Frente a frente, infância e velhice. Ambos do sexo masculino, o miúdo com os caracóis juvenis em jeito de auréola, o homem de cabelos brancos a atestar quem seria o adulto da mesa.Pelos gestos, não parece: O miúdo muito mais desenvolto, rápido, à vontade com os talheres e pratos; O homem, mais cauteloso,os gestos desenhados na lentidão das mãos mais trémulas. Conversam, o mote geralmente lançado pelo miúdo com a expressão "Ó Avô...", o almoço que avança lenta e rapidamente, consoante o comensal observado. A determinada altura, a criança lança para cima da mesa o assunto de todos nós, que histericamente consumimos imagens e palavras que nos permitam ter a ilusão que controlamos alguma coisa:
-Ó avô, o meu Pai tem a Gripe B.
-O quê?
-O meu Pai tem a gripe B. B! - e desenha no ar um enorme e gordo B, caso a audição do interlocutor não permita perceber a letra a que se refere. - E tu? Qual é a tua gripe?
-Ó avô, o meu Pai tem a Gripe B.
-O quê?
-O meu Pai tem a gripe B. B! - e desenha no ar um enorme e gordo B, caso a audição do interlocutor não permita perceber a letra a que se refere. - E tu? Qual é a tua gripe?
1 comentário:
Tenho um amigo que diz: "Nascemos a gritar e, depois, à medida que o tempo avança, vamos ficando cada vezes mais calados. Por fim, morremos calados".
Um diálogo delicioso que aqui registaste.
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