar uma realidade mista, de mulheres e homens. Não caio nessa armadilha. Não me repugna absolutamente nada que diga "as feministas", para se referir ao movimento feminista e, por isso, também aos feministas machos.

2- Não sei se sabe, sou advogado. Aí por finais de Outubro, começos de Dezembro, como acontece todos os anos, as editoras vão pôr à venda uma coisa que vão em grandes parangonas anunciar como "A Agenda Jurídica 2010". Juro-lhe, mas juro-lhe mesmo, que até hoje nunca me ocorreu protestar por «agenda», um objecto não é macho nem fêmea, ser tratado no feminino e me ser vendida a mim, que sou advogado e não advogada.
Bem sei que o argumento que acabo de usar é falacioso e que a comparação com o post da WOAB não é legítima, porque este não protestava contra a agenda, mas contra o facto de esta ser anunciada como "do professor" e não, também, como da professora, profissão onde até predominam as mulheres.
Mas juro-lhe que também não protestarei nem deixarei de comprar uma agenda se ela for anunciada como "agenda da advogada". A não ser que, pelo seu conteúdo, não me interesse. Se ela, por exemplo, contiver elementos para registar os ciclos menstruais é bem provável que não me interesse e não a compre.
A nossa divergência está toda, toda nesta sua frase: "não entendamos como “facto” algo que é socialmente construído."
É que, por muito que isso lhe custe a admitir, não é por ser socialmente construído que um facto deixa de ser um facto. E a língua é um facto. Um facto social, nascido num contexto social, mas um facto. E um facto não regulável por lei.
Aqui vai todo um mundo que nos separa.
Eu não hesitarei em estar ao seu lado a perseguir um ser imputável que seja autor culpado de um acto gratuito de violência, designadamente daquilo a que suponho que, como feminista, gosta de chamar de violência doméstica.
Mas não conte comigo para combater e ver revogada uma lei que não tem carácter jurídico (como é a lei que rege a evolução dos idiomas) e que, como a lei da gravidade, não é regulável por decreto.
Repare bem: eu não tenho a mais pequena dúvida que numa sociedade matriarcal as leis da língua seriam diferentes (por exemplo, numa sociedade matriarcal nós provavelmente diríamos, a laranja, a banana, a melancia, a abóbora e o limão são ácidas e não 2são ácidos, como dizemos, porque limão é masculino e isso basta para que o adjectivo que qualifica todos os frutos ir para o masculino, apesar da maioria dos frutos ser feminino). Acontece que a nossa língua se formou numa sociedade patriarcal e é, por isso, machista. Este é um facto social histórico e, como tal, inalterável.
Pode-se, evidentemente, promover a evolução da sociedade num sentido que determine o fim do patriarcado. A língua, por certo, acompanhará essa evolução. O que não se pode é regular o que não é regulável. E uma língua não se regula.
(CONTINUA)

António Conceição disse...

(CONTINUAÇÃO)

3- Quanto à irrelevância do feminismo, é o próprio post da WOAB que exemplarmente o atesta.
Note: os editores de agendas - como julgo que o reconhecerá - querem ganhar dinheiro. A publicidade que fazem destina-se a promover a venda de agendas e a ganhar dinheiro. Não tenha a mais pequena dúvida que se as professoras se recusassem a comprar uma agenda anunciada como "agenda do professor", as editoras imediatamente alterariam o anúncio para "agenda da professora". O que acontece é que nenhuma professora deixa de comprar a agenda pelo facto de ela ser anunciada como "agenda do professor". Isto, só por si, demonstra que a mensagem do feminismo não passa e poucos a levam a sério. Na verdade - é essa a minha opinião pessoal e não me repugna que pense o contrário - porque ela não merece ser levada a sério.
E não se iluda, não foram as sufragistas que tiveram qualquer influência relevante no voto das mulheres. Isso é a espuma superficial das coisas. O relevante foram as condições económicas e sociais. As mulheres deixaram de estar em casa a educar os filhos, passaram a ir trabalhar para a fábrica e, nessa medida, adquiriram uma independência económica que não tinham. A partir desse momento passaram a contar e apesar de outra maneira na sociedade e, a partir daí, o seu direito ao voto era uma questão de tempo. Quando muito, as sufragistas anteciparam um pouco a conquista desse direito.

4- Nada do que disse atrás desmente a existência de problemas sociais gravíssimos de que as mulheres são as principais vítimas. A mulher está quase sempre mais desprotegida no desemprego. A mulher está, às vezes, mais desprotegida no emprego. A mulher está, com frequência mais desprotegida no casamento. Etc., etc., etc.
Simplesmente, isto são questões de justiça. Não são questões de feminismo. Porque o feminismo, como todas as causas, tende a perder-se no acessório, como o género das agendas.

Woman Once a Bird disse...

Alice:
Não poderia estar mais de acordo com os comentários tecidos.
Ao Funes parece irrelevante que o feminino permaneça invisível na língua, que a sociedade patriarcal que teceu as linhas com que esta se cose continue a predominar. é um facto que a língua que é nossa tem as raízes enunciadas (e aqui poderemos questionar se é efectivamente um facto ou um valor que por força da generalização é tomado como facto); mas também não será um "facto" menor que esta demonstra que pode ser alterada. É que repare, se aplicarmos este princípio a outras situações, percebemos como efectivamente será absurdo tomarmos os "factos" por situações inalteráveis: é um facto que em tempos foi comum queimar-se gente em nome de um poder alegadamente divino; esse facto foi alterado e bem. É um facto que em Portugal se pratica ainda a ignomínia da tourada - não significa que este "facto" não possa ser discutido e eventualmente alterado.
Ainda sobre a língua tal como a concebemos: o português deste nosso início de século é diferente do que vigorava no início do século passado. Não será também, portanto, sagrada, a utilização sistemática do masculino neutro.
Tal como a Alice, não proponho sequer a substituição de um por outro; defendo a coexistência; defendo uma língua e uma linguagem que dê visibilidade a quem se dirige. Para pessoas, sem elementos neutros ou nebulosos, ou silenciosos, ou fantasmáticos. Defendo uma língua que não é a minha, mas também.

Confesso que não percebo o seu argumento final; o(s) feminismo(s) é ele também uma questão de justiça - o que não significa que pretenda que a justiça se "reduza" ao feminismo. Não compreendo, de todo a distinção que faz, como se o(s) feminismo(s) não tivessem também sede nesse princípio elementar de justiça para quem de direito.

Alice Gabriel disse...

Entendo e respeito os seus argumentos, apesar de não concordar com a maioria deles. Discordo, não por falta de informação da minha parte, mas por ter, unica e simplesmente, uma perspectiva diferente da sua. Na verdade, são estas diferenças e discordâncias que tornam o mundo tão interessante...

Nefertiti disse...

Já me basta a TLEBS (Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e Secundário)! Agora falam em mudar os géneros das palavra?! Mas que raio vem a ser isto agora?

Anónimo disse...

digo palavras (até fico nervosa com isto)

Alice Gabriel disse...

Adenda: o meu último comentário é dirigido ao Funes.

António Conceição disse...

WOAB, Alice,

"Ao Funes parece irrelevante que o feminino permaneça invisível na língua"

O ponto fulcral da nossa discórdia está nesta frase. É que a questão não é a mim parecer-me irrelevante que o feminino permaneça invisível na língua. A questão é que é absolutamente irrelevante que eu o ache irrelevante ou a WOAB o ache relevante. A língua não se altera por causa disso.
É que a língua - e é isso que eu estou a tentar dizer desde o princípio - obedece a leis naturais que não são controláveis pelos falantes. Tentar mudar a língua e o modo como os seus falantes a falam é tão absurdo como tentar proibir as maçãs de caírem das árvores, protestando contra a lei da gravidade que as faz apodrecer no chão. Tão absurdo, repito.
É que nós podemos proibir as touradas por decreto (embora seja duvidoso que um tal decreto funcione durante muito tempo contra o sentimento das populações, se este for generalizado). Mas as leis que regem a evolução dos idiomas não têm a mesma natureza. Repare, nos últimos 50 anos, a palavra 2mocidade" foi substituída pela palavra "juventude" e a palavra "lavoura", por agricultura. Houve, por certo raízes ideológicas para uma tal evolução. Pode (dentro de certos limites) fazer regredir as condições ideológicas, mas não pode por decreto ordenar às pessoas que voltem a usar lavoura e mocidade, proibindo agricultura e juventude. Não pode com uma impossibilidade física, não com uma impossibilidade meramente legal.
Repito: uma evolução da nossa sociedade que recentre a nossa mundividência no feminino terá, por certo, reflexos ao nível da língua. Agora o que nunca acontecerá é ser o uso da língua ditado por decreto a promover o recentramento da nossa mundividência no feminino.
Claro que esta questão tem implicações muitas vastas e explica a nossa radical e genética divergência no modo como vemos o mundo. Ela explica, por exemplo, porque é que eu sou de direita e a WOAB (e, presumo, a Alice) de esquerda. Ela explica também por que é que um disparate tão completamente disparatado como o "esperanto" tem (não podia deixar de ter) uma origem de esquerda.
(continua)

António Conceição disse...

(continuação)
A esquerda é antropologicamente optimista, acredita no homem e, com Rousseau, na peregrina ideia da sua natural bondade. Por isso tem uma fé inabalável nas engenharias sociais. Acredita que se pode construir um mundo melhor por decreto-lei. As tragédias do nazismo e do estalinismo, no século XX, não a iluminaram. Insiste em decretar a sociedade correcta por decreto. Insiste em decretar a igualdade e a justiça. E, como é agora o caso que nos ocupa, insiste em decretar a língua como ela deve ser falada.
Nós, na direita, sabemos que o ser humano é um selvagem potencial, que tende sempre para a selvajaria e que só com vigilância e repressão permanente se mantém na civilização. Somos pessimistas. Não acreditamos na natureza humana. Sabemos que todas as conquistas são provisórias e estão prestes, a todo o momento, a regredir à estaca zero. Sabemos que a História é uma criação contingente e não - como a esquerda a sonha - cuma escalada em direcção ao progresso e a um mundo sempre melhor.
Por exemplo, a esquerda acredita que a abolição da escravatura prova que é possível o homem evoluir moralmente. A direita sabe que a escravatura só foi abolida, porque, por força da revolução industrial, se tornou um sistema de produção anti-económico. Mas se, por qualquer razão (uma guerra, por exemplo) regredíssemos tecnologicamente a uma era pré-industrial, imediatamente a escravatura seria reintroduzida e não faltaria quem logo se apressasse a alinha argumentos morais irrebatíveis para a justificar.

Alice, dirijo-me agora especialmente a si, porque - ao contrário da WOAB, com quem vivo numa guerra quase permanente - esta é a primeira vez que consigo me confronto.
Não tome a minha proclamação de fé na direita, como uma proclamação de fé no fascismo. Sinta-se à vontade para me contestar, rebater e, se lhe apetecer, insultar. Procure entender os meus argumentos, mas não precisa de os respeitar. Pode escaqueirá-los sem piedade. Pode contar sempre da minha parte com um interlocutor intelectualmente honesto, disposto a ouvir e a considerar o seu ponto de vista.
Juro-lhe que nada me dá maior prazer intelectual do que ter que reconhecer a superior inteligência dos argumentos de um adversário.
E nenhum valor há que me seja mais caro do que a liberdade de pensamento e de expressão. detestaria viver num mundo onde todos partilhassem as minhas ideias e eu não pudesse entrar em combates como este que estamos a travar.
Acho disparatadíssimo o seu feminismo, mas, como Voltaire, estarei ao seu lado, até à morte, se alguém a quiser proibir de ser feminista.
Se a Alice não puder ser feminista, como é que eu vou poder destroçá-la co os meus argumentos arrasadores?

Alice Gabriel disse...

Tal como disse anteriormente, mesmo não concordando consigo, e mesmo notando uma série de contradições na sua linha argumentativa, faço questão de respeitar as suas opiniões. Por conseguinte, não sinto necessidade alguma de lhe estender "armadilhas retóricas", nem de "escaqueirar" a sua argumentação para me fazer valer das minhas ideias que lhe parecem "disparatadíssimas"... Eu própria acho o meu feminismo disparatado, feliz viveria eu num mundo onde ele não fosse necessário. Agradeço a sua preocupação com a minha integridade; esteja descansado, eu não me destroço com qualquer trovada de ideias opacas.

António Conceição disse...

Quer fazer o favor de me indicar as contradições da minha linha argumentativa?

Helena Velho disse...

só passei por aqui para comunicar, a quem interessar , que não comprei a agenda dO ProfessoR, porque sou mulher(XX) e feminista. E tb porque a dita cuja não tinha espaço para registar a quilometragem, nem sequer a data para mudança de óleo e afins.
Só lamento que certos machos deste mundo não entendam que foram eles que geraram aquilo que agora denominam de ideia disparatadíssima.
Eu não encaixo na ideia do homem -humanidade. que chatice!


ps: na fnac perguntei se tinham daquilo para professoras e o funcionário foi, de imediato, consultar um superior que me informou, delicadamente, que não sabia." Mas talvez venham, é uma questão de ir passando ou deixa o nº de telemóvel e nós avisamos por sms." aguardo sentada.Obviamente.

Woman Once a Bird disse...

O superior era versado na matéria, ena,ena! E MV, eu também não encaixo em absoluto na ideia homem-humanidade (e como ficou patente, a Alice também não. Aqui somos três). :)

Alice Gabriel disse...

Tarda nada, chegamos à meia dúzia… :)
O ponto mais contraditório da sua argumentação prende-se exactamente com o tópico aqui em discussão, ou seja, a (im)possiblidade da mudança linguística. Segundo o Funes, a língua “obedece a leis naturais que não são controláveis pelos falantes.” No entanto, algumas linhas mais abaixo, dá como exemplo duas alterações linguísticas, referindo que “houve, por certo raízes ideológicas para uma tal evolução.” Então, sendo assim, a língua muda e, tal como o Funes muito bem refere, por questões ideológicas. Se foi a ideologia que tornou “lavoura” e “mocidade” em algo obsoleto, então também pode tornar o masculino universal em algo totalmente arcaico. Quem muda a língua são as pessoas que a falam, as suas ideias, e as suas necessidades. Quem diz isto não sou eu, mas os/as linguistas que estudam estas questões há muitos mais anos do que aqueles que eu tenho de vida.
Em altura alguma se falou em imposição legal ; aliás, nem eu, nem a WOAB, advogámos qualquer alteração linguística por decreto, nem tampouco uma substituição do masculino por um feminino neutro. Fala-se sim em coexistência, em equidade verbal, que poderá concretizar-se (ou não) se as pessoas o sentirem como algo essencial à sua condição de seres sociais, e não por imposição legal. Quando muito, por (des)acordo ortográfico…
Acho interessante que faça referência a Rousseau e a Voltaire, dois grandes pensadores do século XVIII. Porque não referir também Judith Butler, Jacques Derrida, Michel Foucault, Rosi Braidotti, Edward Said, Simone Weil, Gayatri Spivak, Deborah Tannen, entre tantas outras pessoas com ideias interessantíssimas sobre a actualidade? “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades.” A língua, e as ideias, também mudam.

António Conceição disse...

Maria Velho acusa-m:
"Só lamento que certos machos deste mundo não entendam que foram eles que geraram aquilo que agora denominam de ideia disparatadíssima.
Eu não encaixo na ideia do homem -humanidade. que chatice!"

Bem, se me é consentido o direito de defesa, declaro-me inocente. O meu único contributo para a evolução da língua portuguesa foi a tentativa de nela introduzir a palavra "esbugalhardeira", para designar um desagrafador a pilhas. Não pegou.

Alice,
Por ora, não tenho tempo para lhe responder. Mas não deixarei de o fazer. Não posso é deixar de lhe referir desde já duas ou três coisas:
1- Voltaire é, com certeza, um dos grandes pensadores da humanidade.
2- Rousseau só o é, na estrita medida em que expôs com clareza inconcebíveis asneiras;
3- Em parte nenhuma do mundo, tirando dois cafés no Bairro de Saint Michel em Paris e três Faculdade de Letras em Portugal, Derrida é considerado um pensador.

Volto mais logo. Ao contrário de Rousseau, não acredito na autoridade da maioria. A Vossa falta de razão deriva de vocês não terem razão. Não de serem uma minoria.

Woman Once a Bird disse...

Muito rapidamente: a nossa falta de razão deriva do facto do Funes decidir que nós não temos razão.

Woman Once a Bird disse...

Sobre o ponto 3, nada a dizer, a não ser remeter para este link: http://umblogquesejaseu.blogspot.com/2009/01/mais-radiosa-flor-do-ramalhete-funiano.html
ou ainda
http://umblogquesejaseu.blogspot.com/2009/01/ampulheta-funiana.html