O episódio da troca da bandeira por alguns bloggers do 31 da Armada não me suscita reacção apaixonada. Sugere-me, porém, a reflexão de, em Portugal, os factos se tornarem notícia apenas quando um meio de comunicação tradicional deles se ocupa.
Que me recorde, quer o caso do desafio do blog Rua da Judiaria (Nuno Guerreiro Josué), quer o incidente da cadeira com a blogger (Dina Soares) do Escola de Lavores, quer ainda o pedido feito, via Twitter, por Ana Martins ao deputado Jorge Seguro, para que os deputados se abstivessem de usar a palavra autista como forma de insulto, quer o episódio do 31 da Armada só tiveram eco nacional a partir do momento em que saltaram para os media ditos tradicionais. A médio prazo, será possível que um político português escolha o youtube como ferramenta privilegiada de comunicar algo ao país, mas por enquanto, parece que o formato das conferências de imprensa [tradicionais] continuam a ganhar face às novas tecnologias.
No entando, o que me causa estranheza, são alguns argumentos de defesa à acção dos ditos jovens. Ora, façamos o seguinte exercício: alteremos a identidade das pessoas em questão e pensemos neles como uns jovens candidatos a delinquentes, que usam e abusam de substâncias menos recomendáveis, que não escrevem em blogues, e que não têm apelidos sonantes; mas que decidem trepar (sem recurso a escadarias - sim, há gente que consegue estas coisas, acreditem) pelo mesmo edifício para trocar as bandeiras, não porque sejam monárquicos, mas porque estavam para ali virados (aliás, segundo o blog em questão um dos envolvidos - Henrique Burnay - nem tão pouco é monárquico). Será que esta acção suscitaria tais reacções de defesa baseadas no facto de: "a polícia ter mais que fazer do que perseguir bandos de jovens que não fizeram mal a ninguém?"
Deixando de parte a questão da defesa da monarquia, os comentários de apoio baseados no facto de os rapazes não terem feito nada de mal (de resto, também não via nada de mal em apanhar laranjas ou pêssegos do quintal do lado - teria é que me aguentar se o vizinho não achasse piada e decidisse apresentar queixa), ou que a polícia não tem mais que fazer [que, aliás, é sempre o que me vem à cabeça sempre que sou parada pela (ex) Brigada de Trânsito], ou há crimes muito piores (o que não dizer de alguém que é detido por estar a urinar na via pública, obviamente, que a argumentação a usar será: ouça lá, sr. polícia, não tem mais que fazer? Acha que estou a fazer mal a alguém?) são, no mínimo, singulares.
É que, ainda não consegui entender esta argumentação. Sugerem exactamente o quê? Que se mude o Código Penal para que o acto dos bloggers do 31 da Armada não esteja contemplado no mesmo ou que os mesmos crimes sejam somente aplicados quando os agentes sejam aqueles jovens considerados escumulha? Sim, esses que não têm nomes de bem, nem blogues, ou Internet.
Ilustração de Ralph Steadman
Que me recorde, quer o caso do desafio do blog Rua da Judiaria (Nuno Guerreiro Josué), quer o incidente da cadeira com a blogger (Dina Soares) do Escola de Lavores, quer ainda o pedido feito, via Twitter, por Ana Martins ao deputado Jorge Seguro, para que os deputados se abstivessem de usar a palavra autista como forma de insulto, quer o episódio do 31 da Armada só tiveram eco nacional a partir do momento em que saltaram para os media ditos tradicionais. A médio prazo, será possível que um político português escolha o youtube como ferramenta privilegiada de comunicar algo ao país, mas por enquanto, parece que o formato das conferências de imprensa [tradicionais] continuam a ganhar face às novas tecnologias.
No entando, o que me causa estranheza, são alguns argumentos de defesa à acção dos ditos jovens. Ora, façamos o seguinte exercício: alteremos a identidade das pessoas em questão e pensemos neles como uns jovens candidatos a delinquentes, que usam e abusam de substâncias menos recomendáveis, que não escrevem em blogues, e que não têm apelidos sonantes; mas que decidem trepar (sem recurso a escadarias - sim, há gente que consegue estas coisas, acreditem) pelo mesmo edifício para trocar as bandeiras, não porque sejam monárquicos, mas porque estavam para ali virados (aliás, segundo o blog em questão um dos envolvidos - Henrique Burnay - nem tão pouco é monárquico). Será que esta acção suscitaria tais reacções de defesa baseadas no facto de: "a polícia ter mais que fazer do que perseguir bandos de jovens que não fizeram mal a ninguém?"
Deixando de parte a questão da defesa da monarquia, os comentários de apoio baseados no facto de os rapazes não terem feito nada de mal (de resto, também não via nada de mal em apanhar laranjas ou pêssegos do quintal do lado - teria é que me aguentar se o vizinho não achasse piada e decidisse apresentar queixa), ou que a polícia não tem mais que fazer [que, aliás, é sempre o que me vem à cabeça sempre que sou parada pela (ex) Brigada de Trânsito], ou há crimes muito piores (o que não dizer de alguém que é detido por estar a urinar na via pública, obviamente, que a argumentação a usar será: ouça lá, sr. polícia, não tem mais que fazer? Acha que estou a fazer mal a alguém?) são, no mínimo, singulares.
É que, ainda não consegui entender esta argumentação. Sugerem exactamente o quê? Que se mude o Código Penal para que o acto dos bloggers do 31 da Armada não esteja contemplado no mesmo ou que os mesmos crimes sejam somente aplicados quando os agentes sejam aqueles jovens considerados escumulha? Sim, esses que não têm nomes de bem, nem blogues, ou Internet.
Ilustração de Ralph Steadman
4 comentários:
Subscrevo em absoluto. aliás, aborrece-me de morte que os moços sejam tratados (e se arroguem de) como heróis dotados de uma coragem ímpar, quando apenas me parece uma idiotice pegada (mas alguém pode ser levado a sério quando usa uma máscara de carnaval?)
A sobranceria que o episódio da proposta de devolução da bandeira é meramente risível. Nem a tão propalada silly season justifica toda esta palhaçada(zinha).
tal como é ridícula e desproporcionada a intervenção da PJ neste caso (como se houvesse necessidadee de investigar o que eles próprios já tinham confessado publicamente). já para não falar daquele glorioso hino ao absurdo e à imbecilidade que foi o press-release a PSP em que mais parecia que tinham apanhado todos os cabecilhas da Al-qaeda.
é certo que eles são uma cambada de meninos ricos bem-dispostos aliás, como conhecemos um grupelho por cá assim), mas a reacção das autoridades é absolutamente desproporcionada!
abraço
Isto revela de facto que há muita pobreza nosso país. A Educação no seu pior... Episódios lamentáveis.
clap clap clap
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