terça-feira, 1 de setembro de 2009

"Epistola: in Carcere et Vincullis Reading, Prisão de sua Majestade"



"A Religião não me ajuda. A fé que os outros concedem àquilo que não se vê, concedo eu àquilo que posso tocar, e que posso ver. Os meus Deuses habitam em templos feitos com mãos, e é dentro do círculo da minha experiência actual que o meu credo se torna perfeito e completo; demasiado completo, talvez, pois, como muitos ou todos aqueles que colocaram o Céu nesta terra, encontrei nela, não apenas a Beleza do Céu, mas também o horror do Inferno. Quando penso acerca da religião, sinto que gostaria de fundar um ordem para aqueles que não são capazes de crer; poder-se-ia chamar a Confraternidade dos Sem Pai, onde, num altar, no qual não ardesse qualquer lamparina, um sacerdote, em cujo coração não habitasse a paz, pudesse celebrar com um pão amaldiçoado e um cálice vazio de vinho. Para se tornar verdade, em tudo tem que tornar-se uma religião. E o agnosticismo devia ter os seus rituais, tal como a fé. Semeou os seus mártires, devia colher os seus santos, e louvar a Deus diariamente, por se ter escondido dos homens. Mas, quer seja fé ou agnosticismo, não deve ser nada exterior a mim. Os seus símbolos devem ser criados por mim. Só é espiritual aquilo que produz a sua própria forma, se não for capaz de encontrar o seu segredo dentro de mim, não serei nunca capaz de encontrá-lo. Se não o possuir já, nunca o terei."

in De Profundis, Oscar Wilde, Editorial Estampa, 2000





1 comentário:

Ceridwen disse...

Andamos a ler o mesmo livro ;-)